segunda-feira, 1 de junho de 2020

EXERCÍCIO DE AMOR

Quem de nós já não se decepcionou com um amigo? 
Alguém a quem se entregou o coração e, em algum momento, nos traiu a confiança ou nos voltou as costas? 
Alguém de quem esperávamos todo o apoio e nos falhou, na hora precisa? 
Qualquer uma dessas circunstâncias nos magoará e se constituirá em quebra da afeição. Por essa razão, a lição de dois meninos é tão marcante. Eles haviam nascido no mesmo dia, mês e ano. Um era judeu. O outro, alemão. Nove anos era a idade deles. Um era natural da Polônia e habitara uma casa, com vários cômodos, em cima da relojoaria do seu pai. Um dia, tudo lhe foi tirado e ele se viu prisioneiro, em meio a outros milhares, padecendo fome. Para vestir, um estranho pijama listrado, com boné no mesmo padrão. O outro nascera em Berlim, vivera numa casa muito grande, de três andares. Agora, residia no campo e vivia a reclamar da casa menor e da falta de amigos. Encontraram-se, um dia, um de cada lado de uma interminável cerca de arame farpado. Bruno, o menino alemão, se sentia solitário e se pôs a conversar com o outro. Nenhum dos dois entendia muito do que acontecia ao seu redor. Mas se tornaram amigos. Viam-se todas as tardes. Um dia, ao entrar em casa, Bruno viu ali o amigo do pijama listrado. Lustrava os cristais com seus dedos miúdos. Bruno se serviu de um lanche e ofereceu ao outro, sempre faminto. Mal colocara na boca um pedaço de frango, adentrou a cozinha um oficial. Vendo que o pequeno prisioneiro estava comendo, o inquiriu, de forma grosseira, acusando-o de furtar comida. Sem malícia alguma, o menino disse que fora seu amigo quem lhe ofertara o lanche. Mas Bruno estava tão assustado com a truculência do oficial, com a inquirição que lhe era feita, que se deixou tomar pelo pavor. E, apavorado, negou conhecer o outro, negou ter-lhe dado comida, o que, para aquele valeu violento castigo. Dias passados, Bruno retornou ao local onde costumava encontrar o amigo. Havia tristeza e muitos hematomas no rosto do aprisionado. 
-Peço desculpas, disse Bruno. Tive muito medo, naquele dia. Você ainda quer ser meu amigo? 
E, então, a mão esquálida do judeu se estendeu para o lado de fora da cerca. Bruno a apertou. Era a primeira vez que se tocavam. Era o toque da amizade sólida, que sempre perdoa. 
* * * 
Amizade é um exercício de amor. Amor de amigo é inigualável. Já disse Jesus, ao seu tempo, que o amigo dá a sua pela vida do amigo, santificando assim esse sublime sentimento. Por isso, o amigo perdoa as fraquezas do outro, perdoa as suas falhas e continua amigo. Felizes aqueles que enflorescem a alma com amizade, enriquecendo-se de paz, granjeando gratidão pelos caminhos que percorre. 
Redação do Momento Espírita, com base em cenas do filme O menino do pijama listrado. 
Em 20.11.2015.

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