Era uma cela compartilhada por vários homens, com tristes histórias de vida.
Por estarem ali, juntos, falavam a respeito de si mesmos, do que os levara àquela situação.
Um deles se elegera como o líder e o que quer que cada qual desejasse, precisava lhe pedir autorização. Ele exercia o poder como se a cela fosse o seu reino particular. Era temido. Por isso, obedecido.
Então, um dia, um novo prisioneiro chegou. Um homem acusado de ter matado uma garotinha. A recepção foi uma grande surra de todos os detentos. Quase foi à morte.
Mas, depois de permanecer na enfermaria por alguns dias, voltou para a cela. De forma admirável, chamou a todos de amigos.
Passaram a chamá-lo de maluco, de idiota. Agia mesmo como um tolo. Falava com as pombas que estavam no pátio da prisão, soltava-as no ar, mandando recados para sua filha amada.
Era um homem diferente. Com o passar dos dias, deram-se conta da inocência do crime que lhe fora imputado.
Mais tarde, conheceram sua filhinha, doce menina de nove anos que o viera visitar. Ela falou de uma testemunha, de um homem que vira tudo e podia dizer da inocência de seu pai.
A pequena visitante, toda envolvida em carinho, conversou com cada um daqueles prisioneiros a quem seu pai, Raul, chamava de amigos.
Se eram amigos dele também eram amigos seus.
Apesar de todos os esforços, a sede de vingança do pai da vítima era maior do que qualquer conceito de justiça e ele conseguiu a pena de morte para Raul.
Foi então que um daqueles prisioneiros, que se dizia ser o maior dos criminosos, pelo que fizera, se ofereceu para morrer no lugar dele.
Raul precisava retornar para os braços daquela menina. E ele precisava resgatar o próprio crime.
O plano foi arrojado. Contou com a cumplicidade dos prisioneiros, de guardas, do diretor da prisão, todos que estavam certos da inocência do condenado.
E assim se fez. Enquanto um se oferecia para a forca, o outro ganhava a liberdade.
E retornou para sua pequena Beatriz. Na sua deficiência mental, não entendia muito bem o que acontecera. Somente sabia que estava de volta para os braços da filhinha.
E, ainda com o auxílio de corações amigos, deixou o país rumo a outra terra, para viver em paz.
* * *
Uma vida por outra vida. O Evangelista Mateus anotou as palavras do Mestre, conferindo a lição do amor altruísta:
-Quem perder a sua vida por causa de mim, a ganhará.
Quem oferece sua vida pela do seu irmão, o faz ao próprio Cristo, segundo as suas palavras:
-O que fizerdes a um desses pequeninos, a mim o fazeis.
Perder a própria vida para salvar outra vida. Para fazer felizes duas vidas. Para salvar um inocente de uma pena injusta.
É preciso muito amor para se realizar tal ato, sobretudo quando não se trata de algo feito de rompante, mas pensado, arquitetado e executado.
Isso nos diz de como existem preciosidades na intimidade da criatura humana.
Pérolas maravilhosas que somente conhecemos quando elas se expressam na exterioridade.
Que extraordinário ser é esse, criado à imagem e semelhança de Deus, que se revela nos momentos mais adversos.
Pensemos nisso.
Redação do Momento Espírita, com base
no filme turco Milagre na cela 7.
Em 15.6.2020.
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