segunda-feira, 15 de junho de 2020

QUEM PERDER A SUA VIDA!

Era uma cela compartilhada por vários homens, com tristes histórias de vida. Por estarem ali, juntos, falavam a respeito de si mesmos, do que os levara àquela situação. Um deles se elegera como o líder e o que quer que cada qual desejasse, precisava lhe pedir autorização. Ele exercia o poder como se a cela fosse o seu reino particular. Era temido. Por isso, obedecido. Então, um dia, um novo prisioneiro chegou. Um homem acusado de ter matado uma garotinha. A recepção foi uma grande surra de todos os detentos. Quase foi à morte. Mas, depois de permanecer na enfermaria por alguns dias, voltou para a cela. De forma admirável, chamou a todos de amigos. Passaram a chamá-lo de maluco, de idiota. Agia mesmo como um tolo. Falava com as pombas que estavam no pátio da prisão, soltava-as no ar, mandando recados para sua filha amada. Era um homem diferente. Com o passar dos dias, deram-se conta da inocência do crime que lhe fora imputado. Mais tarde, conheceram sua filhinha, doce menina de nove anos que o viera visitar. Ela falou de uma testemunha, de um homem que vira tudo e podia dizer da inocência de seu pai. A pequena visitante, toda envolvida em carinho, conversou com cada um daqueles prisioneiros a quem seu pai, Raul, chamava de amigos. Se eram amigos dele também eram amigos seus. Apesar de todos os esforços, a sede de vingança do pai da vítima era maior do que qualquer conceito de justiça e ele conseguiu a pena de morte para Raul. Foi então que um daqueles prisioneiros, que se dizia ser o maior dos criminosos, pelo que fizera, se ofereceu para morrer no lugar dele. Raul precisava retornar para os braços daquela menina. E ele precisava resgatar o próprio crime. O plano foi arrojado. Contou com a cumplicidade dos prisioneiros, de guardas, do diretor da prisão, todos que estavam certos da inocência do condenado. E assim se fez. Enquanto um se oferecia para a forca, o outro ganhava a liberdade. E retornou para sua pequena Beatriz. Na sua deficiência mental, não entendia muito bem o que acontecera. Somente sabia que estava de volta para os braços da filhinha. E, ainda com o auxílio de corações amigos, deixou o país rumo a outra terra, para viver em paz. 
 * * * 
Uma vida por outra vida. O Evangelista Mateus anotou as palavras do Mestre, conferindo a lição do amor altruísta: 
-Quem perder a sua vida por causa de mim, a ganhará. 
Quem oferece sua vida pela do seu irmão, o faz ao próprio Cristo, segundo as suas palavras: 
-O que fizerdes a um desses pequeninos, a mim o fazeis. 
Perder a própria vida para salvar outra vida. Para fazer felizes duas vidas. Para salvar um inocente de uma pena injusta. É preciso muito amor para se realizar tal ato, sobretudo quando não se trata de algo feito de rompante, mas pensado, arquitetado e executado. Isso nos diz de como existem preciosidades na intimidade da criatura humana. Pérolas maravilhosas que somente conhecemos quando elas se expressam na exterioridade. Que extraordinário ser é esse, criado à imagem e semelhança de Deus, que se revela nos momentos mais adversos. 
Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita, com base no filme turco Milagre na cela 7. 
Em 15.6.2020.

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