quarta-feira, 24 de junho de 2020

EU PRECISAVA

Eu precisava respirar. A fumaça das chaminés de todo o porte me sufocava. Vinha de todas as partes e das mais variadas formas. Eu buscava renovar os ares com ventos mais fortes, a fim de que pudessem promover a limpeza da atmosfera. Em vão. Promovi tempestades, esperando que varressem, de vez, as nuvens negras que subiam, sem cessar. O céu permanecia claro por alguns segundos, apenas. Depois, tudo voltava a ser como antes. Procurei deter a sanha dos ambiciosos, desencadeando a borrasca, a fim de arrancar árvores e plantas, como a dizer: 
-Estou cansada! Podem diminuir a minha exploração, por um pequeno lapso temporal, ao menos? 
Minhas entranhas eram perfuradas todos os dias, em busca dos tesouros que abrigo em minha intimidade. Nada contra, desde que tudo fosse adequado, realizado de modo racional, ordenado, preservando o entorno. Enquanto pensavam em extrair os minerais preciosos, destruíam-me e nem se importavam com as tragédias que promoviam para si mesmos, para seus irmãos. Eu não suportava mais o peso das águas dos rios, oceanos e mares, encharcadas de todos os poluentes imagináveis. Alguns jogados, de forma deliberada, outros, por desastres resultantes de puro descaso ou imprudência. Assistia ao espetáculo contínuo da depredação dos habitantes das águas, das matas, dos ares. Alguns caminhando de forma acelerada para sua extinção. Eu precisava parar. Não sei bem o que aconteceu, e com certeza o meu objetivo não era agredir ninguém. Mas, eu precisava parar. Era isso ou, em breve tempo, a espécie mais preciosa de todas iria ser aniquilada. Uma pandemia se alastrou por toda minha extensão, com a celeridade de um raio, prenunciando intensa tormenta, exigiu que tudo parasse. A Humanidade precisou se proteger. E a melhor proteção foi o confinamento. O isolamento se fez imprescindível. Em apenas alguns dias, de forma quase miraculosa, voltei a poder respirar. A fumaça diminuiu, quase desapareceu. As chaminés deixaram de ser tão poderosas. O trânsito ficou reduzido. Os poluentes deixaram de infestar o ar, a água, o solo. Todos precisaram olhar para si mesmos e descobrir que o que tinham de mais valioso precisava ser preservado: a vida. A sua vida, a vida do seu semelhante. Mais importante do que o metal, a vida. Mais importante do que dobrar os valores monetários, a vida. De forma alguma, eu pretendia e nem fui a causadora da pandemia que se instalou. Contudo, ela me permitiu refazer-me de algumas chagas. Estou em convalescença. Minha grande esperança é de que o homem, esse ser especial que anda sobre mim, repense a sua maneira de viver. Que se lembre que transita, de forma temporária, sobre mim. Que a sua essência é imortal e é nos termos dessa Imortalidade, que ele precisa trabalhar. Cultuar o progresso, sem agredir-me. Desenvolver a tecnologia, no sentido de aprimorar métodos de salutar convivência entre todos. Repensar atitudes. Renovar disposições. Viver em plenitude. Eu, Terra, desejo ardentemente isso. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 23.6.2020.

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