terça-feira, 14 de abril de 2020

O QUE TEMOS PARA AGRADECER

O incêndio irrompera devastador. Em desespero, imaginando que sua família estaria dentro da casa, Daniel chegou correndo. Gritava pelo nome da esposa e dos filhos, enquanto os bombeiros o impediam de mergulhar nas chamas. Alguns instantes depois, descobriu que sua esposa e filhos não estavam na casa. Tinham saído para um lanche em pizzaria próxima. Abraçaram-se todos. Agora, o desespero era ver a casa ser consumida tão rapidamente pelas chamas. Ele nem acabara de pagar o financiamento e tudo estava destruído. Sentia-se impotente, desanimado. Seguiu com a família para a casa do seu pai, onde se acomodaram. Um ar pesado pairava pelos aposentos. Sua irmã, seu irmão, o avô, a sobrinha vieram para confortá-los. Chegou o momento do jantar. Daniel se dizia sem fome mas o pai insistiu para que viesse à mesa, estivesse ao lado da sua família. Ele se deixou ficar no quarto um tanto mais. Sentia como se lhe faltasse o chão. Que fazer, agora? Como começar tudo de novo, recompor todas as perdas? Como ninguém ousasse iniciar a refeição sem a sua presença, ele resolveu assentar-se com eles. Então, pediram-lhe que ele conduzisse os pensamentos na habitual prece de agradecimento, antes de iniciarem a refeição. 
-Hoje, não. 
Foi a resposta dele. 
-Não creio que eu tenha alguma coisa para agradecer. Nem temos mais um lar. 
A esposa, tomando-lhe a mão e a apertando forte, lhe disse: 
-Perdemos a casa, o lar ainda o temos porque o lar somos nós. 
E o pai, sábio, ponderou: 
-Filho, agradeçamos por estarmos todos juntos. Agradeçamos por ninguém se ter ferido. Agradeçamos pela família que somos. 
Entre lágrimas, Daniel iniciou a prece de gratidão. E, como soluços sentidos lhe impedissem a fala, a esposa continuou, os filhos se uniram e, por fim, juntos oraram em voz alta. 
* * * 
Possivelmente, em determinados dias, as dificuldades são tantas que o desânimo nos abraça. O acúmulo das dores é tão grande que nos parece uma montanha intransponível. Nosso desejo é que o mundo parasse, porque nos sentimos como alguém que perdeu todas as batalhas e nada mais tem a fazer. Nessas horas, talvez nos indaguemos se temos algo a agradecer. Talvez, até, não nos sintamos motivados à oração. 
Olhemos ao redor e verifiquemos: temos família? Agradeçamos pela sua existência. 
Temos amigos, um somente que seja? Agradeçamos por ele. 
Temos um emprego, um salário, uma ocupação? Agradeçamos por isso. 
Temos um lugar para repousar a cabeça? 
Agradeçamos, não importando seja pequeno, velho, necessitando reformas, pintura, reboco. E, se por acaso, não tivermos afetos, nem amigos, nada mais, agradeçamos a vida que pulsa em nós. 
Agradeçamos a lucidez de nossa mente, a capacidade de pensar. E busquemos apoio. Sempre haverá, em algum lugar, uma nova chance, um amigo que possamos fazer, alguém que nos possa auxiliar. Pode parecer difícil. Mas não é impossível. Verifiquemos quantos padeceram perdas terríveis e conseguiram se reerguer. Isso porque filhos de Deus nunca estaremos desamparados. 
Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita, com base em episódio da série Blue Bloods.
Em 14.4.2020.

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