Yvonne do Amaral Pereira |
No ano quarenta da Era Cristã, num recanto da Ásia, existiu um pequeno reino governado por um soberano déspota.
Chamava-se Sakaran, o temível.
Orgulhoso, rico e belo, senhor da vida e da morte de seus súditos, para eles criava leis férreas que a ninguém poupavam.
Era um homem infeliz, um homem que jamais amara nem mesmo uma qualquer das suas quinze esposas, todas muito bonitas e desejosas de serem alvo do verdadeiro afeto do soberano.
Chegada a época de seu quadragésimo quinto aniversário, Sakaran ofereceu uma grande festa, ocasião em que, como de costume, recebeu homenagens e presentes de seus súditos.
Nessa oportunidade, Osman, seu servo mais fiel, informou-o que pretendia presenteá-lo com uma joia grega, da mais perfeita lapidação.
No entanto, Osman não trazia em suas mãos nenhum estojo, por menor que fosse, mas com um discreto sinal seu, a orquestra de flautas e de alaúdes começou imediatamente a executar músicas gregas.
Embalada por tais ritmos, lentamente surgiu no salão uma belíssima bailarina, trajada com flutuantes véus, movendo-se com graça e segurança.
Era Lygia, uma jovem grega, a joia que o servo oferecia ao seu rei.
Ousadamente, ela não se postou aos pés de Sakaran, como seria de se esperar.
Dançava sem demonstrar qualquer preocupação, o que visivelmente irritou o soberano.
Depois de um movimento mais brusco, mas nem por isso menos encantador, em meio à dança, ela aproximou-se de Sakaran e o saudou alegremente. Sem a mínima cerimônia sentou-se na cadeira colocada ao lado da dele, destinada a uma favorita que até então não existia.
Encantado com o atrevimento e a coragem da jovem, Sakaran aproximou-se dela, indagando a respeito de sua origem e de suas pretensões.
A moça, sorrindo, disse chamar-se Lygia, e confessou amá-lo à distância, desde há muito tempo.
Dessa noite em diante iniciou-se uma singular transformação no caráter de Sakaran, que logo desposou a bela bailarina e fez dela sua favorita.
Amaram-se profunda e sinceramente, conhecendo a felicidade.
A ventura, porém, durou muito pouco.
Durante um festim, Lygia foi envenenada e morreu subitamente.
Quem praticara o crime?
Por quais motivos?
Jamais se soube. Afinal, o passado equivocado de Sakaran lhe deixara um saldo de incontáveis inimigos.
O soberano, enlouquecido de dor, praticou as mais variadas e cruéis atrocidades contra todos aqueles que considerava suspeitos pela morte de sua amada.
Desorientado e inconsolável, matou-se.
Tempos depois, reencarnou no próprio reino que fora seu, não mais rodeado de glórias e de bajulações.
Agora como escravo, mendigando pelas ruas, sozinho, padeceu a rudeza das leis que ele mesmo criara tempos antes para seus súditos, sendo vítima de sua própria tirania, sofrendo a ausência de Lygia que não o acompanhara nessa nova experiência.
E o tempo passou...
O antigo déspota viveu muitas existências, sofreu, regenerou-se e hoje é feliz.
Tudo porque, um dia, acendeu nas trevas de seu rude coração a luz de um amor inesquecível.
* * *
Somos herdeiros de nós mesmos.
O nosso momento presente será sempre ponto de referência de nosso futuro.
Pensemos nisso.
Redação do Momento Espírita, com base no
cap. 5, do livro Sublimação, pelo Espírito Charles,
psicografia de Yvonne do Amaral Pereira,
ed. FEB.
Em 7.1.2015.
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