quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

ALTRUÍSMO

Luiz Moreau Gottschalk, um célebre pianista e compositor, visitando certa vez a cidade de Kingston, na Jamaica, entrou em um templo exatamente no momento em que se realizava um culto. O pastor falava a respeito da caridade. Pintava com imagens fortes o estado a que tinham ficado reduzidas algumas famílias de uns pobres náufragos perdidos, naqueles dias, durante uma grande tempestade no mar. O ministro usava toda a sua eloquência para comover o auditório, pedindo contribuições para remediar tanta desgraça. Eram crianças órfãs, sem alimento. Eram viúvas, sem abrigo. Eram mães idosas, sem ninguém mais que olhasse por elas. Comovido, o compositor acercou-se de um órgão, num dos ângulos do templo, sentou-se e deixou correr as mãos sobre o teclado. Uma melodia de sabor religioso, tênue, triste, apaixonada, que parecia um coro sublime, começou a envolver a assembleia. A suavidade da composição era tal que não impedia que todos continuassem a ouvir a voz do pregador que, dominado pela inspiração da música, ardorosamente foi tecendo imagens, evocando Jesus e a necessidade de amar o próximo. Finalmente, ele concluiu a sua fala, fascinado, como todos os circunstantes, pelas deliciosas harmonias que saíam do órgão. A música foi se perdendo em notas divinas e terminou. Então, o próprio pianista tomou seu chapéu, nele depositou algumas moedas, percorreu todos os bancos, recebendo dos presentes valiosos donativos. Quando chegou ao último banco, no fundo do templo, viu uma senhora muito idosa, alquebrada pelos anos, que trazia o rosto sulcado por lágrimas. Seria mãe de um dos náufragos? Uma viúva? Sem pestanejar, ele esvaziou o chapéu no colo da senhora e desapareceu, porta afora. 
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Onde anda a miséria?
Por vezes, empreendemos campanhas a favor de necessitados a respeito dos quais ouvimos falar e que se encontram distantes de nós. Muito justo e meritório. No entanto é importante dar uma olhada ao nosso redor. Existem pessoas muito necessitadas, mas que sofrem caladas, constrangidas de expor as suas dificuldades. Por isso mesmo, ensina o Evangelho que o verdadeiro homem de bem é aquele que vai ao encontro da necessidade, sem esperar que a miséria lhe bata à porta. Para isso, é preciso ter sensibilidade e voltar os olhos para os palcos do sofrimento. Mesmo porque existem criaturas que, por sua própria condição, sequer podem estender mãos para pedir, pois os braços estão paralisados. Há os que não podem erguer a voz para suplicar, porque a tem afogada na garganta, pelas lágrimas da dor que nunca cessa. Há os que desejariam alcançar alguém que os auxiliasse, entretanto, as pernas lhes impedem andar. 
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A obra do bem em favor de todos precisa de muitos braços e não exige títulos universitários ou recursos financeiros. Aguarda, simplesmente, a vontade em ação, um coração que sente, uma mente que idealiza, braços fortes que ajam, desde agora, antes que a fome se transforme em enfermidade e a carência em miséria extrema.
Redação do Momento Espírita com base no artigo Altruísmo de um grande músico, publicado no Boletim semanal Luz do Evangelho, de 10.3.2001. 
Em 12.12.2019.

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