sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

O ESPORTE E A GUERRA

Cerca de cinquenta homens de cada lado. Homens preparados para lutar, para matar. Vindos de lugares diferentes. O que eles têm em comum é que são loucos por futebol. O clima deveria ser natalino, mas as circunstâncias os colocaram em campos opostos. O lugar onde se encontram é terra de ninguém. O apito soa em algum lugar. O que eles fazem? Eles se divertem com a bola improvisada. Chutam e brincam de marcar gols, de dar passes e de driblar. Eles são soldados alemães, de um lado, e soldados ingleses, do outro. Ninguém perde, todos ganham. Depois de meia hora de brincadeira são convocados a voltar para as trincheiras. Era 25 de dezembro de 1915 e a Primeira Guerra Mundial mataria a maioria deles. Mas, naquela improvável confraternização de Natal, eles foram felizes. Quem deu a ordem para a brincadeira acabar foi o major britânico, que ordenou o retorno da tropa para a trincheira lembrando, aos gritos, que estavam lá para matar os alemães, não para fazer amizade com eles. Não há registros oficiais dessa partida, mas houve alguns relatos dos participantes. A “Trégua de 1915” está nos livros de História, não é um conto de Natal. Um dos soldados acabou conhecido por ter vivido muito. Viveu para contar e fez um relato singelo daquele Natal. Afirmou que, na noite de 24 de dezembro, ele e seus colegas ouviram canções de Natal, vindas do lado alemão e responderam cantando. Naquele Natal de 1915, houve diversas tréguas improvisadas e informais, ao longo das frentes de batalha. Porém, aquela breve partida de futebol, um futebol alegre, sem resquícios de batalha, foi inesquecível. 
 * * * 
Marleth Silva
Nestes tempos em que as arenas de futebol parecem verdadeiros campos de batalha, campos de ódio e violência, vale a pena refletir sobre algumas questões: Será que estamos entendendo a verdadeira função dos esportes em nossa sociedade? Será que perdemos o espírito esportivo, quando transformamos essas atividades em simples negócios, onde não há mais espaço para diversão e confraternização? Será que estamos voltando às arenas para assistir massacres? Depois de tanto tempo? Será que ainda temos na alma esse prazer doentio? No que nos tornamos quando vestimos a camisa desse ou daquele time? Será que uniformes têm o poder de nos transformar em primitivos novamente? Não podemos permitir isso. Não mais. Fomos tão cruéis durante tanto tempo e agora, que temos a chance de viver a Nova Era, a era de amor, de amizade, insistimos nesses vícios destruidores? Esporte é vida. Esporte é saúde do corpo e da alma. Esporte é superação íntima. Esporte não é destruição ou um simples instrumento para colocarmos para fora nossos animais internos. O prazer de reunir um grande grupo para torcer por essa ou aquela equipe, nessa ou naquela modalidade, deve estar na confraternização. O esporte perde seu sentido quando abandona a diversão, o lúdico. E mais, quando abandona a paz. Ele deve ser instrumento da paz, e não da guerra. Reflitamos sobre isso tudo. Eduquemos nossas crianças. Alteremos os costumes bárbaros ainda tão presentes nos esportes da Terra. Esporte é vida. Esporte é saúde, confraternização e veículo da paz. 
Redação do Momento Espírita, com base em reportagem de Marleth Silva, do jornal Gazeta do Povo, de 15.12.2013. 
Em 10.3.2014

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