Cerca de cinquenta homens de cada lado. Homens preparados para lutar, para matar. Vindos de lugares diferentes. O que eles têm em comum é que são loucos por futebol.
O clima deveria ser natalino, mas as circunstâncias os colocaram em campos opostos. O lugar onde se encontram é terra de ninguém.
O apito soa em algum lugar. O que eles fazem?
Eles se divertem com a bola improvisada. Chutam e brincam de marcar gols, de dar passes e de driblar. Eles são soldados alemães, de um lado, e soldados ingleses, do outro.
Ninguém perde, todos ganham. Depois de meia hora de brincadeira são convocados a voltar para as trincheiras.
Era 25 de dezembro de 1915 e a Primeira Guerra Mundial mataria a maioria deles. Mas, naquela improvável confraternização de Natal, eles foram felizes.
Quem deu a ordem para a brincadeira acabar foi o major britânico, que ordenou o retorno da tropa para a trincheira lembrando, aos gritos, que estavam lá para matar os alemães, não para fazer amizade com eles.
Não há registros oficiais dessa partida, mas houve alguns relatos dos participantes. A “Trégua de 1915” está nos livros de História, não é um conto de Natal.
Um dos soldados acabou conhecido por ter vivido muito. Viveu para contar e fez um relato singelo daquele Natal.
Afirmou que, na noite de 24 de dezembro, ele e seus colegas ouviram canções de Natal, vindas do lado alemão e responderam cantando.
Naquele Natal de 1915, houve diversas tréguas improvisadas e informais, ao longo das frentes de batalha. Porém, aquela breve partida de futebol, um futebol alegre, sem resquícios de batalha, foi inesquecível.
* * *
Marleth Silva |
Nestes tempos em que as arenas de futebol parecem verdadeiros campos de batalha, campos de ódio e violência, vale a pena refletir sobre algumas questões:
Será que estamos entendendo a verdadeira função dos esportes em nossa sociedade?
Será que perdemos o espírito esportivo, quando transformamos essas atividades em simples negócios, onde não há mais espaço para diversão e confraternização?
Será que estamos voltando às arenas para assistir massacres? Depois de tanto tempo? Será que ainda temos na alma esse prazer doentio?
No que nos tornamos quando vestimos a camisa desse ou daquele time? Será que uniformes têm o poder de nos transformar em primitivos novamente?
Não podemos permitir isso. Não mais. Fomos tão cruéis durante tanto tempo e agora, que temos a chance de viver a Nova Era, a era de amor, de amizade, insistimos nesses vícios destruidores?
Esporte é vida. Esporte é saúde do corpo e da alma. Esporte é superação íntima. Esporte não é destruição ou um simples instrumento para colocarmos para fora nossos animais internos.
O prazer de reunir um grande grupo para torcer por essa ou aquela equipe, nessa ou naquela modalidade, deve estar na confraternização.
O esporte perde seu sentido quando abandona a diversão, o lúdico. E mais, quando abandona a paz.
Ele deve ser instrumento da paz, e não da guerra.
Reflitamos sobre isso tudo. Eduquemos nossas crianças. Alteremos os costumes bárbaros ainda tão presentes nos esportes da Terra.
Esporte é vida. Esporte é saúde, confraternização e veículo da paz.
Redação do Momento Espírita, com base em reportagem
de Marleth Silva, do jornal Gazeta do Povo,
de 15.12.2013.
Em 10.3.2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário