sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

NA BARCA DO CORAÇÃO

Quando as nuvens negras dos pensamentos tormentosos cobrirem com escuro véu o horizonte de tuas esperanças e a barca de teu coração agitar-se, desgovernada, sobre as ondas... Quando as obrigações diárias, as dificuldades e os problemas, as surpresas - nem sempre agradáveis -, levarem-te a dizer: 
-Que dia! 
Lembra-te...Caía a tarde e a multidão ainda estava reunida na praia. Desde que o sol surgira, Jesus atendera as incontáveis súplicas daqueles que O buscavam. Mãos e lágrimas roçavam-lhe o rosto e a túnica - antes tão limpa e alva - e agora, toda manchada de lamentos. Finalmente, chegara às margens do lago, vencendo a dor e as tristezas dos sofredores. Aqueles que O viram deixando atrás de si um rastro confortador de estrelas, perguntavam-se: 
-Quem será este homem, a quem as dores obedecem? 
O céu acendia as cores da noite quando a barca de Pedro recolheu a preciosa carga. Jamais Jesus mostrara na face sinais tão evidentes de cansaço. Acomodado sobre uma almofada de couro, Sua majestosa cabeça pendeu sobre o peito, como um girassol real despedindo-se ao poente. Seus lábios deixaram escapar um longo suspiro antes de adormecer. Seus amigos pescadores não ousaram lhe perturbar o merecido sono, manejando remos com cuidado, auxiliados pelos sussurros de doce brisa. O lago de Genesaré assemelhava-se a gigantesco espelho de prata ao luar, tranquilo e sereno como o Mestre adormecido. Faltava pouco para completar a travessia, quando tudo transformou-se. O tempo irou-se, sem aviso. Adensadas, as nuvens de gaze leve tornaram-se tenebrosa tempestade, e o lago esqueceu a calmaria, encrespando-se, açoitado pelo vento. Para a barca, vencer a tormenta era como lutar contra vigoroso e invencível titã. Pedro usou toda a sua força e sabedoria nos remos, gritando ordens que se perdiam entre as gargalhadas dos trovões e dos relâmpagos. Os discípulos assustados correram a acordar Jesus, que ainda dormia. 
-Mestre! - exclamaram em coro desesperado - perecemos! 
Jesus, assim desperto, levantou-se prontamente, equilibrando o corpo cansado muito ereto, apesar da barca que, por pouco, não naufragava. Sua majestosa silhueta parecia estar envolta em misteriosa luz, quando ergueu os braços, ordenando à tempestade: 
-Calai-vos! 
E voltando-se para os amigos: 
-Acalmai-vos! Homens, onde está a vossa fé? 
Os ventos emudeceram e o lago baixou suas ondas, aplacado por misterioso imperativo. Os discípulos olhavam-se, num misto de surpresa e alívio. Envergonhados, voltaram-se para os remos. No compasso ritmado avançava a barca, ao compasso do coração daqueles homens que se perguntavam: 
-Quem será este homem, a quem os ventos obedecem? 
* * * 
Quando as nuvens negras dos pensamentos tormentosos cobrirem com escuro véu o horizonte de tuas esperanças, e a barca de teu coração agitar-se, desgovernada, sobre as ondas... Quando as obrigações diárias, as dificuldades e os problemas, as surpresas - nem sempre agradáveis -, levarem-te a dizer: Que dia! Lembra-te... Acorda a mensagem do Cristo adormecida em ti e... acalma-te! 
Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita, v. 3, ed. FEP. 
Em 11.1.2019.

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