Elisabeth Klüber-Ross |
Os alunos residentes estavam reunidos discutindo suas dificuldades. Todos eram unânimes em afirmar que o maior problema no hospital era o Dr. M.
Ninguém gostava daquele médico que tinha aos seus cuidados pacientes portadores de câncer. Ele era brilhante em seu trabalho, mas intolerável no trato pessoal.
Era áspero, arrogante e nunca admitia que alguém falasse que um de seus pacientes iria morrer.
A médica psiquiatra que a tudo escutava, inesperadamente falou:
-Não se pode ajudar uma outra pessoa sem gostar um pouquinho dela. Há alguém aqui que goste dele?
Depois de muitas caretas, risos e gestos hostis, uma moça ergueu a mão hesitante. Era uma enfermeira.
-Vocês não conhecem esse homem, ela começou. Não conhecem a pessoa que ele é.
Todas as noites, depois que todos os médicos já se retiraram, ele visita os pacientes. Começa no quarto mais distante do posto de enfermagem e vem seguindo, entrando de quarto em quarto.
Quando entra no primeiro, parece seguro, confiante, de cabeça alta. Mas, de cada quarto que sai, suas costas vão se curvando mais.
Quando sai do último quarto, está arrasado. Sem alegria, esperança ou satisfação por seu trabalho.
O que eu mais desejaria é quando ele está assim triste, pousar minha mão no seu ombro, como uma amiga. Mas nunca o fiz porque sou só uma enfermeira e ele é o chefe do departamento de Oncologia.
Nos momentos seguintes, todos se uniram e insistiram para que ela se esforçasse e seguisse o impulso do seu coração. Aquele homem precisava de ajuda.
Uma semana depois, reunidos novamente, a enfermeira entrou sorridente e disse:
-Consegui.
Na sexta-feira anterior, ela vira o médico sair arrasado do plantão. Dois dos seus pacientes haviam morrido naquele dia. Aproximou-se dele e, inesperadamente, ele a levou para o seu consultório e desabafou.
Ele falou como sonhava curar seus pacientes, enquanto os seus amigos, da mesma idade que ele, estavam constituindo família. Sua vida tinha sido aprender uma especialidade.
Agora, ele ocupava uma posição que podia fazer a diferença para a vida dos enfermos.
E, no entanto, todos eles morriam. Um após outro, todos morriam. Ele era um homem acabado, vencido.
Quando ouviram essa história, os residentes se deram conta de como todos somos frágeis e necessitados de afeto. Também de como uma pessoa tem o poder extraordinário de curar outras, apenas tomando coragem e agindo sob o impulso do coração.
Um ano depois, o Dr. M. era outro homem. Abriu o seu coração às pessoas e redescobriu as maravilhosas qualidades que possuía, o afeto e a compreensão que o haviam motivado a se tornar um médico.
* * *
Um gesto, uma atitude, um olhar podem mudar a vida de uma criatura.
Pessoas ásperas, de trato rude, quase sempre estão ocultando as suas mágoas e pesares profundos.
Por vezes, basta um pequeno toque para que elas abram o coração e demonstrem toda a sua fragilidade.
E o que faz a grande diferença na vida de tais pessoas é a demonstração de afeto, que pode ser de um grande amor, de um amigo, de um irmão ou de um colega de trabalho.
Por tudo isso, esteja atento. Olhe ao redor e descubra se você, com sua atitude, não pode fazer a grande diferença na vida de alguém.
Redação do Momento Espírita, com base
no cap. 20, do livro A roda da vida, de
Elisabeth Klüber-Ross, ed. Sextante.
Em 25.1.2019.
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