sexta-feira, 25 de novembro de 2016

LIÇÃO DE FELICIDADE

Foi num dia desses. Eram dois irmãos vindos da favela. Um deles deveria ter cinco anos e o outro dez. Pés descalços, braços nus. Batiam de porta em porta, pedindo comida. Estavam famintos. Mas as portas não se abriam. A indiferença lhes atirava ao rosto expressões rudes, em que palavras como moleque, trabalho e filhos de ninguém se misturavam. Finalmente, em uma casa singela, uma senhora atenta lhes disse: 
-Vou ver se tenho alguma coisa para lhes dar. Coitadinhos. 
E voltou com uma caixinha de leite. Que alegria! Os garotos se sentaram na calçada. O menor disse para o irmão: 
-Você é mais velho, tome primeiro... 
Estendeu a caixa e ficou olhando-o, com a boca semiaberta, mexendo a ponta da língua, parecendo sentir o gosto do líquido entre seus dentes brancos. O menino de dez anos levou a caixa à boca, no gesto de beber. Mas, apertou fortemente os lábios para que nenhuma gota do leite penetrasse. Depois, devolveu a caixinha ao irmãozinho: 
-Agora é a sua vez. Só um pouco, recomendou. 
O pequeno deu um grande gole e exclamou: 
-Como está gostoso. 
-Agora eu, disse o mais velho. 
Tornou a levar a caixinha, já meio vazia, à boca e repetiu o gesto de beber, sem beber nada. 
-Agora você. 
-Agora eu. 
-Agora você. 
Depois de quatro ou cinco goles, talvez seis, o menorzinho, de cabelo encaracolado, barrigudinho, esgotou o leite todo. Sozinho. Foi nesse momento que o extraordinário aconteceu. O menino maior começou a cantar e a jogar futebol com a caixinha. Estava radiante, todo felicidade. De estômago vazio. De coração transbordando de alegria. Pulava com a naturalidade de quem está habituado a fazer coisas grandiosas sem dar importância. Observando aqueles dois irmãos e o Agora você, Agora eu, nossos olhos se encheram de lágrimas. Que lição de felicidade. Que demonstração de altruísmo. O maior, em verdade, demonstrou, pelo seu gesto, que é sempre mais feliz aquele que dá do que aquele que recebe. Este é o segredo do amor. Sacrificar-se a criatura com tal naturalidade, de forma tão discreta, que o amado nem possa agradecer pelo que está recebendo. Enquanto os dois irmãos desciam a rua, cantarolando, abraçados, em nossa mente vários ensinos de Jesus foram sendo recordados. Fazer ao outro o que gostaria que lhe fosse feito. O óbolo da viúva. Amai-vos uns aos outros... 
 * * * 
Coloca, nas janelas da tua alma, o amor, a bondade, a compaixão, a ternura para que alcances a felicidade. Amando, ampliarás o círculo dos teus afetos e serás, para os teus amigos, uma bênção. Faze o bem, sempre que possas. E, se a ocasião não aparecer, cria a oportunidade de servir. Deste modo, a felicidade estará esperando por ti. 
Redação do Momento Espírita, com base em história de autoria ignorada. Em 24.11.2016.

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