Lorri Benedik |
O rapaz passava pelo empório da cidade, quando o proprietário o chamou. Tinha 19 anos e tinha boa aparência.
O dono lhe ofereceu um bandolim para comprar e lhe disse que tocar um instrumento era uma ótima forma de atrair garotas.
O rapaz achou interessante a ideia e depois de uma negociação, comprou o instrumento.
Ele já ouvira falar de uma orquestra de bandolins que praticava todas as semanas no porão de uma sinagoga. Eram filhos de imigrantes judeus, vindos da Europa Oriental.
Foi lá, aprendeu a tocar e a ler partituras musicais. A jovem Dora já tocava na orquestra.
Foi olhar o rapaz e ir se encantando aos poucos. Um dia, ela criou coragem e o convidou para ser seu par numa festa de formatura da escola.
Começaram a namorar. Quando andavam lado a lado, Kelly segurava o braço de Dora gentilmente.
A vizinhança dizia que eles pareciam Cinderela e o Príncipe Encantado.
O jovem par se casou. Era o ano de 1944 e Dora acabara de completar 20 anos.
Três anos mais tarde, nasceu o primeiro filho e depois o segundo e o terceiro.
Preocupações sempre havia. Orçamento familiar. Comportamentos na escola. Momentos sérios de conversas ao redor da mesa da cozinha, depois de colocar as crianças na cama.
E elas ouviam, de seus quartos, as vozes suaves dos pais flutuarem pelo corredor.
Risos eram constantes naquele lar. Contavam histórias bobas, só para rir. Criavam danças malucas, ouviam e tornavam a ouvir os mesmos discos.
Quando as crianças ficaram maiores, Dora manifestou desejo de trabalhar meio período. E, se isso a faria feliz, tudo estava bem para Kelly.
Logo, ela chegaria à conclusão que, sem um diploma universitário, não teria promoções, não cresceria. E nem seu salário.
Reuniu marido e filhos ao redor da mesa da cozinha e expôs seu plano. Precisava e desejava obter um diploma universitário.
Queria ser professora de verdade. No entanto, o marido teria de cuidar das crianças, durante a noite.
O filho maior teria que colaborar, chegando em casa cedo o suficiente para ajudar o pai com o jantar. A filha do meio deveria auxiliar a menor nos deveres de casa.
Kelly respirou fundo e disse:
-Dora, não se preocupe. Ficaremos bem. Sei o que isso representa para você. Serei o homem mais feliz desta cidade porque terei a mulher mais feliz ao meu lado.
Aos 50 anos, Dora recebeu o grau de bacharel em educação pré-escolar.
Kelly enxugou lágrimas de alegria, irradiando orgulho.
Ele não conseguiu terminar os estudos, pois precisava trabalhar para ajudar no sustento da família.
Dia desses, Dora precisou viajar para ir ao casamento de um parente. Kelly ficou em casa, porque não gosta de viajar.
A filha, preocupada com o pai sozinho em casa, telefonou. Achou a voz dele muito estranha.
- Algum problema?- Perguntou.
- Promete que não vai rir? - Disse ele.-Sinto falta de sua mãe.
- Mas, pai, ela viajou há poucas horas.
Eu sei, mas depois de 60 anos de casamento...
Na história de amor desse casal, nada de extraordinário. O seu conto de amor não tem mágica, castelo, fada madrinha, varinha de condão.
Como eles conseguem viver juntos há tanto tempo?
Eles nunca brigam. Não são abertamente carinhosos mas têm uma união muito profunda.
Importam-se um com o outro. Relevam pequenas falhas. Exaltam as virtudes de um e de outro.
Sobretudo, entre carinho, ternura e afeto, uma grande dose de respeito mútuo.
Redação do Momento Espírita com base no artigo
Uma história de amor à moda antiga, de Lorri Benedik,
de Seleções Reader´s Digest, outubro de 2005.
Em 08.02.2010.
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