domingo, 29 de dezembro de 2024

O MAU IMPULSO

MALBA TAHAN
Conta-se que um aldeão, homem rude, mas sincero, queixou-se a um sábio de que o mau impulso o dominava constantemente. 
-Sabes montar a cavalo? - Perguntou o sábio. 
-Sei, sim senhor. - Respondeu prontamente o aldeão. E monto com muita perícia. Sei até lidar com cavalos bravios.
-Que fazes, quando te acontece de cair? - Indagou o sábio.
-Monto outra vez. - Retrucou o homem com certa empáfia.
-Pois bem: faz de conta que o mau impulso seja o cavalo. – Disse o sábio, com um sorriso de inteligência. - Se caíres, torna a montar. No fim, domarás o cavalo bravio e andarás pela vida sem receio.
* * * 
Importante ensinamento esse, pois muitos são os que jogam a culpa de seus atos infelizes nos seus maus impulsos. 
Dizem que a carne é fraca e com isso justificam os instintos negativos de toda ordem. 
Em O livro dos Espíritos, de Allan Kardec, este assunto foi tratado com muita clareza. 
Desejando saber sobre as paixões ou impulsos que têm conduzido o homem a grandes conquistas, mas também a grandes abismos, o Codificador da Doutrina Espírita perguntou aos sábios da Espiritualidade: 
-Será substancialmente mau o princípio originário das paixões, embora esteja na natureza? 
-Não, responderam os imortais, a paixão está no excesso de que se acresceu a vontade, visto que o princípio que lhe dá origem foi posto no homem para o bem, tanto que as paixões podem levá-lo à realização de grandes coisas. O abuso que delas se faz é que causa o mal. 
Desejando aclarar mais o entendimento, Kardec indagou:
-Como se poderá determinar o limite onde as paixões deixam de ser boas para se tornarem más? 
E a resposta: 
-As paixões são como um corcel, que só tem utilidade quando governado e que se torna perigoso desde que passe a governar. Uma paixão se torna perigosa a partir do momento em que deixais de poder governá-la e que dá em resultado um prejuízo qualquer para vós mesmos, ou para outrem. As paixões são alavancas que decuplicam as forças do homem e o auxiliam na execução dos desígnios da Providência. Mas, se, em vez de as dirigir, deixa que elas o dirijam, cai o homem nos excessos e a própria força que, manejada pelas suas mãos poderia produzir o bem, volta-se contra ele e o esmaga. Todas as paixões têm seu princípio num sentimento, ou numa necessidade natural. O princípio das paixões não é, assim, um mal, pois que assenta numa das condições providenciais da nossa existência. A paixão propriamente dita é a exageração de uma necessidade ou de um sentimento. Está no excesso e não na causa e este excesso se torna um mal, quando tem como consequência um mal qualquer. Toda paixão que aproxima o homem da natureza animal afasta-o da natureza espiritual. Todo sentimento que eleva o homem acima da natureza animal denota predominância do Espírito sobre a matéria e o aproxima da perfeição. 
Como podemos perceber, o sábio tinha razão quando disse ao aldeão que que ele devia conduzir o corcel e não o inverso.
Quando não conseguimos segurar as rédeas dos impulsos, eles nos levam por caminhos difíceis e podemos nos ferir gravemente ou nos precipitar em abismos escuros e profundos. 
Por todas essas razões, vale a pena domar esse cavalo bravio que muitas vezes tenta nos dominar. 
* * * 
A ambição é um exemplo de paixão que impulsiona o homem a grandes conquistas. 
Mas quando o homem se deixa por ela dominar, pode encontrar pela frente muita dor e sofrimento. 
Pense nisso! 
Redação do Momento Espírita com base em conto do livro Lendas do povo de Deus, de Malba Tahan, ed. Record e nos itens 907 e 908 de O livro dos Espíritos, de Allan Kardec, ed. Feb. 
Em 15.08.2011.

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