sábado, 31 de agosto de 2024

A MAIS NOBRE PROFISSÃO

CHICO XAVIER e NEIO LÚCIO
Qual será a profissão mais noCHIbre? 
Quem será mais importante: o médico que salva vidas ou o motorista do coletivo que conduz centenas de passageiros, todos os dias, em segurança? 
Quem terá maiores méritos perante a Divindade? 
O professor que ensina à criança as primeiras letras, descortinando-lhe o mundo encantado do alfabeto ou o professor universitário que prepara os jovens para o mercado de trabalho, para a sociedade, ensinando-os com a própria experiência? 
Analisando as tantas profissões que existem no mundo, conclui-se que nenhuma pode ser descartada. 
Senão vejamos: o escritor utiliza dos seus recursos e escreve livros que renovam o pensamento do mundo. 
A sua é a possibilidade de encantar, de proporcionar viagens fantásticas pela imaginação, de utilizar sabedoria, arte e beleza, dentro da vida. 
Contudo, uma vassoura simples faz a alegria da limpeza. 
E, sem limpeza, o poeta não consegue trabalhar. 
As máquinas agrícolas abrem sulcos profundos na terra, revolvendo-a e a preparam para o plantio. 
Logo mais, as linhas que ela traça no solo transbordarão de milho, arroz, batata, trigo, enchendo os celeiros e as mesas. 
O marceneiro trabalha com cuidado a madeira e lhe confere formas que cooperam na construção do lar. 
O pedreiro ergue muros, coloca alicerces para os edifícios grandiosos. 
Organiza o seu pensamento e os seus esforços e faz surgir obras fenomenais. 
Mas por mais belo que seja o edifício, os seus mármores, cristais, tapetes luxuosos, não dispensarão a mão amiga da faxineira que lhes dará brilho. 
Os magistrados usam a pena e a justiça e sentenciam. 
Das suas sentenças dependem vidas. 
Vidas que prosseguirão a ter alegrias ou se encherão de tristezas. 
Os políticos orientam e governam, elaboram leis e as votam, decidindo o que seja melhor para o povo. 
Entretanto, todos eles necessitam das mãos hábeis que conduzem as máquinas que lhes tecem as roupas que os defendem do frio. 
Se os juízes se reúnem nas mesas de paz e justiça, os lavradores e agricultores são os que lhes ofertam os recursos para as refeições. 
Ninguém suponha que, perante Deus, os grandes homens sejam somente aqueles que usam a autoridade intelectual.
Que seria da Humanidade se, de repente, não tivéssemos mais cozinheiros, recepcionistas, lavadeiras, arrumadeiras, babás? 
Que faríamos sem essa gama enorme de servidores da Humanidade? 
* * * 
Todos somos chamados a servir, na obra do Senhor, de maneira diferente. Cada trabalhador, em seu campo de ação, pode se considerar honrado pelo bem que possa produzir.
Cada empregador ou empregado nos convençamos de que a maior homenagem que podemos prestar ao Criador é a correta execução do nosso dever, onde estivermos. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 44, do livro Alvorada cristã, pelo Espírito Neio Lúcio, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. FEB. 
Em 14.2.2019.

sexta-feira, 30 de agosto de 2024

O QUE É SER LIVRE

Lúcia Helena Galvão
Mil vozes dentro de mim e eu disse não. 
Mil forças à minha volta, um furacão,
E eu logrei sustentar o meu lugar. 
Senti-me como um pilar que escolhe, calmo, 

Onde fixa suas bases, seus fundamentos, sua fundação. 
A folha solta rodopiava à minha volta, 
Pobre escrava do vento. 
E assoviava, inconsciente, em movimento: como sou livre!
Enquanto eu ousei atar-me ao mastro do que creio 
Em meio à voz das sereias que cantam, encantadoramente.
* * * 
DIVALDO E JOANNA D'ÂNGELIS
O que é ser livre? 
Alguns podem dizer que ser livre é não estar atado, é não estar preso a nada. 
Ser livre é fazer o que se quer, a hora que se quer. 
Em verdade, alguns dos nossos conceitos, assim como nós mesmos, precisam amadurecer. 
Imannuel Kant, um dos principais pensadores do Iluminismo, trata a liberdade de uma forma mais profunda.
Resumidamente, a conclusão a que ele chega é de que a pessoa só é livre quando faz o que não quer. 
Parece-nos estranho, pois nos soa justamente como o contrário do que entendemos por liberdade. 
No entanto, o que ele quer dizer é que, quando fazemos apenas aquilo que queremos, somos, na maioria das vezes, escravos do desejo, das convenções. 
E estamos afastados do dever. 
O dever nos leva àquilo que precisamos fazer. 
Para esse pensador, liberdade é agir segundo as leis. 
Se levarmos esse conceito para a esfera das leis universais, para as leis divinas, perceberemos que ele é perfeito.
Somente mediante a responsabilidade, o homem se liberta, sem se tornar indecente ou insensato. 
A sociedade, que fala em nome das pessoas de sucesso, estabelece que a liberdade é o direito de fazer o que cada qual quer, sem dar-se conta de que essa liberação da vontade termina por interditar o direito dos outros. 
Se cada indivíduo agir conforme achar melhor, considerando-se liberado, essa atitude trabalha em favor da anarquia, responsável por desmandos sem limites. 
Dessa forma, entendemos que a verdadeira liberdade tem muito mais a ver com nossa própria autonomia, com nossa autoconquista, do que simplesmente com o fazer o que queremos. 
Examinando essa problemática, Jesus sintetizou os meios de conseguir a autêntica liberdade, na busca da verdade, única opção para tornar o homem realmente livre. 
Conhecereis a verdade e ela vos libertará. 
A verdade que é de Deus. 
Não a verdade conveniente de cada um, que é a forma doentia de projetar a própria sombra, de impor a nossa imagem, de submeter a vontade alheia à nossa. 
Deus está dentro de nós.
Necessário imergir na sua busca diariamente. 
Conhecer a verdade, conhecer as leis maiores da vida e ganhar uma liberdade jamais antes sonhada. 
Esse é o nosso mastro, onde nos ataremos com segurança, enfrentando os obstáculos, enfrentando a liquidez e as incertezas do mundo material. 
Essa busca pela liberdade autêntica nos levará a uma vida mais plena e significativa. 
Sentiremos que somos, verdadeiramente, senhores de nossas ações, permitindo-nos escolher o que é certo, justo, sem considerar desejos passageiros ou pressões de terceiros.
Conquistemos nossa ampla liberdade. 
Redação do Momento Espírita, com base em trecho do poema Liberdade, de Lúcia Helena Galvão, do livro Instantes de um tempo interior, ed. Literare Books e na pt. 1, item Liberdade, do livro O homem integral, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. 
Em 30.8.2024

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

O TEMPO QUE NOS RESTA

Será que o tempo passa rápido ou é lento, como quem, em idade avançada, tem dificuldades para caminhar? 
Se perguntarmos a um menino de cinco anos, talvez nos diga que ele é lento demais. 
Os natais são distantes, as férias mais ainda, o aniversário, então, não chega nunca. 
Parece que somente na percepção infantil o tempo é moroso, chegando devagar, quase parando. 
Talvez porque a vida se encontre em seu início e a perspectiva é de muito futuro e pouco passado. 
O tempo tem dessas estripulias. 
Quando olhamos para ele no futuro, parece que demora muito a chegar. 
Porém, quando ele vira passado, voa célere, desaparecendo rápido, fazendo que nos percamos em dias e anos. 
Às vezes, quando nos perguntam a idade, nos admiramos ao informar os anos já vividos. 
O tempo é recurso valioso, que devemos utilizar com sabedoria. 
Escoa através de nós aos segundos, que rapidamente viram minutos, horas e se tornam anos. 
Dessa maneira, é necessário refletir sobre quanto desse recurso ainda nos resta. 
De quanto tempo dispomos para realizar os planos que estão somente em linhas escritas ou projetos desenhados. 
Há que pensarmos quanto tempo nos resta para nos vincularmos ao trabalho voluntário que idealizamos e não concretizamos. 
De quanto tempo dispomos para ver nossos filhos crescerem antes que eles ganhem as estradas da vida? 
Quanto tempo temos para retomarmos sonhos que abandonamos em algum momento da jornada, desencantados e tristes: uma nova profissão, um novo curso, uma nova habilidade? 
O tempo da vida é demais valioso para que o desperdicemos em dias que nada acrescentam. 
Pensemos em quanto tempo gastamos com implicâncias, brigas e embates, que somente nos conduzem a desgaste emocional. 
Quanto do nosso tempo utilizamos para cultivar mágoas, alimentar malquerenças ou o desgosto por alguém? 
O tempo que nos resta é por demais precioso para que seja utilizado de maneira vazia ou inútil. 
Sábias são as orientações do Mestre de Nazaré nos aconselhando a tratar de nos reconciliarmos com nossos adversários, enquanto estamos a caminho com eles. 
Ou de buscarmos de imediato aquele que tenha qualquer queixa para conosco, resolvendo a problemática. 
O amanhã é incerto e somente o Pai Celeste sabe a hora de partirmos. 
Se deixarmos para mais tarde, podemos correr o risco de não conseguirmos solucionar discórdias, diluir mágoas, consertar rusgas tolas. 
Isso porque podemos partir logo mais. 
Ou o outro pode realizar a sua viagem, de forma inesperada, antes de nós. 
Por tudo isso, sirvamo-nos muito bem do tempo do agora, do tempo que ainda dispomos e não sabemos quanto seja.
Tenhamos medo de não utilizá-lo da melhor maneira, de não aproveitar nossos dias em aprendizado, reconciliação e amorosidade. 
A vida é plena de oportunidades. 
Não as deixemos simplesmente passar por nós.
Empreguemos o recurso do tempo com coisas que nos encham o coração e a mente de valores para a construção de nossa felicidade. 
Abracemos, amemos, agora. 
Não deixemos para depois. 
Redação do Momento Espírita 
Em 29.8.2024

quarta-feira, 28 de agosto de 2024

A CADEIRA VAZIA

Richard Simonetti
Era um singelo templo, frequentado por moradores da região daquele distante bairro de Londres. 
Os anos se passavam e o pequeno grupo se mantinha constante nas reuniões, ocupando sempre os mesmos lugares. 
Foi por isso mesmo muito fácil ao pastor descobrir, certo dia, uma cadeira vazia. 
Estranhou, mas logo esqueceu. 
Na semana seguinte, a mesma cadeira vazia lá estava e ninguém soube informar o que estava acontecendo. 
Na terceira ausência, o pastor resolveu visitar o faltoso. 
No dia frio, foi encontrá-lo sentado, lendo, muito confortável, em frente da lareira de sua casa. 
-Você está doente, meu filho?-Perguntou. 
A resposta foi negativa. 
Ele estava bem. 
-Talvez esteja atravessando algum problema, ousou falar o pastor, preocupado. 
Mas estava tudo em ordem. 
E o homem foi explicando que, simplesmente, deixara de comparecer. 
Afinal, ele frequentava o templo há mais de vinte anos.
Sentava na mesma cadeira, pronunciava as mesmas orações, lia as mesmas passagens evangélicas, ouvia os mesmos sermões. 
Não precisava mais comparecer. 
Ele já sabia tudo de cor. 
O pastor refletiu por alguns momentos. 
Depois, se dirigiu até a lareira, atiçou o fogo e de lá retirou uma brasa. 
Ante o olhar surpreso do dono da casa, colocou a brasa sobre a soleira de mármore, na janela. 
Longe do braseiro, ela perdeu o brilho e se apagou.
Logo, era somente um carvão coberto de cinza. 
Então, o homem entendeu. 
Levantou-se de sua poltrona, caminhou até o visitante e falou:
-Tudo bem, pastor, entendi a mensagem. 
E voltou a frequentar o templo. 
* * * 
Todos somos brasas no braseiro da fé. 
Se mantemos regular frequência ao templo religioso, estudando e trabalhando, nos conservamos acesos e quentes. 
Mas exatamente como fazem as brasas, é preciso estender o calor. 
Assim, acostumemos a não somente orar, pedir e esperar graças. 
Iluminados pelo Evangelho de Jesus, nos disponhamos a agir em favor dos nossos irmãos. 
Como as brasas unidas se transformam em um imenso fogaréu, clareando a escuridão e aquecendo as noites gélidas, unidos aos nossos irmãos de ideal, poderemos estabelecer o calor da esperança em muitas vidas. 
Abrasados pelo amor a Jesus, poderemos transformar horas monótonas em trabalho no bem. 
A simples presença na assembleia da nossa fé, em um dinâmico trabalho de promoção social, beneficiando a comunidade. 
Pensemos nisso e coloquemos mãos à obra. 
 * * * 
Clarificados pela mensagem do Cristo, espalhemos calor nas planícies gélidas da indiferença, da soledade e da necessidade. 
Procuremos a dor onde ela se esconda e a envolvamos nos panos aquecidos da nossa dedicação. 
Estendamos o brilho da esperança nas vidas amarfanhadas dos que nunca conseguiram crer em algo que esteja além do alcance dos seus sentidos físicos. 
Tornemo-nos brasas vivas, fazendo luz onde estejamos, atuando e servindo em nome de Jesus. 
Redação do Momento Espírita, com base no artigo A cadeira vazia, de Richard Simonetti, da Revista Reformador, de maio de 2000, ed. FEB. 
Em 28.8.2024

terça-feira, 27 de agosto de 2024

A MAIS NOBRE MISSÃO

RAUL TEIXEIRA
Como pais, de modo geral, idealizamos para nossos filhos profissões que os remetam a condições sociais elevadas.
Desejamos que se tornem pessoas de destaque. 
E que sejam recompensados com elevados salários. 
Será que nos damos conta de que nossos filhos, como nós mesmos, têm uma missão a cumprir neste planeta? 
E qual será a maior missão? 
Avaliemos a missão de um professor. 
Aquele que recebe a criança e vai lhe ilustrar a mente. 
Que missão extraordinária: tirar a teia de aranha da mente humana. 
Retirá-la da escuridão do desconhecimento dos símbolos e sinais gráficos. 
Ver uma criança aprender a ler, a entender o que leu, com seus esforços diários, é uma bênção, uma felicidade. 
Não há salário que pague. 
Nem sempre reconhecido, o professor é um missionário. 
À medida que avançam as classes, vamos nos deparando com outros tantos mestres que passam seu conhecimento, o resultado de suas experiências e de suas pesquisas. 
E que podemos falar da missão de um médico? 
Aquele que cumpre religiosamente o juramento de salvar vidas. 
Essa criatura que prescreve medicamentos, realiza cirurgias inimagináveis. 
Basta olhar por breve tempo as pessoas chegando ao pronto-socorro com ferimentos e fraturas tão graves, que nos assustam. 
Lá está o médico para consertar ossos, reestruturar aquele ser humano. 
E o cirurgião plástico, como um especial artesão recompõe o aspecto da pessoa. 
Parece-nos um deus. 
Deus da estética, da aparência, melhorando a autoestima da criatura. 
Imaginemos um pediatra que recebe uma criança à beira da morte, trata dela e a devolve aos pais com vida. 
Que missão! 
Mas pensemos na missão da cozinheira. 
Ela é a senhora e a rainha nas dependências da cozinha. 
Não é somente a mestra no preparo dos pratos que nos deliciam o paladar. 
Com seu amor ao que faz, ela impregna de bênçãos todo o alimento. 
Por isso, mesmo com a receita em mãos, o nosso prato pode não ficar igual ao dela. 
E quem de nós já parou para pensar naquela pessoa que cuida dos nossos filhos enquanto estamos fora do lar? 
Ela nos substitui e alimenta com seus fluidos a nossa criança.
Como é importante que ela ame a sua missão. 
Precisa estar atenta a dar o remédio e a mamadeira na hora certa. 
Sair a passear com ela, mostrando-lhe as belezas da natureza. 
Pensemos na importância das pessoas, às quais costumamos não dar importância. 
E o lixeiro - como seria nossa rua, nossa cidade sem ele?
Como poderíamos viver, sem o exercício da sua missão, considerando a quantidade de lixo que produzimos por dia?
Como vemos, há missões em todos os graus, em todos os níveis. 
Bendito aquele que realiza a sua missão com alegria, com gosto. 
Cada um de nós deveria parar para pensar na sua missão, no que faz, pelo que é responsável. 
E declarar para si mesmo: Como eu sou importante! 
Dessa maneira, daríamos valor a nós mesmos e a toda criatura, na execução do seu papel. 
Todos somos missionários, onde estamos, com quem estamos. 
Pensemos nisso e queiramos isso para nossos filhos.
Redação do Momento Espírita, com base no curta Qual é a sua missão, de Raul Teixeira, disponível no @canalfep. 
Em 26.6.2024

segunda-feira, 26 de agosto de 2024

UMA NOITE DE AMOR

Ela chegou radiante, com seus cabelos acinzentados e seu sorriso inconfundível. 
Era o noivado de sua filha. 
Mal colocou os pés no amplo salão, uma grande surpresa a deixou parada à porta. 
Ali estavam familiares, parentes distantes, amigos de anos de convivência. 
Todos de pé, aplaudindo-a e entoando o Parabéns a você. 
Ela somente disse: 
-Mas a festa é da minha filha! 
Somente ela não sabia porque a filha assim desejava homenagear sua mãe, ao mesmo tempo que selava um compromisso de amor assumido há dois anos. 
Como aquele coração de setenta anos conseguiu segurar as lágrimas, abraçar as pessoas, falar de suas experiências, enquanto, de forma concomitante, participou das alegrias da filha, foi inacreditável. 
Emoções se sucediam a cada passo. 
Abraços saudosos, reencontros com companheiras de trabalho de longo tempo, amigas do ontem. 
E houve muitas declarações de amor. 
Quando se pensa que a magia abandonou os palcos do mundo, que o romantismo se foi, embrulhado num manto de saudade, sucederam-se os brindes da doçura desse nobre sentimento. 
Um sentimento surgido num momento profissional, alimentado no tempo, fortalecido na convivência, no conhecimento do outro. 
Frases de pura admiração, de bem-querer brotaram dos lábios jovens. 
Declarações de amor dos que estabeleciam ali, na troca de alianças, o selar de algo que se solidificara na sequência dos meses. 
Gratidão de uma filha apaixonada pela mãe, louvando-lhe as qualidades. 
Palavras apaixonadas de um marido, afirmando da alegria pelos mais de cinquenta anos vividos ao lado de sua amada.
Uma moça pela qual se apaixonou, no primeiro olhar, enquanto transitava pela rua da cidade. 
Uma jovem que ele precisou descobrir onde morava. 
E para poder namorá-la, foi preciso conquistar primeiramente o futuro sogro. 
Sim, porque embora ela correspondesse de imediato àquele olhar, como num verdadeiro reencontro, ela lhe dissera: 
-Quero namorar com você, mas se meu pai não gostar de você... 
E ele fez o que pôde para conquistar o coração daquele homem forte, de bigodes fartos e um vozeirão que quase assustava. 
Tudo porque queria aquela jovem ao seu lado para o resto dos seus dias. 
Queria compartilhar sua vida, suas conquistas, amá-la, crescer com ela e ao lado dela. 
Tão grande foi esse amor que, encerrando sua fala de emoção, a pediu em casamento para a próxima reencarnação. 
E adivinhem... 
Ela aceitou. 
Entre palmas, sorrisos e expressões de contentamento dos convidados, o casal dançou abraçado, apaixonado. 
*** 
Como é maravilhoso o amor. 
Nunca para de surpreender, de encantar e seduzir, com sua sinfonia familiares, amigos, que se harmonizam aos seus compassos. 
Como é bom saber que existem casais que se amam, que estabelecem laços profundos de respeito, de carinho, no rolar dos anos. 
Porque amor de verdade é assim. 
Não acaba nunca. 
Somente se fortalece, somente muda suas expressões, indo da ternura ao devotamento, das renúncias ao contentamento, de pequenas rusgas para um abraço de reconciliação. 
Amor. 
O sentimento que bem nos retrata como filhos do Pai Celeste.
Redação do Momento Espírita, baseado em fatos envolvendo a família de Carlos e Wilma Arcari. 
Em 26.8.2024.

domingo, 25 de agosto de 2024

O MAIS NECESSÁRIO

Conta-se que, certa vez, o Imperador D. Pedro II recebeu uma carta de seus admiradores, que dizia que eles haviam decidido abrir uma lista a fim de angariar fundos suficientes para erigir uma estátua em sua homenagem. 
D. Pedro leu com vagar a missiva. 
Depois, redigiu a resposta aos promotores do movimento, pedindo-lhes que aplicassem o produto da lista na instalação de escolas para o povo. 
Entre outros apontamentos, escreveu: 
Senhores. 
Sabem como sempre tenho falado no sentido de cuidarmos seriamente da educação pública. Nada me agradaria tanto como ver a nova era de paz, firmada sobre o conceito da dignidade dos brasileiros, começar por um grande ato de iniciativa deles a bem da educação pública. Agradecemos a ideia que tiveram da estátua. Estou certo de que não serei forçado a recusá-la. 
* * * 
Utilizar bem os recursos amoedados é demonstração de sabedoria. 
Empreender campanhas em prol dessa ou daquela causa também. 
Sempre que nos prestarmos a arrecadar fundos, a colaborar para o bem geral, pensemos no que é mais apropriado. 
Auscultemos as necessidades da localidade onde vivamos, e nos perguntemos: 
-O que é mais importante? 
Se o local está com lixo nas ruas, compete-nos lutar pela coleta de lixo, e educação aos moradores para que coloquem, em dias certos, em locais apropriados, bem acondicionado todo o lixo, a fim de ser recolhido. 
Se a localidade onde residimos não dispõe de socorro médico algum, cabe-nos incentivar a instalação de um ambulatório, um posto médico, um pequeno hospital. 
Ao menos, para atender as situações mais emergenciais, os casos mais críticos, porque perder minutos no atendimento médico pode significar a morte. 
Se observamos a criançada andando solta pelas ruas, rapidamente encetemos uma campanha pela instalação de uma escola. 
Se a escola existe, verifiquemos se não está deficitária. 
Não estará necessitando de recursos materiais e humanos para poder atender a maior número de crianças? 
Disponhamo-nos a ser voluntários nas horas da semana que nos sobrem e auxiliemos a escola.
Verifiquemos, em loco, o que de mais carece e lutemos por conseguir. 
Se nos preocuparmos com a criança, hoje, instruindo-a, educando-a, amanhã, com certeza, teremos menos criminosos para punir.
 * * * 
Dinheiro não é fator absoluto de felicidade, mas pode concretizar a felicidade de muitos. 
Pode se transformar no remédio ao doente, na gota de leite à criança faminta, no teto ao velhinho sem família ou em abandono. 
Pouco dinheiro pode comprar um pão, muito dinheiro pode abrir um negócio que empregue vários pais de família, a fim de que muitas crianças tenham pão à mesa. 
E não somente pão, mas frutas, verduras e uns docinhos extras. 
Assim, toda a vez que o dinheiro circular por nossas mãos e nos sintamos motivados a realizar campanhas, pensemos sempre no mais necessário.
Realizemos o melhor. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Pedro II e a instrução, do livro Chico Xavier, D. Pedro II e o Brasil, de Walter José Faé, ed. Correio Fraterno. 
Em 21.1.2013.

sábado, 24 de agosto de 2024

UMA GOTA D'ÁGUA

Você já parou, alguma vez, para observar uma gota d’água? 
Sim, uma pequena gota d’água equilibrando-se na ponta de um frágil raminho... 
Com graciosidade, a gotícula desafia a lei da gravidade, balançando-se nas bordas das folhas ou nas pétalas de uma flor. 
São gotas minúsculas, que enfeitam a natureza nas manhãs orvalhadas ou permanecem como pequenos diamantes líquidos, depois que a chuva se vai. 
É por isso que um bom observador dirá que a vida seria diferente se não existissem gotas de água para orvalhar a relva e amenizar a secura do solo. 
Madre Tereza de Calcutá foi uma dessas almas sensíveis. 
Um dia, um jornalista que a entrevistava lhe disse que, embora admirasse o seu trabalho junto aos pobres e enfermos, considerava que o que ela fazia, diante da imensa necessidade, era como uma gota d’água no oceano. E aquela pequena sábia mulher lhe respondeu: 
-Sim, meu filho, mas sem essa gota d’água o oceano seria menor.
* * * 
Sem dúvida uma resposta simples e extremamente profunda, pois, sem os pequenos gestos que significam muito, a vida não seria tão bela... 
Um aperto de mão, em meio à correria do dia a dia...
Um minuto de atenção a alguém que precisa de ouvidos atentos, para não cair nas malhas do desespero... 
Uma palavra de esperança a alguém que está à beira do abismo. 
Um sorriso gentil a quem perdeu o sentido da vida. Uma pequena gentileza diante de quem está preso nas armadilhas da ira. 
O silêncio, frente a ignorância disfarçada de ciência...
A tolerância com quem perdeu o equilíbrio. 
Um olhar de ternura para quem pena na amargura.
Pode-se dizer que tudo isso são apenas gotas d’água, que se perdem no imenso oceano, mas são essas pequenas gotas que fazem a diferença para quem as recebe. 
Sem as atitudes, aparentemente insignificantes, que dentro da nossa pequenez conseguimos realizar, a Humanidade seria triste e a vida perderia o sentido.
Um abraço afetuoso, nos momentos em que a dor nos visita a alma... 
Um olhar compassivo, quando nos extraviamos do caminho reto... 
Um incentivo sincero de alguém que deseja nos ver feliz, quando pensamos que o fracasso seria inevitável... 
Todas essas são atitudes que embelezam a vida. E se um dia alguém lhe disser que esses pequenos gestos são como gotas d’água no oceano, responda, como madre Tereza de Calcutá, que sem essas gotas o oceano de amor seria menor. 
E tenha certeza disso, pois as coisas grandiosas são compostas de minúsculas partículas. 
* * * 
Sem a sua quota de honestidade, o oceano da nobreza seria menor. 
Sem as gotas de sua sinceridade, o mar das virtudes seria menor. 
Sem o seu contributo de caridade, o universo do amor fraternal seria consideravelmente menor. 
* * * 
Pense nisso! 
E jamais acredite naqueles que desconhecem a importância de um pequeno tijolo na construção de um edifício. 
Lembre-se da minúscula gota d’água, que delicadamente se equilibra na ponta do raminho, só para tornar a natureza mais bela e mais romântica, à espera de alguém que a possa contemplar. 
E, por fim, jamais esqueça que são essas mesmas pequenas e frágeis gotas d’água que, com insistência e perseverança, conseguem esculpir a mais sólida rocha. 
Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita, v. 10, ed. FEP. 
Em 24.8.2024.

sexta-feira, 23 de agosto de 2024

A MAIS IMPROVÁVEL LIÇÃO DE AMOR

O que é o amor? 
Alguém escreveu que o amor é como uma flor no deserto. 
Nasce, aparece, cresce, amadurece e transforma em oásis qualquer lugar hostil, áspero e cruel. 
É comum, no entanto, em noticiários que divulgam crimes passionais, ouvirmos que quem matou o fez por amor. 
Terá o amor esse viés de agressividade, de maldade, ao ponto de perseguir, agredir, acabar com a vida de quem dizemos amar? 
Será esse o sentido do amor? 
O amor que se registra como posse e se não puder ser nosso, ninguém mais o terá? 
O Mestre de Nazaré nos instituiu como lei máxima a do amor. 
Amor a Deus, o Criador, e ao nosso próximo. 
Detalhou ainda que deveríamos amar a nós mesmos. 
Eis uma regra especial, algo que nos deve levar a reflexionar com profundidade: quem deseja algo ruim para si mesmo? 
Não desejamos para nós somente o melhor, o bom, o agradável?
Talvez, alguns de nós, tenhamos uma ideia distorcida do que seja o amor. 
Como aquele jovem presidiário que conta que seu padrasto costumava lhe bater com extensões elétricas, cabides, pedaços de pau, o que tivesse à mão. 
E toda vez que assim o agredia, repetia: 
-Isso dói mais em mim do que em você. Faço isso porque amo você.
Foi assim que ele cresceu com a falsa ideia de que o amor tinha de fazer mal. 
E passou a medir a extensão desse sentimento exatamente pela dor que alguém poderia sofrer. 
Por isso, aos que dizia amar, ele magoava, machucava. 
Andando pela viela dos desacertos, acabou preso e condenado à prisão perpétua. 
Segundo ele, pena merecida por ter cometido um terrível crime. 
Um duplo assassinato: de uma mulher e de uma criança. 
Foi no ambiente da prisão que ele entendeu o que era e o que não era amor. 
O que via ali era maldade, crueldade, desespero, desesperança. 
Seria mesmo isso o amor? 
E a lição chegou de uma forma totalmente improvável. 
Foi uma mulher, Agnes, quem lhe ensinou o que era o verdadeiro amor. 
Ela tinha razões para odiá-lo porque era a mãe e avó das suas vítimas. 
Contudo, ela o foi visitar na prisão e viu naquele jovem o ser humano sofrido, marcado por traumas, desorientado, perdido e lhe ofereceu amor. 
Aquele amor que compreende, que apoia, que perdoa. 
O amor que salva, que ergue um novo edifício em meio aos escombros de uma vida marcada pela violência. 
Um amor que transforma, que leva a criatura a refletir sobre o que fez e lhe indica rumos novos, para os anos que ainda tem à frente. 
* * * 
Léon Denis
O amor é o olhar de Deus! 
O amor é o sentimento superior em que se fundem e se harmonizam todas as qualidades do coração: é o coroamento das virtudes humanas, da doçura, da bondade. 
É a manifestação na alma de uma força que nos eleva acima da matéria, até alturas divinas, unindo todos os seres. 
O amor, profundo como o mar, infinito como o céu, abraça todas as criaturas. 
Deus é o seu foco. 
Assim como o sol se projeta sobre todas as coisas e aquece a natureza inteira, assim também o amor divino vivifica todas as almas. 
Deus é amor. 
E como somos Seus filhos, fomos criados para amar. 
Amemos.
A nós mesmos, ao nosso semelhante. 
Amemos. 
Redação do Momento Espírita, com fato colhido em https://www.youtube.com/watch?v=2liy_1kyaz0 e com pensamentos do cap. XLIX, pt. 5, do livro Depois da morte, de Léon Denis, ed. FEB. 
Em 14.2.2018.

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

O MAIS IMPORTANTE

Ann Richards 
Foi há três anos. 
A ex-governadora do Estado do Texas assistiu à mãe doente, até o seu estágio terminal. 
Acompanhando-a dia a dia, observando como a doença ia minando as forças físicas e preparando aquele corpo para a morte, Ann Richards viu a drástica mudança que sua mãe sofreu. 
Era uma mulher que passou sua vida inteira obcecada por cristais lapidados, baixelas de prata, toalhas de renda, porcelanas e joias, que colecionava com extremo cuidado. 
À medida que a doença foi destruindo o seu vigor físico e falando-lhe que a morte se aproximava, tudo aquilo deixou de ser importante.
Para ela só importavam agora as visitas, a família e os amigos. 
A mudança foi radical. 
Depois da morte da mãe, Ann Richards resolveu se livrar de todas as antiguidades que, mais de uma vez, tinham feito com que ela desse mais importância aos objetos do que às pessoas. 
Montou um bazar na garagem. 
Num só dia, tudo foi embora. 
Vendido. 
E a ex-governadora, concluiu: 
-Aprendi que para dar valor ao presente, preciso me livrar daquilo que me detém. Hoje, não hesito diante de nada. 
* * * 
Nada é mais importante na vida do que as pessoas. 
As coisas têm o valor que lhes damos. 
E o valor muda com o tempo e as convenções sociais. 
Em tempos antigos, o sal era tão precioso que se pagavam funcionários com ele. 
De onde, inclusive, surgiu a palavra salário. 
Depois, os homens foram convencionando, no transcorrer do tempo, a considerar esse ou aquele metal mais precioso. 
De um modo geral, aquele mais raro naquele momento. 
Hoje, a preocupação é ter carro do ano, tapetes importados, roupas de grife. 
E existem pessoas que fazem coleções de objetos, livros, perfumes.
O importante é amontoar, ter bastante para mostrar com orgulho, como se fossem troféus. 
No entanto, quando a enfermidade chega, quando a soledade machuca, nenhum objeto, por mais precioso, por mais que o prezemos, conseguirá espantar a doença, diminuir a solidão. 
São as pessoas com seu carinho, sua ternura, seus gestos simples, traduzindo amizade, ternura, afeição que nos conferem forças para aguentar a dor e para espantar a solidão. 
São as pessoas que nos dão calor com seu aperto de mão, seu abraço, sua presença, seu olhar. São as pessoas que fazem a grande diferença em nossas vidas. 
* * * 
O afeto é como o sol. 
Surge silencioso e ilumina tudo com seus raios, espalhando luz e calor. 
Ninguém pode viver sem afeto. 
Pode ser o amor de marido, de mulher, de um irmão. 
O carinho de um amigo que se candidata a tutor da nossa vida afetiva. 
A ternura de alguém com quem nos encontramos na jornada das dores e que nos oferece as flores delicadas de sua atenção. 
De tudo que há na Terra para se gozar, nada faz mais feliz o homem do que o amor que receba, o amor que compartilhe, o amor que doe.
Redação do Momento Espírita, com base no artigo Segredos de uma vida bem vivida – Alivie sua carga, da Revista Seleções Reader´s Digest, de junho de 2000. 
Em 12.1.2013.

quarta-feira, 21 de agosto de 2024

APRENDEMOS

Kathlenn O’Meara
E aconteceu que se romperam todas as fontes do grande abismo, e as janelas dos céus se abriram. 
Houve chuva sobre a Terra. 
Todos os altos montes que havia debaixo de todo o céu, foram cobertos. 
E prevaleceram as águas sobre a Terra... 
Esse parece ser o relato da tragédia que tomou o Estado brasileiro do sul. 
Terras devastadas, campos inundados, cidades inteiras destruídas.
Desolação, mortes. 
Pelas redes sociais circulam os versos de alguém, o poema de outro, em variadas versões. 
Uma forma de consolo. 
Também de alerta. 
Quando a tempestade passar, as estradas se amansarem e formos sobreviventes de um naufrágio coletivo, com o coração choroso e o destino abençoado, nós nos sentiremos bem-aventurados só por estarmos vivos. 
A vida é dom precioso. 
Tantas vezes a desprezamos, em dias de inquietação, de dívidas acumuladas e derrocadas afetivas. 
Mas quando uma imensa tragédia rouba vidas sem piedade, nos damos conta de que somos felizes por estarmos vivos. 
E em altos brados dizemos aos céus: 
-Obrigado, Senhor, porque ainda estamos aqui. 
Olhando para nosso entorno, agradecemos por encontrar alguém para abraçar e chamar de amigo, seja o vizinho de apartamento que nem cumprimentávamos, ou um desconhecido. 
Deixamos de ser tão seletivos e exigentes, querendo que todos aceitem nossas ideias e aplaudam nossas escolhas. 
Abandonamos a inveja porque perdemos tanto que não temos nada ou quase nada, como todos os da nossa cidade. 
Como invejar a perda do patrimônio e a dos familiares, alguns deles cujos corpos ainda precisarão ser buscados e identificados? 
A tragédia nos irmana. 
Sentimos que precisamos nos abraçar, nos unir para tudo suportar e superar. 
Talvez nos conscientizemos de que somos verdadeiramente frágeis e que aquilo pelo qual lutamos ferrenhamente pode ser perdido em segundos. 
Quando a água da piscina, nosso local de lazer em horas perdidas, se torna nossa única possibilidade de asseio do lar, talvez pensemos em reformular nossa escala de valores. 
Quando precisamos repartir a garrafa de água potável com quem está ao nosso lado, percebendo que estamos todos no mesmo bote, disputando a mesma chance de refúgio, aprendemos que somos verdadeiramente irmãos. 
Quando nos entregamos aos braços fortes que nos vêm resgatar do telhado da casa ou do último piso, no qual nos abrigamos, aprendemos como é importante a solidariedade. 
Quando ouvimos os lamentos doridos de quem perdeu vidas amadas, sentimos empatia por quem ficou e por quem se foi. 
Se cremos na imortalidade da alma, não podemos jamais esquecer de orar por quem parte, preocupado, quem sabe, com quem deixou na rua lamacenta ou no abrigo improvisado. 
Quando nos chega o alimento, o agasalho, o cobertor, aprendemos que generosidade deve ser a tônica da vida. 
Nos dias futuros, que possamos lembrar de que devemos repartir mais e reter menos. 
Igualmente de ir ao encontro de quem necessita e nos permitirmos menos dias soltos, no sossego do lar. 
Quando tudo passar, queira Deus que tenhamos aprendido algumas lições para nos tornarmos melhores amigos, irmãos, verdadeiramente humanos.
Redação do Momento Espírita, com base no livro bíblico Gênesis, cap. 7, vers. 11, 12 e 24 e em versos atribuídos a Kathlenn O’Meara (1869), e/ou a Catherine M. O’Meara (A cura - 2020). 
Em 21.8.2024.

terça-feira, 20 de agosto de 2024

O MAIS FORTE

DIVALDO PEREIRA FRANCO
E
JOANNA DE ÂNGELIS
Conta-se que, certo dia, o sol e o vento se encontraram, em um recanto encantado do Universo, e começaram a conversar. 
Conversa vai, conversa vem, eles principiaram a discutir a respeito de quem seria o mais forte. 
De onde se encontravam, podiam divisar a Terra e o vento viu um homem que andava por uma estrada. 
-Você vê aquele velho lá embaixo? - Disse ele ao sol. - Aposto como posso fazer com que ele tire o capote mais depressa do que você. 
O sol se manteve quieto. 
Escondeu-se atrás de uma nuvem e esperou. 
O vento começou a soprar.
E foi soprando cada vez mais forte, até se tornar quase um furacão.
Mas, quanto mais ele soprava, mais o homem segurava o capote junto a si. 
Depois de algum tempo, o vento desistiu. 
Acalmou-se e decidiu conceder a vez ao sol. 
-Bom, pensou, se eu com toda esta fúria não consegui fazer o homem tirar o capote, o que você poderá fazer? 
O sol saiu detrás da nuvem. 
Sorriu, bondosamente, para o homem, que continuava a andar pelo caminho cheio de folhas e pétalas de flores, arrancadas pelo vento.
Sorriu um pouco mais, envolvendo-o em uma onda de calor. 
O homem esfregou o rosto e logo tirou o capote. 
Surpreso, o vento escutou o sol lhe dizer: 
-Amigo, mais forte que a fúria, mais vigorosa do que a força bruta, é o poder da gentileza. 
* * * 
Gentileza é expressão de cordialidade e de afeto.
Na esfera de ação em que somos chamados a produzir, não esqueçamos o necessário culto à gentileza. 
Em nome do não ter tempo para nada, não nos permitamos deslizes para com a gentileza, na roda dos nossos amigos. 
Embora afirmemos que não há mais tempo para as pequeninas normas da etiqueta, merece considerar que sempre haverá tempo para uma palavra de amizade, em meio às tempestades da vida. 
Ninguém pode afirmar que não tenha condições de pronunciar, sorrindo, um verbete gentil, como Obrigado
Não há quem não tenha a capacidade de uma expressão delicada, pela manhã. 
Algo simples, como bom dia, enquanto sorri, verdadeiramente desejando que o outro tenha um bom dia. 
Quem de nós não poderá ter um gesto de meiguice, acariciando uma criança que se mostra intranquila ante determinada situação, desconhecida e atemorizante para ela? 
E um sorriso de ternura, um aceno cordial, consegue desarmar mesmo aqueles que parecem impermeáveis às boas maneiras. 
O gesto gentil é um passo para modificar, muitas vezes, uma inimizade nascente, uma suspeita infundada, uma informação infeliz, uma inspiração negativa. 
Enfim, gentileza é também caridade em nome de Deus para o grande mal de que padece a Humanidade e que se chama egoísmo. 
* * * 
A gentileza transforma a paisagem fria das relações humanas. 
Não aguardemos, no entanto, que os outros sejam gentis conosco.
Sejam os nossos hábitos, no culto da gentileza, uma metodologia de equilíbrio que nos imponhamos como disciplina do comportamento.
E comecemos agora, enquanto o dia surge, ou enquanto as horas avançam ou a noite se adianta. 
Um coração gentil é um coração em paz. 
Redação do Momento Espírita, com base no texto O sol e o vento, de autoria ignorada e no cap. 53, do livro Celeiro de bênçãos, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. 
Em 22.8.2014.

segunda-feira, 19 de agosto de 2024

CONSELHOS DE PAI

Andrey Cechelero
Meu filho. 
Peço que seja educado com as pessoas.
Mas, antes... que queira ser. 
Não atenda cegamente o meu pedido. 
Entenda que assim como você, todos merecem bom tratamento. Entenda que a delicadeza no trato, a gentileza nos pequenos gestos, nos fazem mais capazes de navegar em rios onde jamais a dureza e a rispidez de coração nos levariam. 
Meu filho, peço que seja honesto, com qualquer um e com você mesmo. 
Mas antes... que queira ser. 
Não atenda cegamente o meu pedido. 
Compreenda o seu compromisso com a verdade. 
Quanto mais próximo dela, mais feliz você será. 
Quanto mais apartado estiver, mais infelicidade trará aos seus dias.
Seja verdadeiro com você mesmo, com seus princípios. 
Quando estiver em grande dúvida, lembre-se de dar um mergulho nas águas da sua essência. 
As respostas estarão lá, na sua consciência. 
Meu filho, peço que ampare o seu próximo. 
Mas antes, que queira amparar. 
Não atenda cegamente o meu pedido. 
O próximo é tão importante quanto você mesmo. 
O outro é seu irmão, muito parecido com você, embora a convivência difícil por vezes queira apontar o contrário. 
Toda nossa dificuldade em conviver com o outro está no fato de que ainda não convivemos bem conosco mesmo. 
Ampare o amigo do caminho. 
Não deixe de perceber os que passam por você todos os dias e que muitas vezes guardam feridas imensas na alma. 
Por vezes esperam apenas um bom dia, um sorriso, um pequeno gesto de alguém que se importe com eles. 
Na maioria das vezes não é nada complexo, nada que vá lhe exigir muito tempo ou grandes conhecimentos. 
Tudo que o próximo deseja, quase sempre, é saber que alguém se importa com ele. 
Não é assim também que você se sente? 
Esta pequena carta é uma amostra do quanto eu me importo com você. 
E mais: o quanto esse importar me faz bem, o quanto ele é natural nos meus dias. 
É assim no amor verdadeiro. 
Espero que você possa construir muitos em sua vida. 
***
Os pais podem dar conselhos. 
Podem desejar, podem e devem ser os melhores exemplos possíveis aos seus filhos. 
No entanto, a decisão de mudança estará apenas no lado de lá, no dos filhos. 
Você pai, você mãe, não consegue entrar na cabecinha da criatura, como se diz popularmente, para fazer com que entenda isso ou aquilo.
Lembre: seus pais também não conseguiram, pelo menos não até você mesmo despertar. 
De nada adianta o desespero ou a indignação com a vida que vem de expressões como: Mas eu fiz tudo por eles! 
Eles sempre tiveram as melhores referências! 
Educamos muito bem! 
E agora isso, esse tipo de comportamento?
Um lado fez bem a sua parte, pois bem. 
E o outro? 
Possivelmente não ainda. 
O que é comum. 
Para vermos uma mudança, os dois lados precisam fazer as suas partes: quem orienta, quem ensina. 
Também quem aprende, quem assimila e põe em prática. 
Se, neste momento, estamos do lado dos que orientam, dos que guiam, nossa missão é parte importante. 
Façamo-la com amor. 
Porém, tenhamos em mente que a outra parte é com eles. 
Eles precisam querer. 
Redação do Momento Espírita, com base no poema Conselhos de pai, de Andrey Cechelero. 
Em 19.8.2024.

domingo, 18 de agosto de 2024

MAIS FELIZ DO QUE ERA ANTES?

Aquela jovem abriu uma pequena empresa que teve um sucesso meteórico. 
Pouco tempo depois foi adquirida por um conglomerado por valor altíssimo. 
Ela saiu da venda com o suficiente para não precisar mais se preocupar com a subsistência financeira. 
Possivelmente, esse é o sonho de muitos de nós. 
Chovem nas redes sociais as promessas de ganhos imensos em pouco tempo. 
Por vezes, são jovens afirmando que já conquistaram seu primeiro milhão e vendem seus cursos para mostrar como chegar lá. 
Não entrando no mérito se são propagandas enganosas ou não, o que acontece é que o desejo de enriquecer está presente. 
A jovem que passou pela experiência de sucesso repentino tem um depoimento curioso: 
-É ótimo poder viajar e fazer o que eu sempre quis fazer. Mas o estranho é que, depois que me recuperei da emoção de ganhar todo aquele dinheiro, as coisas mais ou menos voltaram ao normal. Quer dizer, tudo está diferente. Comprei uma casa nova e tudo mais. Mas no geral acho que não estou muito mais feliz do que era antes.
Interessante observar que esse sentimento não é apenas dela. 
Em diversos estudos realizados com ganhadores de loteria, encontra-se idêntico resultado. 
Depois de um tempo tudo volta ao padrão de antes, no que diz respeito ao seu estado emocional. 
Por outro lado, vemos relatos de pessoas que enfrentaram catástrofes, grandes flagelos ou viveram anos em enfermidade. 
Da mesma forma, depois do acontecido, depois do desespero e sofrimento naturais do processo, as coisas parecem voltar a uma normalidade. 
Com algumas exceções, naturalmente. 
Alguns ramos da ciência, ao estudar esse fenômeno humano, se atrevem a lhe dar nome. 
Falam em adaptação, ou adaptação hedônica, que é a capacidade que temos de nos moldar, de nos adaptar às mudanças. Isso vem de nosso instinto de conservação. 
Precisamos nos adaptar para poder sobreviver. 
Os estudos mostram também que o que faz com que as pessoas saiam mais ou menos felizes de cada situação tem menos a ver com a situação em si, isto é, com os acontecimentos externos, e muito mais com o estado mental de cada um ao passar por ela. 
Assim, poderemos ser mais felizes depois de um grande ganho financeiro? 
Poderemos. 
Não pelo ganho em si, mas pelo nosso estado mental perante o fato. Primeiramente, a questão será no que nos tornaremos com essa experiência. 
Quais serão as propostas de vida; que uso faremos desses recursos.
Se serão apenas para nosso próprio bem ou pelo bem comum; se serão veículo do bem ou apenas satisfação de nossos caprichos pessoais. 
Se forem apenas para acúmulo próprio, para satisfazer nosso egoísmo, nossa preguiça e reforçar a vaidade, nada mudará na vida.
Ou poderá mudar para pior. 
Assim, antes de colocarmos para nós esse tipo de sonho, pensemos bem na responsabilidade. 
Pensemos que o foco da vida não está no conforto material que é meio e não finalidade. 
Se não estivermos preparados, a riqueza, mesmo relativa, é prova demasiado arriscada. 
Caso nos chegue, saibamos usá-la com sabedoria e bondade.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 2, do livro A Arte da Felicidade, de Dalai Lama e Howard C. Cutler, ed. Martins Fontes. 
Em 30.7.2024.

sábado, 17 de agosto de 2024

O MAIS EXPRESSIVO COLORIDO DO AMOR

Normalmente, quando falamos de amor o que nos acode à mente são grandes paixões. 
Aquelas histórias de amor imortal, que supera as dificuldades, atravessa os anos e tudo faz para ficar ao lado do ser amado. 
No entanto, o amor tem alguns coloridos que surpreendem. 
Como o daquele casal africano, que morava em uma nação onde os direitos humanos não eram respeitados. 
O marido, embora sem projeção política e social, tinha um discurso firme, que o tornou líder da comunidade em que vivia. 
À conta disso, sofreu perseguições por parte dos poderosos. 
Chegou a ser preso e sofrer torturas. 
Mas, nada o detinha. 
Continuava a dizer aos seus conterrâneos que era preciso lutar pela liberdade, pelos direitos civis. 
Decretada sua pena de morte, os amigos se uniram e conseguiram que ele emigrasse para outro país. 
-Morto, diziam, nada mais ele poderia fazer. 
A esposa, contudo, permaneceu na comunidade, aguardando o momento em que a ele se pudesse unir, no Exterior. 
Sete anos se passaram. 
Nenhuma comunicação entre o casal, considerando-se a vigilância austera das autoridades. 
Sopraram ventos de mudanças, com a substituição de governantes. 
A nação pareceu respirar ares de certa tranquilidade. 
Foi então que ela conseguiu emigrar para o país onde se encontrava o marido. 
Ela não tinha endereço dele, não sabia onde estava, o que fazia. 
Uma longa busca se impôs. 
Finalmente, o encontrou. 
Ele morava em uma casa simples, com um jardim de flores. 
Foi um momento de muita emoção. 
Quando a viu, ele disse não acreditar que ela estava viva. 
As informações que lhe haviam chegado é que, depois de sua partida, uma grande matança acontecera e ela fora morta, junto a centenas de compatriotas. 
Ambos choraram, abraçados. 
Ela percebeu, porém, que ele se mostrava mais do que surpreso.
Parecia incomodado com alguma coisa. 
Foi quando a porta da casa se abriu e uma mulher apareceu. 
O abdômen demonstrava que um bebê estava a caminho. 
Logo, uma menina de uns quatro anos igualmente apareceu, olhando tudo surpresa. 
=Desculpe, me perdoe. 
Balbuciou ele. 
-Tornei a me casar, ante a notícia da sua morte. 
A africana, que viera de tão longe e tanto o procurara, retirou os braços do pescoço dele, afastou-se e sussurrou: 
-Eu entendo. Não se preocupe. 
 Voltou-lhe as costas e, no mesmo carro que a tinha conduzido até ali, ela partiu. 
* * * 
Não houve grandes discursos, nem acusações. 
Somente a compreensão de que uma nova vida se abrira, a que outras vidas estavam atreladas. 
Como poderia deixar uma esposa sem o marido? 
Como poderia tirar o pai de duas crianças? 
Ela preferiu renunciar. 
O coração sangrou, as lágrimas foram muitas, mas ela se foi. 
Porque o verdadeiro amor é feito também de renúncias. 
Quem ama, não disputa. 
Quem ama, renuncia pela felicidade do outro. 
Quem ama, não cria problemas. 
Porque afinal, o verdadeiro amor é aquele que o coração expressa, que a alma sente. 
O verdadeiro amor tem coloridos interessantes. 
Em verdade, os mais expressivos são os pintados com os pincéis da renúncia em favor da felicidade do ser amado. 
Redação do Momento Espírita 
Em 8.7.2020.

sexta-feira, 16 de agosto de 2024

O MAIS DIFÍCIL

Louis Zamperini
O Terceiro Milênio, que nos chegou com tantas cores de alegria, avança. 
Os meses se transformaram em anos e o que o mundo nos oferece, de um modo geral, é ainda um quadro de quase desolação. 
As reportagens nos mostram vinganças que resultam em mortes ou agressões violentas. 
Muitos filmes nos apresentam o homem presumidamente bom, que se transforma, de um momento para o outro, em um perseguidor assassino dos agressores dos seus amores. 
É de nos perguntarmos para onde caminhamos, nós, essa Humanidade que aguarda o mundo de paz. 
Adotamos facilmente a retribuição do mal pelo mal. 
A lição ensinada pelo Mestre de Nazaré permanece esquecida. 
No entanto, homens de valor dão testemunho inconteste de que temos a capacidade de perdoar. 
E que o perdão beneficia a quem o dá e a quem o recebe.
Recordamos do atleta olímpico e capitão da Força Aérea Americana, que lutou na Segunda Guerra Mundial. 
Louis Zamperini, em maio de 1943, foi convocado para uma missão de busca de um avião desaparecido. 
Seu próprio avião sofreu problema nos dois motores e caiu no mar.
Da equipe de dez homens, somente três sobreviveram e ficaram à deriva em dois botes salva-vidas. 
Por fim, restaram somente Louis e Russen Allen Phil. 
Foram quarenta e sete dias no mar para serem, finalmente, resgatados pelos japoneses e levados para a Ilha da Execução. 
Foi submetido a experimentos médicos, torturas e mostrado como se fosse um animal raro em uma jaula. 
A fome era uma constante. 
Mais tarde, foi transferido para o campo de prisioneiros de guerra Omori, onde conheceu seu mais terrível torturador, conhecido como O Pássaro. 
Esse comandante sentia prazer na tortura. 
Tinha a capacidade de bater num prisioneiro por horas. 
E Louis parecia ser a sua obsessão para os espancamentos. 
Ele chegou a perder a audição do ouvido esquerdo, temporariamente, por ter sido agredido violentamente, com um cinto. 
No final da guerra, Louis estava no campo de prisioneiros considerado o mais infernal do Japão, o Naoetsu, ainda sob o comando do mesmo sargento japonês. 
Louis voltou para casa, atormentado pelo ódio e o desejo de vingança. 
Tornou-se alcoólatra e quase acabou com seu casamento. 
No entanto, enquanto no mar, ele orara e prometera que se sobrevivesse, dedicaria sua vida a Deus. 
Demorou para isso acontecer. 
Então, sua esposa o convenceu a ir a um culto evangélico e ele começou a sua transformação. 
Tornou-se um pregador e seu tema recorrente era o perdão.
Confessou que quando substituiu o ódio pelo amor, perdoando os seus inimigos e orando por eles, deixou de ser assombrado por pesadelos. 
Visitou muitos companheiros do campo de prisioneiros para lhes dizer que deviam perdoar aos seus malfeitores. 
E não pensemos que lhe foi fácil a decisão. 
Ele afirmava que o mais difícil era perdoar. 
-Mas o ódio é autodestrutivo. 
-Quem odeia, não machuca ao outro mas a si mesmo. 
-O perdão, dizia, é uma cura, uma autocura.
 * * *
Se estamos padecendo as agruras do ódio, pensemos a respeito e proponhamos nos libertar. 
Tentemos o perdão e nos libertemos. 
Afinal, todos merecemos ser felizes. 
Redação do Momento Espírita, com dados biográficos de Louis Zamperini. 
Em 29.8.2019.

quinta-feira, 15 de agosto de 2024

QUANDO O SOL ACENDER A MADRUGADA

Cansado coração, ouve, lá fora,
o turbilhão do temporal violento.
Cai o granizo, ruge a voz do vento...
É a natureza que se desarvora.
 

O firmamento é anônima cratera,
quando o raio estraçalha a noite escura.
E choras, ante o caos e a desventura,
a prova que te ensombra e dilacera.

Ao furacão que passa, caem ninhos,
tombam troncos, a ímpetos medonhos
e recordas as pedradas dos caminhos,
que varaste perdendo os próprios sonhos!... 

Espera e crê!... O temporal vai longe!...

Amanhã seguirás em nova estrada
e, ao teu olhar, a luz será mais linda,
quando o sol acender a madrugada...

*

CASEMIRO CUNHA
E CHICO XAVIER
O canto de esperança dos versos poéticos consola o coração aflito.

Entendemos o quanto é difícil vislumbrar o momento futuro, esse instante em que o sol acenderá a madrugada, quando ainda estamos no olho do furacão.

Entendemos o quanto é difícil manter o ânimo, sorrir, conservar a coragem. Mas esse novo sustento da alma é a fé no futuro.

Não uma fé cega, que idealiza algo que pode vir a acontecer. Não. Aí está o ponto crucial. É a fé do homem, no meio da madrugada escura, que de repente recebe um relógio mostrando as horas.

A partir desse momento ele sabe que, depois da quinta ou da sexta hora, o sol começará a surgir.

Sabendo disso ele mantém o ânimo. Ele suporta um pouco maisEle acaricia a esperança em seu coração. E espera confiante. Talvez, até com alegria.

A madrugada, o temporal, a seca, a dor podem parecer intermináveis. Porém, tudo tem tempo limitado. Tudo passa.

Por vezes, inclusive, dependendo apenas de nós mesmos, pois podemos perceber que algumas escuridões da existência fomos nós que criamos, trancando-nos em quartos escuros voluntariamente.

E se ainda estamos na madrugada, por que não perceber o que ela tem a nos ensinar? Madrugada não é hora perdida. Nenhuma hora é perdida na Criação divina.

Por que permanecemos na madrugada por tanto tempo? O que nos prende? O que nos prende a este ou àquele vício, a este ou àquele sentimento negativo?

Madrugada é tempo de aprendizado, pois aprendemos na dor. E certas dores são inevitáveis. A dor é recurso didático. Com ela aprendemos conteúdos esplêndidos.

Se no momento isso nos parece absurdo, é porque ainda estamos impregnados pela cultura da busca pelo prazer a todo custo.

Não queremos sentir dor. A dor é inimiga. O prazer é a solução para nossas vidas.

Ideia distorcida que carregamos há séculos e séculos.

Ideia que nos fez chegar a extremos como comprar experiências ou promessas de prazer imediato, mesmo que momentâneos.

Por outro lado, consumimos drogas que nos impedem de sentir qualquer tipo de dor, de desconforto.

Vejamos onde chegamos...

É preciso entender a dor com o que ela tem a nos ensinar.

Aprendamos com as horas da madrugada. E seguremos o relógio da esperança, da fé, que nos assinala que logo mais o sol acenderá a madrugada.

Apesar da treva mais densa, da hora mais escura, o sol sempre retorna, brilhante e soberano.

Aguardemos. 

Redação do Momento Espírita, com base no poema
Depois do temporal, de Casimiro Cunha, do livro Estrelas no chão, por Espíritos diversos, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. GEEM.
Em 15.8.2024