segunda-feira, 29 de julho de 2024

A MAIOR PENALIDADE

José Martins Peralva
Ela aderira à carreira militar pelo desejo de fazer a diferença e alcançara a patente de Primeiro-tenente. 
Seu intuito era servir onde e quando fosse necessário. 
Então, foi enviada ao Oriente Médio.
Encontrou ali a oportunidade que desejava. 
Com apoio dos superiores, organizou uma escola, especialmente para instrução de meninas. 
Ensiná-las a ler, a descobrir o tesouro das letras e ter a oportunidade de conhecer outras realidades, através das páginas impressas, a deixava feliz. 
Certo dia, no entanto, um ataque violento alcançou a escola e Ana, tentando salvar duas crianças, de dez e treze anos, se evadiu do local. 
Eram suas alunas, órfãs, que ela aprendera a amar. 
Saiu a correr na direção oposta das bombas que explodiam. 
Quando se imaginaram quase a salvo, tiveram o passo cortado por uma viatura e foram feitas prisioneiras por membros do mesmo esquadrão que promovia o ataque à escola. 
Somente dias depois, as três foram resgatadas. 
Estavam bastante machucadas, vítimas de tortura. 
Para os homens da equipe de resgate, foi terrível ver o estado das crianças e da jovem. 
Para grande surpresa, descobriu-se que uma das promotoras de todo aquele horror era uma professora que, durante meses, lecionara na escola, conquistando a confiança de todos. 
O comandante da Primeira-tenente, preparando-a para retornar para sua casa, teve oportunidade de perguntar-lhe que castigo deveria receber aquela mulher, se ela pudesse decidir-lhe o destino. 
-Penso que ela deva ser responsabilizada por toda a maldade que promoveu: mortes, tortura. 
-Mas como? – Continuou a indagar o superior. 
-Com certeza não sou eu quem deve decidir a sua sentença. Para isso, existem os tribunais. Somente desejo que ela viva. 
-Viver? Essa seria a penalidade para ela? 
-Sim, respondeu Ana. A penalidade dela deve ser viver para ver o que o futuro reserva de bom para sua nação. Como a situação se haverá de modificar, havendo mais compreensão entre as pessoas, menos preconceito, mais liberdade. Ela deverá constatar que seu ódio não conseguiu destruir o mundo novo que já se está construindo, graças aos que vibram e desejam o bem. 
O comandante a olhou e simplesmente comentou: 
-Você é incrível!
* * * 
Perdoar a quem promove o mal é próprio de almas nobres que reconhecem que o agressor é um infeliz, pela própria desdita que ocasiona. 
Trata-se também de uma decisão de felicidade pessoal porque quem não perdoa fica ligado ao adversário, pelas faixas escuras do pensamento rancoroso. 
Quem não perdoa, insistindo na mágoa raivosa, permite se estabeleça, entre a sua e a mente do adversário, uma ponte, através da qual circulam as vibrações do ódio e da vingança. 
Quem não perdoa, fica carregando sombra e dor. 
Tudo isso ocasiona mal estar e provoca enfermidades. 
Por sua vez, quem perdoa, liberta o coração. 
Quem perdoa dissolve o rancor nas águas puras da compreensão. 
O ódio estabelece grilhões entre as pessoas, aprisiona, infelicita. 
O perdão liberta. 
Felizes sejamos em exercitar o perdão que começa não desejando mal a quem nos faz o mal. 
Meditemos a respeito. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 24, do livro O pensamento de Emmanuel, de Martins Peralva, ed. FEB. 
Em 10.8.2020.

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