Vicente de Paulo |
O nobre clérigo, que ganharia a História pela sua devoção aos pobres e por sua humildade, verifica, em meio à solenidade, repentino louvor público.
Aproxima-se do altar velho pirata que, em altos brados, inicia sua ladainha de agradecimentos.
-Obrigado meu Deus, dizia ele, pelos ricos navios que colocaste no meu caminho, pelas boas presas, vítimas dos meus roubos e saques. Graças à Tua generosidade Senhor, pude tomar-lhes as riquezas e os tesouros. Não permitas nunca que este Teu filho se perca na miséria.
Na sequência, aproxima-se do altar jovem rapaz que, por sua vez, passa a tecer os motivos que tinha de agradecimentos ao Senhor.
-Obrigado meu Deus, pela herança que permitiste que eu herdasse com a morte de meu avô.
Ele, que fez fortuna na guerra e nas batalhas, nos deixa volumosa soma em dinheiro.
Assim, passarei a existência no ócio e na diversão, sem a necessidade do trabalho.
Em seguida, foi um cavalheiro maduro quem se aproximou do altar para seus agradecimentos públicos.
-Mestre Divino, agradeço-te o amparo pela vitória na batalha que encetei para ampliar os domínios de minhas terras.
Agora, graças ao Teu poder, ampliarei minha fortuna e meus bens.
Não tardou para adornada senhora tomar a posição de agradecimento.
-Eu Te agradeço Senhor, pelos escravos que me conferiste em minhas terras coloniais.
Graças ao trabalho deles, tenho fortuna, poder e riqueza, sem grandes preocupações com meu futuro e o dos meus.
Os agradecimentos continuavam, quando São Vicente de Paulo, assombrado, reparou que a imagem do Mestre de Nazaré, estática no altar, adquiria vida e movimento.
Reparando que o Mestre, em prantos, afastava-se a passos rápidos, o nobre sacerdote, tomado de susto, lhe indaga:
-Mestre, por que Te afastas de nós?
O Celeste Amigo, melancólico, dirige-se ao sacerdote:
-Vicente, afasto-me porque me sinto envergonhado de receber louvores e agradecimentos daqueles que esquecem e desprezam os fracos, os infelizes, os desafortunados e pensam apenas em si mesmos.
A partir desse dia, São Vicente de Paulo nunca mais abandonou a túnica da pobreza, trabalhando incessantemente na caridade.
* * *
Lembramos de agradecer a Deus, com os lábios e palavras.
Porém, esquecemo-nos de que, como nos lembra Jesus, a cada um daqueles que dermos de vestir, de beber e de comer, será a Ele que estaremos servindo.
A melhor forma de agradecer a Deus, será sempre servindo ao próximo.
Dar o agasalho, o pão, ou ainda, dar do nosso tempo e da nossa atenção para quem cruza o nosso caminho, será a maneira mais nobre e feliz de agradecermos as bênçãos da vida.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 13,
do livro Contos e Apólogos, pelo Espírito Irmão X,
psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. FEB.
Em 7.6.2023.
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