Verificamos o saldo bancário, o limite do cartão de crédito e nos damos conta de que não temos nenhuma reserva de que possamos nos servir.
Olhamos em nosso entorno e tudo parece conspirar contra nós.
Estamos na iminência de perder o emprego.
Aliás, o cargo comissionado já nos foi retirado.
E que baque foi em nossas economias.
Estamos vivendo problemas afetivos que somente nos entristecem.
Amigos, que acreditávamos verdadeiros, nos deram as costas.
O dia nem está cinzento.
Está preto mesmo.
Nada poderia ser pior.
Nesses dias, algo que nos ocorre à mente, por vezes, é que melhor seria não ter nascido.
Para que tudo isso, afinal?
Não construímos nada de grandioso, somos um fracasso profissional.
E por aí afora... Desânimo total.
Um abismo de tristezas.
Quando isso acontecer, seria muito bom se parássemos um pouco e revíssemos nossa vida, em detalhes, como fez certo personagem.
Se eu não tivesse nascido, eu não teria salvo meu irmão de perecer afogado, quando pequeno, caiu na piscina. Eu estava por perto. Fui muito rápido e o retirei da água.
Se eu não tivesse nascido, meus pais, agora idosos, não poderiam contar com minha ajuda para os levar a consultas e a passear em finais de semana.
E, acima de tudo, alegrá-los com meus abraços, toda vez que os visito.
Se eu não tivesse nascido, não teria criado aquele projeto espetacular, que influencia muitas vidas, há nada menos de trinta anos.
Um projeto que parecia simples, sem muita pretensão, mas que modificou alguns destinos.
Pessoas tristonhas que nele encontraram apoio. Pessoas acabrunhadas que nele descobriram razão para reformular seus sentimentos.
Até pessoas que abandonaram a ideia de fuga da vida, por causa desse projeto.
Se eu não tivesse nascido, eu não teria oferecido meu voluntariado em benemérita instituição, há tantos anos.
Sei que são somente dois braços e uma mente. Mas uma grande vontade de colaborar, ampliando os seus possíveis benefícios.
Se eu não tivesse nascido, não teria dado à luz alguns livros, que instruem, esclarecem, oferecem ideias renovadas para todos os que os leem.
Se eu não tivesse nascido, não teria encontrado essa pessoa especial, com quem me consorciei. Não teria conhecido a sua delicadeza, a sua gentileza, as suas renúncias a benefício dos outros.
Eu teria mesmo perdido uma grande oportunidade.
Se eu não tivesse nascido, não teria me tornado pai de dois meninos, jamais os teria encontrado, jamais os teria conhecido. Jamais teria podido apreciar sua beleza interior e a suavidade de suas almas.
Se eu não tivesse nascido, enfim, concluo, eu não poderia me erguer agora, por descobrir que não sou tão infeliz como supunha.
Sou uma criatura buscando caminhos, uma criatura buscando soluções para intrincados problemas que se apresentam mas, que no fundo, somente me tornarão mais maduro.
Então, depois de tudo isso, só me cabe dizer:
-Muito obrigado, meu Deus, porque eu nasci. Obrigado pelo que sou, por tudo que tenho, pelo que me dás, todos os dias.
Obrigado, Senhor Deus!
Redação do Momento Espírita
Em 30.6.202
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