quinta-feira, 1 de junho de 2023

JUSTIÇA DIVINA

Amália Domingo Soler
Eles eram jovens, amáveis e simpáticos. 
Seus semblantes irradiavam alegria. Amavam-se com esse primeiro amor que se assemelha a uma árvore florida que espera a estação propícia para se transformar em um celeiro de frutos. 
Uniram-se por amor. 
Ele era um modesto empregado e ela costureira. 
Viram-se e se amaram. 
Amaram-se e se uniram. 
Ao se unirem, logo pensaram na bênção de um primeiro filho. 
A moça, olhando gravuras de querubins, pediu a Deus que lhe desse um filho tão lindo como uma daquelas figuras angelicais. 
Um ano se passou. 
O amoroso par juntou economias e preparou o necessário para vestir um recém-nascido. 
Ela costurou roupinhas de cambraia com preciosas rendas, conjuntos brancos com finos bordados, gorros, tudo de mais belo e delicado para receber o seu bebê. 
Esperaram o filho que imaginavam belo e que deveria chegar pedindo beijos com seus sorrisos. 
Enfim, chegou o momento do parto. 
Áurea sentiu as primeiras dores e depois de um laborioso período deu à luz um menino. 
Logo quis vê-lo, mas seu esposo e as pessoas que a rodeavam simplesmente a olhavam com tristeza. 
Entre si trocavam olhares melancólicos e cochichavam algo que ela não conseguia entender. 
Por fim, depois de insistir, Áurea acabou por gritar: 
-Vocês não me escutam? Quero abraçar meu filho. Por acaso está morto?
-Não, disseram-lhe. É que...o menino não tem braços, nem pernas! 
Áurea estendeu os próprios braços e respondeu com ansiedade: 
-Pois tragam-no. Se não tem braços, nem pernas, ele estará mais tempo em meus braços. 
O menino era lindo. 
Olhos azuis, expressivos, cabelos louros muito abundantes. Os pais o amaram. 
Mas o pai, quando sua esposa não podia ouvir, dizia com profunda amargura: 
-Eu queria tanto um filho. E ele veio sem braços nem pernas. Que grande injustiça cometeu Deus para comigo. Se ao menos eu fosse rico, mas sou tão pobre! 
* * * 
Ante um quadro tão doloroso, a Doutrina Espírita nos oferece profundas elucidações, através da lei dos renascimentos, da tese das múltiplas existências, da Lei de Causa e Efeito. 
Ela nos permite abrir uma porta para o nosso ontem, o nosso passado, dentro da História da Humanidade terrestre. 
Em O livro dos Espíritos, os mensageiros espirituais esclarecem a grande questão do sofrimento, da dor, da enfermidade, afirmando que não são fatores propostos pelo Criador, mas consequências das violações de Suas Leis. 
Assim, de acordo com a natureza das faltas cometidas pelo Espírito, ele mesmo escolhe as provas que queira sofrer.
Provas que o levem à expiação das faltas cometidas e a progredir mais depressa. 
Deus, na Sua justiça, permite que o culpado retorne ao cenário onde delinquiu, para a retificação dos seus erros. 
E como ensinou Jesus: 
-Se teu olho for causa de escândalo, arranca-o e joga-o fora, as deficiências e mutilações do hoje retratam exatamente a qualidade dos desacertos do ontem. 
Mas, como Deus é justiça e também misericórdia, permite que almas devedoras nasçam junto a corações amorosos que as aceitam e as ajudam com devoção, em sua trajetória de resgates e dores. 
Por isso mesmo, é comum encontrarmos mães carregando filhos que não andam, sem lamentar o esforço que realizam. 
Mães que vivem com filhos de ouvidos e lábios fechados e que, no entanto, lhes falam à acústica da alma, dizendo-lhes do seu amor. 
Mães que recebem filhos deficientes de toda ordem e que a eles se dedicam, heroínas anônimas, com desprendimento e amor. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Sem braços e sem pernas, do livro Reencarnação e vida, de Amália Domingo Soler, ed. Ide e nos itens 258 e 264 de O livro dos Espíritos, de Allan Kardec, ed. Feb. 
Em 15.08.2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário