terça-feira, 26 de julho de 2022

SEM LIMITAÇÕES

RAQUEL BUENO
Quantas vezes reclamamos por ter muito trabalho? 
Ter peso a carregar? 
Ter alguma coisa mais difícil para elaborar?
É comum que nos afirmemos incapazes de realizar isso ou aquilo. 
Quer dizer: damo-nos por vencidos, antes mesmo de tentar, de batalhar para conseguir. 
Muitas pessoas, no entanto, nos dão exemplos de que para quem deseja, nenhum obstáculo é bastante forte para impedir o alcance do objetivo.
Recordamos Beethoven que, totalmente surdo, compôs oito das suas sinfonias. É um testemunho do triunfo do Espírito sobre a matéria.
Ravel compôs um concerto de piano para a mão esquerda, especialmente dedicado a um pianista amigo que perdera a mão direita na guerra. 
Um dos mais extraordinários exemplos de triunfo sobre a matéria nos dá o polonês Arystarch Kaszkurewicz. Poucos devem ter ouvido falar a respeito desse homem ímpar que morreu, no ano de 1989, no anonimato, em São Bernardo do Campo, Estado de São Paulo. Dedicou-se à arte sacra, notadamente à arte de vitrais, mosaicos e afrescos. Também fez cerca de vinte vitrais contando a História da Colonização do Brasil. Sua arte está espalhada em dezenas de igrejas, templos, basílicas e hospitais pelo país. Uma autora o chamou de O arquiteto dos deuses. A História desse artista poderia ser como tantas outras não fosse pela peculiaridade com que se desenrolou. Arystarch era pós-graduado em Direito em Varsóvia e cursou Belas Artes na Alemanha. Nascido em 1912, durante a Segunda Guerra Mundial, sofreu a perda das duas mãos e do olho esquerdo, em consequência da explosão de uma granada. A limitação física e a perseguição aos poloneses fizeram com que ele escolhesse o Brasil para continuar vivendo com sua esposa e seu filho. Desejava reconstruir sua vida. Na época, havia um decreto em nosso país proibindo a imigração de deficientes físicos. O país precisava de mãos laboriosas para a produção. Foi por intervenção de uma instituição religiosa alemã que, em 1952, o presidente Getúlio Vargas lhe deu a autorização. Ele desembarcou no porto de Santos com a reduzida família e se fixou, posteriormente, em São Bernardo do Campo. A princípio, trabalhou como empregado em uma casa especializada em vitrais. Somente pedia uma coisa: que lhe arregaçassem as mangas. Usava os tocos dos dois pulsos para segurar o lápis, a caneta, o pincel e trabalhava com rapidez. Peregrinou por todo o país, que adotou como lar, espalhando a beleza e a esperança, através de sua arte. Avesso à publicidade, morreu no anonimato. A poesia dos seus vitrais encanta as criaturas, mesmo que suas obras não tragam sua assinatura. 
* * * 
Não nos deixemos abater pelas tempestades da vida. 
Se temos um corpo perfeito, pensemos em quantos gostariam de usufruir dessa ventura. 
E, mesmo em suas limitações, se encantam pela vida e deixam a sua poesia, a sua alegria e a sua esperança para que outros com elas se felicitem. 
Limitados, se superam. 
Mutilados, afirmam com sua obra que o Espírito é soberano, senhor do corpo a quem governa. 
Pensemos nisso e não nos permitamos deixar de produzir o bem, o bom, o belo. 
Redação do Momento Espírita, com base na biografia de Arystarch Kaszkurewicz, do livro Arystarch, o arquiteto dos deuses, de Raquel Bueno. 
Em 25.7.2022.

Nenhum comentário:

Postar um comentário