quarta-feira, 13 de julho de 2022

O DESEJO DE UMA AMIGA

Yitta Halberstam e Judith Leventhal
Desde pequena, Ana demonstrava extremo carinho com bebês. Tinha uma forma especial de acalmá-los, quando choravam. As amigas de sua mãe comentavam que ela, com certeza, se casaria e teria muitos filhos. Chegavam a descrevê-la com avental, fazendo biscoitos, rodeada de chocolates e guloseimas para as crianças, nos finais de semana. Ana cresceu, se casou, e com o marido, planejou ter filhos. Na primeira gravidez frustrada, telefonou, em desespero, para sua amiga, Lia. Elas haviam crescido juntas e haviam feito planos de se casarem com dois irmãos, morarem bem próximas uma da outra e terem seus bebês ao mesmo tempo. Mas, elas se casaram com homens que não se conheciam e foram morar em pontos diferentes do país. E, a cada desilusão, por mais um aborto espontâneo, Ana telefonava para a amiga, que nem tinha coragem de dizer que estava grávida. Lia teve sete filhos em quinze anos de casamento. 
Ela dizia para Ana: 
-Queria ter o poder de fazê-la ter filhos, de ser mãe, como eu. 
Muitos tratamentos infrutíferos depois, Ana optou por se tornar professora de jardim de infância. Ao menos ali, poderia extravasar o amor que tinha pelas crianças. Quando Lia telefonou dizendo do diagnóstico de câncer avançado, Ana tomou um avião e foi para a casa da amiga. O marido mal conseguia cuidar dos sete filhos, acompanhando a esposa, nos exames, cirurgia, quimioterapia. O menor tinha seis meses e o maior, quatorze anos. Ana passou a tomar conta da casa, a levar e trazer crianças da escola, ajudar na lição de casa, cozinhar, fazer sobremesas deliciosas, cantar e contar histórias para os mais novos, na hora de dormir. Em suas orações, rogava a Deus que a amiga voltasse logo para casa. Em verdade, Lia se foi para a morada espiritual, deixando um marido desolado, de tal forma que precisou ser medicado e internado. As semanas seguintes afirmaram uma terrível sentença: ele não tinha condições de reassumir seus compromissos, cuidar dos filhos, do lar. Quando a Assistência Social bateu à porta para levar os irmãos a lares adotivos, Ana tremeu. Ela não poderia permitir que aquelas crianças, que não tinham ninguém além delas mesmas, fossem separadas. Afinal, quem adotaria sete irmãos? O marido de Ana, por sua vez, a queria de volta. Haviam se passado cinco meses e ele dizia que não podia mais viver sozinho. Ela deveria falar com advogados, ajustar o destino das crianças e retornar para a sua casa. Então, a menina/mulher que tanto desejava ser mãe, teve uma longa conversa com seu companheiro. E ambos optaram por serem os pais temporários dos filhos de Lia. Quando os médicos declararam que o pai biológico jamais se recuperaria de seu desequilíbrio mental, eles os adotaram definitivamente. Envolvida nas lides com os sete filhos, Ana se lembrou, mais de uma vez o que Lia lhe dizia: 
-Gostaria de ter o poder de fazê-la ter filhos. 
Bom, não foi da maneira que nenhuma das duas planejou, mas o desejo de Lia acabou se realizando. 
Com certeza, estranhos são os caminhos de Deus para nossas vidas...
Importante é que estejamos abertos a Seus planos. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 37, do livro Milagres em família, de Yitta Halberstam e Judith Leventhal, ed. Butterfly. 
Em 13.7.2022.

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