sexta-feira, 3 de junho de 2022

CARTAS PERFUMADAS

No tempo 
Em que perfumávamos as cartas 
Talvez não percebíamos 
Mas, enchíamos de perfume também 
O caminho percorrido por elas. 
Quantas mãos 
Do remetente ao destinatário... 
Quantas flores 
Derramadas sobre estradas 
De pedra. 
* * * 
Houve um tempo em que escrevíamos cartas. 
Acreditem os mais jovens, mas escrevíamos sim, de próprio punho – como se diz – e, dependendo do seu conteúdo, ou a quem se destinassem, podíamos acrescentar-lhes perfume, para que quem as recebesse pudesse nos sentir mais próximo. 
Referimo-nos, naturalmente, às cartas ditas de amor, às linhas apaixonadas que endereçávamos uns aos outros, aguardando dias, semanas, meses, por vezes, para que chegassem ao seu destino. 
Esposas e namoradas de soldados que estavam no front; casais separados por oceanos, em função do trabalho ou estudo; jovens que endereçavam versos abrindo o coração a seus pretendentes. 
Assim viajavam muitas correspondências perfumadas.
Tomamos esse símbolo como referência, pois talvez possa nos escapar um detalhe muito curioso e belo: não apenas o destinatário recebia o perfume da missiva, mas todo aquele que tocasse a carta ou que chegasse próximo a ela. 
Assim, ficamos a pensar quantas mãos se balsamizaram ao longo do caminho, quantas almas foram impregnadas, mesmo que suavemente, pela fragrância do carinho, da saudade e da amizade. 
Agora, pensemos sobre nossas ações no bem, essas que temos chance de praticar todos os dias, sobre as palavras perfumosas que podem sair de nossa boca, sobre as vibrações de amor que deixamos por onde passamos quando nossos pensamentos exalam beleza. 
Somos cartas vivas que aromatizam ou infectam as sendas da existência terrestre por onde nos locomovemos. 
Podemos ser aqueles que levam otimismo, alegria, vontade de viver. 
Podemos ser os que demonstram gratidão a tudo, que por mais atravessem mares bravios, tempestades, conhecem muito bem o senhor dos oceanos e não se deixam desestimular. 
Podemos ser os gentis, os românticos, os bem-humorados, os que se interessam pela vida do outro, pelo papo rápido e atencioso da esquina, do elevador ou da padaria. 
Cartas perfumadas. 
Todos temos o potencial de perfumar os caminhos, todos podemos levar um pouco de felicidade a quem vive as tristezas da própria vida. 
E o mais incrível é que essa nossa fragrância não queima feito luz de vela, não gasta. 
Não, é um aroma que fica eternamente, como aquele que ainda está nos papéis de carta antigos, guardados dentro de livros, dentro de agendas, dentro do amor do nosso coração.
Sejamos cartas perfumadas em nossa família. 
Sejamos cartas perfumadas em nosso local de trabalho.
Sejamos aqueles que deixam sempre algo de bom por onde quer que passemos. 
Vigiemos o pensamento, vigiemos as palavras e as ações.
Que nos guie sempre a proposta sublime do amor. 
Muitos ainda, de olfato da alma embotado, não nos perceberão a exalação perfumada – o que é natural. 
Outros, no entanto, inspirados nos bálsamos despejados por nossas atitudes renovadas, partirão em busca de suas próprias essências de nardo. 
Logo, se tornarão novas cartas perfumadas. 
Redação do Momento Espírita 
Em 3.6.2022.

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