terça-feira, 7 de junho de 2022

IDOSOS

Richard Simonetti
Grande número de pessoas tem medo da velhice. 
O próprio termo velhice vem sendo substituído pela expressão Terceira idade ou Melhor idade, para causar menos impacto.
É que, de um modo geral, as pessoas somente observam a velhice como o período da diminuição das forças físicas, da menor resistência do organismo a doenças. 
Em certos casos, redução da capacidade mental, dependência de outros nas necessidades pessoais e proximidade da morte. 
Ante a velhice que se aproxima, a pessoa fica matutando algumas perguntas como: 
-Que será de mim? 
-Será que vou ficar inútil? 
-Será que me abandonarão em um asilo? 
Essas dúvidas, se alimentadas com frequência, podem gerar angústia e infelicidade. 
Por pensar que velhice é sinônimo de incapacidade é que certo professor de violino ouviu, admirado, a pretensão daquele velhinho de setenta e sete anos: 
-Quero ser seu aluno! 
-Muito bem, senhor Antônio, seja feita sua vontade. Entretanto, é bom que o senhor saiba que, não sendo jovem, terá dificuldade no aprendizado. Além do mais, trata-se de um instrumento musical dos mais complexos. 
O senhor idoso era lúcido e ágil. 
Por isso respondeu: 
-Não tem problema. Estou disposto a enfrentar essa barra. Mesmo com minhas limitações. 
O professor de violino não se conformou. 
-Senhor Antônio, já se deu conta de que, para sua iniciação musical, serão necessários anos dedicados a estudo e exercícios? Considerando sua idade, sua vida caminhando para o final, não lhe parece um desperdício estudar? 
Foi aí que o senhor Antônio sorriu e deu uma lição fora de série ao jovem professor: 
-De forma alguma é um desperdício. O esforço do aprendizado me oferecerá motivações para a vida. Alegrará meu presente e também preparará o meu futuro. Tenho certeza de que, ao regressar ao mundo espiritual, estarei enriquecido com noções musicais. Isso facilitará minha reintegração na Pátria verdadeira, a do Espírito. Afinal, lá também há violinistas.
* * * 
Esta é a verdadeira sabedoria. 
Não desistir nunca. 
Não se permitir parar de aprender. 
Afinal, não há existências que findam. 
São somente etapas de aprendizado que se completam.
Etapas que devem ser aproveitadas integralmente, favorecendo o porvir. 
O que se aprende em uma vida, arquiva-se e, em outra vida, aparecerá como vocação, talento. 
Aprender, em qualquer idade, é o caminho mágico de realizações gloriosas. 
Quem realiza o aprendizado, com perseverança, vai em frente, melhorando sempre, sem cansar nunca. 
Vicente de Paulo é excelente modelo de quem superou a enfermidade e a velhice. 
Após os setenta anos, tornaram-se impossíveis as viagens a cavalo para as visitas habituais às várias casas sacerdotais.
Ainda assim ele prosseguiu no trabalho. Ao chegar ao ponto de não poder mais sair da casa onde residia, ele não parou.
Dotado de indomável energia, Vicente, a cada manhã proferia palestra aos seus discípulos. 
Conservou impressionante serenidade e lucidez, até o final de sua vida. 
Vida de produção até o fim.
Bem dizem que a juventude só acaba quando se apaga o entusiasmo. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 18 do livro Atravessando a rua, de Richard Simonetti, ed. Ide e no cap. Convivência com a enfermidade, do livro Vicente de Paulo, servidor dos pobres, de Luiz Miguel Duarte, ed. Paulinas. 
Em 08.10.2010.

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