domingo, 6 de junho de 2021

FUGA DOLOROSA

Richard Simonetti
O suicídio continua em alta. 
Infelizmente. 
Apresenta-se das formas mais diversas. Desde o ser que, voluntariamente, agride sua integridade física ao que deixa de cuidar da saúde, no intuito de apressar o fenômeno da morte. Nesse particular, temos uma gama muito grande. Portadores de determinadas enfermidades, com necessidade de dietas e cuidados, que desleixam. Não aceitam se furtar ao prazer disso ou daquilo. E a doença progride aceleradamente, advindo a morte prematura. 
Seres vinculados ao vício do fumo, do álcool, da droga. 
Criaturas que, na busca do prazer, esquecem as horas do sono. Desgastam a máquina orgânica em noitadas vazias. Acordam, no dia seguinte, a horas mortas, com distúrbios digestivos, cefaleia, intoxicações.
O quadro se repete, se reprisa, levando aquele que assim se entrega a um desgaste orgânico, sem recomposição. 
Pessoas que se desvitalizam no abuso sexual. 
Pessoas que não buscam o médico, não se submetem a exames, não aceitam conselhos. 
São todos suicidas indiretos. 
O desejo de morrer pode resultar em enfermidades. 
A anorexia, por exemplo. O quadro clínico da anorexia contém mais sinais do que a simples recusa de comida. O corpo inteiro decreta um estado de animação suspensa. Nenhum sono. Nenhuma alimentação. Todas as funções vitais estão atrofiadas, reduzidas. 
E as greves de fome? 
Há que se considerar da nobreza da causa, os objetivos que as orientam. Pode haver, por trás da decisão, o ardente desejo de buscar a morte.
Nesse caso, é suicídio lento. 
O sacrifício da vida é meritório quando tem por fim salvar a de outros ou ser útil aos semelhantes. 
Mas um sacrifício não é meritório senão pelo desinteresse, e antes de realizá-lo deve-se refletir se a vida não poderá ser mais útil do que a morte. 
A mais trágica de todas as circunstâncias que envolvem a morte, a de consequências mais devastadoras, é o suicídio. 
Tormentos desabam sobre o suicida. 
Precipitado, de forma violenta, na Espiritualidade, em plena vitalidade física, revive, sem cessar, por largo tempo, as dores e as emoções dos últimos momentos. 
Um dos grandes problemas é o lesionamento do corpo espiritual. 
O suicida exibe na organização espiritual ferimentos correspondentes à lesão do corpo físico. 
Podemos aquilatar das dores de quem desferiu um tiro no cérebro, ingeriu elemento corrosivo, atirou-se de grande altura. 
Tais efeitos se registrarão em nova reencarnação. 
O tiro no cérebro originará dificuldade na fala, no raciocínio. 
O impacto da queda violenta poderá propiciar complexos quadros neurológicos. 
O veneno corrosivo implicará em ulcerações ou deficiências no aparelho digestivo. 
E, na medida em que a família mergulhe no desespero e na inconformação, mais sofrerá o suicida. 
O bálsamo que se lhe pode oferecer é a oração. 
Ela lhe constituirá alento novo para os padecimentos no Além. 
Também o auxiliará a se reerguer.
* * * 
Se você está a ponto de cometer a loucura do suicídio, pare! 
Pense! Espere! 
O problema pode parecer muito amargo ao coração. 
A sombra interior é tamanha que você tem a ideia de haver perdido o próprio rumo. 
Mas, não se mate! 
Deus não nos abandona. 
Faça silêncio e ore. 
O socorro chegará. 
Por meios que você desconhece, Deus permanece agindo. 
Redação do Momento Espírita, com base no item 951, de O livro dos Espíritos, de Allan Kardec, ed. FEB; no cap. 6, item Anorexia, greves de fome: as greves da vida, do livro Suicídio, modo de usar, de Claude Guillon e Ives Le Bonniec, ed. EMW Editores e no cap. Fuga comprometedora, do livro Quem tem medo da morte?, de Richard Simonetti, Gráfica São João. 
Em 2.1.2014.

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