sexta-feira, 25 de junho de 2021

FEITO REVOADA

Você já observou uma dessas árvores comuns, altaneiras, quando estão repletas de pássaros em seus galhos?
As aves pousadas preenchem os espaços, e mesmo os ramos mais secos parecem ganhar vida com a visita animada dos pequenos seres alados. 
O vegetal erguido em direção ao Alto ganha movimentos que não possuía. Ganha sons que não era capaz de emitir. 
A vida se soma à vida. 
A árvore nunca foi tão exuberante. 
No entanto, sem avisar, sem aparente razão, subitamente todos eles resolvem bater em revoada ao mesmo tempo. 
Outro belíssimo espetáculo de se ver. 
Coordenados, sem medo, obedecendo a um comando interno que lhes faz desafiar os ares a todo instante, eles voam... 
Eles voam, buscando seus destinos, continuando a desempenhar seu importante papel na Criação. 
Mas e a árvore? 
Normalmente nem mais a notamos. 
A árvore permanece, agora, aparentando estar vazia, incompleta, sem vida... sem beleza. 
Ela sente falta dos passarinhos, dos ruídos, da festa, daquela alegria toda em torno de si. 
* * * 
Há épocas da vida que parece que as pessoas começam a partir assim, feito revoada, todas quase ao mesmo tempo. 
As redes sociais possibilitam que saibamos desse tipo de notícia instantaneamente. 
Lá se foi aquele amigo distante. 
Agora aquele outro, pai de fulano, mãe de beltrana... 
E quando chega a vez dos nossos próximos mais próximos nos damos conta de que todos teremos que partir um dia. 
Sentimo-nos, então, como a árvore que perdeu todos os pássaros que cantavam e brincavam em seus braços. 
Sentimo-nos minguados, desfolhados, silenciosos... 
É de se compreender a tristeza da árvore, ela é autêntica. 
Necessário lembrar, vez ou outra, que os pássaros não pertencem às árvores, que não fazem parte dela, como o tronco, a galhada ou as folhas.
São visitantes passageiros, que fizeram breve morada ali, em seu aconchego verdejante, antes de seguir suas jornadas pelo espaço sem fim. 
Assim, poderíamos perguntar: deve a árvore sofrer com as revoadas frequentes da existência, ou rejubilar-se com os belos voos de seus novos amigos passarinhos? 
A resposta é admirável: ela precisa das duas coisas. 
Não há mal algum em sofrer. 
As almas mais sensíveis sofrem a ausência e a despedida. 
Choram as lágrimas da gratidão, das boas lembranças e da falta das energias do outro no campo das suas próprias. 
Mas, também porque amam, choram de alegria pela libertação, pela beleza de um voo que é certo para todos, pois é voo de final de uma etapa e início de uma nova. 
É um voo de renovação. 
Curioso é que somos, ao mesmo tempo, árvore e passarinho. 
E conhecemos a história a partir dos dois pontos de vista. 
Bate em nós, vez ou outra, essa melancolia das revoadas, quando o olhar se detém apenas nas árvores esvaziadas que ficaram. 
Juntemos a esse sentir um outro: o deslumbre pelo céu repleto de asas, pelo bailar seguro e bem desenhado dos pequenos seres que partem daqui para ali, que continuam existindo, que logo mais pousarão em outras florestas, numa continuada e esplêndida celebração à vida que não cessa jamais. 
Redação do Momento Espírita 
Em 25.6.2021.

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