sábado, 29 de fevereiro de 2020

REFLORESCENDO....

Aquela senhora parecia estranha. Bateu à porta dos rapazes, que apenas haviam adentrado o apartamento, para oferecer seus biscoitos. Sinal de boas vindas. 
-Receita especial, frisou. 
E foi entrando, se sentando na sala e falando de tudo e de coisa nenhuma. Por fim, entre lágrimas, disse que fora vítima de um furto. 
Por que não recorria à polícia? 
Bom, a polícia se interessaria em investigar o furto de uma planta? 
Era sua planta de estimação, uma samambaia. 
Espécie? 
Ora, era uma samambaia comum mas que compartilhava sua vida há seis anos. Ela a tinha colocado no corredor, do lado de fora do seu apartamento, para conferir um pouco de alegria ao local. E alguém a furtara. Os rapazes se compadeceram da sua tristeza, que transparecia nas faces esculpidas pelo tempo. Pediram a um amigo, que adorava investigar situações que pareciam intrincadas, que fizesse algo por ela. Ele se entusiasmou. Colocou uma samambaia nova no mesmo local da anterior, instalou uma câmera de vigilância e ficou assistindo horas e horas de gravações, por dias inteiros. Ninguém, sequer, olhava para a planta. A porta do apartamento se abria apenas para quem vinha entregar pedidos feitos pela senhora. Ele percebeu que, além de agradecer, ela fazia questão de dar seus bolinhos, seus biscoitos a cada um. Mesmo que eles dissessem que não queriam, ela insistia e lhes colocava nas mãos as suas preciosidades. Jerry se deu conta da solidão daquela senhora que não saía de casa, e que fazia questão de agradar as pessoas. Descobriu o que ela queria de verdade: atenção, alguém para conversar. Foi visitá-la. Disse que para concluir a investigação a respeito do estranho furto, precisava lhe fazer algumas perguntas. Foi recebido com um sorriso e um delicioso sanduíche, que ela preparou com esmero. Cortado ao meio, dois triângulos perfeitos. 
-Como minha mãe fazia! – Comentou o rapaz. 
-As boas mães fazem assim! – Respondeu ela. 
Enquanto saboreava a delícia, ele se pôs a olhar para as paredes. Havia muitas fotos dela com o marido, em viagens, festas, recepções. Ela vivera intensamente um amor e uma vida. Era bela, elegante, sempre com aquele maravilhoso sorriso nos lábios. Confidenciou-lhe que depois que o marido morrera, colocara o pé no freio. Sem o seu grande amor para tudo compartilhar, a vida perdera muito do seu significado. Então, o jovem a convidou para sair com ele. E a levou para um lugar paradisíaco, entre palmeiras emoldurando a paisagem, num cair de tarde. Juntos, assistiram a um pôr de sol, num céu pincelado de lilás, vermelho, amarelo, uma profusão de cores... A vida não acaba porque o amor partiu, disse ele. Volte a viver, saia de casa, admire os quadros de Deus, permita que sua alma continue a vibrar. Depois, a levou para conhecer os seus próprios amigos, à beira da praia. A senhora tornou a desabrochar. Precisava somente de alguém que lhe quisesse bem e lhe desse amor. 
Pensemos nisso ao encontrarmos pessoas solitárias, tristes e acabrunhadas. Contribuamos para que voltem a florescer.
Redação do Momento Espírita, com base em capítulo da Série Hawaii Five-0. 
Em 28.2.2020.

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