domingo, 16 de fevereiro de 2020

ESTAR A CAMINHO

AMYR KLINK
Foi em uma manhã gelada de domingo, perto das seis horas que, em junho de 1984, Amyr Klink foi oficialmente autorizado a deixar um porto da Namíbia, com destino ao Brasil. Depois de mais de dois anos de trabalho incessante e muitas dificuldades, ele estava pronto para começar a travessia do Atlântico Sul, remando. Era um projeto audacioso e muito, muito bem planejado. Tudo havia sido cuidadosamente estudado e escolhido: a rota, o local de partida, a estrutura e o material do barco, a época do ano em que seria mais viável tal travessia ... Muitos detalhes, muito trabalho e muitas pessoas dizendo que aquilo não daria certo. Havia também aqueles que o ajudaram e que o incentivaram. Porém, no fundo, a responsabilidade e os riscos reais por tal empreitada eram apenas dele, um homem obstinado a alcançar seu objetivo. Por isso, quando Amyr se viu sozinho no seu pequeno barco, naquela manhã fria, tentando deixar a África para trás, sentiu-se imensamente feliz. Apesar do medo que o deixava mais branco do que a espuma das ondas, ele estava realmente satisfeito. Sobre isso ele narra no livro Cem dias entre céu e mar o seguinte: 
"Era preciso vencer o medo; e o grande medo, meu maior medo na viagem, eu venci ali, naquele mesmo instante, em meio à desordem dos elementos e à bagunça daquela situação. Era o medo de nunca partir. Sem dúvida, este foi o maior risco que corri: não partir. (...) Confiava por completo em meu projeto e não estava disposto a me lançar em cegas aventuras. Mas não poder pelo menos tentar teria sido muito triste. (...) Pelo simples fato de estar ali onde estava, debatendo-me entre os remos, xingando as ondas e maldizendo a sorte, me sentia profundamente aliviado. Feliz por ter partido."
* * * 
Mais importante do que ter sucesso nos projetos que traçamos é buscar realizá-los de forma consciente e efetiva. É necessário traçar as rotas que desejamos seguir, avaliar os riscos e planejar nossas ações. Não podemos esquecer de examinar com honestidade nossa motivação e os resultados que poderemos obter diante de nossa empreitada. Afinal, o que queremos fazer? Aonde queremos chegar? Para que todo esse esforço? Para quem? Se nossos projetos são legítimos, úteis e viáveis, devemos nos lançar em busca da realização dos mesmos. Sem esmorecer, sem nos deixar naufragar diante das dificuldades e do cansaço. Tudo que se busca na vida exige esforço e dedicação. Vitórias que se obtêm sem mérito não satisfazem nossos exigentes corações e nossas incorruptíveis consciências. Porém, não se pode esquecer que mesmo as jornadas mais longas e duras exigem que se dê o primeiro passo. Projetos que não saem da mente e do papel não mudam a face do mundo, nem a mentalidade das pessoas. Sonhos que não ousamos tornar reais jamais serão motivo de alegria verdadeira. Não tema as ondas bravias da vida nem o vento inclemente. Trace rotas seguras e faça a sua parte. É preciso estar a caminho. É indispensável tentar.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 1 do livro Cem dias entre céu e mar, de Amyr Klink, ed. Companhia das letras. 
Em 27.08.2009.

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