sábado, 20 de outubro de 2018

AS DUAS JANELAS

A cada dia que despertamos, abrimos duas janelas para o mundo. São os nossos olhos que se abrem para a poesia que se renova a cada manhã. As janelas, no entanto, não são todas iguais. E não falamos da cor da íris, do tamanho dos olhos, mas sim, da capacidade de ver. Existem pessoas dotadas de acurada visão, sem, contudo, conseguirem perceber detalhes de importância. Existem outras, desprovidas da visão física, que abrem suas janelas com atilada percepção. Cada um pode e vê o que deseja, aquilo para o que se interessa. Há os que veem, no céu azul, as aves que parecem pousar no ar. Acompanham seu voo, sua faina no sentido de buscar alimento, água, repouso. Desconsertam-se com a capacidade desses pequenos alados que, sem consultarem o relógio, conseguem despertar ao alvorecer e se recolher ao anoitecer. Alguns abrem suas janelas e encontram águas cantantes, onde a vida se move, desenvolve e reproduz. Veem o desabrochar das rosas nos canteiros e nos vasos bem dispostos, que recebem diariamente o cuidado de mãos atenciosas. Outros veem o trabalho dos que se desdobram pelo seu semelhante. Ali, uma jovem conta histórias para ilustrar a infância. E veem as expressões dos rostos, alternando-se da surpresa ao deslumbramento. Adiante, um jovem se esmera em ensinar a sua arte de domínio da bola, da técnica da natação. No palco, ao ar livre, uma bailarina clássica toma de meninas da periferia e as inicia na arte da dança, permitindo que expressem a poesia que lhes vibra na alma. Crianças vão para a escola. Com suas mochilas às costas, elas passam sorridentes, alegres, e correm, gritando felicidade. Nos muros, os pardais pulam e de lá se lançam, equilibrando-se nos ramos das árvores próximas. Na primavera que tece versos, eles constroem ninhos, preparando o lar para os filhotes que virão, logo mais. Gatos sonolentos ficam abrindo e fechando seus olhos, sonhando com os pássaros que poderão abocanhar. Borboletas coloridas dançam no ar. Jasmineiros exalam perfumes. Às vezes, ouve-se o cantar de um galo. Será meio-dia? Um avião passa, conduzindo pessoas a lugares distantes. Cada uma leva um sonho, cada uma cumpre uma tarefa. E tudo, tudo está certo. No lugar exato, no momento preciso. 
 * * * 
Quando as minhas janelas veem tudo isso, sinto-me feliz. Feliz por participar deste magnífico concerto. De ser uma parte atuante. Sei que, em alguns dias, sou como as delicadas cordas do violino, emitindo notas suaves. Em outros, pareço mais instrumento de percussão, com barulho quase ensurdecedor. É minha alma que se emociona com o que presencia através das minhas janelas. E, então, desejo me adestrar um tanto mais nessa magnífica arte de aprender a olhar para poder descobrir maiores tesouros, nesse imenso e maravilhoso mundo de Deus. 
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O mundo se encontra repleto de belezas. O que nos falta ainda é a exata percepção de tudo que nos cerca. A nos adestrar nessa capacidade de ver com profundidade, é que nos devemos esmerar. Daí, olharemos para o arco-íris e não veremos somente as sete cores que nossa visão física detecta. Encontraremos todas as gradações que a alma sonha, o poeta idealiza, o Espírito vê. E tudo nos falará de Deus, suprema bondade, suprema perfeição, que a cada alvorecer supera todas as nossas expectativas, apresentando-nos outras maravilhas para nosso deleite. Pensemos nisso! 
Redação do Momento Espírita. Disponível nos livros Momento Espírita, v. 7 e 11 e no CD Momento Espírita, v. 24, ed. FEP.
Em 12.4.2017

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