quinta-feira, 4 de outubro de 2018

DRIBLANDO A DOR

Mais de uma vez me recordo. Na infância, quando eu reclamava de alguma dor e como se costuma dizer fazia corpo mole para não cumprir alguma tarefa, escutava a história outra vez. Certa vez, a dor veio visitar a Terra. Vestiu-se de forma adequada e chegou a uma casa pobre. Havia crianças, uma mulher cansada de tantos afazeres e um homem marcado pelas horas de trabalho exaustivo. A dor gostou do lugar e se aninhou no dedão do pé direito daquele pai de família. Naquele dia, quase noite, ele se recolheu e nem deu muita atenção para a tal da dor porque o cansaço era maior do que ela. Mal despertou a madrugada o homem acordou, pulou da cama e começou a se preparar para sair. Não desejando despertar as crianças e a esposa, ele se ergueu no escuro e logo bateu o dedão num brinquedo esquecido no chão. Ai, disse ele baixinho. Ui, que dor! Acariciou o dedo dolorido com a mão calosa e enfiou o pé no calçado. A dor lhe deu uma espetada. Afinal, ela não estava gostando nada de ficar ali, apertada. O homem, responsável, saiu mancando. O dedo latejava. Ele sentiu a dor diminuir um pouco quando tirou o pé do calçado, no trajeto que fez de ônibus. Contudo, logo mais chegou ao destino. Calçou o sapato e andou. Assim foi o dia inteiro. A dor reclamando, o homem sentindo mas dizendo: Eu preciso continuar. Não posso perder este emprego. Meus filhos dependem de mim. E tudo acontecia. Ora o dedão topava na quina de um móvel, ora o sapato apertava mais, ora... A noite surpreendeu o homem na labuta, suando, trabalhando. A dor já não aguentava mais. E, quando ao ir para casa, o dedão topou numa pedra do caminho, foi o fim. A dor ficou muito zangada e disse: Vou embora. Este homem não sabe me tratar bem. E lá se foi. Perto dali, ela encontrou uma casa muito bonita, confortável e entrou. Um homem estava largado no sofá da sala, assistindo televisão. A dor gostou de tudo que viu e se instalou no dedão do pé. Ai, gritou ele. Que coisa esquisita. Que dor terrível! Já providenciou uma almofada para acomodar o pé. Ao recolher-se para dormir, enfaixou o local e no dia seguinte, fez repouso. E no outro, e no outro. A dor adorou aquele tratamento vip e tomou uma resolução: Não saio mais daqui! * * * Quando a história terminava, eu já sabia que teria que dar conta das minhas responsabilidades. Era a forma de minha mãe me ensinar que eu devia ser forte; que pequenas dores deviam ser suportadas e de forma alguma serem motivo para não se cumprir as obrigações. Essa atitude serviu para me tornar alguém com maior capacidade de suportar reveses e dificuldades. Quando tudo parecia conspirar contra mim e eu tinha vontade de desistir, lembrava da história da dor. E retomava a luta. 
 * * * 
A dor física é sempre sinal de que algo não está bem no organismo. O bom senso nos diz que se deve procurar auxílio médico para a adequada verificação do que seja, antes que o mal avance. No entanto, pequenos incômodos levam algumas pessoas, por vezes, a logo optarem por ausências na atividade profissional e descumprimento de suas obrigações. São desculpas, fugas com vistas a se furtar ao dever. Pensemos nisso e não nos permitamos entregar por pequenas coisas. Afinal, quem aprende a bem administrar pequenas questões físicas angaria fortaleza moral para eventuais dificuldades orgânicas graves que possa vir a ter e, mesmo, fortalecimento para as dores morais que tenha que enfrentar. Pensemos nisso. Redação do Momento Espírita. Em 13.11.2009.

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