Ernest Renan |
Quem hoje visite as regiões que foram cenário das pregações de Jesus surpreende-se com a aridez do solo, a ausência de arbustos, a desolação da paisagem.
Ao tempo de Jesus, no entanto, a Galiléia esbanjava bem-estar e alegria.
Região muito verde, ensombrada, sorridente, era a autêntica terra enaltecida no Cântico dos Cânticos pelo rei poeta Salomão.
Sobretudo nos meses de março e abril o campo se transformava em um tapete de flores, com incomparáveis cores.
Os animais pequenos eram extremamente dóceis. Os passarinhos, de tão leves, nem chegavam a dobrar a erva em que pousavam. As rolas eram esbeltas.
Nos regatos, as tartarugas pequenas deixavam ver seus olhos vivos e doces. As cegonhas, com seu ar sempre grave, permitiam que os homens chegassem bem perto.
Possivelmente, em nenhum outro lugar as montanhas se desdobram com tanta harmonia, com o dom de inspirar pensamentos elevados.
Ao que tudo indica, Jesus as amou de forma particular. Importantes ações de Sua missão se deram nas montanhas. Lá Ele teceu Seus mais belos versos, deixando-nos as bem-aventuranças.
Lá Ele teve colóquios com profetas desencarnados, como Elias, respeitáveis legisladores hebreus, como Moisés. Lá Ele Se revelou aos discípulos em toda Sua grandeza, transfigurando-Se, a brilhar com a intensidade da estrela solar.
Tudo transpirava renúncia, doçura, ternura. No campo abundavam águas frescas e frutas. Os jardins eram plenos de macieiras, nogueiras e romãzeiras.
Foi nesse ambiente que Jesus nos apresentou a Boa Nova. Ele mesmo, um Messias diferente, único.
Comparece ao banquete de núpcias, chama para Si o publicano Zaqueu, a cortesã Madalena. Atrai os pescadores.
Enquanto a Grécia pintou admiráveis quadros da vida humana, legando-nos escultura e poesia, a Galiléia plantou o mais sublime ideal da espiritualidade, abrigando o Divino Cantor em suas terras.
O reino de Deus está no meio de vós, dizia Jesus aos que buscavam sinais exteriores.
E a voz do jovem carpinteiro de Nazaré ganhava uma doçura extraordinária.
Um encanto infinito exalava de Si quando falava do reino que não se instalaria no mundo, mas nos terrenos dos corações abertos ao bem.
O verdadeiro reino de Deus é o reino dos mansos e humildes, dos puros de coração, dos homens de boa vontade que, desejando alcançar a felicidade, a buscam no desdobramento da fraternidade verdadeira.
* * *
Ainda no ano 600 da nossa era, isto é, 50 anos antes da invasão muçulmana, a Galiléia era coberta de viçosas plantações.
Por isso mesmo teve sua fertilidade comparada à do Egito.
A planície de Genesaré, hoje sem nenhuma árvore, as anotações históricas nos cientificam de que era repleta de belas árvores.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 4 do livro
Vida de Jesus, de Ernest Renan, ed. Martin Claret.
Em 15.12.2009.
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