quarta-feira, 11 de julho de 2018

A OUTRA JANELA

A menina debruçada na janela trazia nos olhos grossas lágrimas e o peito oprimido pelo sentimento de dor causado pela morte do seu cão de estimação. Com pesar, observava atenta o jardineiro a enterrar o corpo do amigo de tantas brincadeiras. A cada pá de terra jogada sobre o animal, sentia como se sua felicidade estivesse sendo soterrada também. O avô, que observava a neta, aproximou-se, envolveu-a num abraço e falou-lhe com serenidade: 
-Triste a cena, não é verdade? 
A netinha ficou ainda mais triste e as lágrimas rolaram em abundância. No entanto, o avô, que sinceramente desejava confortá-la, chamou-lhe a atenção para outra realidade. Tomou-a pela mão e a conduziu até uma janela opostamente localizada na ampla sala. Abriu as cortinas e permitiu que ela visse o imenso jardim florido à sua frente, e lhe perguntou carinhosamente: 
-Está vendo aquele pé de rosas amarelas, bem ali à frente? Lembra-se de que me ajudou a plantá-lo? Foi num dia de sol como o de hoje, que nós dois o plantamos. Era apenas um pequeno galho cheio de espinhos, e hoje... Veja como está lindo, carregado de flores perfumadas e botões como promessa de novas rosas! 
A menina enxugou as lágrimas que ainda teimavam em permanecer em suas faces e abriu um largo sorriso. Mostrou as abelhas que pousavam sobre as flores e as borboletas que faziam festa entre uma e outra, e as tantas rosas de variados matizes, que enfeitavam o jardim. O avô, satisfeito por tê-la ajudado a superar o momento de dor, falou-lhe com afeto: 
-Veja, minha filha, a vida nos oferece sempre várias janelas. Quando a paisagem de uma delas nos causa tristeza, sem que possamos alterar-lhe o quadro, voltemo-nos para outra, e certamente nos depararemos com uma paisagem diferente. 
Tantos são os momentos felizes que se desenrolam em nossa existência. Tantas oportunidades de aprendizado nos visitam no dia a dia, que não vale a pena chorar e sofrer diante de quadros que não podemos alterar. São experiências valiosas das quais devemos tirar as lições oportunas, sem nos deixar tragar pelo desespero e pela revolta, que só infelicitam e denotam falta de confiança em Deus. A nossa visão do mundo ainda é muito limitada, não temos a capacidade de perceber os objetivos da Divindade, permitindo-nos os momentos de dor e sofrimento. Mas Deus tem sempre objetivos nobres e uma proposta de felicidade a nos aguardar, após cada dificuldade superada. 
* * * 
Se hoje você está a observar um quadro desolador, lembre-se de que existem outras tantas janelas, com paisagens repletas de promessas de melhores dias. Não se permita contemplar a janela da dor. Aproveite a lição e siga em frente com ânimo e disposição. O sofrimento que hoje nos parece eterno, não resiste à força das horas que a tudo modifica. A luz sempre vence as trevas, basta que tenhamos disposição íntima e coragem de voltar-nos para ela. Agindo assim, o gosto amargo do sofrimento logo cede lugar ao sabor agradável de viver, e saber que Deus nos ampara em todos os momentos da nossa vida. 
Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita, v. 3, ed. FEP. Em 11.7.2018.

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