terça-feira, 1 de maio de 2018

QUANDO CHEGA A MORTE

Ela é a indesejada. Ninguém que a convide. Sobretudo quando o amor preside as relações, a felicidade sorri e a vida é um constante recolher de bênçãos. Milênios de Cristianismo com a lição da imortalidade testificada pelo Mestre dos mestres, ainda não nos penetrou a todos. Por isso, toda vez que ela alcança um dos nossos amores, um amigo, um ídolo, um colega, lamentamos. E continuamos a nos servir de expressões que se tornaram praxe para essas ocasiões: 
-É com pesar que noticiamos a morte de... Lamentamos a perda do seu ente querido. Receba nossos pêsames. 
A tristeza é a nota sonante. Por isso, algumas pessoas chamam a atenção pela sua postura ante a morte. Recentemente, alguém influente de cidade do Interior do Estado morreu, depois de quase dois anos de luta contra a enfermidade cruel que o abraçou. O que vimos foi uma movimentação maciça de instituições civis, religiosas, pessoas de todas as classes. Flores e mais flores foram se acumulando, no local onde estava exposto o corpo para a visitação. Uma música suave se derramava pelo ambiente, convidando os presentes ao silêncio respeitoso, à oração. No momento de ser fechado o caixão para a condução ao túmulo, a esposa desejou falar. Emocionada, mas firme, ergueu sua voz: 
-Amigos que aqui vieram prestar a última homenagem ao meu marido, recebam minha gratidão. Agradeço as manifestações de solidariedade, os abraços, o carinho. De alguns ouvi comentários de como deve ter sido duro o período da enfermidade do Marcelo. De como deve ter custado a nós, os familiares, muito sofrimento os longos meses de cirurgias, quimioterapias e tudo que as acompanhou. Saibam que esses dois últimos anos nos foram muito especiais. Não posso dizer que não houve dias de aflição, de angústia. No entanto, desde o momento do primeiro e terrível diagnóstico, firmamos um pacto: ele, nossos filhos e eu. O trato era de que, não importando o que acontecesse ou quando ocorresse a morte, o tempo que tivéssemos seria usufruído com estreitamento dos nossos laços afetivos. Ficou estabelecido entre nós que a cada noite, antes do recolhimento ao leito, desejaríamos uns aos outros uma boa noite. Isso sempre entremeado de abraços e beijos. E jamais iniciamos o dia sem igual procedimento. Exercitamos o amor mais do que nunca. Então, desejo que todos saibam que esses dois anos não foram pesados. Foram meses e meses de uma semeadura de amor. Tudo para que, quando ele partisse, seguisse em paz. E nós, os que o amamos, igualmente tranquilos, dele nos despedíssemos com um simples até logo. As vibrações afetivas que trocamos nos manterão, saudosos, mas sem desespero, até o momento do reencontro. 
Quando sua voz emudeceu, discretos soluços de emoção se escutaram, aqui e ali. Uma aragem de paz soprou mansamente pela sala. A mensagem da certeza imortalista soprou de leve sobre todos. Belo testemunho de quem, tendo colocado a mão no arado da fé, não se permitiu olhar para trás. Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita. Em 1º.5.2018.

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