DIVALDO PEREIRA FRANCO |
No século VI a.C. viveu Creso, rei da Lídia, o homem mais rico do mundo. Ele governava com sabedoria e prepotência.
No esplendor de sua glória, certa feita recepcionou em seu palácio um dos sete sábios da Grécia. Talvez, o maior de todos: Sólon.
Para homenageá-lo devidamente e demonstrar todo o seu poder e sua riqueza, o rei mandou preparar um banquete esplendoroso.
Depois, o convidou a visitar as tantas salas dos seus tesouros: pérolas, esmeraldas, diamantes de todos os quilates, rubis, estátuas de ouro.
Estranhamente, Creso observou que seu convidado passeava por entre aquela riqueza imensa, com total indiferença.
E, ante a afirmativa real, que dizia ser o homem mais feliz do mundo por ser o mais rico, sentenciou o sábio grego:
-Meu rei, nunca ninguém poderá se considerar feliz antes de passar pela prova do tempo.
É o tempo que se encarrega de dizer se fomos ou não fomos felizes. Afinal, ele sempre nos surpreende com o inesperado.
A vida é uma sucessão de acontecimentos, que mudam completamente os nossos destinos.
E completou:
-Não vos esqueçais de que a felicidade está acima de tudo aquilo que se tem.
Creso não deu maior importância aos conselhos recebidos e tratou de aumentar ainda mais a sua riqueza e o seu poder.
Depois de algum tempo, no entanto, Ciro, rei dos persas, marchou com seu exército contra a Lídia.
E o rei assistiu, estarrecido, as tropas inimigas adentrarem o palácio, matando os seus melhores soldados.
Preso com a família, foi conduzido a ferros pela capital, agora em escombros. Humilhado, foi levado à praça central, atado a um poste, sobre pedaços de madeira.
Ele iria ser queimado vivo. Quando viu o arqueiro se aproximar com a tocha para atear fogo à madeira, ele recordou, como num flash, a sentença de Sólon:
-Ninguém no mundo é feliz se não passar pela prova do tempo.
Sim, o tempo lhe trouxera muitas tristezas: o filho morto, em um acidente de caça, aos dezoito anos. Seu filho amado, o herdeiro do trono.
Também o brindara o tempo com a surdez e mudez do filho mais jovem.
Por fim, agora, estava ele, sua esposa, seu filho, sua corte, todos vencidos, humilhados.
Que sobrara de sua riqueza, que fora selvagemente saqueada pelos conquistadores?
Que fora feito do seu palácio, queimado pela sanha destruidora dos vencedores?
Naquele momento, ele entendeu que a felicidade não é ter, a felicidade é algo mais.
Os haveres, de um momento para outro, podem ser retirados por salteadores ou levados pela fúria da natureza.
As coisas do mundo são efêmeras. Agora estamos sorrindo, logo mais poderemos estar mergulhados no mar das lágrimas porque um acidente nos roubou a mobilidade ou um ser amado.
Ou porque a natureza gritou, rebelde, e destruiu nosso patrimônio. Ou uma doença terrível nos abraçou e nos roubou as energias da juventude, o sorriso da alegria.
Então, feliz não é quem tem. Feliz é quem ama porque o amor canta uma primavera dentro do coração.
Naturalmente necessitamos de algum dinheiro, de alguns haveres, porque desprovidos de tudo, nos desequilibramos.
Contudo, é preciso a sabedoria de se saber possuidor e não possuído. Sermos donos do dinheiro, jamais o dinheiro de nós.
Essa uma postura sábia e que nos confere tranquilidade, harmonia no viver, no transcurso do tempo.
Pensemos nisso e invistamos em conquistar a paz e sermos felizes.
Redação do Momento Espírita, com base em Conferência
de Divaldo Pereira Franco, proferida em Porto Alegre, em 7 de
novembro de 2004, por ocasião da 50ª edição da Feira do Livro.
Em 8.5.2018.
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