segunda-feira, 21 de maio de 2018

A DIGNIDADE NÃO SE CONTAMINA

Há algum tempo, uma emissora de televisão apresentou uma reportagem intitulada: A boca do lixo. As câmeras focalizaram a realidade das pessoas que vivem do produto que conseguem retirar daquele lugar infecto, chamado lixão. As cenas chocaram sobremaneira. Crianças e jovens, adultos e velhos disputavam, com as moscas e os urubus, os detritos jogados pelos caminhões de coleta. Eram pessoas que, em princípio, pareciam confundidas com o próprio lixo, que haviam perdido a identidade, a auto-estima, a dignidade. Revestidas de trapos imundos, reviravam com suas ferramentas os monturos fétidos e retiravam alguns objetos que colocavam num saco, igualmente imundo. No entanto, no decorrer da reportagem, os repórteres elegeram algumas daquelas pessoas e acompanharam um pouco da sua rotina diária. Eles as entrevistaram, perguntaram qual o motivo que as levou àquele tipo de trabalho, que se poderia chamar de sub-humano. E, na medida em que os entrevistados falavam das suas vidas, de seus anseios, de como encaravam a situação, fomos percebendo uma realidade diferente da que supomos no início. Aquelas pessoas não haviam perdido a identidade, tampouco se deixaram confundir com a sujeira. Após as lutas do dia, chegavam em seus casebres, tomavam banho, trocavam os trapos infectados por roupas limpas, embora simples, e continuavam seus afazeres domésticos, com dignidade e honradez. Percebemos que aquelas pessoas não permitiram que a situação deprimente e miserável lhes contaminasse a dignidade. Respondendo às perguntas feitas pelos repórteres, uma senhora que vivia com o marido, seis filhos e a mãezinha já idosa, deixou bem clara a sua posição diante da vida. Quando lhe perguntaram se não era muito difícil criar seis filhos, ela respondeu sorrindo:
- Eu os amo de igual forma. Se Deus os mandou, é porque devo criá-los. O que não podemos é matar. Eu nunca matei nenhum no ventre, como não mataria agora, depois de nascido. 
E quando o repórter perguntou à avó se ela ajudava a cuidar dos netos, esta respondeu com sabedoria:
- Eu já criei e eduquei meus 9 filhos. Agora, cabe à mãe deles criá-los. Se fosse para eu criar, Deus os teria enviado como meus filhos também. 
Uma outra senhora, bem idosa, que também trabalhava no lixão, demonstrava sinais evidentes de dignidade e fé em Deus. O corpo esquálido e a falta de dentes davam notícia dos maus tratos que o tempo imprimira àquela mulher. Todavia, ao responder ao entrevistador se não se envergonhava de trabalhar no monturo, disse que vergonha é roubar e matar, e que disso ela jamais seria capaz. Aquelas pessoas, unidas pela desdita, falavam de amizade, respeito mútuo, companheirismo, convidando-nos a mais profundas reflexões em torno das nossas próprias vidas. É tempo de pensarmos um pouco, antes de reclamar da própria situação, já que, por pior que seja, não se pode comparar a daqueles que vivem do lixo que nós atiramos fora. 
 * * * 
Deus não cria as situações de miséria para Seus filhos. Todas as condições sub-humanas impostas a determinadas classes sociais, são geradas pelo próprio homem, que se enclausura na concha escura do seu egoísmo, quando poderia, com poucos esforços e uma pequena dose de solidariedade, dar a cada um o necessário para viver. Pensemos nisso! 
Redação do Momento Espírita. Em 18.09.2008.

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