quarta-feira, 30 de maio de 2018

A DIMENSÃO DO AMOR DE DEUS

SANTO INÁCIO DE ANTIOQUIA
Depois do drama da cruz, o Apóstolo João se retirou para a cidade de Éfeso, onde ganhara um pedaço de terra cultivável. Levou consigo Maria, a mãe de Jesus. Era um ponto geográfico privilegiado, aconchegante, de rara beleza. Logo além podia-se ver o mar bordado pelas velas coloridas das embarcações. Miosótis, flores miúdas e tamareiras completavam a harmonia do local. Quatro anos depois da morte de Jesus, João encontrou uma criança de seus oito anos. Chamava-se Inácio. Era um daqueles meninos que haviam rodeado o Mestre, no célebre episódio do Deixai vir a mim os pequeninos. João o lembrava de perninhas magras, pendendo frouxas e confiantes do colo do Divino Amigo. Pareceu rever, na tela da alma, as divinas mãos acariciando os cabelos desgrenhados daquela criança. Com ternura, resolveu adotá-lo e o levou para sua casa. Ali, o pequeno cresceu sob os carinhos de Maria, enquanto João lhe cultivou o caráter nos ensinos cristãos. Já adulto, propagador entusiasta da Boa Nova, Inácio de Antioquia foi preso. Num dia ensolarado e quente, foi levado a Roma. Desembarcando no porto de Óstia, cercado por legionários, seguiu pela via Ápia. Chegando ao cume de uma colina que circundava a cidade, ele começou a sorrir. Aquele homem alquebrado sorria, a ponto de comover-se até as lágrimas. Um legionário se aproximou dele, bateu-lhe na face e colérico, lhe falou: 
-Tu deves estar louco. Por que sorris? 
Inácio, ainda emocionado, respondeu: 
-Sorrio diante de tanta beleza que os meus olhos descortinam. Sorrio porque chego a Roma e vejo uma cidade imponente. Sorrio ao olhar o casario de mármore, as estátuas que rutilam ao sol, as águas prateadas do Tibre que circundam as montanhas como um alaúde. Sorrio... 
Antes que Inácio pudesse prosseguir, o soldado gritou: 
-Mas tu vais morrer, miserável. Como podes sorrir? 
-Sorrio, continuou o pregador do Evangelho, sorrio de felicidade porque agora eu posso ter uma dimensão do amor de Deus. Porque, se para vós, que sois corrompidos, se para vós que sois criminosos, Deus concede uma cidade tão bela e tão harmônica, o que não haverá de oferecer para aqueles que lhe são fiéis? Sorrio de felicidade, antecipadamente, e desejo que o sofrimento que me apontas venha logo, a fim de que Ele me leve...
 * * * 
Gratidão deve ser o pensamento primeiro ao despertarmos pela manhã, na bendita escola que chamamos Terra. Gratidão pela vida e pela oportunidade de progresso que nos é concedida na carne. Gratidão especial pela imensidão das belezas que refletem o grande amor de Deus por Seus filhos. Belezas que o homem não se cansa de descobrir, toda vez que sobe as montanhas ou se aventura no abismo dos mares. Toda vez que alonga o olhar ao horizonte, observando o nascente e o poente, num extraordinário colorido, de variantes sempre renováveis, diversas das que lhe alegraram o coração no dia anterior. Pensemos nisso: toda a beleza da Terra é o amor de Deus esparramado para os Seus herdeiros, nós, os Seus filhos. 
Redação do Momento Espírita, com base no artigo O holocausto maior, de Rogério Coelho, da revista Reformador, de março de 2001, ed. Feb. Em 3.7.2013.

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