sexta-feira, 23 de junho de 2017

PESSOAS E POTES DE GELÉIA

Leon Tolstoi
Transformamos as pessoas em potes de geleia. Sim, toda vez que julgamos precipitadamente, que criamos rótulos, estamos comparando as pessoas a objetos. Objetos podem, muitas vezes, ser facilmente explicados, descritos, compreendidos. Basta um desenho, um esquema, ou algumas palavras e está tudo resolvido. São conhecidos os jogos de mímica, nos quais os oponentes precisam adivinhar uma palavra, uma frase, através da compreensão dos gestos do outro. O problema está quando desejamos usar essa nossa habilidade de descrever rapidamente alguma coisa, no convívio com as pessoas. Pessoas são Espíritos, almas complexas, de realidades múltiplas e possibilidades infinitas. Avaliá-las com superficialidade é desrespeitá-las em sua essência divina. O grande escritor russo Léon Tolstoi afirma que um dos nossos preconceitos mais comuns e disseminados, é o de que cada pessoa tem uma característica fixa. Segundo ele, tal preconceito faz com que existam apenas pessoas boas ou pessoas más; pessoas inteligentes ou pessoas estúpidas; pessoas frias ou pessoas quentes. Muitas vezes, com o objetivo de simplificar, nós empobrecemos e menosprezamos as pessoas. Nossos próprios hábitos de linguagem precisam ser revistos, pois muitos deles nos acostumam ao rótulo fácil.
-Você lembra de Fulano de tal? 
– Não, não lembro. – Responde o outro. 
-Aquele magrinho com nariz pontudo, lembra? 
-Ah, sim, claro, agora lembrei! 
Aí se encontra o embrião do vício dos rótulos. Pode ser uma observação sem maldade, que apenas ajude a lembrar mais facilmente das pessoas, mas, por vezes, desenvolve em nós essa prática desagradável. Logo mais, estaremos nos servindo, habitualmente, de expressões como: Beltrano é falso mesmo. Cuidado com o que ele diz! Obviamente que podemos identificar as dificuldades das pessoas. É algo comum na vida de relacionamento. Mas, avaliar toda uma personalidade, todo o universo de um Espírito reencarnado, e resumi-lo em uma frase, em um rótulo, é pequeno e simplista demais. Aplicando um rótulo a alguém, principalmente os negativos, estamos afirmando que ele não é capaz de mudar, de crescer. Estamos dizendo que a pessoa é assim e pronto. Também aplicamos rótulos a nós mesmos. Colamos na testa um adesivo dizendo: Sou teimoso. Não pense em vencer qualquer discussão comigo. É uma auto-rotulagem, uma expressão de acomodação perante uma imperfeição, da qual, muitas vezes chegamos a nos orgulhar. Até mesmo os rótulos positivos são preocupantes. Quando, por exemplo, aquele amigo que carregava em sua fronte o rótulo de bonzinho, faz conosco algo que mostra uma característica oposta, vem a decepção. 
- Nunca esperava isso dele. 
Expressão típica de quem não conhece o outro em profundidade, e que preferiu ficar na superficialidade da rotulagem. 
 * * * 
Todos somos almas sendo auto-moldadas a todo instante. Nem temos imperfeições fixas, que ficarão para sempre conosco, nem virtudes em grau de excelência, que não nos permitam o equívoco em situação alguma. Lembremos: rótulos são para potes de geleia, e não para pessoas.
Redação do Momento Espírita, com citações extraídas do livro Pensamentos para uma vida feliz, de Léon Tolstoi, ed. Prestígio, 1999. Em 23.6.2017.

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