Pedro mora próximo à uma rua central de grande capital, há quinze anos.
Nos últimos tempos, está à beira de um ataque de nervos, pois não consegue mais suportar o barulho contínuo dos carros.
Ele tem algumas escolhas: trabalhar pelo fechamento da avenida, ao menos à noite; pela modificação da legislação de poluição sonora ou uso de automóveis; ou ainda, mudar-se.
É importante, porém, comentar também sobre seu vizinho, Bernardo, que mora no apartamento ao lado de Pedro, de frente para a mesma rua.
Perguntado a ele o que achava de viver naquele local, a resposta foi surpreendente.
Revelou que adora viver ali. Ele acha linda a vista que tem do seu apartamento. Disse que pode ver o maravilhoso nascer do sol de sua janela.
Adora observar a cidade. Perceber os habitantes caminhando ou em seus carros, e os resistentes passarinhos que aprenderam a viver em meio à civilização.
Numa conversa entre os dois, Pedro não aguentou, e questionou:
-Mas e o barulho? Você não se incomoda com toda essa barulheira que não tem fim?!
Bernardo respondeu:
-Olhe, fico tão concentrado nos meus afazeres, que eu nem percebo o barulho.
Pedro não podia acreditar. Achou, por um instante, que o vizinho tinha problemas auditivos, e falando bem baixo, tentou descobrir se ele era surdo.
Mas não era. Ouvia muito bem.
Como explicar isso? Ele ouvia muito bem e não se incomodava com o barulho?
-E à noite? – Perguntou ainda Pedro, indignado. – Como você faz para dormir?
-Vou ser bem sincero, caro amigo – respondeu Bernardo – à noite, ao deitar, sinto-me tão feliz com o dia vivido e com as coisas que tenho feito, que também não me incomodo com barulho algum.
Pedro pôde ver sinceridade e pureza nos olhos e nas palavras do vizinho.
Naquele momento, ele percebeu a razão de se incomodar tanto com aquelas coisas: ele não era feliz com o dia que tinha, e nem com as coisas que fazia.
* * *
Um outro personagem também ilustra a reflexão proposta.
Trata-se de Daniel. Jovem, de família abastada, casado, e morador de um condomínio fechado.
Ele foi presenteado por seus pais com uma casa no litoral. Ficou, a princípio, muito animado com a mudança.
Afinal, haveria lugar mais tranquilo e pacífico do que próximo ao mar?
Os dias passaram e ele percebeu, pouco a pouco, que não seria capaz de suportar aquele estilo de vida.
Aquele barulho constante de ondas quebrando; gaivotas gritando logo cedo; aquela umidade de maresia; a areia que insistia em acompanhá-lo em seu carro e em sua casa.
Daniel entrou em crise. Variava entre estados de irritação e depressão. Começou a tomar remédios e decidiu: iria se mudar dali.
* * *
Ouvindo estes relatos, nos indagamos: Onde mora a paz?
Será que a paz está na ausência de ruídos externos?
Será que para dormir em paz precisamos apenas de silêncio?
A paz tem moradia em nosso íntimo, e enquanto não formos felizes com nossos dias, com as coisas que fazemos, não a encontraremos.
Não basta mudar desse para aquele local. Faz-se necessário mudar-se na intimidade.
Deixar para trás o lar das atividades fúteis, das conquistas passageiras, e fixar morada na casinha aconchegante da alegria de viver, do amor à família, do prazer de servir.
Redação do Momento Espírita, com base em matéria
publicada na Revista Vida e Yoga, nº 20, ed. Online.
Em 21.6.2017.
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