Allison DuBois |
A garota de pernas longas e ossudas, cabelo crespo e bochechas cobertas de sardas, voltava para casa de bicicleta.
Distraída, pensava em que teria feito sua mãe para o jantar. Ao virar a esquina, um carro surgiu ao lado, com dois jovens dentro.
Ela pensou se tratar de amigos de seu irmão. O que estava no banco do carona se inclinou para fora da janela, em sua direção.
Tinha cabelos longos e parecia com seu irmão Michael. Ele sorriu e perguntou se ela não desejava uma carona até em casa.
-Não, obrigada – respondeu – moro logo ali, depois da esquina. Estou quase chegando.
Ele insistiu:
-Vem. Vai ser divertido. Vem dar uma volta com a gente.
Ela olhou em torno. Não havia ninguém. Nenhum carro passando. A rua estava vazia.
Começou a sentir um mal-estar, mas não conseguia se mexer. Parecia estar hipnotizada.
Nesse instante, uma voz soou em seu ouvido. Ou, ao menos, ela pensou que fosse em seu ouvido.
-Corre! Se manda.
Imagens de sua casa começaram a piscar na mente daquela menina de onze anos.
Despertou da paralisia que o medo lhe provocara e pedalou o mais rápido que pôde, em direção à sua casa.
O carro se afastou na direção oposta.
Chegou em casa com dor no peito, por ter prendido a respiração e pedalado com tanta força.
Tremendo ainda, correu aos braços de sua mãe, contando o que acontecera.
Infelizmente, como fazem muitos pais, ela não deu maior importância àquilo que fora uma tentativa de sequestro infantil.
Mas o comando daquela voz salvara a garota.
O episódio a marcou profundamente. Mais de vinte anos passados, ela recorda da cena em todos os detalhes.
Naquele dia, ela lembra ter prometido a si mesma que, ao crescer, faria algo para proteger as crianças de agressores.
Não sabia direito como, mas tinha certeza de que, um dia, se dedicaria a essa causa.
Pensou em ser advogada e juíza, para distribuir sentenças severas a pessoas que maltratavam crianças.
Adulta, ela ajudou a criar um sistema de alerta a rapto de crianças no Estado do Arizona, onde reside.
Mas, a grande certeza que guarda do episódio, é de que naquele dia aterrorizante, aos onze anos de idade, havia um anjo em seu ombro.
O anjo, tanto a protegeu naquela tarde quanto, diz ela mesma, a colocou no caminho que deveria seguir na vida adulta.
Traçando perfis de criminosos para a polícia, auxiliando na captura de raptores, ela se sente gratificada.
Mais ainda, quando suas palavras podem aliviar a dor dos parentes de uma vítima, retirando um peso de seus corações.
* * *
Poucos nos damos conta do quanto somos protegidos. Isso porque a proteção é sutil.
As ideias brotam como uma intuição e quase sempre as creditamos à conta de nós mesmos.
Atravesse a rua. Siga por aquele caminho. Olhe para trás.
Por vezes, o socorro é providenciado através da interferência feliz de um parente, amigo, ou até de um desconhecido.
Alguém que chega e nos sugere algo. Alguém que passa e nos socorre.
Pensemos nisso e fiquemos atentos à ajuda que os céus nos remetem todos os dias, aprendendo a ouvir com lucidez e sejamos gratos.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 3, do
livro Não é preciso dizer adeus, de Allison DuBois,
ed. Sextante.
Em 20.6.2017.
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