terça-feira, 31 de maio de 2016

UMA CERTA ARACY

Eles se conheceram em Hamburgo, na Alemanha, às vésperas da Segunda Guerra Mundial. Ele, menino pobre, viu na carreira diplomática uma maneira de conhecer o mundo. Em 1934, prestou o concurso para o Itamaraty e foi ser cônsul adjunto na Alemanha. Ela, paranaense, foi morar com uma tia na Alemanha, após a sua separação matrimonial. Por dominar o idioma alemão, o inglês e o francês, fácil lhe foi conseguir uma nomeação para o consulado brasileiro em Hamburgo. Acabou sendo encarregada da seção de vistos. No ano de 1938, entrou em vigor, no Brasil, a célebre circular secreta 1.127, que restringia a entrada de judeus no país. É aí que se revela o coração humanitário de Aracy. Ela resolveu ignorar a circular que proibia a concessão de vistos a judeus. Por sua conta e risco, à revelia das ordens do Itamaraty, continuou a preparar os processos de vistos a judeus. Como despachava com o cônsul geral, ela colocava os vistos entre a papelada para as assinaturas. Quantas vidas terá salvo das garras nazistas? Quantos descendentes de judeus andarão pelo nosso país, na atualidade, desconhecedores de que devem sua vida a essa extraordinária mulher? Cônsul adjunto à época, seu futuro segundo marido, João Guimarães Rosa, não era responsável pelos vistos. Mas sabia o que ela fazia e a apoiava. Em Israel, no Museu do Holocausto, há uma placa em homenagem a essa excepcional brasileira. Fica no bosque que tem o nome de Jardim dos justos entre as nações. O nome dela consta da relação de 18 diplomatas que ajudaram a salvar judeus, durante a Segunda Guerra. Aracy de Carvalho Guimarães Rosa é a única mulher. Mas seu denodo, sua coragem não pararam aí. Na vigência do infausto AI 5, já no Brasil, numa reunião de intelectuais e artistas, ela soube que um compositor era procurado pela ditadura militar. Naquele ano de 1968, ela deu abrigo durante dois meses ao cantor e compositor que conseguiu, sem ser molestado, fugir para país vizinho. Ela o escondeu no escritório de seu apartamento. Aquele mesmo local onde seu marido, João Guimarães Rosa, escrevera tanta história de coronel e jagunço. Durante todos aqueles dias, o abrigado observava, da janela, a movimentação frenética do exército no quartel do Forte de Copacabana. Reservada, Aracy enviuvou em 1967 e jamais voltou a se casar. Recusou-se a viver da glória de ter sido a mulher de um dos maiores escritores de todos os tempos. Em verdade, ela tem suas próprias realizações para celebrar. Hoje[2007], aos 99 anos, pouco se recorda desse passado, cheio de coragem, aventura, determinação, romance, literatura e solidariedade. Mas a sua história, os seus feitos merecem ser lidos por todos, ensinados nas escolas. Nossas crianças, os cidadãos do Brasil necessitam de tais modelos para os dias que vivemos. Seu marido a imortalizou em sua obra Grande sertão: veredas. Ao publicar a obra, não a dedicou a ela, doou a ela seu livro mais importante. Aracy desafiou o nazismo, o Estado Novo de Getúlio Vargas e a ditadura militar dos anos 60. Uma mulher que merece nossas homenagens. Uma brasileira de valor. Uma verdadeira cidadã do mundo.
Redação do Momento Espírita, com base no artigo Uma certa Aracy, um certo João, de René Daniel Decol, publicado na Revista Gol (de bordo), de agosto 2007. Em 15.01.2010.

segunda-feira, 30 de maio de 2016

A CERIMÔNIA DOS SONHOS

Frida sempre havia sonhado com um casamento de contos de fadas. Planejara como seria o vestido, o véu, o buquê, o penteado, o sapato, os vestidos das madrinhas. Selecionou as músicas da cerimônia, da entrada até a saída, e especificou como seriam as lembrancinhas, o bolo, os doces. Preparou tudo com cuidadoso zelo. Mas se esqueceu de levar em conta a parte principal, aquela que faria a diferença na adaptação do casamento: a realidade da vida a dois. Ficara tão absorvida na cerimônia que deixara de lado a essência e o significado profundo desse ato. O dia da celebração foi maravilhoso. Os convidados se encantaram com a decoração dos salões, os aromas das flores, os sons dos violinos e os sabores dos pratos. Frida estava orgulhosa de si mesma. Havia se esmerado e agora se sentia realizada. O noivo a tudo assistia com resignada alegria. Ficava feliz ao vê-la radiante. Para ele, bastaria uma cerimônia simples, com os amigos íntimos e os familiares, mas ela queria uma festa digna de rainha. Por conta desse desejo, casaram-se endividados. Casamento é uma vez só, justificara Frida, a cada novo gasto inesperado. E assim foram avançando em compromissos financeiros. Tudo em nome do sonho da mimada noiva. Uma amiga alertou: Você não acha que está exagerando? Foi afastada do convívio e tratada com polida indiferença. A noiva não queria ninguém lançando energias negativas em seu casamento. Terminada a cerimônia, o casal rumou para uma breve lua de mel, em uma cidade de veraneio. Quando voltaram, Frida não conseguia se adaptar à rotina de casada. Irritava-se, reclamando das tarefas diárias. As dívidas chegavam impiedosas e o casal acabava discutindo por causa da eterna insatisfação de Frida. Meses depois, ela decidiu voltar para a casa dos pais. Acusava o marido de não lhe dar atenção, de trabalhar muitas horas, deixá-la sozinha e não ajudá-la nos trabalhos da casa. Ele realmente trabalhava horas a mais para pagar as onerosas contas. E, ultimamente, não fazia questão de retornar mais cedo. Não se sentia à vontade em casa, onde a esposa o aguardava sempre com queixumes. O casamento acabou antes mesmo do casal terminar de pagar todas as prestações assumidas. Aquela amiga que havia sido afastada, um dia encontrou Frida e, ao ouvi-la reclamar sem parar, nem a deixou terminar. 
-Você estava tão focada em concretizar o seu sonho, tão voltada para si mesma e para a parte material do casamento, que ignorou o fato de que nossa felicidade está intimamente associada à felicidade dos que nos cercam. O que você fez para que as pessoas que a cercam também tivessem seus sonhos realizados? 
Frida emudeceu. Não havia pensado nos sonhos de mais ninguém. Apenas nos seus. Naquele momento, um clarão iluminou sua mente. Ela percebeu, em choque, o quanto havia sido egoísta e imatura. Voltou para casa cabisbaixa, pensando no quê, de fato, havia significado o casamento para ela. E lamentou ter desperdiçado tanto tempo e recursos numa ilusão. Desde então, Frida mudou sua forma de ser e estar no mundo, buscando primeiro a essência das coisas, e não suas manifestações exteriores. 
Redação do Momento Espírita. Em 18.5.2016.

domingo, 29 de maio de 2016

CEM ANOS E MIL VESTIDOS

Lillian Weber
A senhora Lillian Weber tem uma missão e nem pensa em parar seu trabalho voluntário. Todos os dias ela faz um vestido para uma criança, que ela nunca vai conhecer. Eles são recolhidos e enviados para meninas da África, por um grupo cristão chamado Pequenos vestidos para a África. Nos últimos dois anos ela fez mais de oitocentos e quarenta vestidos, e planeja fazer mais de cento e cinquenta até dia seis de maio de 2015. Nesse dia, Lillian vai completar cem anos de idade e será seu milésimo vestido. É apenas uma daquelas coisas que você aprende como fazer e desfrutar, diz ela. Lillian costura na Fazenda onde mora, em Scott County, Minnesota, Estados Unidos. Apesar de todos os vestidos obedecerem a um padrão, cada um recebe um detalhe diferente, uma costura extra, para dar a cada criança um pouco de orgulho adicional. Ela os personaliza, diz a filha de Lillian, Linda Purcell. Ela tem que colocar algo na frente, para torná-lo especial, para dar o seu toque. O que começou como um hobby tornou-se um trabalho diário de amor. Lillian diz que começa a trabalhar em um vestido de manhã, faz uma pausa no horário do meio-dia, e coloca os toques finais no período da tarde. Estou muito, muito orgulhosa da minha mãe. – Comenta Linda. Família e amigos vão continuar a ter orgulho de Lillian, depois de seu vestido de número mil. Afinal, mil é apenas um número. Quando eu chegar a mil, se eu ainda for capaz, não vou desistir. Vou fazer novamente, porque não há nenhuma razão para não fazer nada. Quando Lillian terminar seus vestidos, suas filhas vão entregá-los a Pequenos vestidos para a África, Organização Beneficente Cristã fundada em 2008, em Michigan. A Entidade já entregou cerca de dois milhões e meio de vestidos para orfanatos, igrejas e escolas no continente africano. Lillian acaba de ser indicada para o prêmio Pay it forward, que incentiva as pessoas a fazerem boas ações e passarem adiante, para que outros sigam o exemplo. Como alguém pode afirmar que a velhice é tempo de inutilidade, perante histórias como esta? Há tantas maneiras de servir! O que fizemos, sobretudo na sociedade capitalista, foi sempre atrelar a utilidade à capacidade econômica, isto é, a pessoa não ser mais economicamente ativa - como se diz. Mas é tão limitado este pensamento! É tão absurdo pensar que só podemos ser úteis à sociedade, à vida como um todo, dessa forma! Como se tudo o que precisássemos estivesse apenas na esfera da matéria... Então, um voluntário em hospital, que cede parte de sua semana para se misturar a enfermeiras, a funcionários, para ajudar em tarefas simples, não está sendo útil? E quem não tem mais a disposição do corpo, mas ensina, aconselha, transmite otimismo e alegria através das palavras, não está exalando utilidade por todos seus poros? E o mais belo é que não há idade limite para a utilidade. A utilidade também não exige conhecimento, formação acadêmica, nem qualquer outro pré-requisito, além de disposição para servir, isto é, vontade.
 * * * 
Ouçamos o convite de servir à causa do bem. Quem tiver ouvidos de ouvir, ouça. Que possamos servir até o limite de nossas forças, deixando neste mundo um legado de trabalho, esforço e dignidade. Inutilidade, nunca! 
Redação do Momento Espírita, com base em notícia publicada em 17 de agosto de 2014, no site www.sonoticiaboa.com.br Em 6.10.2014.

sábado, 28 de maio de 2016

O ESTRATEGISTA CELESTE

Planejamento estratégico é um conceito comum, no âmbito da administração, que significa o ato de pensar e fazer planos de uma maneira estratégica. Auxilia na definição de objetivos. Significa também utilizar os recursos disponíveis, de forma eficiente, aumentando a produtividade de um indivíduo ou empresa. Planejamento de recursos humanos. Planejamento financeiro. Tudo se reveste de grande importância para que qualquer empreendimento alcance o êxito almejado. Por essa razão, ao definir sua vinda à Terra, o Mestre Jesus elaborou um planejamento, que incluiu milênios, mensageiros de variada ordem e servidores mais próximos. Estabelecendo que viria para o Seu rebanho, acalentou a esperança de milhares de Espíritos exilados de um sistema solar distante, que aportaram no planeta azul, quando ainda em sua fase de mundo primitivo. Alimentando-lhes as mentes, contou com as suas lembranças para ser anunciado em todos os quadrantes, ao longo das eras. E, a fim de que os caminhos fossem preparados de forma adequada para a Sua chegada, foi enviando mensageiros de Sua confiança, como batedores valorosos, através dos tempos. Reconhecemos Seus porta-vozes em todos os cantos da Terra. Fo-Hi, na China, revela ensinamentos de grande pureza e da mais avançada metafísica. Lao-Tsé traz lições cheias de perfume de requintada sabedoria moral. E Confúcio, seis séculos antes do nascimento de Jesus, influencia com sua doutrina não somente a China, mas toda a Ásia Oriental. Como precursores da ideia cristã, na Grécia despontam Sócrates e Platão. E, ao se aproximar o tempo de nascer entre os homens, o Senhor Jesus escolhe os doze, os pilares para a devida propagação da Sua mensagem. Não esqueceu de escolher um bem letrado homem, Levi, para que procedesse às primeiras e preciosas anotações. Não faltou o encarregado dos valores do mundo, Judas, de Kerioth. Com certeza, alguém que se ofereceu para servir ao grande plano e que Jesus, atendendo ao livre-arbítrio da criatura, incluiu entre os doze. Também escolheu os setenta e dois, aqueles encarregados de irem pelas aldeias, dois a dois, anunciando a chegada do Messias. Pessoas de muitas cidades. Criaturas que Ele posicionou, na Terra, de forma estratégica, em determinadas localidades. Por isso, identificou Zaqueu, em Jericó, que viria a dirigir os trabalhos apostólicos em Cesareia. Da mesma forma vai a Sicar, na Samaria, lembrar a Fotina, a mulher do poço de Jacó, de sua missão. Ela se transforma na Iluminadora, servindo à Boa Nova. Jesus, Modelo e Guia. Estrategista hábil, preciso. Delineou um plano e o executou, passo a passo, com todos os detalhes. Os que não temos olhos de ver, não lhe percebemos a excelsa diligência em cada ação. Mas somente um bem executado planejamento permitiria que uma vida messiânica tão curta lançasse sementes que prosseguem a frutificar, transposto o segundo milênio de Sua estada entre nós. Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita. Em 6.2.2015

sexta-feira, 27 de maio de 2016

CEGO DE JERICÓ

O Evangelho de Lucas contém a passagem do cego de Jericó. Segundo ele, perto de Jericó, havia um cego assentado junto do caminho, mendigando. Ao ouvir passar a multidão, perguntou o que era aquilo. Responderam-lhe que Jesus, o Nazareno, passava. Imediatamente o cego clamou, dizendo: Jesus, filho de David, tem misericórdia de mim. Os que passavam o repreendiam para que se calasse. Mas ele clamava ainda mais alto pela misericórdia do Cristo. Então, Jesus parou e mandou que lhe trouxessem o pedinte. Quando esse foi posto ao Seu lado, indagou o que queria que lhe fizesse. O cego respondeu:
- Senhor, que eu veja. 
Jesus lhe disse: 
-Vê; a tua fé te salvou. 
O mendigo, imediatamente, passou a ver e a seguir Jesus, glorificando a Deus. 
 * * * 
Essa narrativa enseja interessantes reflexões. Retrata qual deve ser o propósito dos seres em evolução, perante as bênçãos celestes. Um miserável se encontrou com o representante da Misericórdia Divina na Terra. Nessa oportunidade tão magnífica, ele pediu para ver. O objetivo desse cego honesto e humilde deveria ser o de todos os homens. Mergulhados na carne ou fora dela, com frequência, se assemelham ao pedinte de Jericó. O trabalho da vida os chama, apela por eles com veemência. A luz do conhecimento os abençoa. O afeto da família os sustenta. As oportunidades se apresentam, instigantes e preciosas. Mas eles permanecem indecisos, à beira do caminho. Quedam inertes, sem coragem de marchar para a realização elevada que lhes compete atingir. É como se esperassem facilidades imensas. Como se o trabalho do bem devesse ser feito por privilegiados. Nesse contexto de preguiça e covardia, por vezes, surge uma revelação espiritual. De algum modo, dá-se a aproximação com a esfera psíquica do Cristo. Então, o mundo se volta contra eles. Esse movimento repressor pode se dar das mais variadas formas. Pode ser na figura de convites a viver com leviandade. Ou mediante o discurso desanimador quanto à vitória do bem. De um modo ou de outro, eles são induzidos à indiferença para com o bem maior. Então, muito raramente sabem pedir com sensatez. Por isso mesmo, é muito valiosa a recordação do pobrezinho referido pelo evangelista Lucas. Não é preciso e nem conveniente comparecer diante do Mestre com volumosa bagagem de rogativas. Não é sensato pedir por facilidades, influências ou riquezas as mais diversas. Basta que se lhe peça o dom de ver, com a exata compreensão das particularidades do caminho evolutivo. Que o Senhor conceda o dom de enxergar todos os fenômenos e situações, pessoas e coisas, com amor e justiça. Com esse dom, cada qual possuirá o necessário à própria alegria imortal. Pense nisso.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 44, do livro Caminho, Verdade e Vida, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Feb. Em 31.08.2012

quinta-feira, 26 de maio de 2016

O CAVALEIRO DE OLHAR COMPASSIVO

Brian Cavanaugh
Era uma tarde de tempo feio e frio no norte da Virgínia, há muitos anos. A barba do velho estava coberta de gelo e ele esperava alguém para ajudá-lo a atravessar o rio. A espera parecia não ter fim. O vento cortante tornava seu corpo dormente e enrijecido. Ele ouviu o bater fraco e ritmado dos cascos de cavalos sobre o chão congelado. Ansioso, observou quando vários cavaleiros apareceram na curva. Deixou o primeiro passar, sem procurar chamar sua atenção. Então veio outro e mais outro. Finalmente, o último cavaleiro se aproximou do lugar onde o velho estava parado como uma estátua de gelo. Depois de observá-lo rapidamente, o velho lhe acenou, perguntando: O senhor poderia levar este velho para o outro lado? Parece não haver uma trilha para eu seguir a pé. O cavaleiro parou e respondeu: É claro. Pode montar. Vendo que o velho não conseguia levantar o corpo semicongelado do chão, ajudou-o a montar e não só atravessou o rio com o velho, mas o levou ao seu destino, algumas milhas adiante. Quando se aproximavam da casa pequena, mas aconchegante, curioso, o cavaleiro perguntou: Eu percebi que o senhor deixou vários outros cavaleiros passarem sem fazer qualquer gesto para pedir ajuda na travessia. Então eu apareci e o senhor imediatamente me pediu para levá-lo. Eu gostaria de saber por que, numa noite fria de inverno, o senhor pediu o favor ao último a passar. E se eu tivesse me recusado e o deixado na beira do rio? O velho apeou do cavalo devagar. Olhou o cavaleiro bem nos olhos e respondeu: Eu já vivi muito e acho que conheço as pessoas, muito bem. Parou um instante e continuou: Olhei nos olhos dos outros que passaram e vi que eles não se condoeram da minha situação. Seria inútil pedir-lhes ajuda. Mas, quando olhei nos seus olhos, ficaram claras sua bondade e compaixão. A vida me ensinou a reconhecer os espíritos bondosos e dispostos a ajudar os outros na hora da necessidade. Estas palavras tocaram profundamente o coração do cavaleiro, que lhe respondeu: Fico agradecido pelo que o Senhor falou. Espero nunca ficar tão ocupado com meus próprios problemas que deixe de corresponder às necessidades dos outros com bondade e compaixão. Falando isso, o cavaleiro, que se chamava Thomas Jefferson, virou seu cavalo e voltou para a Casa Branca. 
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Quando Deus coloca em nossa vida esses que precisam de ajuda, Ele, em verdade, está nos concedendo uma grande oportunidade. Ajudar o próximo é oportunidade de crescimento moral, de combater o egoísmo que, muitas vezes, nos faz preocupados demais com nossos próprios problemas, esquecendo que há vida além dos jardins de nossa casa. Vidas que anseiam por nossa gentileza, por nossa compaixão. Quando Deus coloca diante de nós alguém pedindo ajuda, das mais diversas formas possíveis, Ele está nos concedendo a chance de conhecer o bem e sentir todas suas consequências sublimes. Olhemos para os lados e busquemos alguém a quem possamos auxiliar a cruzar os vários rios da vida. E vejamos nisso sempre uma grande oportunidade. 
Redação do Momento Espírita, com base no livro As sementes do semeador, de Brian Cavanaugh. Em 28.1.2014. 

quarta-feira, 25 de maio de 2016

CAUSAS DAS AFLIÇÕES

A Terra é uma grande escola, na qual os homens são matriculados pela Divindade, a fim de que aprendam a viver. Mas o aprendizado sempre exige algum esforço para efetivar-se. Nos colégios da Terra, o aluno não aprende a lição a menos que dedique algumas horas ao estudo. Na esfera profissional, toda nova tarefa demanda alguma dedicação, até ser desempenhada a contento. No contexto maior da vida, a situação não é diferente. Somos chamados ao burilamento de nosso ser, mediante o enfrentamento de inúmeras situações. As dificuldades são inerentes a nossa posição de aprendizes. Se já fôssemos mestres na arte de viver, à semelhança de Jesus, tudo nos seria fácil. O Amigo Divino é nosso maior exemplo de alguém que sabe viver. Ele transitou entre seres rudes e cruéis, mas não gastou seu tempo em contendas. Ao invés de isolar-se das criaturas, amou-as ternamente. Acolheu os equivocados, embora não aprovasse seus equívocos. Jesus foi doação, trabalho, compreensão e perdão, em todas as circunstâncias. Ele jamais titubeou em Sua condição de Mestre. O Cristo é o modelo que nos foi enviado por Deus. A distância que separa nosso comportamento do Dele bem evidencia o longo caminho que temos a percorrer. É justamente a ignorância que nos dificulta o viver. Afinal, para quem já domina determinado assunto, este parece fácil, ainda que guarde grande complexidade. Esse raciocínio demonstra o papel que as dificuldades cumprem em nossa vida. Elas constituem nossos desafios, revelam as lições que necessitamos aprender. Por vezes revestem-se de caráter aflitivo, justamente para nos incitar ao esforço necessário para vencê-las. Desse modo, fica claro que a principal causa das aflições que nos atingem reside em nosso estado de ignorância. Essa ignorância tanto se traduz pela falta de conhecimento, como pela má vontade de viver o que sabemos ser correto. Quando nos esclarecermos, quando formos plenos de virtudes, não mais necessitaremos de experiências dolorosas. Na verdade, as falhas morais das criaturas constituem a origem imediata da maioria absoluta de suas dores. Não são raros os protestos contra a Providência Divina, quando o próprio sofredor deu causa às suas agruras. Muitas enfermidades decorrem da falta de equilíbrio no beber e no comer. Quantos pais reclamam dos filhos, mas não gastaram tempo orientando os próprios rebentos. Inúmeras pessoas entregam-se ao vício da maledicência e depois se surpreendem por conviver com desafetos. Há quem reclame pela ausência de carinho no núcleo familiar, mas jamais se preocupou em estreitar laços de afeto com os seus. Incontáveis gastam seus recursos com futilidades e depois reclamam da falta de dinheiro. Outros não se dispõem ao estudo e se afirmam injustiçados, por falta de oportunidades na vida. Em tudo isso vê-se a presença de inúmeros vícios que infelicitam a Humanidade. O homem sensato e operoso, por certo enfrenta menores obstáculos do que o leviano. É impossível colher uvas de espinheiros. Quem não joga boas sementes no solo da vida não pode reclamar pela ausência de boa colheita. Assim, é importante refletir sobre a forma como estamos gastando nosso tempo na Terra. Demonstramos esforço sincero no aprendizado do ofício de viver ou parecemos crianças teimosas, clamando por corrigenda? Se queremos paz, se desejamos a libertação do sofrimento, não há muitas alternativas. Somente o abandono da ignorância e dos vícios, pela vontade firme de conquistar virtudes, possui o condão de nos libertar. Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita. Em 31.01.2010.

terça-feira, 24 de maio de 2016

CAUSA E EFEITO

EMMANUEL e CHICO XAVIER
Embora muitos de nós não entendamos o funcionamento das Leis de Deus, elas se manifestam a cada instante da vida, como mensageiras da Justiça e do Amor Divinos. Aquele parente difícil, que nos exige constantes sacrifícios, pode ser o companheiro de ontem, a quem atraiçoamos e induzimos à derrocada moral. A filha incompreensiva e rebelde pode ser a jovem que ontem nos amava, e a quem abandonamos, inclinando-a ao vício. Hoje ela retorna necessitada do nosso amor e da nossa compreensão. Ontem colocamos o orgulho e a vaidade no peito de um irmão que nos seguia os exemplos menos felizes. Hoje, talvez, o tenhamos de volta, na feição de esposo mandão ou de filho problema, para sorvermos juntos o cálice da redenção. Ontem, esquecemos compromissos nobres, arrastando alguém ao suicídio. Hoje, possivelmente, reencontramos esse mesmo alguém na pessoa de um filhinho, portador de moléstia irreversível, tutelando-lhe, à custa de lágrimas, o trabalho de reajuste. Ontem, abandonamos a companheira inexperiente, à míngua de todo auxílio, situando-a nas garras da delinqüência. Hoje, moramos no espinheiro em forma de lar, carregando fardos de angústia, a fim de aprender a plantar carinho e fidelidade. O marido faltoso de hoje é aquele mesmo homem que, um dia, inclinamos à crueldade e à mentira. Assim, cada elo de simpatia ou cada sombra de desafeto, que encontramos na família ou na atividade profissional, podem ser forças do passado a nos pedirem mais amplas afirmações de trabalho e dedicação ao bem. Tenhamos sempre em mente que todos os delitos que cometemos não desaparecerão, no silêncio do túmulo, porque a vida prossegue, além da morte, desdobrando causas e consequências. Assim sendo, diante de toda dificuldade e de toda prova, façamos o melhor ao nosso alcance. Ajudemos aos que partilham conosco as experiências, e oremos pelos que nos perseguem, desculpando todos aqueles que nos infelicitam. A humildade é a chave de nossa libertação. Dessa forma, sejam quais forem os nossos obstáculos, lutemos por superá-los com dignidade e honradez. E não nos esqueçamos de que a conquista da nossa felicidade começa nos alicerces invisíveis da luta dentro do próprio lar.
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Sócrates, um dos filósofos mais conhecidos da Humanidade, sintetizou o que pensava sobre a Lei de causa e efeito numa frase de grande sabedoria. Disse simplesmente: A justiça conduz aos nossos lábios a taça que nós mesmos envenenamos. Ele se referia apenas aos atos infelizes do ser humano, mas nós podemos acrescentar, sem medo de errar, que a justiça também nos devolve em forma de bênçãos felizes todas as boas ações que praticamos. Assim é a Lei de causa e efeito: justa e sábia como o próprio Criador. 
Redação do Momento Espírita com base no cap. II, do livro Leis de amor, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, ed. Feesp. Em 23.06.2010.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

UMA CAUSA

Os sonhos fazem parte de nossas vidas. Sejam eles do âmbito pessoal ou profissional, a maioria de nós costuma lutar para realizá-los. Mas desconhecemos os planos de Deus para nós e, algumas vezes, a vida nos encaminha por estradas que julgávamos que jamais fôssemos trilhar. É possível que surjam acontecimentos que nos impeçam de conquistar certos sonhos ou realizar determinados objetivos que havíamos planejado. Não são raros os comprometimentos com a saúde, que nos impedem de seguir a trajetória profissional que desejamos. Cuidamos de um filho com todo amor e carinho e, por algum motivo, que foge à nossa compreensão atual, o vemos partir para a vida espiritual antes de nós. Outras vezes somos escolhidos por Deus para sermos pais de uma criança especial. Tanto essas, quanto várias outras situações de ordem diversa,podem nos trazer, inicialmente, algum tipo de sofrimento. Mas a sabedoria Divina reconhece que nossos ombros são suficientemente fortes para carregar o fardo que nos chega. Tudo que nos acontece tem um propósito elevado. É provável que essas situações, que a vida nos apresenta, nos conduzam ao necessário despertamento que permita transformar sentimentos em ação efetiva. É comum vermos pessoas darem novo sentido às suas vidas, depois que fatos ou situações inesperadas lhes acontecem. Após um período de padecimento, passam a lutar por uma causa, a mesma que gerou o sofrimento daquele que amam, beneficiando com suas ações a tantos outros que se encontram em situação semelhante. Olhemos em nossa própria comunidade e, com certeza, encontraremos essas pessoas que se doam e se dedicam a levar consolo e paz ao próximo. Talvez seja uma forma de aliviar a própria dor. A história da Humanidade mostra exemplos de pessoas que venceram o mundo e suas aflições para se dedicarem espontaneamente aos seus semelhantes. Os testemunhos de fé de Francisco de Assis, de Madre Tereza de Calcutá, Irmã Dulce, Francisco Cândido Xavier e de muitos outros trabalhadores da Seara do Cristo, nos mostram que é dando que se recebe. Usar dons, habilidades, conhecimento e compartilhar experiências a serviço do mundo em que vivemos, com certeza, nos faz um imenso bem. 
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Não nos deixemos perder em lágrimas vazias, nos afundando em nossas próprias decepções, simplesmente porque tudo não saiu como havíamos idealizado. O mundo aguarda a expressão do que de melhor tenhamos. Apesar do sofrimento que possamos carregar, meditemos um pouco mais no que fazer, no dia a dia, para compartilhar através do serviço, as bênçãos que recebemos de Deus. Lembremos de Jesus e esqueçamos nossa própria dor para ajudar outras almas a experimentarem alívio. Pensemos na força que somos capazes de irradiar e transformemos a nossa fé sincera em serviço no bem. A presença de Cristo em nossos corações faz com que mantenhamos, em nosso interior, uma fonte de luz intensa. Permitamos, pois, que essa luz brilhe por toda parte: a nossa luz, a luz dos que amam em abundância. 
Redação do Momento Espírita. Em 1.3.2013.

domingo, 22 de maio de 2016

CATIVAR

Foi então que apareceu a raposa.
“Bom dia.” – Disse a raposa.
“Bom dia.” – Respondeu o principezinho com delicadeza. Mas, ao voltar-se não viu ninguém.
“Estou aqui.” – Disse a voz – “Debaixo da macieira…”
“Quem és tu?” – Disse o principezinho. – “És bem bonita…”.
“Sou uma raposa.”
“Anda, vem brincar comigo.” – Propôs-lhe o principezinho. –“Estou tão triste…”
“Não posso brincar contigo.” – Disse a raposa. – “Ainda ninguém me cativou.”
“Ah! Perdão.” – Disse o principezinho.
Mas, depois de ter refletido, acrescentou: – “Que significa cativar”?
“Tu não deves ser daqui.” – Disse a raposa. – “Que procuras?”
“Procuro os homens.” – Disse o principezinho. – “Que significa cativar”?
“Os homens” – disse a raposa – “têm espingardas e caçam. É uma maçada! Também criam galinhas. É o único interesse que lhes acho. Andas à procura de galinhas?”
“Não.” – Disse o principezinho. – “Ando à procura de amigos. Que significa cativar”?
“É uma coisa de que toda a gente se esqueceu.” – Disse a raposa. – “Significa criar laços…
“Criar laços?”
“Isso mesmo.” – Disse a raposa. – “Para mim, não passas, por enquanto, de um rapazinho em tudo igual a cem mil rapazinhos. E eu não preciso de ti. E tu não precisas de mim. Para ti, não passo de uma raposa igual a cem mil raposas.
Mas, se me cativares, precisaremos um do outro. Serás para mim único no mundo. Serei única no mundo para ti…”
-“Começo a compreender.” – Disse o principezinho. – “Existe uma flor... creio que ela me cativou.”
“É possível.” – Disse a raposa. – “Vê-se de tudo à superfície da Terra…”
*   *   *
Saint-Exupéry, em sua obra-prima, O pequeno príncipe, apresenta questões existenciais de fundamental importância.
Uma delas diz respeito ao cativar, ao criar laços.
Numa época em que muitas de nossas relações ainda não saíram de uma superficialidade pálida e cômoda, faz bem poder pensar sobre o criar laços.
Criar laços é, antes de tudo, entregar-se a uma relação de coração aberto.
É também estar disposto a se doar ao outro, sem exigir nada em troca. A troca, numa relação, é consequência e combustível, mas jamais poderá ser condição.
Com o cativar vem a responsabilidade. Exupéry coloca também, na voz de sua raposa, que somos responsáveis por tudo aquilo que cativamos.
Em qualquer laço criado, a responsabilidade vem junto, colocando as partes numa posição de respeito e dependência de uma para com a outra.
Laços não são descartáveis. O amor não é descartável.
Somos responsáveis por quem cativamos, por quem depende de nosso amor na face da Terra. Não falamos de uma responsabilidade que prende e sufoca, mas a responsabilidade leve e doce, que só o amor promove.
Que busquemos, neste curto período de cada encarnação, criar laços profundos.
Os laços de amor levamos conosco, e nunca se perdem.
Cative e deixe-se cativar.
Pense nisso.
Redação do Momento Espírita, com base no livro O pequeno príncipe, de Antoine Saint-Exupéry, ed. Agir.Em 30.11.2012.
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sábado, 21 de maio de 2016

A CATADORA DE VIDRO

Uma família passava o dia na praia. As crianças tomavam banho de mar e faziam castelos na areia, quando, ao longe, uma velhinha surgiu. O cabelo grisalho e as roupas sujas e esfarrapadas esvoaçavam ao vento. Resmungava sem parar, enquanto apanhava coisas da areia e as colocava em um saco. Quando passou por eles, curvando-se de quando em quando para catar suas coisinhas na areia, sorriu para a família. O cumprimento, porém, não foi correspondido. Em silêncio, sem se deter, ela continuou seu caminho. Semanas mais tarde, em conversa com vizinhos, a família ficou sabendo que aquela velhinha dedicava seus dias a uma estranha cruzada. Ela recolhia caquinhos de vidro na praia, para que as crianças não cortassem seus pés. 
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Quando estamos diante de um objeto, fitamos apenas o que nos é possível ver, limitados não só pelo ângulo visual que nos é oferecido, mas também pela limitação de nossa própria percepção. Assim mesmo nos atrevemos a descrevê-lo, ignorando os lados que não nos são visíveis, acreditando que nossa descrição é perfeita, exata e indiscutível. Acreditamos piamente sermos senhores das verdades da vida. Do mesmo modo agimos quando se trata de analisar e julgar os outros e seus atos. Partimos de premissas decorrentes do nosso modo de ver a vida e de vivê-la e passamos a rotular, negativamente, aqueles que agem de modo diferente do nosso. Dessa prática frequente surgem conflitos e desentendimentos variados. Afinal, como saber quais as verdadeiras razões que movem os atos daqueles que cruzam nossos caminhos? Como conhecer que dores, que angústias, que sonhos, povoam suas almas e seus corações? Como condenar ou premiar gestos e palavras, se não sabemos quais são as reais intenções que as motivaram? Na condição de Espíritos imperfeitos, ainda em marcha evolutiva, por ora, não nos foi ofertado o poder de conhecer e entender verdadeiramente os outros. Sem esse conhecimento prévio, corremos sério risco de tecermos comentários levianos e de julgá-los equivocadamente. Tantas vezes acreditamo-nos superiores aos outros ­ tal como a família diante da catadora de vidro quando, na realidade, não tivemos, ainda, a grandeza suficiente para compreender e avaliar suas condutas. Pensemos nisso: Deus, nosso Pai, soberanamente justo e bom, conhece a nossa intimidade, sabe o que nos impulsiona, e nem por isso nos condena ou nos afasta de Seu convívio. Ama-nos e perdoa-nos sempre. Aguarda o momento em que cada um de nós se decida pela senda do bem e da verdadeira felicidade. Simplesmente assim. Busquemos imitá-lo, atendendo à exortação do Mestre Jesus: Sede perfeitos, como perfeito é vosso pai celestial. 
Redação do Momento Espírita, com base em texto do livro Como atirar vacas no precipício, de Alzira Castilho, ed. Panda Books. Em 29.7.2015.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

CATADORA DE PAPEL

A professora Rute Villas Boas, sensibilizada com uma cena comum nos dias de hoje, mas que passa despercebida por muitos de nós, escreveu o seguinte: Ela passava todas as noites, altas horas, empurrando um carrinho, cujas rodas rangentes avisavam-me da sua chegada. Vinha sempre acompanhada de uma criança que a ajudava a recolher papéis, precioso saldo da coleta dos lixeiros. Na penumbra formada pela copa das árvores, eu apenas conseguia vislumbrar-lhes as silhuetas, esquálidas e andrajosas. Seus rostos ainda me permanecem anônimos, mas suas vozes parecem ecoar nos meus ouvidos, cada vez que me lembro delas. Indiferentes ao sono e às intempéries, caminhavam mãe e filha a passos lentos, como que para desfrutarem ao máximo a mútua companhia. E conversavam muito. Havia, na fala daquelas criaturas, um misto de compreensão e cumplicidade. E muito carinho. A mulher, embora maltrapilha, trajava-se de uma dignidade que só as grandes almas possuem, ensinando à garota os segredos da vida. A menina, supostos oito ou nove anos, absorvia-lhe as palavras, atenta, argumentando algumas vezes, questionando outras... E o diálogo fluía, longo, harmonioso, suave e, de repente, explodia em cristalinas gargalhadas. Sinal inequívoco de que se sentiam felizes, pelo simples fato de estarem juntas. Há muito tempo, já não passam pela minha rua. Talvez tenham mudado o percurso. Talvez tenham mudado de vida ou de endereço. Talvez... Quem poderá saber? Hoje, me surpreendi pensando naquela mulher e na extraordinária lição de vida que ela me deixou: mesmo dentro da mais absoluta miséria, jamais negligenciou o sagrado compromisso da maternidade. Mesmo em face das inúmeras adversidades, preferia carregar consigo a filha muito amada, aproveitando todo o tempo para orientar-lhe o caminho. E nem o cansaço, nem a fome presumível, nem a incontestável pobreza conseguiam tirar-lhe a paciência e o bom humor, condições indispensáveis à difícil tarefa de educar. No árduo momento em que vivemos, o que constatamos, com freqüência, são pais ensandecidos pela ânsia da conquista de “status” social, sem disponibilidade, ausentes, formando, mesmo dentro de lares abastados, filhos desorientados, carentes e tristes. Pensando nisso, resolvi prestar uma homenagem especial a essa ignorada mulher, diamante oculto na rocha bruta, mãe sem rosto e sem nome: mãe “catadora de papéis”! 
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Importante extrair dessa singela história o ensinamento grandioso que ela contém. A lição de que o afeto, a atenção e o carinho não dependem do dinheiro para poder se expressar. O amor não necessita de recursos financeiros, posição social ou diplomas para brotar. O amor, para se manifestar, precisa, tão-somente, de um coração disposto. De um coração que entenda o amor e o deixe nascer e florescer, ainda que em condições difíceis, onde a miséria material habita. E onde o amor floresce, onde existe educação, atenção, compreensão e afeto, surge sempre a esperança acenando com as possibilidades de um amanhã mais feliz e risonho. Pense nisso! Redação do Momento Espírita com base em texto da Agenda Renascer, da professora Rute Villas Boas. Em 04.08.2008.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

CASTIGO OU ESCOLHA?

A grande maioria dos homens desconhece a si próprio. Julga e culpa os demais, por tudo o que lhes acontece. Nem Deus se livra dos vis julgamentos. É comum os que são orgulhosos atribuírem à fatalidade e a Deus, as desditas que lhes sobrevêm na vida. Mas, o mais certo seria se todos os que sofrem desgostos e dificuldades, vasculhassem os próprios atos. Possivelmente encontrariam aí a causa das muitas desditas que os ferem. Nem haveria necessidade de remontar a existências passadas para explicar o sofrimento atual. 
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Onofre contava com apenas dezessete anos, quando engravidou Marlene. Quando soube que seria pai, simplesmente deixou a cidade para não voltar mais. Dona Dora, sua mãe, que era doente e dependia de sua ajuda para sobreviver, ficou ao desamparo. Passados alguns anos, ele pensou em construir seu lar. Casou-se, mas não teve a ventura de ser pai. Onofre se fazia de vítima, culpava a companheira pela sua infelicidade. Começou a beber, de desgosto, dizia. Com o tempo deixou de voltar para o lar. Vivia na rua. A esposa optou por mudar de cidade, dedicar-se a uma atividade profissional e cuidar da própria vida. Vinte anos se passaram. Recolhido a um asilo de idosos, Onofre, enfermo, continuava reclamando da sorte. Deus não me ama. Deus me despreza. E enumerava o que dizia serem as suas desgraças: Deus não lhe permitira ser pai. Se tivesse um filho, ele o atenderia na sua velhice e enfermidade. Não tinha mãe, nem mulher, nem amigos com quem contar. Estava abandonado e desprezado por todos. O que estou passando é a pior fatalidade para um homem. – Dizia. - Deve ser castigo divino. Deus está me punindo por algo que fiz em uma outra vida. Devo ter errado muito num passado distante.
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A nossa estadia na Terra é um sagrado presente que Deus nos concede, para crescermos em sabedoria e amor. Por essa razão, a vida é uma grande escola, na qual somos matriculados ao nascer e onde todas as ocorrências que nos surgem são lições indispensáveis para nosso crescimento. Portanto, se tudo na vida nos põe à frente de uma lição, de uma prova, ou de uma expiação, é preciso concluir que toda lição útil precisa ser experienciada devidamente, reprisada, até aprendermos. Dessa forma, as provas servem para testificar se realmente assimilamos a lição. A expiação representa a repetição da lição para correção da tarefa equivocada ou mal executada. Como um aluno no colégio, se assimilamos o conteúdo do ano letivo, passamos para o ciclo seguinte. Se não aprendemos, reprovamos. Frente à vida, todo o compromisso que provocamos é responsabilidade nossa. Todo abandono cometido, com aqueles que confiaram em nós, é débito espalhado. Todo vício praticado é prejuízo que causamos a nós mesmos. Toda vitimização que encenamos é atraso na caminhada. Deus nos dá o livre-arbítrio para escolhermos o que desejamos. Nossa consciência é quem nos ajuiza. E, de nossas vidas, somos nós os construtores. Por tudo isso, saibamos valorizar as oportunidades. 
Redação do Momento Espírita. Em 28.11.2015.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

O CASTIÇAL

MALBA TAHAN
Pedro era um homem pobre. Jardineiro, ganhava a vida no trabalho diário com flores e plantas. Certo dia, ele se dirigia para casa quando encontrou no caminho um homem prestes a ser assaltado. De alma nobre e ânimo valente, logo foi em socorro do desconhecido. Graças à sua interferência os dois ladrões fugiram sem causar maiores danos físicos. Reconhecido, o quase assaltado resolveu premiar o seu salvador. Por ser um rico mercador e possuir muitas e ricas peças, tomou de uma caixa amarela de couro lavrado e a deu ao jardineiro. Pedro foi rápido para casa. Mal podia conter sua curiosidade. O que será que lhe teria dado o rico senhor? Como a caixa pesasse, ele pensou que poderiam ser muitas moedas de prata. Ao abrir a caixa para conhecer as preciosidades que ela devia conter, ficou desiludido. Era somente um castiçal. Um castiçal de metal escuro e pesado. Pedro ficou muito aborrecido. Afinal, arriscara a vida lutando contra os salteadores da estrada e ao final, somente ganhara aquilo. O que ele faria com um castiçal? Convencido do desvalor do presente, ele atirou o castiçal a um canto. Abandonado, o objeto ficou rolando pela casa. Toda vez que o jardineiro colocava sobre ele os olhos, mais se amargurava lembrando do episódio. Descuidadamente, o castiçal caiu no terreiro e ficou ao relento alguns dias. De outra feita, serviu de calço para um móvel partido. Até como martelo foi utilizado pelo seu dono. Como as dificuldades da vida de Pedro se avolumassem, ele precisou sair daquela casa e foi morar em outras paragens. Levou consigo quase tudo que possuía. Mas deixou o castiçal, sobre a mesa suja. Afinal, era uma coisa imprestável! Ora, aconteceu que na casa deixada por Pedro veio morar um músico. Descobrindo o castiçal em desleixo, teve logo a impressão de que deveria ser uma peça curiosa. Tirou-lhe o pó e livrou-o das manchas que o recobriam. Viu então que na base da peça haviam várias figuras. Um belo navio, que parecia vencer as ondas e uma bailarina graciosa que dava a impressão de dançar no meio de um lindo jardim. Virando um pouco a peça, descobriu ainda um majestoso templo com torres apontadas para o céu. E, finalmente, um corcel negro a galopar sobre uma montanha de nuvens. Quanta beleza! Imaginou logo o músico que o castiçal deveria ser uma raridade. Tratou de mostrá-lo a várias pessoas, até conseguir que um rico colecionador de peças raras o comprasse, por uma fortuna incalculável. O que nas mãos de Pedro era uma peça inútil se transformou em uma verdadeira preciosidade aos olhos inteligentes de Leonardo. 
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Quantas pessoas existem no mundo que, à semelhança do jardineiro, possuem ao seu lado tesouros incalculáveis mas cujos olhos não se apercebem do que os rodeia. A peça preciosa que Deus depositou nas nossas mãos pode ser um cônjuge dedicado, uma mãe extremosa, um filho, pais amorosos. Haverá tesouros maiores que os do afeto que abençoam uma vida, enchendo-a de alegrias? 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. A mulher e o castiçal, do livro Minha vida querida, de Malba Tahan, ed. Record. Em 13.04.2010.
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terça-feira, 17 de maio de 2016

CASTELOS DE AREIA

Sol a pino. Maresia. Ondas ritmadas. Na praia, está um menino. Ajoelhado, ele cava a areia com uma pá de plástico e a joga dentro de um balde vermelho. Em seguida, vira o balde sobre a superfície e o levanta. Encantado, o pequeno arquiteto vê surgir diante de si um castelo de areia. Ele continuará a trabalhar a tarde inteira. Cavando os fossos. Modelando as paredes. As rolhas de garrafa serão as sentinelas. Os palitos de sorvete serão as pontes. E um castelo de areia será construído.
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Cidade grande. Ruas movimentadas. Ronco dos motores dos automóveis. Um homem está no escritório. Em sua escrivaninha, ele organiza pilhas de papéis e distribui tarefas. Coloca o fone ao ouvido e faz uma chamada. Como num passe de mágica, contratos são assinados e, para grande felicidade do homem, são fechados grandes negócios. Ele trabalhará a vida inteira. Formulando planos. Prevendo o futuro. As rendas anuais serão as sentinelas. Os ganhos de capital serão as pontes. Um império será construído. Dois construtores de dois castelos. Ambos têm muita coisa em comum: fazem grandezas com pequeninos grãos... Constroem algo do nada. São diligentes e determinados. E, para ambos, a maré subirá, e tudo terminará. Contudo, é nesse ponto que as semelhanças terminam. Porque o menino vê o fim, ao passo que o homem o ignora. Observe o menino na hora do crepúsculo. Quando as ondas se aproximam, o menino sábio pula e bate palmas. Não há tristeza. Nem medo. Nem arrependimento. Ele sabia que isso aconteceria. Não se surpreende. E, quando a enorme onda bate em seu castelo e sua obra-prima é arrastada para o mar, ele sorri... Sorri, recolhe a pá, o balde, segura a mão do pai e vai para casa. O adulto, contudo, não é tão sábio assim. Quando a onda dos anos desmorona seu castelo, ele se atemoriza... Cerca seu monumento de areia, a fim de protegê-lo. Tenta impedir que as ondas alcancem as paredes. Encharcado de água salgada e tremendo de frio, ele resmunga para a próxima onda. É o meu castelo, diz em tom de afronta. O mar não precisa responder. Ambos sabem a quem a areia pertence... Talvez você não saiba muito sobre castelos de areia. Mas as crianças sabem. Observe-as e aprenda. Vá em frente e construa, mas construa com o coração de uma criança. Quando chegar a hora do pôr-do-sol e a maré levar tudo embora, aplauda. Aplauda o processo da vida, segure a mão do Pai e vá para casa.
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A vida tem sua dinâmica própria, e obedece a Leis transcendentes, que nem sempre conseguimos compreender totalmente... Mas o certo é que a roda da vida gira e nos oferece lições importantes para serem apreendidas e vividas. Resta-nos conhecer e confiar. Observar e aprender. Por isso, vá em frente e construa, mas construa com o coração de uma criança. E quando chegar a hora do pôr-do-sol e a maré levar tudo embora, aplauda. Aplauda o processo da vida, segure a mão do Pai e vá para casa. 
Redação do Momento Espírita, com base em texto homônimo, de Max Lucado, do livro Histórias para aquecer o coração 2, organizado por Alice Gray, ed. United Press. Em 06.02.2008.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

UM CASO INTERESSANTE

JERÔNIMO MENDONÇA
Na cidade de Uberlândia, Minas Gerais, a televisão mostrava um jovem singular. Portador de enfermidade degenerativa, estava no leito há mais de 13 anos, paralisado, na mesma posição. O apresentador lhe fez a última pergunta para encerrar o programa. Pediu-lhe que, em um minuto, definisse o que é a felicidade. O rapaz sorriu, pensou um pouco, e respondeu com simpatia: Olha, amigo, para mim, que estou há tantos anos deitado de costas nesta cama, sem outro movimento a não ser o dos lábios e dos olhos, a felicidade seria poder deitar um pouco de bruços ou então de lado. Ambos riram e a entrevista foi encerrada. No dia seguinte, o jovem paralítico recebeu a visita de uma senhora, na casa onde estava hospedado. Ela estava um tanto inquieta, desejava falar-lhe com certa urgência, antes que ele se fosse da cidade, pois não residia em Uberlândia. Levada pelos anfitriões, a senhora acercou-se da cama móvel do rapaz e disse emocionada: Eu assisti ontem a sua entrevista na TV e gostaria de lhe dizer que você me fez ver a vida de forma diferente. Estava, já há algum tempo, enfrentando séria crise existencial... Tenho uma vida que considero dentro dos padrões de normalidade. Sou saudável e tenho uma situação financeira satisfatória mas, nos últimos tempos, viver não tem mais sentido. Embora aparentemente tenha tudo para ser feliz, desejava pôr um fim nessa vida vazia que levo. Quando vi você nessa cama, viajando pelo Brasil afora, levando esperança e consolo às pessoas que sofrem, comecei a refletir com mais seriedade sobre a vida. Afinal, pensei, eu posso dormir na posição que deseje, mover-me para o lado que quiser, andar, correr, saltar e, por esse motivo, eu já deveria ser mais feliz que você, não é mesmo? O rapaz dialogou com ela por mais alguns minutos, contou-lhe casos engraçados da sua própria desgraça e ambos riram muito. A senhora se foi e o jovem, carcereiro de um corpo deformado, ficou meditando a respeito de como Deus é justo e misericordioso. De como lhe havia concedido a oportunidade de, com o seu exemplo, confortar e consolar outras pessoas que perderam a vontade de viver, ao mesmo tempo, iluminar a própria intimidade com resignação e coragem. Ele sentia, nas profundezas do seu ser, que estava recebendo conforme suas obras, como afirmara Jesus, mas tinha a vontade férrea de espalhar sementes boas, apesar das dificuldades e limitações físicas. 
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As deformidades do corpo nem sempre denotam deformidade da alma. Existem almas deformadas, albergadas em corpos saudáveis e belos, e há Espíritos saudáveis detidos em corpos deformados. Também há Espíritos destrambelhados em corpos igualmente em desalinho. Seja qual seja a situação, não há o que lamentar pois todos estamos em processos de aprendizados valiosos, que não merecem ser desperdiçados nem lamentados. 
Redação do Momento Espírita com base no cap. Um caso interessante, do livro Crepúsculo de um coração, de Jerônimo Mendonça. Em 26.04.2010.

domingo, 15 de maio de 2016

A CASA SOBRE A ROCHA

O chamado Sermão do Monte de Jesus é a maior declaração de amor que a Humanidade recebeu, ao longo das eras. O conteúdo, a forma, a estrutura da Carta Magna do bem são perfeitos, irretocáveis. O homem-paz, Mahatma Gandhi, foi capaz de dizer que se fossem perdidos todos os textos sacros da Humanidade, e só se salvasse o Sermão da Montanha, nada estaria perdido. Sábia observação pois, realmente, está ali o mais seguro guia de conduta de que se tem notícia. Não só pelas nove bem-aventuranças que cantam esperança, mostrando um futuro feliz para os corações sedentos de orientação e consolo mas, também, pela postura perante a lei antiga, mostrando que teve seu tempo, sua validade, no entanto, precisava de reforma, de melhoria. Precisava dar o próximo passo. São muitas orientações, algumas brandas, outras enérgicas. É no Sermão do Monte que Jesus fala que não se pode esconder uma cidade situada sobre o monte, conclamando-nos a fazer brilhar a luz interior que todos temos. É ali que fala do amor aos inimigos, jamais pensado, jamais considerado antes por alguém. Uma proposta revolucionária e de beleza inigualável pelas nuances intrínsecas. Foi do alto daquele monte que nos ensinou a orar, primeiro recomendando que a oração fosse realizada em nosso quarto interno. Depois, orientando-nos a evitar o palavreado excessivo, tornando o ato de falar com Deus uma conversa amiga, desprovida de ritos ou pomposidades. Por fim recita o Pai nosso... Como esquecer aquela oração, aquele roteiro, aquele poema de luz! Quantas almas, ao longo das eras, já se libertaram de seus sofrimentos atrozes, nas asas de um Pai nosso, feito de coração! Quantas almas... Em seguida, fala dos tesouros do céu, mostrando que são os únicos que levamos daqui, os únicos verdadeiramente reais para nossa vida espiritual. Olhai as aves do céu... Não semeiam, nem ceifam... E vosso Pai celestial as alimenta... Que consolo aos de vida material sofrida, aos que padecem a falta do necessário saber que alguém os cuida com carinho... Do alto da montanha ainda diz Jesus: Pedi e vos será dado. Buscai e encontrareis. Batei e será aberto para vós. Fez-nos deuses das possibilidades, das realizações através de uma vontade pulsante no íntimo. Termina o grande poema de forma majestosa e didática: Todo aquele que ouve estas minhas palavras e as pratica, será comparado ao homem prudente, que edificou sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, vieram as torrentes, sopraram os ventos; precipitaram-se contra aquela casa, mas não desabou.
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Construir nossa casa sobre a rocha é buscar a prática dos ensinos do Cristo em nossa vida diária. De nada vale conhecer as palavras, os conteúdos, se eles não nos fazem homens e mulheres melhores, se não nos transformam em pessoas de bem. Construir nossa casa sobre a rocha é perguntar sempre: Qual o comportamento cristão nesta circunstância? Em cada decisão, questionar: Qual a decisão que me leva ao bem do meu próximo? Que me transforma em farol de luz sobre os alqueires do mundo atual? É tempo de construir essa nova casa, nos dias de hoje, finalmente, sobre a rocha.
Redação do Momento Espírita. Disponível no cd Momento Espírita, v. 22, ed. Fep. Em 26.7.2012

sábado, 14 de maio de 2016

CASAS MORTAS, CASAS VIVAS!

Sua casa é viva ou morta? A pergunta soa estranha, com certeza. E você logo responderá que casa é algo inanimado. A casa é feita de pedras, tijolos, madeira, portanto, não tem vida. Entretanto, casas existem que são mortas. Você as adentra e sente em todos os cômodos a inexistência de vida. Sim, dentro delas habitam pessoas, famílias inteiras. Mas são aquelas casas em que quase tudo é proibido. Tudo tem que estar tão arrumado, ajeitado, sempre, que não se pode sentar no sofá porque se está arriscando sujar o revestimento novo e caro. Casas em que o quarto das crianças é impecável. Todos os bichinhos de pelúcia, por ordem de cor e tamanho, repousam nas prateleiras. Essas casas são frias. Pequenas ou imensas, carecem do calor da descontração, da luz da liberdade e da iluminada possibilidade de dentro delas se respirar, cantar, viver. Por isso mesmo parecem mortas. As casas vivas já demonstram, desde o jardim, que nelas existe vibração e alegria. No gramado, a bola quieta fala da existência de muitos folguedos. A bicicleta, meio deitada, perto da garagem, diz que pernas infantis até há pouco a movimentaram com vigor. Em todos os cômodos se reflete a vida. No sofá, um ursinho de pelúcia denuncia a presença de um pequenino irrequieto que carrega a sua preciosidade por todos os cantos. Na saleta, livros, cadernos e lápis dizem dos estudos que se repetem durante horas. O dicionário aberto, um marcador de páginas assinalando uma mensagem preciosa falam de pesquisa e leitura atenciosa. A cozinha exala a mensagem de que ali, a qualquer momento, pode chegar alguém e se servir de um copo d’água, um café, um pedaço de pão. Os quartos traduzem a presença dos moradores. Cores alegres nas cortinas, janelas abertas para que o sol entre em abundância. Os travesseiros um pouco desajeitados deixam notar que as crianças os jogam, vez ou outra, umas contra as outras, em alegres brincadeiras. Enfim, as casas vivas são aquelas em que as pessoas podem viver com liberdade. O que não quer dizer com desordem. As casas vivas são aquelas nas quais os seus moradores já descobriram que elas foram feitas para morar, mas sobretudo para se viver. 
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O desapego às coisas terrenas inicia nas pequeninas coisas. Se estabelecemos, em nosso lar, rígidas regras de comportamento para que tudo esteja sempre impecável, como se pessoas ali não vivessem, estamos demonstrando que o mais importante são as coisas, não as pessoas. Manter o asseio, a ordem é correto. Escravizar-se a detalhes, temer por estragos significa exagerado apego a coisas que, em última análise, somente existem em função das pessoas. Transforme sua casa, pequena, de madeira, uma mansão, num lugar agradável de se retornar, de se viver, de se conviver com a família, os amigos, os amores. Coloque sinais de vida em todos os aposentos. Disponha flores nas janelas para que quem passe, possa dizer: Esta é uma casa viva. É um lar. 
Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita, v. 12 e no livro Momento Espírita, v. 6, ed. FEP. Em 10.1.2014.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

CASAS MAL-ASSOMBRADAS

Haverá quem acredite em casas mal-assombradas? De um modo geral, se pensa que são contos das vovós para assustar crianças. Contos para espíritos fracos e crédulos, pensam muitos. Mas a história de casas mal-assombradas é tão velha quanto o mundo. Já se soube de casos em que se descobriu que os fatores que provocavam ruídos não passavam de artifícios usados para amedrontar os moradores, vingar uma injustiça, desacreditar uma casa para comprá-la barato ou simplesmente para rir às custas dos ingênuos. Em outros casos, os ruídos estranhos, aumentados pelo silêncio das noites e a imaginação excitada, demonstraram ser apenas animais domésticos em movimento: cães, gatos, ratos, morcegos ou o vento a estalar velhas traves, batendo portas e derrubando objetos. Mas nem todos os casos de assombração se podem enquadrar nessas explicações. É uma realidade a existência dos fantasmas que assombram algumas casas. Na Inglaterra, os fantasmas são atração turística, o que significa boa fonte de divisas. A Associação Britânica de Viagens divulga o Guia dos fantasmas britânicos. Os jornais anunciam casas para alugar, com fantasmas ou sem fantasmas. Consta existirem na Grã-Bretanha dez mil fantasmas, mais ou menos catalogados, três mil dos quais podem ser visitados nos locais que frequentam. A Torre de Londres é um viveiro superlotado desses esquisitos e transparentes seres, todos irmãos nossos, em tarefa regenerativa. Conta-se que até hoje o fantasma de Ana Bolena, a infeliz rainha e esposa de Henrique VIII, reside no palácio de Hampton Kurt, perto de Londres. Por que, é de nos perguntarmos, os Espíritos permanecem em certos lugares, onde viveram, trabalharam quando possuíam um corpo de carne? Alguns são somente Espíritos que se desejam divertir. Isso mesmo: se divertir às custas dos sustos alheios. Outros têm por objetivo vingança. Sabe-se do caso de um Espírito, que atormentava a casa de duas irmãs. Em certo momento disse que aquilo fazia para as castigar. Elas falavam muito mal do próximo e ele mesmo, quando encarnado, fora vítima das suas calúnias. De outras vezes, são Espíritos necessitados que desejam chamar a atenção para sua existência. Finalmente, existem os que permanecem fixados a certos lugares pelos dramas que ali viveram ou tarefas que desempenharam. É comum, ainda hoje, em castelos europeus, serem identificados Espíritos de soldados e oficiais nazistas a montarem guarda, a executarem ordens como se não tivessem perdido o corpo físico. Que desespero o de verem pessoas adentrarem salas e escritórios para bisbilhotar, como acreditam eles! O que, portanto, as pessoas chamam de fantasmas são Espíritos, as almas dos homens que morreram e não se deram conta ou permanecem vinculados às coisas da Terra. O remédio para eles é a prece. Alfred de Musset dizia que a prece é um grito de esperança. Orar, assim, em benefício daqueles que, libertos da carne, ainda se conservam ligados ao ambiente terreno em que viveram e cometeram crimes, desatinos, é um ato de caridade. Pensemos nisso e exercitemos essa prática. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap.2 do livro As casas mal-assombradas, de Camille Flammarion, ed. FEB e na pág. 26 da revista Presença espírita, nº 18, ed. LEAL. Em 30.9.2013.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Casa ou Lar?

ALICE GRAY
O que será mais importante: uma casa ou um lar? Existe grande preocupação com a casa. São importantes o estilo, o tamanho, os móveis e, claro, cada coisa no seu lugar. Enquanto não se tem filhos, quase tudo vai bem, mas depois, começa a se tornar difícil se ter uma casa bem arrumada. Alguns pais ocultam brinquedos das crianças, porque elas fazem bagunça demais. Esquecem que, quando se tornarem adultas, elas não necessitarão mais de brinquedos. Um dia, um pai, depois de ouvir o estardalhaço da esposa sobre o estado de sua casa, perguntou: Afinal, o que você quer: uma casa ou um lar? As palavras soaram como uma bomba. Ele tinha razão. Os olhos dela se voltaram para um quadro que se encontrava na parede da sala. O quadro mostrava uma antiga roda de vagão de trem, encostada em um pilar, prestes a apodrecer. O mato ameaçava tomar conta das flores silvestres que cresciam perto de sua base. No topo do pilar, havia uma velha caixa de correspondência amassada, cuja porta sustentava-se no lugar apenas por uma dobradiça enferrujada. Dentro, protegidos em seu ninho de galhos secos, quatro filhotes aguardavam a refeição. A cautelosa mãe estava empoleirada no galho de um arbusto retorcido, que sobressaía do outro lado da abertura da caixa. Ela havia escolhido o local do ninho com muito cuidado. Ali, seus filhotes estariam protegidos do sol e da chuva, enquanto ela e seu companheiro procuravam comida. A pequenina ave não estava preocupada com o que seus vizinhos poderiam pensar ou se seu ninho passaria pelo teste de controle de qualidade. A mensagem da pintura era muito simples: a casa não faz o lar. O lar é construção da família. É produto do carinho e do amor. Resultado do saber eleger prioridades. Assim, quando você tiver que escolher entre uma casa totalmente limpa e arrumada e as necessidades de sua família, pense um pouco. Se sua filha a convidar para sair com ela e você tiver roupas para lavar, pense que sempre haverá roupas sujas, mas um dia aquela garotinha vai parar de chamar você para sair com ela. Se seu filho o convidar para jogar bola e você estiver pensando em colocar em ordem a sua biblioteca, pense que os livros continuarão sempre necessitando de ordem e limpeza, mas o seu garotinho crescerá e deixará de buscar você para chutar bola com ele. Naturalmente, você não dará todo o seu tempo aos seus filhos, mas terá o bom senso para administrá-lo bem, a fim de eleger o que seja mais importante. * * * Mantenha a casa em ordem, mas não esqueça de colocar flores de ternura nos vasos do seu lar, e de regá-las com a água da paciência. Quando descobrir rabiscos nas paredes, peça a seus filhos que os limpem, mas antes admire o arco-íris que eles pintaram. Quando aparecerem marcas de dedos nas janelas, providencie a limpeza, mas antes fotografe todos os dedinhos com a câmara do seu coração para sempre os lembrar. E quando descobrir brinquedos quebrados, agradeça a Deus, que sejam somente brinquedos e não os corações amados dos seus filhos, joias preciosas da sua existência. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Quadro perfeito, de Ann Campshure e no cap. A oração de uma mãe, de Ângela Thole, do livro Histórias para o coração da mulher, de Alice Gray,ed. United Press. Em 17.7.2014.

terça-feira, 10 de maio de 2016

CASAMENTO

O que você pensa a respeito do casamento? As respostas para esta pergunta são as mais variadas. Uns dizem que o casamento é uma instituição falida. Outros afirmam que é coisa do passado, que o moderno é viver o sexo livre, sem maiores compromissos. Vejamos o que os Espíritos responderam à questão proposta por Allan Kardec, em O livro dos Espíritos: Que efeito teria sobre a sociedade humana a abolição do casamento? Seria uma regressão à vida dos animais. O estado de natureza é o da união livre e fortuita dos sexos. O casamento constitui um dos primeiros atos de progresso nas sociedades humanas, porque estabelece a solidariedade fraterna e se observa entre todos os povos, se bem que em condições diversas. A abolição do casamento seria, pois, regredir à infância da humanidade e colocaria o homem abaixo mesmo de certos animais que lhe dão exemplo de uniões constantes. Podemos perceber, com esta resposta, que o casamento é uma excelente escola de aprendizado para o casal e para os filhos que chegam através da sua união. Todavia, o que ocorre é que poucas pessoas se preparam convenientemente, antes do consórcio matrimonial. A ausência desse cuidado, quase sempre ocasiona desastre imediato de consequências lamentáveis. Tentados por paixões de variada ordem, que se estendem desde o apelo sexual até os jogos dos interesses financeiros, deixam-se levar e caem nas armadilhas da própria irresponsabilidade. Podemos perceber que o problema não está no casamento em si, mas na condução que damos a ele. Considerando que o lar é a célula básica da sociedade, a característica de cada sociedade será a resultante das características gerais das famílias que nela vivem. Assim, se os pilares que deveriam sustentar cada lar desmoronam, a sociedade inteira se ressente com as consequências. E se não há harmonia no lar, que é o embrião da sociedade, não haverá sociedade harmonizada. Além disso, sendo o casamento uma grande escola para se aprender a arte do convívio, a fraternidade, a solidariedade, o cultivo do afeto, se este não sobrevive, o que podemos esperar da comunidade? Infelizmente, o que se pode constatar, quando um casamento se desfaz, é a supremacia do individualismo, do egoísmo, da tola vaidade, do orgulho e da prepotência de uma ou de outra parte, ou de ambas. O que acontece é que geralmente os casais se esquecem das promessas feitas quando da assinatura desse contrato de convivência mútua que chamamos casamento. As promessas foram as de ficar juntos na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza ou na pobreza, mas juntos. E dificilmente o casamento mal estruturado resiste aos primeiros golpes da dificuldade que se apresenta. Os casais se esquecem de que apenas algumas gotas de tolerância podem salvar e fortalecer a união. Que a renúncia preserva o convívio e o torna mais sólido. Que o esquecimento de um mal-entendido aproxima e engrandece os seres. E que o amor, nas suas mais variadas expressões, é a ferramenta capaz de solidificar e conservar a união dos seres por toda a eternidade. 
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O matrimônio é abençoada oficina onde podemos aprender a tecer os mais lindos sonhos de ventura e paz. É a oportunidade bendita de reatar os laços rompidos em existências passadas ou estreitar o afeto iniciado com alegria. O casamento é experiência nobre que pode nos credenciar aos altos planos da Criação, ao encontro da felicidade plena que tanto desejamos. 
Redação do Momento Espírita, com base no item 696 de O livro dos Espíritos, de Allan Kardec, ed. FEB. Disponível no livro Momento Espírita, v. 2, ed. FEP. Em 9.12.2013.

segunda-feira, 9 de maio de 2016

CASAMENTO FELIZ

John e Julie Gottman
Qual o segredo para um casamento feliz? Todo relacionamento é desafiador. Quanto mais íntimo se faz, mais dedicação nos exige. Assim, a vida a dois, o compartilhar a nossa existência com outrem, demanda empenho e atenção. Porém, será possível entender quais as melhores virtudes para construir um casamento feliz? Se a paixão inicial, e logo em seguida o amor, são fatores indispensáveis, haverá outros valores que necessitam permear a relação? Pensando nisso, dois psicólogos americanos, John e Julie Gottman, fizeram um estudo com casais para entender o sucesso ou fracasso de um casamento. Analisaram o comportamento de cento e trinta casais, como eles se relacionavam, como reagiam entre si, em atitudes corriqueiras, como cozinhar, limpar a casa, fazer as refeições. Baseados em suas percepções, os pesquisadores classificaram os casais em dois grupos básicos. Passados seis anos, os psicólogos voltaram a analisar os mesmos casais. Perceberam que os pertencentes ao primeiro grupo continuavam casados e felizes. Porém, aqueles que foram classificados no segundo grupo, ou estavam separados, ou permaneciam juntos, porém, infelizes. Ao analisar as causas de sucesso do primeiro grupo, o casal Gottman percebeu que duas virtudes preponderavam na vida desses casais: a bondade e a generosidade. Os psicólogos perceberam que, a longo prazo, torna-se fundamental e significativo que nas ações diárias, mesmo nas mais corriqueiras, a generosidade e a bondade estejam presentes. Por exemplo, a esposa se atrasa para um compromisso porque despendeu um tempo maior se arrumando. A reação do marido poderá ser a de brigar, resmungar e reclamar que ela sempre se atrasa, que nunca consegue cumprir horários. Ou ele poderá perceber nisso um zelo e cuidado dela para se apresentar em sua companhia, de um jeito especial e da melhor forma. Se o marido vai ao supermercado e esquece a compra de alguns itens, trazendo metade do relacionado, a esposa pode reclamar, dizer que ele não dá valor às coisas da casa, chamá-lo de distraído e descuidado. Ou ela poderá lhe agradecer por ter ido ao supermercado, e apenas refazer a lista com o que faltou. São nos detalhes, nas pequenas observações, nas respostas às perguntas mais simples que conseguimos alimentar a relação com demonstrações de generosidade e de amor. Como um lubrificante a facilitar o movimento das engrenagens, esses sentimentos permitem que a vida a dois ganhe profundidade e solidez. Assim, em nome do casamento que elegemos para nós, analisemos quanto de bondade e generosidade temos para com nosso cônjuge. Frente à resposta ríspida, utilizemo-nos da bondade da palavra suave e compreensiva. Substituamos o julgamento severo e rígido, muitas vezes já desgastado pelo tempo, pela generosidade de quem percebe e reconhece valores em quem nos acompanha. Pensemos nesses detalhes. 
Redação do Momento Espírita. Em 11.9.2015.