segunda-feira, 20 de maio de 2024

REMORSO E AUTOPUNIÇÃO

Não posso me perdoar. 
Se eu tivesse chegado antes, teria evitado a tragédia. 
Se eu não tivesse falado, isso não teria acontecido. 
Essas são expressões que se ouvem, vez ou outra, ante mortes acidentais ou provocadas. 
A promotora pública se questiona se foi dura demais ao denunciar as ações equivocadas do colega de trabalho, quando recebe a notícia de que ele optara por fugir da vida, a fim de evitar as consequências dos seus atos. 
O marido, que prometera à esposa ir para casa após o show que faria, entra num processo de autopunição porque preferiu ficar com os amigos e fãs até mais tarde, em festa que lhe foi oferecida. 
Ela, sozinha no rancho, aproveitou a lua cheia para uma cavalgada noturna, pela propriedade. 
Indo além de certos limites, foi surpreendida por terreno lamacento e escorregadio, provocado pelas chuvas intensas do dia anterior. 
Sem jamais se saber com exatidão o que aconteceu, a cavalgadura retornara sozinha ao celeiro, enquanto o corpo da senhora foi descoberto, horas depois. 
A partir daí, o marido deixou literalmente de viver. 
Não dá atenção aos três filhos. 
Em verdade, como desabafa a menina adolescente: 
-Naquela noite, perdemos nossa mãe e nosso pai. Você deixou de existir para nós, pai, desde então. E não nos permite viver. Proibiu que cantássemos, que nos divertíssemos, que comemorássemos o Natal. Há dois anos, papai, você morreu com a mamãe. Mas nós precisamos de você, dos seus cuidados, do seu amor. Precisamos que nos ajude a continuar a viver. 
* * * 
O remorso é um atestado de desenvolvimento moral do ser.
No entanto, deve ser somente a constatação de um ato que deve ser corrigido, tanto quanto possível. 
Alimentado, pode ser comparado a uma serpente de mil voltas, que circula em torno do coração e o destrói. 
É o remorso que nos acusa, de forma constante, nos fazendo reviver o dito, o feito ou não feito. 
Não alimentemos esse sentimento destrutivo. 
Se algo fizemos errado, que tenhamos a consciência e nos arrependamos. 
Se for possível corrigir a falta cometida, o façamos. 
Mas não nos eternizemos na culpa, mesmo porque, em alguns casos, fazemos muito mal não somente a nós mesmos. 
Também àqueles que dependem de nós, que nos aguardam o socorro, o arrimo. 
Quanto a denúncias ou comentários que venhamos a tecer a respeito de outros, lembremos que se as imperfeições de uma pessoa só a ela prejudicam, nenhuma utilidade haverá em divulgá-las. 
Se, porém, podem acarretar prejuízo a terceiros, deve-se atender de preferência ao interesse do maior número.
Segundo as circunstâncias, desmascarar a hipocrisia e a mentira pode constituir um dever, pois mais vale caia um homem, do que virem muitos a ser suas vítimas. 
Exemplos históricos nos levam a pensar em como a autopunição e o remorso inconsequente somente nos podem infelicitar. 
O infeliz Judas, após a traição, busca sua autopunição, retirando-se da vida, infelicitando-se ainda mais. 
Pedro, no entanto, tão próximo de Jesus, que O nega por três vezes, redime-se, entregando-se ao próximo, à divulgação da Boa Nova, sem tréguas. 
Aprendamos com os bons exemplos. 
Redação do Momento Espírita, a partir de cenas do Filme Guiado pelo luar e no cap. X, item 21, de O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, ed. FEB. 
Em 20.5.2024

Nenhum comentário:

Postar um comentário