quinta-feira, 30 de novembro de 2023

VIVENDO O PRESENTE

Quantas vezes já nos flagramos dizendo: 
-Vou fazendo tudo no automático. Nem me dou conta do que fiz? 
É assim que despertamos pela manhã, tomamos o café, saímos para o trabalho. 
Tudo repetido, tudo como sempre. 
Que tal retomarmos o fio da nossa vida e voltarmos a ser donos de nós mesmos? 
Quase sempre, somente nos damos conta da riqueza que tínhamos, quando perdemos toda ou parte dela. 
Olhemos ao nosso redor, tomemos nas mãos as rédeas da nossa vida.
Comecemos a nos observar, a prestar atenção ao que acontece conosco e ao nosso redor. 
Principiemos com pequenos movimentos. 
Afinal, não se modificam hábitos de longa data de um instante para outro.
Façamos o exercício de descobrir o sabor individual de cada componente de nossas refeições. 
Deliciemo-nos com o agridoce, com o salgado, com a doçura da fruta. 
E nos permitamos, num momento especial, agradecer a Deus por nos ter oferecido esse sentido espetacular que se chama paladar. 
Abramos a janela da casa e da alma e nos permitamos admirar o céu onde se espreguiçam os raios do sol, ainda indecisos se virão intensos, neste dia, ou ficarão meio amolentados, no colchão de nuvens. 
A noite foi abraçada pela madrugada. 
A manhã vibra cores e sons. 
Louvemos o Criador da vida que nos dotou de visão e audição.
Olhemos para nossos filhos crescendo. 
A balbúrdia que promovem no dia que apenas se inicia, as perguntas comuns de:
-Onde está minha mochila, Alguém viu meu tênis? 
E nos permitamos sorrir. 
Como é bom ouvir isso tudo. 
Gravemos essas falas no coração porque dentro de algum tempo eles seguirão seus próprios caminhos, constituindo sua família, empolgando-se com suas carreiras e não os teremos tão amiúde conosco. 
Aproximemo-nos deles e os abracemos demoradamente, deixando que eles se admirem e nos perguntem: 
-Que foi? Endoidou me apertando desse jeito? 
Permitamo-nos estar inteiros nas coisas, presentes no momento presente.
Quase sempre atropelamos as horas, vivendo antecipadamente o que está por vir: 
-Quando eu chegar no escritório, Quando eu for assinar aquele contrato, Quando... 
Tenhamos a nossa atenção direcionada para o que estamos fazendo no momento. 
Permitamo-nos perceber nosso corpo respirando, sintamos o ritmo do coração. 
Agradeçamos a vida que nos foi dada por Deus. 
Que dádiva! 
Pode ser que isso nos pareça difícil. 
Estamos habituados que tudo suceda rápido. 
Nossas incursões nas redes sociais, nossa busca desenfreada com o controle remoto tentando encontrar um filme, um documentário, uma manchete que nos satisfaça.
A leitura rápida de uma mensagem que chega pelo celular. 
Mas tentemos, hoje, amanhã, depois. 
Comecemos aos poucos, nos exercitando na atenção ao nosso entorno, nas pequenas coisas que fazem a diferença em nosso dia. 
As sutilezas que têm o poder de acalentar o nosso coração. 
Tenhamos paciência conosco mesmos diante da proposta de atenção ativa em nosso corpo, no que nos rodeia, nas criaturas que constituem nossas alegrias e preocupações. 
Vivamos cada minuto com a certeza de que outro igual não acontecerá outra vez. 
Redação do Momento Espírita
Em 30.11.2023

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

A LIÇÃO DO MÁRMORE

No museu de fama internacional, o piso totalmente coberto por belíssimos azulejos de mármore recebia as visitas todas os dias, especialmente para admirarem uma estátua, toda em mármore, enorme, exibida no meio do salão de entrada. 
Pessoas do mundo inteiro vinham admirá-la. 
Os mais entendidos se detinham a observar a perfeição dos seus traços.
Os românticos falavam da suavidade das linhas, mas todos, sem exceção, elogiavam a sua beleza. 
Certa noite, os pisos de mármore começaram a falar e reclamar com a estátua: 
-Estátua, isso não está certo. Absolutamente, não! As pessoas vêm, pisam e pisam em nós só para admirar você. Ninguém olha para nós e muito menos se dá conta de que também temos a nossa beleza. Isso não é justo. 
-Meu querido amigo, piso de mármore, você ainda se lembra de quando eu e você estávamos na mesma caverna? 
Perguntou a estátua. 
- Sim! É por isso que eu acho tudo muito injusto. Nós nascemos da mesma caverna e agora recebemos tratamento tão diferente. Não é justo! 
Chorou, novamente, o piso. 
A estátua continuou a explicar: 
-Então, você ainda se lembra do dia em que o artista tentou trabalhar em você, mas você resistiu bravamente às ferramentas? 
-Sim, claro que me lembro. Odiei aquele sujeito! Como pôde ele usar aquelas ferramentas em mim? Doeu demais! Isso é certo! 
-Ele não pôde trabalhar nada em você, porque você resistiu à sua ação. Quando ele desistiu de você, veio para mim. Eu era um bloco de mármore sem forma. Em vez de resistir como você, imediatamente soube que ele me tornaria algo diferente. Não resisti. Aguentei todas as ferramentas dolorosas que ele usou em mim. 
O piso resmungou alguma coisa e a estátua concluiu: 
-Meu amigo, há um preço para tudo na vida. Nem sempre é fácil. Às vezes é muito difícil e doloroso. Mas temos que aprender e suportar os sofrimentos, procurando crescer e aprender para nos transformar em algo mais belo. 
* * * 
Assim como o piso de mármore, somos nós, quase sempre. 
Resistimos e nos rebelamos contra tudo o que nos signifique disciplina, ordem, sacrifício. 
Preferimos as coisas fáceis, que não requeiram esforço, nem perseverança. 
Entretanto, para que burilemos o Espírito é imperioso que nos amoldemos ao martelo da dor, nos dobremos às leis da disciplina e obedeçamos à ordem. 
O cinzel e todas as demais ferramentas do escultor são, na vida, os conselhos dos mais experientes, as exigências dos nossos pais, professores e chefias que, em verdade, somente desejam que nos tornemos criaturas melhores, produzindo o bem. 
* * *
Pense nisso! 
O fogo é altamente benéfico ao homem. 
Graças a ele, a alimentação e o abrigo lhe são garantidos. 
Instrumentos de beleza nele se forjam. 
No entanto, se deixado à solta, consome o que existe em seu caminho, semeando destruição.
Assim o Espírito, para evoluir, necessita dos instrumentos da disciplina e da ordem, que lhe direcionam as energias no caminho estreito do dever, impulsionando-o ao aperfeiçoamento das linhas brutas da ignorância.
Redação do Momento Espírita com base no artigo Colcha de retalhos, de autor desconhecido, tradução de Sérgio Barros, da Revista Harmonia, junho. 2001. 
Em 3.1.2013.

terça-feira, 28 de novembro de 2023

SER SIMPLES

É uma verdade. 
O que a vida espera de nós é que sejamos simples. 
Ser simples não tem relação com nossa condição financeira, poder de compra, posição social ou escolaridade. 
A simplicidade que a vida espera de nós nasce em nossa intimidade e se exterioriza em nossas manifestações. 
Somos simples quando desejamos fazer o bem a alguém e buscamos a discrição e o anonimato. 
Somos simples quando buscamos auxiliar um amigo em dificuldade financeira e encontramos meios de fazê-lo sem o constranger. 
Ninguém saberá da nossa gentileza e generosidade. 
Há simplicidade, em nós, quando conversamos com alguém menos escolarizado que, por uma razão ou outra, teve menos oportunidades de acesso à cultura e instrução, e não exibimos nosso saber. 
Quando conduzimos o diálogo escolhendo temas que sejam do interesse e façam parte do cotidiano de ambos, a fim de que a conversa não se torne desigual. 
Cuidamos da linguagem, dos exemplos e referências, de maneira que ele não se sinta desconfortável ou inferiorizado por uma fala que poderia soar arrogante ou prepotente. 
E, embora tenhamos diplomas, especializações, mestrados e doutorados, jamais diremos, a quem quer que seja que não estudou porque não quis.
Afinal, não lhe conhecemos a vida, as lutas. 
Por vezes, estar vivendo e cuidando do que nos parece sem maior importância, é a sua grande vitória. 
Demonstramos nossa simplicidade quando alguém nos magoa, fere nossos sentimentos e optamos pelo perdão. 
Embora perdoar não seja um exercício fácil, é bem mais simples do que guardar mágoas ou arquitetar vinganças. 
Os caminhos do revide são complexos e geram consequências adversas para nós mesmos. 
Assim, o perdão será sempre a opção mais tranquila e de resultados mais felizes. 
Dessa maneira, será o caminho mais simples. Jesus foi modelo de simplicidade. 
Vindo de regiões celestiais para encarnar entre nós, optou fazê-lo no seio de uma família sem maiores destaques, em vilarejo de importância alguma. 
Conhecedor de todas as leis de Deus, viveu por três décadas nos afazeres de uma carpintaria e no cotidiano de um povo subjugado, sem destacar-se ou demonstrar sua grandeza. 
Em Seu apostolado, esteve com poderosos, ricos e influentes, tanto quanto com os párias, os doentes, os abandonados e invisíveis da sociedade.
Para uns e outros, tinha o amor como postura e parâmetro de convivência.
Simples eram as palavras de sabedoria com que anunciava o reino que veio oferecer a todos. 
-Estou entre vós como aquele que serve. 
Eis o seu grande discurso. 
Eis o grande desafio da simplicidade. 
*** 
Abandonemos sentimentos complexos que trazemos na alma e vivenciemos o singelo amor ao próximo. 
Tenhamos sempre Jesus como referência, no difícil exercício de aprender a sermos simples como ele. 
Prestemos atenção nos que nos rodeiam, naqueles que dependem de nós, que aguardam nosso gesto de compreensão, de compaixão, de amor.
Será a partir de pequenos e imperceptíveis exercícios diários, ao tratar a todos com a generosidade que o amor desperta, que passaremos a ser simples, que passaremos a ser mais felizes. 
Redação do Momento Espírita 
Em 27.11.2023
http://momento.com.br/pt/index.php

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

A LIÇÃO DO JARDINEIRO

Um dia, o executivo de uma grande empresa contratou, pelo telefone, um jardineiro autônomo para fazer a manutenção do seu jardim. 
Chegando à casa, verificou que se tratava apenas de um garoto de uns quinze ou dezesseis anos de idade. 
Contudo, como já estava contratado, pediu para que ele executasse o serviço. 
Quando terminou, o jovem lhe solicitou permissão para utilizar o telefone e o executivo não pôde deixar de ouvir trechos do diálogo que aconteceu. 
O garoto ligou para uma mulher e perguntou: 
-A senhora está precisando de um jardineiro? 
-Não. Eu já tenho um, foi a resposta. 
-Mas, além de aparar a grama, frisou ele, eu também tiro o lixo. 
-Nada demais, retrucou a senhora, do outro lado da linha. O meu jardineiro também faz isso. 
O garoto insistiu: 
-Eu limpo e lubrifico todas as ferramentas no final do serviço. 
-O meu jardineiro também, tornou a falar a senhora. 
-Eu faço a programação de atendimento o mais rápido possível. 
-Bom, o meu jardineiro também me atende prontamente. Nunca me deixa esperando. Nunca se atrasa. Vem sempre no dia que agendamos previamente. 
Numa última tentativa, o menino arriscou: 
-O meu preço é um dos melhores. 
-Não, disse firme a voz ao telefone. Muito obrigada! Tenho certeza de que o preço do meu jardineiro é muito bom. Não preciso de nenhuma outra oferta. 
Desligado o telefone, o executivo disse ao garoto: 
-Meu rapaz, pelo que pude deduzir da sua conversa com essa pessoa, você perdeu um cliente. 
-Claro que não, foi a resposta rápida. Eu sou o jardineiro dela. Fiz isso apenas para medir o quanto ela estava satisfeita comigo. 
* * * 
Em se falando do jardim das afeições, quantos de nós teríamos a coragem de fazer uma pesquisa semelhante a desse jardineiro? 
E, se fizéssemos, qual seria o resultado?
Será que alcançaríamos o grau de satisfação daquela cliente? 
O que diriam a respeito da nossa forma de expressar sentimentos?
Poderiam dizer que temos, sempre em tempo oportuno e preciso, aparado as arestas dos azedumes e dos pequenos mal-entendidos? 
Diriam que temos deixado acumular muito lixo de mágoas e de indiferença nos canteiros onde deveriam se concentrar as flores da afeição mais pura? 
Diriam que temos deixado enferrujar as ferramentas da gentileza, da simpatia, esquecidos de lubrificá-las com pequenos gestos, um sorriso, atendendo as necessidades e carências desses que conosco convivem?
E, por fim, qual tem sido o nosso preço? 
Temos usado chantagem, autoritarismo ou, como o jardineiro sábio, temos cuidado das mudinhas das afeições com carinho e as deixamos florescer, sem sufocá-las? 
* * * 
O amor floresce nos pequenos detalhes. 
Como gotas de chuva que umedecem o solo ou como o sol abundante que se faz generoso, distribuindo seu calor. 
A gentileza, a simpatia, o respeito são detalhes de suma importância para que a florescência do amor seja plena e frutifique em felicidade. Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita, com base em texto de autoria ignorada. Disponível no livro Momento Espírita, v. 5, ed. FEP. 
Em 6.3.2019.

domingo, 26 de novembro de 2023

A LIÇÃO DO CARVALHO

William J. Bennett
Era um velho carvalho no meio de uma grande floresta. 
Há alguns anos, uma enorme tempestade o deixara quebrado e feio.
Jamais conseguira se reerguer, como as demais árvores. 
Quando a primavera chegava, o adornava de flores novas e verdes e o outono tomava o cuidado de pintá-las todas de cor avermelhada. 
Mas os ventos inclementes sopravam e levavam todas as folhas e nada mais podia disfarçar a sua feiura.
A árvore foi se sentindo esquecida, abandonada, sem utilidade. 
E um enorme vazio tomou conta dela. 
Quando o vento do outono passou por ali, ela se lamentou:
-Ninguém mais me quer. Não sirvo para nada. Sou um velho inútil. 
Mais alguns dias se passaram e, na proximidade do inverno, um pica-pau sentou-se em seu tronco e começou a bicá-lo, de forma insistente. 
Tanto bicou que conseguiu fazer um pequeno furo, uma portinha de entrada para sua residência de inverno, no tronco oco do carvalho.
Arrumou tudo com muito bom gosto. 
Aliás, estava praticamente tudo arrumado. 
As paredes eram quentinhas, aconchegantes e havia muitos bichinhos que poderiam alimentá-lo e aos seus filhotes. 
-Como estou feliz em ter encontrado esta árvore oca! Ela será a salvação para mim e minha família no frio que se aproxima. 
Pouco tempo depois, um esquilo aproximou-se e ficou correndo pelo tronco envelhecido, até achar um buraco redondo, que seria a janelinha da sua casa. 
Forrou por dentro com musgo e arrumou pilhas e pilhas de nozes que o deveriam alimentar durante toda a estação de ventos gelados. 
-Como estou agradecido, falou o esquilo, por ter encontrado esta árvore oca. 
O carvalho passou a sentir umas coisas estranhas. 
As asas dos passarinhos roçando em sua intimidade, o coração alegre do esquilo, suas patas miúdas apalpando o tronco diariamente fizeram com que se sentisse feliz. 
Seus ramos passaram a cantar felicidade.
Quando chegou a época das chuvas, deixou-se molhar, permitindo que as gotas escorressem por seus galhos, lentamente. 
Aceitou a neve que o envolveu em seu manto por muitas semanas, agradeceu os raios do sol e a luz das estrelas. 
Tudo era motivo de felicidade. 
A velha árvore redescobrira a alegria de servir. 
* * * 
Ninguém há que nada possua para dar. 
Ninguém existe que não possa fazer algo a benefício do seu irmão. 
Um sorriso, uma prece, um gesto, um abraço, um agasalho, um pão. 
Há tanto que se fazer na Terra. 
Existem tantos aguardando a cota do nosso gesto de ternura. 
Ninguém inútil ou desprezível. 
Cabe-nos redescobrir a riqueza que em nós existe e distribui-la a quem dela necessite ou espere.
* * * 
Se nos sentirmos solitários, em meio às dificuldades que nos alcancem, aprendamos a estender sorrisos nos caminhos por onde passarmos. 
Antes de nos amargurarmos e cobrar gestos de carinho de amigos e parentes, antecipemo-nos e doemos a nossa cota de amor, ainda hoje, permitindo-nos usufruir da alegria de dar e dar-se. 
Redação do Momento Espírita, com base no texto A árvore solitária, de O livro das virtudes, de William J. Bennett, v. 2, ed. Nova Fronteira. 
Em 21.2.2019.

sábado, 25 de novembro de 2023

ISSO É POSSÍVEL?

André Siqueira
Algumas falas de Jesus nos soam estranhas, mesmo depois de dois milênios transcorridos. 
Por exemplo, Amai os vossos inimigos continua sendo algo que parece impossível. 
Como podemos amar a quem nos faz mal, a quem nos maltrata, a quem tem prazer em nos causar problemas? 
No entanto, devemos convir que se o Mestre de Nazaré prescreveu, é possível. 
Foi com um casal simpático que aprendemos um interessante exercício para chegarmos a esse amor. 
Dizia o seu Eduardo, não é um amor amorzão. 
É um amorzinho de quem não deseja o mal para os outros. 
É um tipo de paciência com o erro do outro, sem querer o mal para ele.
Para a esposa, que andava com muita raiva da vizinha, ele disse que conhecia uma técnica de aprender a amar. 
Ante a surpresa dela, explicou: 
-Primeiro, é preciso amar a nós mesmos. Ninguém que não se ama compreende o que é amar os outros. 
-Isso é fácil, interrompeu Joaquina. 
-Parece fácil, mas não é. Amar a si mesmo não é praticar o egoísmo. É descobrir o que nos faz felizes de verdade. Às vezes, é ir contra os nossos próprios desejos, em benefício de um equilíbrio mais saudável. 
-Ah, tá, disse ela, impaciente. E depois? 
-Aí é hora de amar quem nos ama. O esforço é pequeno e gratificante. Num instante a gente percebe o quanto faz bem. Se a pessoa ama a gente, a gente num minuto ama de volta. Porém, nem sempre demonstramos. Às vezes, a gente ama muito, mas demonstra pouco. Como a gente sabe que ama o outro, ficamos pensando que o outro sabe disso. Mas demonstrar o amor pelo outro é uma forma muito eficiente de melhorar as relações. É mais que um “Eu te amo”. É um carinho, um gesto, um abraço, um cumprimento, um sorriso. 
Joaquina ficou pensativa: 
-Amar a si... Amar a quem nos ama... E quando é que vem a história do inimigo? 
-Depois de amar quem nos ama, devemos exercitar o amor por quem nos é indiferente: nem a gente ama, nem sente raiva. É um exercício de descobrir o que o outro tem de bom e aprender a conhecer para criar relações. É uma boa oportunidade de fazer amigos, de conhecer pessoas e de aumentar o nosso círculo de pessoas queridas. É como um treino para o sentimento. A gente vai treinando como amar as pessoas, descobrindo quem elas são e criando laços de amizade verdadeira. Começa na conversa trivial, depois a gente vai falando de coisas importantes, de pessoas, de nós mesmos. Quando a gente vê, é capaz de sorrir e de chorar na companhia desses novos amigos. Aí o amor está feito. Às vezes, isso leva a vida toda. Por fim, quando o coração está forte, partimos para o amor aos que consideramos nossos inimigos. Para isso é preciso compreender que se trata de uma verdadeira disposição de ajudá-los a se tornarem melhores. Por isso, o coração deve estar treinado no amor, para a gente ajudar de verdade. - Frisou Eduardo. 
*** 
Importante que compreendamos que todos somos filhos de Deus. 
Uns erramos mais e outros erramos menos. 
Contudo, um dia, diante da imortalidade inevitável, todos seremos Espíritos puros. 
Então, vamos reconhecer a bondade uns dos outros. 
Que tal tentarmos esse exercício? 
Redação do Momento Espírita, com base no artigo Amor aos inimigos, de André Siqueira, publicado no Jornal Mundo Espírita n. 1672, de novembro/2023, ed. FEP. 
Em 24.11.2023

sexta-feira, 24 de novembro de 2023

A LIÇÃO DO AMOR

Muitas obras já foram escritas a respeito do ódio entre pessoas, famílias ou comunidades. 
A literatura celebrizou romances como Romeu e Julieta. 
A tragédia de um amor com o pano de fundo do ódio de duas famílias. 
As telas cinematográficas e as novelas da televisão vitalizam com cores muito vivas dramas em que o ódio passa de geração a geração. 
O que quer dizer que a criança, ao nascer, passa a ser alimentada com a informação da necessidade de odiar aquele ou aqueles que seus avós e pais odeiam. 
Apesar de vivermos o início do Terceiro Milênio, tais fatos não se passam somente nos teatros, filmes ou novelas. 
Observa-se que, no cotidiano, existe muito ódio sendo alimentado e transmitido de pai para filho. 
Não é de se estranhar, assim, que haja tanta guerra, desentendimento, discórdia entre os povos. 
Pois tudo vem do berço. 
Desde a gestação, o Espírito que anima o corpo do bebê em formação passa a ser sufocado com as emanações do ódio de que se nutrem os familiares. 
Pai e mãe em especial. Seria tão mais digno dos que nos dizemos cristãos que, se não conseguimos perdoar o desafeto, não repassássemos aos nossos filhos tal problema. 
Se a problemática é nossa, nós a devemos resolver e jamais passá-la adiante. 
Mesmo porque, na sequência do tempo, o que era motivo de ódio mortal se dilui. 
Por vezes, até os que dizem odiar não recordam com exatidão porque assim procedem. 
E se desculpam dizendo que são motivos graves, de épocas anteriores à sua, que a questão é familiar etc. 
Recentemente, pudemos observar um caso que nos emocionou. 
Um jovem de família abastada casou-se com uma jovem pobre e sem nome de família expressivo.
Contrariada, a mãe do rapaz o deserdou e ele partiu para outras paragens para refazer sua vida. 
Construiu seu lar sobre bases de honestidade e trabalho e repassou tais valores para sua filha. 
Morrendo muito jovem, deixou a viúva com poucos recursos. 
Ela, por sua vez, não se intimidou. 
Trabalhou e educou a filha. 
Certo dia, a avó as procurou desejando ver a neta. 
Receosa, temia que a nora houvesse envenenado a menina contra ela.
Qual não foi sua surpresa ao ser abraçada pela neta de oito anos, e ouvir da sua boca:
-Vovó, que bom que a senhora veio! Queria tanto conhecer você. Minha mãe sempre diz que a senhora é uma pessoa muito boa, como meu pai.
Durante anos, a mãe simplesmente passara para a garota a lição do amor, consciente de que as questões que diziam respeito a ela e seu marido não deveriam prosseguir no tempo. 
A lição de amor comoveu a velha avó, que retornou ao seu lar após a visita, para repensar a própria atitude. 
* * *
Você sabia? 
Você sabia que os pais são responsáveis pelos Espíritos dos filhos?
Assim, se eles vierem a falir, por culpa dos pais, esses terão que prestar contas a Deus. 
E você sabia que a maternidade e a paternidade são das missões mais grandiosas que Deus confia aos homens?
Por isso vale a pena empregar todos os esforços para merecer a confiança do Criador. 
Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita, v. 3, ed. FEP. 
Em 27.2.2019.

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

LIÇÃO DE VIDA

Os veículos de comunicação se esmeram em apresentar informações dos ídolos atuais. 
Suas vidas são vasculhadas e seus passos seguidos, fotografados, filmados. Informam aos fãs, com detalhes, os seus gostos alimentares, desejos mais secretos, intimidades. 
É de estranhar, no entanto, que quando algumas das chamadas desgraças terrenas os abatem, eles desaparecem do cenário e nada mais é comentado. 
Todavia, quantos deles manifestam sua força, seu valor verdadeiro em meio às dores e enfermidades terríveis que os acometem. 
Certa vez, lemos a respeito da batalha ferrenha que empreendeu um jornalista brasileiro que durante trinta anos manteve uma coluna diária em jornal. 
A doença foi diagnosticada e os médicos informaram que ele entraria em depressão. 
É o comportamento padrão, disseram. 
Convicto, ele afirmou: 
-Não me deixarei deprimir, nem um minuto. E também não cederei à revolta. Vou à luta. 
Amante da vida, viajara pelo mundo e conhecera da selva do Nepal às cidades mais belas e sofisticadas. 
Agora, a sua peregrinação ao hospital era pela cura. 
Aos cinquenta e seis anos e com a cabeça cheia de sonhos, ele imaginava que venceria. 
Queria ainda escrever a respeito da sua luta para vencer o fumo e o álcool. 
Poderia auxiliar pessoas. 
O tempo haveria de lhe estabelecer regras rígidas e lhe dizer que seu destino próximo era a morte. 
-Não tenho medo nenhum, comentou um dia. Pode parecer estranho, mas é assim. Deus tem sido generoso comigo e só me resta agradecer. Gostaria muito de conhecer o meu anjo de guarda. Afinal, ele tem sido um amigão. 
Os seus últimos dias foram um calvário. 
Entubado, por várias vezes, não podia falar. 
Bastava que lhe retirassem o tubo e ele falava, sereno. 
Brincava muito. 
Por diversas vezes foi desenganado. 
Mas ressurgia com energia e vigor, surpreendendo médicos e enfermeiras.
Jamais reclamou de coisa alguma. 
Nele sobrou coragem e dignidade. 
Quando uma amiga lhe disse que não conseguia acreditar que ele estivesse tão doente, pois o vira há pouco tempo tão bem, ele sorriu e disse: 
-Pois é, por fora belo, por dentro como pão bolorento. 
Nas horas finais, não podia quase falar. 
Somente escutava as frases de amor que sua esposa lhe dizia: 
-Estamos juntos há muitos anos. Vamos continuar outros tantos. Vá agora, amor, liberte-se. Busque a luz. Vá em paz. Você não desejava conhecer seu anjo de guarda? Chegou a hora. 
Ele partiu serenamente. 
Com esforço, balbuciou: 
-Amorzinho. 
Foi sua última palavra.
* * * 
A vida nos é dada para grandes coisas e a morte nos surpreende, por vezes, em meio à execução ou planejamento de ousados projetos. 
Ela não olha idade, sexo, cor da pele, crença religiosa. 
Aborda a todos e na hora estabelecida. 
Vivermos com sabedoria é nos prepararmos cada dia para viver a eternidade na carne, tanto quanto nos conscientizarmos de que a eternidade poderá ser vivida em outra dimensão, além da esfera física.
Afinal, ninguém morre. 
Somente troca de roupagem. 
Enfrentar a enfermidade, o anúncio da morte, requer coragem, muita fibra que somente a fé em Deus pode fornecer. 
Redação do Momento Espírita, com base no artigo O amorzinho... Merry XMas, da revista Seleções Reader´s Digest, dezembro de 1998. 
Em 31.1.2018.

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

O AUXILIAR QUE DESEJAMOS

MARIA HELENA MARCON
Quando planejamos uma atividade e pensamos em equipe, quase sempre buscamos pessoas prontas, hábeis no que pretendemos executar. 
Pessoas que realmente ajudem, deem sugestões, sejam experts em seu mister e, acima de tudo, comprometidas com o trabalho. 
Depois de algum tempo, nos damos conta de que não existem pessoas prontas na totalidade e que estejam dispostas a dar o máximo de si, a se entregar inteiramente ao projeto. 
Mas, antes que o desânimo se abata sobre nós, olhemos para a equipe montada pelo nosso Modelo e Guia. 
Nenhum dos apóstolos era perfeito. 
Os Evangelhos nos falam da impulsividade dos irmãos Zebedeu, da traição de Judas, do abandono de quase todos eles na hora da prisão do líder, no Horto das Oliveiras.
Lembramos de Tomé, conhecido como aquele que, mesmo tendo convivido quase três anos ao lado do Mestre, ter assistido a suas curas e feitos extraordinários, não acreditou que Ele ressuscitara e visitara os amigos, no cenáculo. 
Oito dias depois, foi surpreendido com a aparição de Jesus e convidado a lhe tocar os punhos, os pés, a chaga no peito, feita pela lança de Longinus. 
Tomé era descendente de um pescador de Dalmanuta, cidade para onde foi Jesus depois da segunda multiplicação dos pães. 
Era rápido no pensar e no desacreditar. 
Andava segundo a lógica. 
Parecia desconfiar de tudo e de todos. 
Ele esteve presente, no barco, no lago de Genesaré, na pesca infrutífera de uma noite inteira. 
Até aparecer na praia um homem que lhes diz para jogar a rede à direita do barco e ela retornar com cento e cinquenta e três peixes. 
O Mestre tornava a estar com eles. 
E os aguarda, na praia, com o fogo aceso para assar o peixe e servir o pão. 
Então, Tomé, como os demais, sente amor e temor. 
Confiança e respeito. 
Jesus ressurgira da morte. 
Ele está ali, mas num corpo diferente, um corpo de surpreendentes propriedades, que lhe permite entrar nas casas de portas fechadas. 
E desaparecer de forma instantânea. 
Numa tarde de azul profundo, junto com cinco centenas de corações amigos, Tomé ouviu as derradeiras exortações de Jesus, conclamando-os a se fazerem mensageiros da Boa Nova entre os homens. 
Agora, sua alma se enche de coragem e ilimitada confiança. 
-Estarei para sempre convosco. – Afirmara aquele Mestre excelso. 
E Tomé saiu a pregar. 
Estendeu seu apostolado até a Índia, onde é reconhecido como fundador da igreja dos cristãos de São Tomé. 
Nas tradições cristãs, consta que no ano 53, ele foi martirizado a flechadas, na cidade indiana de Madras.
Padeceu intensa hemorragia e sua vida foi se dissolvendo, a pouco e pouco. 
A dor e o sangue não lhe destruíram os sonhos.
Ele sonhava com a eternidade. 
* * * 
Pensemos a respeito. 
O companheiro que hoje se apresenta frágil, inquieto, indeciso, pode ser conquistado por nós, quando exemplificamos a firmeza no trabalho, a execução da tarefa com esforço e dedicação. 
O tempo o burilará, enquanto exercita a mente, o coração e as mãos no trabalho. 
Sigamos o exemplo do Divino Pastor. 
Sua equipe era de homens do povo. 
Ele os preparou para iluminar o mundo. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. O apóstolo descrente, do livro Personagens da Boa Nova, de Maria Helena Marcon, ed. FEP. 
Em 21.11.2023

terça-feira, 21 de novembro de 2023

MEDO DAS PROVAS

CHICO XAVIER E EMMANUEL
Nos dias em que a experiência na Terra se faça amarga e difícil, não convertamos a depressão em veneno. 
Quando a aflição nos ronda o caminho, anunciamos carregar a alma de sombras, semelhante a quem se encontra ausente do lar, ansiando pelo retorno. 
No entanto, que isso não se torne motivo para que nos precipitemos no desânimo arrasador. 
Olhemos adiante, ergamo-nos uma vez mais lembrando quantas coisas já enfrentamos, quantos desafios, quanta dor.
Nada disso nos fez menores, nada disso nos destruiu. 
Pelo contrário, tudo foi construção, tudo foi aprendizado. 
Por vezes é difícil, em meio às trevas, mentalizar pensamentos de otimismo e fraternidade. 
Ou conseguir retratar nas pupilas o fulgor do sol e a beleza das flores. 
Por vezes, preferimos a mudez ou a reclamação constante, como forma de defesa ou espécie de revolta contra o Universo. 
Quando o estudante é surpreendido por prova surpresa na sala de aula e a matéria é difícil, ele não teve tempo de se preparar, o primeiro impulso é a revolta ou o desespero. 
Não consegue perceber que a prova é instrumento de avaliação, visando aperfeiçoamento. 
Prefere, como mecanismo de defesa, proclamar que o professor é cruel ou que o sistema de ensino está errado.
Quando falamos dos métodos educacionais das leis divinas, estamos falando de mecanismos que agem com perfeição.
Agem na hora certa, com os critérios mais objetivos possíveis.
O sistema educacional divino é enérgico e, ao mesmo tempo, amoroso. 
É disciplinado, firme. Também repleto de adaptações, de concessões e de muita compaixão. 
Assim, não temamos as lições duras do caminho. 
Todas elas são aplicadas com muita sabedoria e critério.
Obviamente que sendo provas, sempre nos trarão instantes de tensão, desconforto e podem nos colocar em situações em que não teremos controle de coisa alguma. 
Tudo isso é lição. 
Tudo isso faz parte do mecanismo da evolução. 
Como faz parte também da autoeducação o trabalhar em nós a maneira de enxergar e vivenciar cada um desses momentos. 
Em nossa alma, ainda imatura, por vezes existem medos exagerados, existem visões distorcidas, existe ansiedade inflada, que amplificam dores sem real necessidade. 
Tudo isso faz parte do educar-se: desde o suportar com sabedoria as tempestades, passando por entender o que significa cada uma delas, até pela análise de nós mesmos, de nossas lentes, que podem estar vendo temporais em garoas finas. 
As provas nos exigem atenção, olhar cuidadoso, apoio e confiança nos mais próximos. 
Exigem a oração que acalma a mente inquieta e que sabe pedir auxílio aos mais preparados. 
Exigem a calma de quem sabe que todas elas têm hora para começar e para acabar. 
Exigem a certeza de que tudo está sob controle superior, embora possa não parecer. 
Recordemos dos tempos de escola, da aflição dos dias de prova. 
O medo do branco mental. 
O medo de não estar preparado. 
O que diríamos para nossa versão criança ou jovem com a experiência que temos hoje? 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 11, do Livro da Esperança, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. CEC. 
Em 20.11.2023.

segunda-feira, 20 de novembro de 2023

LIÇÃO DE UM CORAÇÃO INFANTIL

Maurice Druon
Foi ao visitar o hospital que o menino conheceu a garota doente. 
Ao entrar, ele teve uma vaga impressão de tristeza. 
Achou estranho. 
Afinal, o médico lhe mostrou um grande armário com pílulas contra tosse, pomada amarela contra bolhas, pó branco contra febre. 
Mostrou-lhe a sala onde se podia olhar através do corpo de uma pessoa como através de uma janela, para ver onde a doença se escondeu. 
Mostrou-lhe outra com espelho, onde se operavam tantas coisas que ameaçavam a vida. 
-Estranho, pensava o garoto. Se aqui impedem o mal de ir adiante, tudo devia parecer alegre e feliz. Por que estou sentindo tanta tristeza? 
O médico lhe explicou como a doença insistia em entrar no corpo das pessoas. 
Que havia mil espécies de doenças, que usavam máscaras para que não pudessem ser reconhecidas e como era difícil manter a saúde. 
Explicou ainda que era preciso estudar muito para desmascarar, desanimar a doença, colocá-la para fora e atrair a saúde, impedindo-a de fugir. 
No entanto, quando entrou no quarto da doentinha, ele a achou muito bonita, mas pálida. 
Os cabelos se esparramavam pelo travesseiro. 
Ela lhe disse que não podia andar. 
Também não tinha muita importância porque ela não tinha lugar nenhum para ir. 
Roberto lhe falou do jardim, cheio de flores, que ele tinha em sua casa. 
Ela pareceu se animar um pouco e respondeu que se tivesse um jardim, talvez sentisse vontade de sarar, para passear entre as flores. 
Enquanto ela continuava desfilando sua tristeza, contando das pílulas e injeções que devia tomar todos os dias e dos exercícios que precisava fazer, Roberto pensava: 
-Para esta menina sarar, é preciso que ela deseje ver o dia seguinte. Se ela tivesse uma flor, com sua maneira toda especial de se abrir, de improvisar surpresas, talvez quisesse sarar. Uma flor que cresce é uma verdadeira adivinhação que recomeça cada manhã. Um dia ela entreabre um botão, num outro desfralda uma folha mais verde que uma rã, num outro desenrola uma pétala. Talvez esta menina esqueça a doença, esperando cada dia uma surpresa.
Roberto afirmou que ela iria sarar e desejou ardentemente isto. 
Depois foi providenciar flores, diversas flores e as colocou sobre a mesa, perto da janela, aos pés da cama. 
Trouxe uma esplêndida rosa, que parecia ir lentamente abrindo suas pétalas como se estivesse envergonhada ou talvez quisesse guardar a surpresa para o dia seguinte.
Então, a menina que somente ficava olhando o teto e contando os buraquinhos da madeira, contemplou as flores e sorriu. 
Naquela noite mesmo a tristeza saiu pela janela e a menina começou a mover as pernas. 
 * * * 
A Medicina não pode quase nada contra um coração muito triste. 
Para se curar dos males físicos é preciso ter vontade de viver. Todo bom médico sabe disso. 
E sabe também que para travar a luta ininterrupta contra a doença, preservando a saúde, é preciso ver nos pacientes seus irmãos. 
Em síntese, é necessário amar muito as criaturas. 
Só assim ele tem condições de detectar as doenças e restabelecer a saúde dos seus pacientes. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 11, do livro O menino do dedo verde, de Maurice Druon, ed. José Olympio.
Em 17.05.2012.

domingo, 19 de novembro de 2023

A SERPENTE E O VAGALUME

RAUL TEIXEIRA
Conta uma lenda que uma serpente começou a perseguir um vagalume. 
Ele fugiu rápido, com medo da feroz predadora. 
A serpente nem pensou em desistir. 
O inseto fugiu um dia. 
Ela não desistiu. 
Dois dias. 
E ela continuou a persegui-lo. 
No terceiro dia, sem forças, o vagalume parou e disse à perseguidora: 
-Posso te fazer três perguntas? 
A serpente ficou surpresa com a ousadia de quem ela pretendia devorar. 
Entretanto, respondeu: 
-Não costumo abrir esse precedente para ninguém. Mas como vou te devorar mesmo, pode perguntar... 
-Pertenço à tua cadeia alimentar? 
-Claro que não. Esclareceu de imediato, a cobra. 
-Eu pratiquei algum mal contra ti? 
Tornou a indagar o vagalume. 
-Não. Disse ela. 
-Então, por que você quer acabar comigo? 
A cobra deu um suspiro e esclareceu: 
-Porque eu não suporto te ver brilhar... 
* * * 
A cada passo, na estrada humana, encontramos a sombra da inveja. 
Raramente a pessoa admite que é invejosa, embora se torture intimamente por causa desse mal. 
O invejoso se sente arder por dentro cada vez que se vê impossibilitado de ter o que os outros têm, de fazer como os outros fazem ou de ser como os outros são. 
O mais lamentável é que, por não conseguir ou não desejar se esforçar para chegar aonde o outro chegou, tudo faz para derrubá-lo. 
É comum que monte calúnias, divulgue mentiras, espalhe malquerenças. 
Tudo como se desejasse se vingar daquele cujo grande erro está em se sobressair em inteligência, em ações, em haveres materiais. 
A inveja é essa força perturbadora que enceguece o invejoso.
Tanto que ele não se apercebe de que se lutasse como os outros lutam, se trabalhasse como os outros trabalham, se estudasse como os outros estudam, por certo poderia conquistar o que é objeto da sua inveja. 
* * * 
Se nos afirmamos cristãos e desejamos nos aproximar do supremo bem, abandonemos a inveja que somente envenena as vidas humanas. 
Afastemo-nos dessa agonia que a inveja impõe. 
Aprendamos a comentar positivamente os bons feitos das pessoas. 
Cumprimentemos com honestidade os que se apresentam com qualquer virtude que ainda não conquistamos. Imitemos os bons exemplos e as providências felizes. Pensemos que ninguém é igual a ninguém. 
Cada qual é portador de possibilidades e conquistas diferentes. 
E que muitos e diversos são os desfechos nos caminhos humanos. 
Uns utilizam as mãos para acariciar e extrair melodias do teclado. 
Outros as utilizam para erradicar enfermidades, através de complicadas cirurgias. 
Uns brilham na oratória. 
Outros se servem da palavra para o consolo e a esperança.
Uns escrevem leis, outros compõem poemas. 
Alguns olham para o céu e descobrem a maravilha do universo sempre em expansão. 
Outros se detêm a explorar a intimidade dos mares, descobrindo a riqueza da vida que se renova, constantemente. 
Há diplomatas hábeis para as relações internacionais.
Também portas adentro dos lares, criaturas valorosas estabelecendo pontes de paz, para a harmonia doméstica de todos os dias. 
Aprendamos a viver contentes em toda e qualquer situação.
Redação do Momento Espírita, com base no texto A serpente e o vagalume, de autor desconhecido e no cap. 26 do livro Para uso diário, do Espírito Joanes, psicografia de Raul Teixeira, ed. Fráter. 
Em 18.11.2023.

sábado, 18 de novembro de 2023

LIÇÃO DE FELICIDADE

Foi num dia desses. 
Eram dois irmãos vindos da favela. 
Um deles deveria ter cinco anos e o outro dez.
Pés descalços, braços nus. 
Batiam de porta em porta, pedindo comida. 
Estavam famintos. 
Mas as portas não se abriam. 
A indiferença lhes atirava ao rosto expressões rudes, em que palavras como moleque, trabalho e filhos de ninguém se misturavam. 
Finalmente, em uma casa singela, uma senhora atenta lhes disse: 
-Vou ver se tenho alguma coisa para lhes dar. Coitadinhos. 
E voltou com uma caixinha de leite. 
Que alegria! 
Os garotos se sentaram na calçada. 
O menor disse para o irmão: 
-Você é mais velho, tome primeiro... 
Estendeu a caixa e ficou olhando-o, com a boca semiaberta, mexendo a ponta da língua, parecendo sentir o gosto do líquido entre seus dentes brancos. 
O menino de dez anos levou a caixa à boca, no gesto de beber. 
Mas, apertou fortemente os lábios para que nenhuma gota do leite penetrasse. 
Depois, devolveu a caixinha ao irmãozinho: 
-Agora é a sua vez. Só um pouco, recomendou. 
O pequeno deu um grande gole e exclamou: 
-Como está gostoso. 
-Agora eu, disse o mais velho. 
Tornou a levar a caixinha, já meio vazia, à boca e repetiu o gesto de beber, sem beber nada. 
-Agora você. 
-Agora eu. 
-Agora você. 
Depois de quatro ou cinco goles, talvez seis, o menorzinho, de cabelo encaracolado, barrigudinho, esgotou o leite todo.
Sozinho. 
Foi nesse momento que o extraordinário aconteceu. 
O menino maior começou a cantar e a jogar futebol com a caixinha. 
Estava radiante, todo felicidade. 
De estômago vazio.
De coração transbordando de alegria. 
Pulava com a naturalidade de quem está habituado a fazer coisas grandiosas sem dar importância. 
Observando aqueles dois irmãos e o Agora você, Agora eu, nossos olhos se encheram de lágrimas. 
Que lição de felicidade. 
Que demonstração de altruísmo. 
O maior, em verdade, demonstrou, pelo seu gesto, que é sempre mais feliz aquele que dá do que aquele que recebe.
Este é o segredo do amor. 
Sacrificar-se a criatura com tal naturalidade, de forma tão discreta, que o amado nem possa agradecer pelo que está recebendo. 
Enquanto os dois irmãos desciam a rua, cantarolando, abraçados, em nossa mente vários ensinos de Jesus foram sendo recordados. 
Fazer ao outro o que gostaria que lhe fosse feito. 
O óbolo da viúva. 
Amai-vos uns aos outros... 
* * * 
Coloca, nas janelas da tua alma, o amor, a bondade, a compaixão, a ternura para que alcances a felicidade. 
Amando, ampliarás o círculo dos teus afetos e serás, para os teus amigos, uma bênção. 
Faze o bem, sempre que possas. 
E, se a ocasião não aparecer, cria a oportunidade de servir.
Deste modo, a felicidade estará esperando por ti. 
Redação do Momento Espírita, com base em história de autoria ignorada. 
Em 24.11.2016.

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

PÁTRIA - UM LUGAR PARA AMAR

Giuseppe Fortunino Francesco Verdi foi um compositor de óperas do período romântico italiano. 
Considerado, então, o maior compositor nacionalista da Itália.
Foi um dos compositores mais influentes do século XIX. 
Suas obras são executadas com frequência em casas de ópera em todo o mundo e, transcendendo os limites do gênero, alguns de seus temas estão, há muito, enraizados na cultura popular. 
Entre esses, Va, pensiero, o coro dos escravos Hebreus, da ópera Nabucco
Nabucco é uma ópera em quatro atos, escrita em 1842. 
Conta a história do rei Nabucodonosor da Babilônia. 
Por ter sido escrita durante a ocupação austríaca no norte da Itália, dadas as tantas analogias que apresenta, suscitou o sentimento nacionalista italiano. 
O coro dos escravos hebreus, no terceiro ato da ópera, tornou-se uma música-símbolo do nacionalismo italiano da época. 
No mês de março de 2011, no Teatro da Ópera de Roma, esse coro levou os cantores e músicos à muita emoção.
E o público presente, ao delírio, numa grande demonstração de fé patriótica. 
O maestro Riccardo Muti acabara de reger o célebre coro dos escravos, Va, pensiero. 
O público aplaudia incessantemente e bradava bis! 
O maestro, então, se volta para a plateia e recorda o significado patriótico do Va, pensiero que, além de sua intrínseca beleza, que é inexcedível, tem enorme apelo emocional, até hoje, entre os italianos. 
Riccardo pede ao público presente que o cante agora, com a orquestra e o coro do teatro, como manifestação de protesto patriótico contra a ameaça de morte contida nos planejados cortes do orçamento da cultura. 
Ele rege o público, enquanto a orquestra e o coro se irmanam na execução do hino, cujos versos podemos assim traduzir:
Voa, pensamento, com tuas asas douradas. 
Voa, pousa nas encostas e no topo das colinas, onde perfumam mornas e macias as brisas doces do solo natal!
Cumprimenta as margens do rio Jordão, as torres derrubadas de Jerusalém... 
Oh, minha pátria tão bela e perdida! 
Oh, lembrança tão cara e fatal! 
Harpa dourada dos grandes poetas, por que agora estás muda? 
Reacende as memórias no nosso peito, fala-nos do bom tempo que foi! 
Traduz em música o nosso sofrimento, deixa-te inspirar pelo Senhor para que nossa dor se torne virtude!
As câmeras passeiam pela plateia, mostrando a emoção, a unção. 
Quem sabia a letra, cantou.
Quem não a sabia, acompanhou a melodia. 
Foi uma verdadeira prece. 
Prece ao Senhor, rogativa às autoridades. Um exemplo de patriotismo. 
Um maestro que clama, chora e concita o povo a bradar pela manutenção do bom, do belo, da cultura. 
Alguém que, consciente da sua cidadania, vai além do seu dever como artista. 
Serve-se do palco, da plateia, para esclarecer, para despertar consciências, para lutar pelo ideal que defende. 
Que se repitam no mundo, em todas as nações, tal grandioso exemplo para que não se percam as raízes, para que se preserve a cultura, a arte, o belo. 
Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita, v. 33, ed. FEP. 
Em 15.11.2023.

quinta-feira, 16 de novembro de 2023

QUANDO A VIDA NOS SURPREENDE

É interessante observarmos como fatos nos acontecem, mudando totalmente o rumo das nossas vidas. 
Fatos bons, tristonhos, fatos que nos abalam. 
Também existem outros não estrondosos, que nos levam a alterar nossa maneira de pensar. 
Sobretudo, a aprendermos a não julgar nada, nem ninguém, na primeira olhadela. 
Sabemos disso mas parece irresistível, não é mesmo?
Vemos alguém, medimos de alto a baixo e pronto: já fizemos a nossa análise e desenhamos o seu retrato. 
Antes mesmo da pessoa abrir a boca, a julgamos. 
Isso nos lembra de quatro amigos, que gostavam de sair juntos para festas, passeios, caminhadas, tardes de sábado.
Em certo final de semana, resolveram acampar. 
Aprontaram suas mochilas com tudo que, na sua inexperiência, acreditaram seria importante para uns dois dias. 
Em local afastado da cidade, próximo a um rio, montaram a barraca. 
À noite foram surpreendidos pela chuva. 
O aguaceiro, que desabou torrencial, revelou-lhes a total falta de preparo: o rio subiu de nível muito depressa, a enxurrada desceu com intensidade e a barraca, colocada num declive, se encheu de água.
Ao amanhecer, preparando-se para voltar para casa, após o passeio mais que frustrado, descobriram que nada tinham para o café da manhã. 
Tudo havia sido levado pela inundação da madrugada. 
Ao longe, viram uma casa, pobre, com a pouca pintura bastante descascada. 
Um dos rapazes propôs que fossem lá pedir algo para ingerirem. 
-Se formos – disse outro - o risco é os donos da casa nos pedirem ajuda. Olhem o estado da casa: não devem ter nada.
Enfim, um deles decidiu ir até o casebre. 
A jovem senhora, que o atendeu, ouviu o relato do ocorrido na noite anterior, que precisavam algo para comer, antes da caminhada de volta para a cidade. 
Ela perguntou quantos rapazes compunham o grupo. 
Depois, pediu que ele aguardasse. 
E desapareceu no interior da casa. 
Impaciente, o jovem voltou ao local do acampamento.
Começaram a organizar as mochilas. 
O jeito mesmo era andar, para chegar na estrada e, quem sabe, encontrar um local, não muito distante, em que pudessem obter algum alimento. 
Então, viram uma menina que vinha ao encontro deles. 
As roupas estavam gastas, conquanto perfeitamente limpas.
Nos pés, chinelinhos de cores diferentes. 
Trazia, nas mãos, pequena bandeja, com um bule e quatro copos, de diversos tamanhos. 
Ao lado, quatro biscoitos, um para cada um deles. 
A emoção tomou conta daqueles moços. 
A dona da casa havia lhes enviado o que de melhor poderia ofertar. 
Talvez, tudo o de que ela dispunha, organizado em perfeita apresentação. 
Tomaram o café quente, agradeceram à pequena portadora, que saiu feliz por cumprida sua missão. 
Retomaram a estrada, pensativos. 
Havia sido mesmo um grande passeio. 
Tinham encontrado alguém que jamais os vira, nunca mais tornaria a vê-los e, no entanto, os havia tratado, não como forasteiros, mas, como pessoas que batem à porta, pedindo auxílio. 
Ela não perguntou de onde vinham, para onde iriam depois.
Nem disse de como deveriam ser mais previdentes e cuidadosos. 
Apenas deu o melhor que tinha. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 25, do livro 52 lições inesquecíveis, de Patrícia Carvalho Saraiva Mendes, ed. FEP. 
Em 16.11.2023.

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

A LIÇÃO DAS TRAÇAS

O escritor Wallace Leal Rodrigues apresenta em sua obra E, para o resto da vida, grandes tesouros para crianças e adultos. 
Num dos capítulos, ele recorda de uma das lições de seu pai:
-Meu pai era um homem frugal e bom. Ensinou-me, desde muito cedo, a entreter-me com as coisas aparentemente mais simples. Um dos meus passatempos em criança era colecionar os casulos das traças e assistir, na primavera, à emersão das borboletas, espetáculo - para mim – de arrebatadora beleza. A luta delas para escapar do cárcere despertava, sempre, minha compaixão. E um dia, com uma tesoura muito fina, papai veio e cortou a parede sedosa do casulo, ajudando o bichinho a se soltar. A borboleta, daí a um instante, estava morta. Era como se o trabalho fosse necessário à garantia de sua vida. 
-“Filho” – disse papai -, “o esforço com que essa traça procura libertar-se do casulo ajuda-a a segregar os venenos do corpo. Se o veneno não for expulso, o bichinho morrerá. 
O mesmo ocorre com a gente: quando uma pessoa luta por aquilo que deseja torna-se melhor e mais forte. 
Mas, quando as coisas se realizam sem esforço, nos tornamos fracos, pusilânimes, sem personalidade.
E parece que alguma coisa morre dentro de nós.
-Sei, hoje, que fui mais capaz de sustentar-me na adversidade, graças à lição tão profunda e tão viva que meu pai soube dar-me naquele dia. E tudo se deveu a uma pequenina traça morta... 
* * * 
Num mundo onde ainda se busca a vitória fácil, os ganhos materiais sem esforço e o sucesso instantâneo, a lição da traça é deveras importante. 
É o esforço em conseguir algo que nos faz grandes. 
O valor maior das verdadeiras conquistas não está apenas na conquista em si, mas em todo trabalho, em todo caminho que se percorreu para se chegar lá. 
Assim também é a felicidade – uma construção. 
Mesmo o sofrimento, tão temido por nós, é uma bênção, pois ele nos amadurece, colore a alma de tons de extrema beleza e nos proporciona crescimento estruturado, sem ameaça ou fragilidade que possibilite pensar na volta. 
O trabalho é recurso abençoado que temos para expulsar de nós os venenos do orgulho e do egoísmo, e nos oferecer voo seguro após termos rompido – com nossa própria luta – o casulo de nossa ignorância. 
Todo trabalho é sagrado, quando nos coloca como peça útil no meio social onde estamos inseridos, assim, todo trabalho digno é valioso e faz parte desse nosso processo de burilamento espiritual. 
A lição da traça é a do trabalho e da resistência. 
Quando achamos que as dores da vida, as provas difíceis e as vicissitudes diárias estão exaurindo nossas forças, tenhamos em mente que, em verdade, estão diluindo nossos tóxicos interiores e nos purificando a alma aprendiz. 
Cada luta, cada dia resistido com bravura, é uma pequena fenda que se abre no casulo de nossa inferioridade moral, mostrando-nos a luz de dias melhores. 
Trabalhemos com dedicação e amor. 
Resistamos às adversidades, tendo a certeza de que estão nos fazendo mais fortes. 
Enxerguemos no sofrer um recurso das leis divinas para o nosso amadurecimento como Espírito imortal que somos.
Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. A traça, do livro E, para o resto da vida, de Wallace Leal V. Rodrigues, ed. O Clarim. 
Em 21.1.2019.

terça-feira, 14 de novembro de 2023

FAXINA DE TODO DIA

EMMANUEL
ANDRÉ LUIZ
CHICO XAVIER
Toda casa bem cuidada espera uma boa faxina pela manhã.
Tomemos essa referência para a casa da alma e atentemos para alguns conselhos importantes: 
-Comecemos o dia buscando esquecer as ocorrências infelizes da véspera. A faxina começa por aí. A casa necessita desse tipo de cuidado. Retirar resíduos dos eventos ruins do dia anterior. Se a imagem de alguém, que nos machucou, permanece em nossa mente, inquietando-nos, envolvamos essa pessoa no bálsamo de uma prece. Uma chaga no corpo exige esse tipo de recurso cicatrizante. Joguemos no cesto do esquecimento boatos e injúrias recebidas ou ouvidas. A moradia claramente limpa reclama a presença do esgoto. Então, tudo aquilo que nos faz mal deverá ser dirigido para lá. Evitemos iniciar assuntos que façam alusão à delinquência, à criminalidade e a notícias deprimentes. Ninguém lava as mãos num vaso de lama. Sirvamo-nos do calor do trabalho para dissipar tentações. A ocupação nobre nos salva da hora vazia, perigosa para a alma imatura e seus muitos vícios morais em tratamento. Não permitamos, pela inatividade, que se criem teias de aranha em nossas horas. Busquemos eliminá-las com o espanador de ações úteis. Evitemos comentários deprimentes. Resguardemos o coração nas fontes superiores, pensemos no bem e procuremos falar e agir para o bem. Servir ao bem dos outros é a melhor forma de atividade preventiva contra enfermidades, evitando acúmulo de lixo tóxico em nossa casa mental. Que possamos promover diariamente esta faxina preventiva, antes da instalação de focos de fungos ou de sujeiras de difícil limpeza no coração. Recebamos cada novo dia com gratidão, dando a tudo e a todos uma nova chance, lembrando que nosso maior compromisso é conosco mesmo. Uma casa mental bem cuidada dura mais. Uma casa mental tratada com capricho, esmero, consegue receber melhor as visitas e fazê-las se sentirem bem. Uma casa mental agradável proporciona alegria de viver, amor à vida, estímulo constante, e nos protege contra as investidas sorrateiras do desânimo, da descrença e do desamor. O trabalho da faxina da alma não é difícil como parece e traz benefícios imediatos. Por outro lado, o acúmulo de detritos, o descuido, a indiferença, só nos trazem arrependimento e dores desnecessárias. Dessa maneira, estabeleçamos como regra começar o dia com uma prece. E terminá-lo também com uma prece. Não consideremos isso como um ritual, mas como uma disciplina de higiene. Da mesma forma que mantemos a disciplina com a higiene do corpo, com o banho diário, a escovação dos dentes após as refeições, estabeleçamos disciplina para nossa alma. Mantenhamos, através da oração, o contato com a Espiritualidade superior e perceberemos a faxina sendo feita, as boas intuições que começam a surgir. Perceberemos que podemos contar com esse grande instrumento sempre que desejarmos. A faxina de todo dia é o cuidado da alma. Se desejamos viver melhor, pensemos um tanto mais sobre isso.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Anotações preventivas, do livro Busca e Acharás, pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. FEB. 
Em 13.11.2023.

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

A LIÇÃO DAS GAIVOTAS

MALBA TAHAN
Um enorme transatlântico partiu de movimentado porto rumo a outro continente. 
Do convés, os passageiros acenavam lenços e agitavam mãos, em manifestações de adeuses. 
No porto, muitas pessoas acenavam igualmente e lançavam beijos ao ar, num misto de antecipada saudade e carinho.
Pouco depois, os que se encontravam no convés, ainda observando os que permaneciam em terra, puderam constatar uma nuvem de gaivotas prateadas acompanhando o imenso navio. 
O seu voo atraiu a atenção de quase todos, tanto pela algazarra que promoviam, quanto pelo capricho de suas voltas, ao redor da enorme máquina concebida pelo homem.
Passada uma meia hora de viagem, o tempo se tornou ameaçador. 
Ondas de espuma se levantavam ao açoitar dos ventos violentos. 
Esboçou-se no firmamento uma tremenda tempestade. 
Com suas possantes máquinas, o navio cortava as vagas agitadas e parecia fazê-lo com dificuldade, dada a presença dos elementos da natureza em convulsão. 
Um dos poucos viajantes que até então permanecia no tombadilho, contemplou as aves a voejar e as lastimou. 
-Como podiam elas, com suas asas tão débeis, lutar contra o tufão, desamparadas nos céus? 
Elas nada tinham além do próprio corpo para enfrentá-lo.
Suas asas resistiriam ao vento implacável, se o possante navio, com suas máquinas que representam milhares de cavalos resistia com dificuldade ao tempo torrencial? 
De repente, aquele homem que estava tão compadecido das avezinhas do mar, ficou perplexo. 
É que as pequenas gaivotas, estendendo as asas que Deus lhes deu abandonaram o navio na tempestade e se ergueram acima da tormenta, passando a voar numa região serena dos ares. 
E a máquina, representando a ciência humana, prosseguiu na sua luta penosa para resistir à fúria dos elementos. 
* * * 
Em nossas vidas ocorre de forma semelhante. 
Quando pretendemos lutar unicamente com nossos próprios meios, encontramos o fustigar dos ventos das dificuldades atrozes, que vergastam a alma e maceram o corpo. 
Contudo, se utilizarmos os recursos da oração alcançaremos as possibilidades das asas das gaivotas. 
Pelas asas poderosas da prece, o homem pode se elevar acima das tempestades do cotidiano e voar placidamente.
Envolvidos pelas luzes da prece, alcançaremos regiões que o vendaval das paixões inferiores não alcança.
Fortificados pela oração, enfrentaremos o mar agitado dos problemas, a fúria das vicissitudes, e chegaremos ao porto seguro que todos almejamos. 
* * * 
Quando o triunfo nos alcançar ou quando sofrermos aparentes quedas, busquemos Jesus e falemos sem palavras ao Seu coração de Mestre e Amigo. 
Condutor vigilante de nossas almas, Ele assumirá o leme da frágil embarcação das nossas vidas, permitindo-nos singrar o mar agitado das nossas dores, com coragem e segurança. 
A medida ideal será sempre orar antes de agir, a fim de evitar que procedamos de forma imprevidente, o que nos conduziria ao desespero e a maior soma de dores. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. A tempestade e as gaivotas, do livro Lendas do céu e da terra, de Malba Tahan, ed. Melhoramentos e no verbete Oração, do livro Repositório de sabedoria, v. 2, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. 
Em 16.1.2019.