sábado, 30 de setembro de 2023

LUZ DO MUNDO

Jesus, o Mestre dos mestres, tinha sempre palavras de estímulo aos que O seguiam. 
Ninguém como Ele utilizou de forma tão excelente as palavras de incentivo a quem pretendesse estar com Ele. 
É assim que nos credencia a herdeiros do Universo, pois que somos filhos do Pai que tudo criou. 
Bem como nos chama de Filhos da Luz, ramos da videira, aqueles que podem fazer tudo o que Ele fez e muito mais.
De forma amiúde, ficamos nos questionando a respeito de algumas de Suas afirmativas. 
Por nos considerarmos tão pequenos, tão distantes da grandeza de que Se reveste o Mestre de Nazaré, indagamo-nos se Ele estaria certo ao nos ofertar tais credenciais. 
Filhos da Luz? 
Nós, que nos sentimos ainda tateando em sombras densas?
Andar no mundo como Filhos da Luz, enquanto temos luz? 
De que luz dispomos? 
De que intensidade é nossa luz? 
Então, nos lembramos do valor de um fósforo em plena escuridão. 
Quando a escuridão se faz porque a energia elétrica sofre uma pane, como a luz débil de um fósforo faz a grande diferença. 
Disse alguém que nos podemos considerar como um fósforo aceso. 
Sim, a chama não ilumina grande distância, mas faz a diferença entre a escuridão total e uma pequena claridade.
Claridade que nos retira, por breves segundos, embora, da insegurança total das trevas. 
Claridade que nos permite ver o outro, perceber que não estamos sós, que mais alguém compartilha conosco daquela situação. 
E nos darmos as mãos. 
Claridade que nos permite ir buscar uma lanterna, uma vela, um lampião. 
Ou, se nada disso tiver por perto, acender um outro fósforo. E outro, e mais outro. 
Quem sabe, fazer um clarão maior, enquanto a energia elétrica não se restaura. 
Em se tratando da sociedade, podemos imaginar o mesmo valor dessa pequena luz. 
Se somos um fósforo de dignidade que se acende quando a corrupção anda à solta, fazemos a diferença. 
Porque a nossa chama mostra a outros o nosso valor e motiva a que os demais resolvam acender a sua própria chama. 
Se, em meio à indiferença geral, somos o fósforo que aquece a alma e a vida de quem sofre; se, em meio à covardia moral, mostramos a luz da correta conduta; se, enfim, somos a pequenina chama da amizade, da justiça, da fé, quanta luz espalharemos por onde passarmos? 
Tinha, portanto, toda razão Jesus ao nos estimular a andar no mundo como Filhos da Luz, andar enquanto tivermos luz. 
* * * 
A luz ilumina onde se apresente e mostra cores, onde somente havia trevas. 
Mostra pessoas onde somente havia solidão. 
Acena esperança onde grassa a infelicidade. 
Pensemos nisso e atendamos ao incentivo do Mestre de Nazaré. 
Não nos preocupemos com a chama pequena, oscilante ou de duração rápida. 
Mostremos nossa luz. Mesmo que somente seja para acender outra luz. 
Será a nossa contribuição para o mundo de alegrias, risos e cores que todos desejamos para nós, para nossos filhos, para as gerações futuras. 
Redação do Momento Espírita Disponível no CD Momento Espírita, v. 13, ed. FEP. 
Em 30.9.2023.

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

DEIXAR A REDE E O BARCO

Khalil Gibran
Eu estava à margem do lago da Galileia quando vi pela primeira vez Jesus, meu Senhor e meu Mestre. Meu irmão André estava comigo. Jogávamos nossa rede nas águas. Como as ondas estavam altas e fortes, pegávamos poucos peixes. Isso nos entristecia. De repente, Jesus apareceu do nosso lado, como se tivesse Se materializado naquele mesmo instante, pois não O vimos se aproximar. Chamou-nos por nossos nomes e disse: 
-“Se me seguirdes, vos conduzirei a uma enseada cheia de peixes.” 
Ao olhar para Seu rosto, a rede caiu de minhas mãos, pois uma chama se acendeu dentro de mim e O reconheci.
-“Conhecemos todas as enseadas desta costa” – disse meu irmão André. 
-“Sabemos que num dia de vento como este os peixes buscam uma profundidade que está além do alcance de nossas redes.” 
-“Segui-me até a orla de um mar maior. Farei de vós pescadores de homens. Vossa rede jamais ficará vazia.”
Abandonamos nosso barco e nossa rede e O seguimos. Pessoalmente, fui atraído por uma força invisível que O acompanhava. Caminhei a Seu lado, com uma emoção de tirar o fôlego, completamente embevecido, e meu irmão André vinha atrás, impressionado. Enquanto andávamos na areia, tomei coragem e disse a Ele: 
-“Senhor, eu e meu irmão seguiremos Teus passos aonde quer que vás.” 
 * * * 
Pedro relata, emocionado, seu primeiro encontro com Jesus.
A sua humildade e de seu irmão deve ser exemplo para nós.
Eram pescadores experientes, conheciam aquelas águas e o comportamento dos peixes, mas, diante de Alguém Maior, simplesmente ouviram. 
Sentiram, no profundo da alma, que Aquele Visitante era diferente. 
E confiaram. 
Ele entendia de peixes, de oceanos, e muito mais. 
A pesca era a atividade de subsistência daqueles homens simples. 
Era tudo que possuíam para garantir a vida material da família e, mesmo assim, perceberam que a proposta dAquele Homem era muito maior. 
Será que estaríamos preparados para ouvir uma proposta como essa? 
Será que estaríamos preparados, hoje, para abandonar nossa rede e nosso barco e seguir Jesus? 
Não nos referimos aqui ao abandono do emprego, a deixar ao acaso os que dependem de nós, de forma alguma. 
Não é isso. 
É um outro tipo de deixar a rede e o barco. 
É muito mais uma atitude íntima de confiança, de dar prioridade a outras áreas da vida. 
Deixar a rede e o barco talvez possa ser entendido como dar mais valor às questões do Espírito do que às da matéria.
Fazer isso com ações, com ajustes nos passos, nas escolhas e no modo de viver. 
Não permitir que sejamos iludidos pelos valores impermanentes do mundo e seus tantos atrativos, que nos tomam muitas energias. 
Não permitir que as preocupações da esfera da subsistência material nos tire o sono refazedor, nos leve para longe dos nossos amores e nos prive de momentos tão valiosos da existência. 
Pensemos: se hoje recebêssemos essa proposta de deixar a nossa rede e o nosso barco, o que isso poderia significar para cada um de nós.
Lembrando que a proposta não vem de uma nova seita, de um modismo. 
Ela vem dAquele em Quem mais confiamos, nosso Exemplo e Guia: é uma proposta de Jesus. 
Redação do Momento Espírita com base no cap. Simão, que foi chamado de Pedro, do livro Jesus, o filho do Homem, de Khalil Gibran, ed. L&PM 
Em 29.9.2023.

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

LIBERDADE, A GRANDE DÁDIVA

O poeta Medeiros e Albuquerque, ao escrever os versos do Hino à Proclamação da República do Brasil, colocou como estribilho: 
Liberdade! Liberdade! 
Abre as asas sobre nós! 
Das lutas na tempestade, 
dá que ouçamos tua voz! 
Liberdade é o grau de independência de um cidadão ou de uma nação. 
Em filosofia pode ser compreendida como a ausência de submissão e de servidão. 
A autonomia e a espontaneidade de uma pessoa. 
A Revolução Francesa de 1789 estabeleceu no artigo primeiro da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. 
Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade. 
A partir de 10 de dezembro de 1948, a Organização das Nações Unidas, em sua Declaração Universal dos Direitos Humanos estabeleceu que os homens nascem e são livres e iguais em direitos. 
As distinções sociais só podem fundamentar-se na utilidade comum. 
Liberdade é uma grande dádiva. 
E somente lhe damos o devido valor, quando a perdemos.
Uma holandesa, que foi prisioneira durante a Segunda Guerra Mundial, diz que a sua memória da libertação é mais forte do que qualquer coisa. 
No dia 8 de maio de 1945, pela manhã, os alemães abandonaram o campo de concentração. 
Então, trabalhadores escravos entraram nos galpões de prisioneiros e deram a notícia: 
Estavam livres. 
Podiam entrar e sair. 
A guerra tinha chegado ao fim. 
Ela diz que se sentiu crescer, como se tivesse ficado mais alta. 
Ficou com a coluna ereta, a cabeça erguida, alongando o corpo. 
Para ela, aquele foi o dia mais lindo da sua vida. 
Poder alongar-se, sentir o corpo, o rosto virado para o sol, ser tomada pela sensação de que tudo havia acabado, de que ela havia sobrevivido. 
Era impossível descrever o sentimento intenso de felicidade se espalhando pelo seu interior. 
Estava livre. 
Os que as aprisionavam haviam ido embora. 
O que fazer, agora? 
Ela recorda que havia pilhas de areia ao lado dos galpões.
Eram pilhas que as prisioneiras tiveram que montar com muita precisão, ajustando até com as mãos. 
Naquele momento de alegria, ela e as companheiras pularam e pularam em cima delas. 
E o grande comentário era que ela, Bloeme Evers-Emden, a holandesa, filha de um lapidador de diamante e uma costureira, havia predito que no primeiro dia ensolarado de maio chegaria a libertação. 
Ela mesma não sabia porque dissera aquilo. 
Brotara espontaneamente dos seus lábios, de dentro para fora. 
Com certeza, um mensageiro celeste lhe assoprara aos ouvidos, para que permanecesse acesa a chama da esperança naqueles corações tão maltratados. 
Felicidade era a tônica daquele momento. 
Tanta que elas nem sabiam como expressá-la. 
Correr, cantar, abraçar, entrar e sair do campo de concentração. 
Era uma alegria inigualável.
* * * 
Liberdade! 
Tesouro extraordinário. 
Já pensamos em como somos felizes em poder andar pelas ruas, termos o direito de ir e vir? 
Reclamamos de tantas coisas: do salário, da saúde que anda um pouco abalada, do frio, da chuva, da tempestade, do calor... 
Lembremos dessa liberdade nossa de todos os dias e a valorizemos. 
E a preservemos. 
Pensemos nisso e agradeçamos a Deus termos as asas da liberdade abertas sobre nós, neste imenso país continental chamado Brasil. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Bloeme Evers-Emden, do livro Os sete últimos meses de Anne Frank, de Willy Lindwer, ed. Universo dos Livros. 
Em 08.03.2019

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

UMA PESSOA ESPIRITUALIZADA

Gustavo Tanaka
Quando se fala em pessoa espiritualizada, quase sempre o que vem à mente é alguém que desperta orando, faz meditação e somente tem falas amenas, doces. 
Mas a vida nos exige trabalho, ação. 
Então, dizemos que nunca seremos uma pessoa espiritualizada. 
Será assim mesmo? 
Lembremos de Jesus, o Divino Amigo. 
Alguém mais espiritualizado do que Ele, que se afirmou o Caminho da Verdade e da Vida? 
Ele comungava de tal forma com Deus, que dizia: Eu e o Pai somos um. 
Mas, viveu entre os homens um pouco além de três décadas.
Pessoa espiritualizada é uma pessoa boa. 
Boa mãe, bom pai, bom vizinho, bom cidadão.
É uma pessoa que entendeu como fazer o bem e aplica isso todos os dias em suas relações. 
Fazer o bem não é apenas deixar de fazer o mal. 
Podemos afirmar que não agredimos as pessoas, não maltratamos ninguém.
Isso não é fazer o bem. 
É somente não praticar o mal. 
Fazer o bem também não se trata apenas de dar coisas, de limpar os armários e passar adiante o que não nos serve, o que enjoamos de tanto usar, o que está tomando lugar nas prateleiras e nos cabides. 
Fazer o bem é uma escolha que acontece todos os dias, a todo instante. 
É algo que exige uma mudança de comportamento e uma intenção seguida de uma ação. 
Podemos despertar pela manhã e começar cumprimentando o dia, que se renova para nós. 
Providenciar alguns grãos para os amigos alados que sobrevoam o ar ou se aninham na árvore próxima. 
Podemos lembrar de colocar um recipiente com água para que saciem a sua sede, depois dos trinados da madrugada.
Ao transitarmos de carro, permitir que o veículo que vem por outra rua, mesmo que estejamos na preferencial, possa entrar em nossa frente. 
Uma gentileza para ele não ter que esperar e esperar para adentrar a via principal. 
E, enquanto estamos levando nossas saudades a passear, cumprimentemos quem passa por nós. 
Pode ser que alguns nem respondam. 
Não importa. 
Nós lhes enviamos nossas melhores vibrações. 
São muitas e pequeninas coisas que podemos fazer nas horas diárias. 
Coisas que dirão de como estamos nos importando com nosso próximo, com tudo que nos cerca. 
Ou seja, trabalhando a nossa Espiritualidade. 
Lembrando que somos todos seres espirituais, em uma jornada de alguns anos, neste mundo. 
Uma excelente oportunidade de criar laços de simpatia, de amizade, para os reencontrar, quem sabe, quando sairmos desta para a outra vida. 
Realizar uma tarefa doméstica, sorrir para alguém, fazer uma declaração de amor a quem está conosco, todos os dias, ano após ano. 
Algo breve, espontâneo, que brota da intimidade: 
-Amo você! Você é muito importante em minha vida! Você coloca luz nas minhas horas! 
E não economizar elogios. 
Verdadeiros. 
Elogios a pessoas, ao animal doméstico que nos homenageia com seus olhos de felicidade, com faceirice nos gestos, como a dizer: 
-Estou aqui. Gosto de você. 
Elogios à criatividade divina que a cada dia mostra uma nova tela nos céus, coloca diferentes cores na vida e compõe uma inédita sinfonia com a passarada, nas manhãs de luz. 
Pessoa espiritualizada. 
Comecemos hoje nosso ensaio. 
Redação do Momento Espírita, com base no Artigo A retidão, de Gustavo Tanaka, da Revista Vida Simples, ano 20, edição 247, ed. Vida Simples. 
Em 27.9.2023.

terça-feira, 26 de setembro de 2023

AS ÁGUAS DO RIO LÉTHE

Na obra A República, do filósofo Platão, encontramos uma interessante narrativa. 
Trata-se de um guerreiro, chamado Er, morto em batalha. 
Dez dias depois, ele retorna à vida e relata sua experiência no mundo além da morte. 
Conta como as almas são julgadas e encaminhadas a diferentes destinos após sua existência na Terra. 
As almas virtuosas são recompensadas com uma vida de felicidade e as más são punidas com sofrimento. 
Descreve, ainda, o que seria o ciclo de reencarnações das almas, onde cada uma escolheria uma nova vida com base nas suas ações e escolhas passadas. 
A descrição é bastante detalhada, citando, inclusive, o processo de beber das águas do rio Léthe, o rio do esquecimento. 
Antes de renascer, cada alma deveria beber um tanto de água, perdendo mais ou menos a memória de suas vidas anteriores. 
Essa narrativa, registrada pelo fiel discípulo de Sócrates, data de trezentos e oitenta anos antes da Era Cristã, no coração da Grécia. 
Os mitos eram fábulas, histórias, parábolas, utilizadas pelos povos gregos para explicar fatos e fenômenos da natureza. 
O mito de Er apresenta conhecimentos importantes e destacamos a visão de Sócrates e Platão sobre a imortalidade da alma e a pluralidade das existências. 
No século XIX, o Espiritismo fala dessas realidades e estuda o processo do esquecimento do passado, mostrando como tal fenômeno se faz importante para o ser, principalmente no estado evolutivo em que nos encontramos. 
Alguns nos perguntamos: 
-Por que precisamos perder a lembrança do passado? Não seria melhor que lembrássemos exatamente de quem fomos e do que fizemos? 
A Sabedoria Divina estabeleceu, no entanto que o homem não pode e nem deve saber de tudo. 
Sem o véu do esquecimento, que lhe encobre certas coisas, o homem ficaria ofuscado como aquele que passa sem transição da obscuridade para a luz. 
Pelo esquecimento do passado, ele é mais ele mesmo.
Precisamos esquecer muitas coisas para que o processo de renovação se faça mais exitoso. 
Não teríamos estrutura emocional para recordar de muitos acontecimentos, e tais lembranças vivas colocariam a perder a valiosa chance da nova encarnação. 
Se mesmo sem recordarmos com clareza, tal passado já nos influencia e, por vezes, promove distúrbios de difícil tratamento, imaginemos ter recordações claras como a do dia anterior. 
Reconheçamos, portanto, a Sabedoria de Deus ao nos bloquear as lembranças. 
Confiemos. 
É melhor que seja assim. 
Beber do rio do esquecimento nos proporciona começar de novo, sem permitir que os fantasmas do passado tenham domínio sobre nós. 
Beber das águas do rio Léthe é parte da sabedoria e bondade das leis divinas, que nos fazem retornar à vida corpórea com aspecto de primeira vida, de vida nova. 
É a nova chance que nos permite crescer, fazer melhores escolhas, realizar ajustes nas relações, e, principalmente, perdoarmo-nos pelos desatinos cometidos no passado. 
A cada nova existência o homem aprimora sua inteligência e pode melhor distinguir o bem do mal. 
Aproveitemos mais esta grandiosa oportunidade que nos foi dada. 
Redação do Momento Espírita, com base na pt. 2, cap. VII, q. 392 de O livro dos Espíritos, de Allan Kardec, ed. FEB. 
Em 26.9.2023.

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

UM LEVE TOQUE

Willy Lindwer
Nós a vimos na rua, com seu carrinho de madeira carregado de material reciclável, onde se sobressaía uma elevada carga de papelão. 
Ficamos a imaginar o peso de tudo aquilo. 
Também pensamos na destreza, para conduzir aquele transporte, em meio ao trânsito intenso da capital curitibana.
No entanto, o que nos chamou mesmo a atenção foi a atitude daquela mulher. 
A manhã apenas iniciara e ela aparentava ter dormido ao relento. 
Contudo, como se estivesse em sua casa, dispôs-se a fazer sua toalete. 
Sentou-se na beira de um pequeno canteiro de flores, no meio da calçada. 
Num canto do carrinho ela suspendeu um espelho minúsculo e nele ficou se olhando, cuidadosamente. 
Ajeitou o cabelo para trás, apalpou as bochechas, passou a mão pelos olhos, pelas sobrancelhas, como se estivesse em delicado processo de maquiagem. 
Passamos lentamente por ela e a admiramos. 
Aquela mulher puxando aquele carrinho, utilizando muita força, tinha uma autoestima elevada. 
Desejava estar bem, apresentar-se arrumada a quem a encontrasse pelas ruas. Cuidado pessoal, atenção com sua aparência. 
E nos recordamos de um fato narrado por uma sobrevivente holandesa dos campos de concentração alemães. 
Em suas memórias, narra que, chegando ao campo de Birkenau, foi colocada em quarentena, em um tipo de galpão, junto a outras mulheres, das mais diversas nacionalidades: russas, italianas, norueguesas, holandesas e dinamarquesas.
Mas foram as francesas que lhe proporcionaram algo muito positivo. 
Naquele local desumano, em que os nazistas desejavam simplesmente acabar com a dignidade das pessoas, ela as viu encontrarem um pedaço de vidro espelhado e um pequeno pente com três dentes. 
Com isso, elas penteavam as sobrancelhas. 
Depois, prendiam pedaços de pano, na cabeça, à semelhança de lenço, tornavam a se olhar naquele espelho improvisado para conferir se ainda estavam minimamente elegantes.
Essas francesas, que arrumavam as sobrancelhas e escondiam a cabeça totalmente raspada, simplesmente para ter uma aparência melhor, em meio ao caos daquele local, afirmavam sua força em não desistir de sua humanidade. 
Não ceder à pressão de fora para se desumanizar.
* * * 
Cuidar da aparência. 
Atender a mínimos detalhes. 
Isso fala de amor a si mesmo. 
Também fala de estética, de beleza. 
Afinal, quem não aprecia um leve tom de beleza aqui e ali? 
O mundo não dispensa a beleza, em lugar algum. 
Basta que observemos a prodigalidade da natureza: as flores que vestem de forma exuberante suas pétalas e folhas, em sinfonia de cores; as aves que se mostram, orgulhosas de sua caprichosa plumagem de arabescos múltiplos; a erva dos campos que balança verde e graciosa; os animais ferozes com suas listras, pintas, traçados diversos na pelagem curta ou longa. 
Beleza, cuidados. 
Se o divino Pai cuida assim da erva do campo, das flores, dos animais, quanto mais não espera que nós, seus filhos, nos apresentemos à altura da sua filiação? 
Filhos do Pai, zelemos pelo tesouro do nosso corpo e nos apresentemos sempre bem, à imagem e semelhança da grandeza do Celeste Dono Absoluto do Universo. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Janny Brandes – Brilleslijper, do livro Os sete últimos meses de Anne Frank, de Willy Lindwer, ed. Universo dos Livros. 
Em 26.2.2019.

domingo, 24 de setembro de 2023

LEVAR O AMOR

Que eu leve o amor... a mim, em primeiro lugar. 
Que eu leve o amor para dentro de mim, e que todo auto-ódio se converta em chance, em nova chance. 
Que eu me dê novas chances... de amar de novo, de acertar de novo, de dar ao menos um pequeno passo adiante, afastando-me da estagnação. 
Onde houver ódio em mim, que eu leve o amor; não esse amor de plástico, disfarçado de complacência, que mais me engana do que me enobrece. 
Que seja um amor maduro, que proclama seguro: 
-Eu sei quem sou! Eu sei quem quero ser! 
* * * 
Que eu leve o amor... à minha família. 
Onde houver ódio em minha família, que eu leve o amor...
Que eu seja a luz, mesmo que pequenina, a iluminar a escuridão dos dias difíceis em meu lar. 
Que eu leve o amor aos que sofrem em silêncio e não querem falar de suas mazelas. 
Que minhas preces e meu sorriso os guarde em paz... 
Que eu leve o amor quando seja ofendido, maltratado, menosprezado, esquecido. 
Que eu lembre de oferecer a outra face do ensino do Cristo.
Que eu leve o amor quando meus filhos sejam ingratos. 
Que minha ternura não seque tão facilmente. 
Que eu leve o amor quando meus pais não me compreendam e não sejam os pais que gostaria de ter. 
Que minha compreensão desperte de seu sono e perceba que eles buscam acertar, que buscam dar o melhor de si, embora nem sempre tenham êxito. São os pais que preciso. São os pais que me amam. 
Que eu leve o amor quando o romance esfriar e algumas farpas de gelo me ferirem o coração. 
São os espinhos da convivência. 
Não precisam se transformar em ódio se o amor assim desejar. 
Que eu leve o amor... aos meus inimigos. 
Que eu leve o amor mesmo a quem não me tem amor. 
Que eu respeite. 
Que eu compreenda. 
Que eu não me entregue ao ódio tão facilmente. 
Que eu leve o amor aos que me querem mal, evitando aumentar seu ódio com meu revide, com minha altivez. 
Que ore por eles. 
Que lhes peça perdão em prece, mesmo muitas vezes não recordando dos equívocos que macularam seus corações.
Que lhes mostre que ontem errei, mas que hoje estou diferente, renovado, disposto a reconstruir o que destruí. 
Que eu leve o amor... a minha sociedade. 
Que eu leve o amor aos que não conheço, mas que fazem parte de meu mundo. 
Que eu aprenda a chamá-los todos de irmãos... 
Que eu leve o amor ao mundo, perfumando a Terra com bons pensamentos, com otimismo, com alegria. 
Que eu leve o amor aos viciados em más notícias, aos pessimistas, aos que já se entregaram à derrota. 
Que meu amor os faça ver a beleza da vida, das leis de Deus, do mundo em progresso gerido por leis de amor Maior. 
Que eu leve o amor aos carentes, do corpo e da alma. 
Que meu sorriso seja a lembrança de que ainda há tempo para mudar, para transformar. Sou agente transformador. 
Sou agente iluminador. 
Sou instrumento da paz no mundo. 
Que eu leve o amor... 
Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita, v. 22 e no livro Momento Espírita, v. 9, ed. FEP. Em 8.1.2016.

sábado, 23 de setembro de 2023

LESÕES AFETIVAS

CHICO XAVIER
Várias são as lesões que atingem o ser humano durante sua jornada terrena. 
Algumas leves, de fácil cicatrização, outras mais profundas e duradouras. 
Dentre elas vamos encontrar as responsáveis por desatinos de variada ordem, que são as lesões afetivas. 
Fruto do desrespeito que temos uns pelos outros, as lesões afetivas têm ocasionado homicídios, suicídios, abortos, injúrias que dilapidam ou arrasam a existência das vítimas, feridas no afeto que lhes alimentava as forças. 
Quantas lágrimas de aflição, quantos crimes são cometidos na sombra, em nome dessas lesões provocadas nas profundezas da alma.
Esquecendo-nos de que cada criatura leva, em sua intimidade, caracteres próprios, não conseguimos medir suas resistências, nem suas reações diante de uma promessa não cumprida. 
Usando a desculpa do amor livre e do sexo liberado, não temos atentado para as consequências amargas que resultam da nossa falta de respeito ao próximo. 
Na ânsia de satisfazer os desejos carnais, não hesitamos em nos envolver levianamente com pessoas que sentem, tanto quanto nós mesmos, carências de afeto e sede de compreensão e carinho. 
Quantas crianças nascem, fruto desses envolvimentos irresponsáveis, e amargam o abandono e a solidão como filhos rejeitados por um ou outro dos pais, ou pelos dois.
Quantos levam no coraçãozinho a tristeza de não poder pronunciar a doce palavra pai, porque aquele que o gerou não honrou o compromisso, deixando à companheira toda a responsabilidade pela condução da criança. 
Quantos homens e mulheres que juram fidelidade, nos votos feitos por ocasião do matrimônio, e que levianamente os rompem, envolvendo-se com outras pessoas, provocando lesões afetivas inconsequentes. 
Certamente muitos desses delitos não são catalogados pelas leis humanas, mas não passam despercebidos nas Leis de Deus, que exigem dos responsáveis a devida reparação, no momento oportuno. 
É importante que reflitamos acerca desse assunto que nos diz respeito. 
É imprescindível que respeitemos os sentimentos alheios tanto quanto desejamos ter os nossos sentimentos respeitados. 
Se não queremos ou não podemos manter um romance de carinho a dois, não o iniciemos. 
Lembremos que, acima das leis humanas, existem as Leis Divinas, das quais não poderemos fugir, como seres imortais que somos. 
Se as infringirmos, teremos que efetuar a devida reparação mais cedo ou mais tarde. 
E se hoje a carência afetiva nos dilacera a alma, pode ser que estejamos reparando delitos cometidos anteriormente. 
É possível que Deus permita que soframos a falta do afeto que não soubemos valorizar quando tínhamos. 
* * * 
Muitos de nós estamos altamente compromissados com as Leis de Deus, em matéria de amor e sexo irresponsáveis. 
Por esse motivo, mesmo estando casada, grande parte das criaturas sente falta de afeto e carinho, amargando as consequências dos delitos cometidos contra os semelhantes, na área da afetividade. 
Dessa forma, vale a pena valorizarmos os sentimentos alheios, para que no futuro possamos ser merecedores do afeto e da fidelidade que tanto necessitamos. 
Redação do Momento Espírita com base no cap. Lesões afetivas, do livro Momentos de ouro, por Espíritos diversos, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Geem. 
Em 10.05.2010.

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

A ÚLTIMA VIAGEM

Era tarde da noite, quando o taxista recebeu o chamado. 
Ao chegar, ele pensou em buzinar e aguardar. 
Mas imaginou que alguém que chamasse o táxi, tão tarde, poderia estar com alguma dificuldade. 
Saiu do carro, foi até a porta e tocou a campainha. 
Uma senhora idosa, pequena, franzina, com um vestido estampado, abriu a porta. 
Equilibrava-se em uma bengala, e, na outra mão, trazia uma pequena valise. 
Ele olhou para dentro e percebeu que todos os móveis estavam cobertos com lençóis. 
Ele apanhou a mala e ajudou a passageira a entrar no táxi.
Ela forneceu o endereço e perguntou: 
-Podemos ir pelo centro da cidade? 
-Mas o caminho que a senhora sugere é o mais longo- observou o taxista. 
-Não tem importância, afirmou ela, resoluta. Não tenho pressa. Desejo olhar a cidade, pela última vez. Estou indo para um asilo, porque não tenho mais família e o médico me disse que morrerei breve. 
O taxista, que começara a dar partida, desligou o taxímetro, sutilmente. 
Olhou para trás, fixou-a nos olhos e perguntou: 
-Aonde mesmo a senhora gostaria de ir? 
Ele a levou até um prédio, na área central da cidade. Ela mostrou o edifício onde fora ascensorista, quando jovem.
Depois, foram a um bairro onde ela morou, recém-casada, com seu marido. 
Apontou, mais adiante, o clube onde dançou, com seu amor, muitas vezes. 
De vez em quando, ela pedia que ele fosse mais devagar ou parasse em frente a algum edifício. 
Parecia olhar na escuridão, no vazio. 
Suspirava e olhava. 
Assim, as horas passaram e ela manifestou cansaço: 
-Por favor, agora estou pronta. Vamos para o asilo. 
Era uma casa cercada de arvoredo e, apesar do horário, ela foi recepcionada, de forma cordial por dois atendentes. 
Ela se despediu do taxista. 
-Quanto lhe devo? 
-Nada, disse ele. É uma cortesia. 
-Você tem que ganhar a vida, meu rapaz! 
-Há outros passageiros, respondeu ele. 
Sensibilizado, a envolveu em um abraço afetuoso. 
Ela retribuiu com um beijo e palavras de gratidão: 
-Você deu a esta velhinha um grande presente. Deus o abençoe. 
Naquela madrugada, o taxista resolveu não mais trabalhar.
Ficou a cismar: 
-E se ele apenas tivesse tocado a buzina duas ou três vezes e ido embora? E se tivesse recusado a corrida, pelo adiantado da hora? E se tivesse querido encerrar o turno, de forma apressada, para ir para casa? 
Deu-se conta da riqueza que é ser gentil. 
Dois dias depois, retornou à casa de repouso. 
Desejava saber como estava a sua passageira. 
Ela havia morrido, na noite anterior.
* * * 
Por vezes pensamos que grandes momentos são motivados por grandes feitos. 
Contudo, existem coisas mínimas que representam muito para uma vida. 
O importante é estar atento, a fim de não perder essas ricas oportunidades de dar felicidade a alguém. 
Mesmo que seja um simples passeio pela cidade, uma ida ao cinema, uma volta pelo jardim, um bate-papo num final de tarde, atender um telefonema na calada da noite. 
Estejamos atentos para as coisas mínimas, os gestos quase insignificantes. 
Eles podem representar, para alguém, toda a felicidade.
Redação do Momento Espírita, com base em mensagem assinada por Don Rico e datada de 26.7.2005. 
Em 22.09.2023.

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

LENTES DESAJUSTADAS

Era um enorme pavilhão e o evento transcorria com tranquilidade. 
A instituição responsável por sua realização, desde há meses, o planejara e iniciara os preparativos, a fim de que tudo pudesse ocorrer em clima de alegria. 
Para a recepção foram destacados voluntários jovens, que recebiam os participantes com sorrisos, entregando em mãos uma mensagem de otimismo e a programação, em impressos de rica apresentação. 
Para garantir a segurança do público, uma equipe de voluntários maduros e experientes, igualmente dispostos a servir. 
No espaço amplo, com música ambiente, se espalhavam estandes com produtos doutrinários para demonstração, prateleiras com livros, CDs e DVDs para manuseio e aquisição. 
Na praça de alimentação, mesas bem postas, pessoas sorridentes e rápidas no atendimento gentil. 
Pelos corredores, banners informativos, avisos, sinalização adequada de pontos estratégicos das saídas de emergência e outros serviços. 
No auditório, cadeiras alinhadas, uma grande mesa para as autoridades e oradores convidados que iriam se revezar nas palestras e seminários. 
Cada detalhe pensado, atendido. 
Tudo para o conforto dos participantes que por ali estariam circulando durante três dias. 
Orquestra, primeira conferência, aplausos, emoção, sorrisos.
Então, alguém encontrou um casal amigo, foi-lhe ao encontro, sorridente, pronto para um abraço.
E a pergunta surgiu: 
-E aí, estão gostando? 
Para surpresa de quem formulara a questão, a resposta da senhora foi desconcertante: 
-Mais ou menos. 
-Ora, por quê? 
Tornou a perguntar o primeiro, não se deixando contaminar pelo mau humor da senhora que apontou um senão que observara. 
Um item, um único item que ela reputava imprescindível e não fora atendido. 
E descarregou seu descontentamento, em longas e amargas considerações.
* * * 
Assim ocorre em muitas ocasiões com pessoas que têm olhos críticos em demasia. 
São pessoas que somente conseguem ver os pequenos equívocos, descobrir as falhas. 
Pessoas irritadiças, sempre descontentes. 
As lentes dos seus olhos estão assestadas para perceber o que faltou, o que foi esquecido. 
Não se permitem essas criaturas usufruir o belo, o bem, o bom, as bênçãos. 
São pessoas que andam pelas praças perfumadas, verdejantes, cheias de sol, mas somente conseguem ver o galho quebrado de velha árvore. 
Pessoas que vão assistir a um espetáculo de dança, a um concerto e ficam a criticar detalhes de somenos importância, em vez de se deixarem envolver pelo clima da magia da arte.
Pessoas infelizes. 
Pessoas amargas, que acabam afastando amigos, colegas e se tornam solitárias. 
Pensemos nisso e verifiquemos se não estamos nesse triste caminho de quem não consegue descobrir a poesia na paisagem de luz, a música nos sons da natureza e a sinfonia da vida, executada magistralmente pelo Excelso Maestro chamado Deus. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 9.1.2020.

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

A FELICIDADE DO AMIGO

Amizade é uma virtude muito louvada. 
Desde o livro bíblico Eclesiastes se afirma que quem encontrou um amigo encontrou um tesouro. 
Jesus chamou amigos aos apóstolos, compartilhando com eles tudo o que o Pai lhe confiara. 
Ante o gesto de Maria de Betânia, exalta a manifestação pura da amizade. 
Aquela amizade que vê além do superficial e oferta ao amigo o que possui de mais precioso. 
Enquanto todos estavam preocupados com as regras judaicas, com se servir do melhor no banquete, ela percebeu que o Mestre se despedia. 
Eram Seus derradeiros dias sobre a Terra. 
O coração amigo tudo sentiu e por isso ofereceu o que tinha de mais valioso: o perfume de nardo, guardado para a sua noite de núpcias. 
Quantos de nós temos amigos assim? 
Amigos que veem o de que necessitamos sem que nada digamos. 
Esse nos observa a repetir, seguidamente, as mesmas vestimentas e nos providencia melhores vestes. 
Chegam-nos como presentes. 
Aqueloutro se dá conta de que vivemos só e nos prepara uma festa surpresa, com os amigos mais íntimos, para comemorar nosso aniversário. 
Outro ainda percebe a sombra da tristeza que se abate em nossas preces, quando as proferimos no grupo de estudos, os comentários quase melancólicos na explanação do Evangelho e descobre as dificuldades que nos abraçam. 
Então, providencia alimentos para nosso lar, recebe-nos na Casa Espírita com um pequeno lanche, numa sacolinha discreta. 
Amigos. 
Quem pode viver feliz na Terra, sem eles? 
* * * 
Nossa memória nos remete a um fato que envolve dois amigos. Eram um menino e uma menina. Desde os primeiros dias, ainda no jardim de infância, haviam criado esse laço afetivo. Ano após ano seguiam nas mesmas turmas. Ambos alunos brilhantes. Em certa oportunidade, disputaram a mesma vaga, num concurso literário de grande relevância. Haviam se esforçado muito na redação dos textos, dedicado à tarefa dias e dias de concentração e análise. Aguardavam ansiosos pela seleção que a escola faria da produção finalista, que seria remetida à etapa estadual. Grande conquista a quem fosse escolhido! Naquela semana, contavam as horas. Quando, enfim, foi anunciado o resultado, a menina, que fora a vencedora, ficou imóvel e muda. Era o que havia aguardado. Acreditava-se merecedora. Porém, a sua vitória significava a derrota do amigo. Ele se sentiria magoado? Foi quando o menino interrompeu o constrangimento do quadro silencioso, na condição assumida de concorrente não contemplado. Levantou-se, foi até onde estava a vencedora, cumprimentando-a, com muita sinceridade. Naquele olhar, ela somente viu a mais terna alegria. Era demonstração de felicidade real, pela sua vitória. Nada além disso: nem mágoa, nem despeito, nem revolta. Apenas o reconhecimento honesto, pela vitória momentânea de outra pessoa. Dessa maneira, ela pôde comemorar o seu êxito. Seguiram amigos. Outros concursos vieram. Em alguns, ela se sagrou vencedora. Em outros, não. Mas, a partir daquela atitude de verdadeira amizade, jamais se esqueceu de que a felicidade do amigo deve nos felicitar o coração.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 16, do livro 52 Lições inesquecíveis, de Patrícia Carvalho Saraiva Mendes, ed. FEP. 
Em 19.9.2023.

terça-feira, 19 de setembro de 2023

LENHO SECO

Vez ou outra, ante os embates da vida, ouvimos algumas observações descabidas. 
Sobretudo, brotadas de lábios habituados à pregação, ao estudo dos Evangelhos. 
Somos aqueles que, por nos devotarmos a alguma obra assistencial, benemérita, por dispensarmos algumas horas da nossa semana ao trabalho em prol do próximo, nos cremos pessoas generosas, boas. 
Credoras, portanto, das benesses divinas. 
Dessa forma, quando o desemprego bate à nossa porta, clamamos: 
-Onde está Deus que não vê esta injustiça? Como pode Deus permitir que isto me aconteça? Afinal, não me dedico aos outros? Por que Deus não cuida de mim? 
Quando a morte nos arrebata do convívio terreno um dos nossos afetos, entre lágrimas, exclamamos: 
-Deus é injusto. Afinal de contas, faço tanto pelos filhos alheios. Por que Deus não cuidou daquele que eu amo e permitiu que a morte o roubasse de mim? 
Quando a traição, a calúnia nos alcançam, em desespero gritamos: 
-Por que Deus permite tal injustiça? Então não vê que estou dando o melhor de mim ao meu semelhante? 
Ainda não aprendemos, em essência, a nos doarmos de forma integral. 
Ainda somos aqueles que realizamos o bem com esforço e desejamos ser vistos, aplaudidos, benquistos. 
Esquecemo-nos de que o Mestre Jesus, na sua via dolorosa rumo ao Calvário, em se defrontando com as mulheres de Jerusalém a lhe lamentar a morte, falou acerca das tantas dores a que estariam sujeitos os homens. 
-Porque eis que virá tempo em que se dirá: ditosas as estéreis e os seios que não geraram, e os peitos que não amamentaram. Então começarão os homens a dizer aos montes: cobri-nos. Porque, se isto se faz no lenho verde, que se fará no seco? 
A advertência de Jesus é significativa. 
Ele era o lenho verde. 
Pleno de flores e frutos. 
Abundante da seiva da paz. 
E o conduziram à morte. 
Nós somos o lenho seco, carentes de virtudes e incipientes em sabedoria. 
Ainda não adquirimos o colorido do amor nem o perfume da tranquilidade. 
Apenas nos ensaiamos. Imagem significativa a utilizada pelo Mestre de Nazaré. 
O lenho seco tem seus atributos. 
É com o lenho seco que acendemos o fogo para aquecer os ambientes, as pessoas e cozinhamos o alimento. 
É com o lenho seco, devidamente preparado, que erguemos as residências, abrigo para os seres humanos. 
Somos o lenho seco. 
Temos utilidades. 
Servimos, no entanto, trazemos a herança do inverno das paixões de vidas já vividas. 
Recebemos a reencarnação e a oportunidade de trabalho no bem para nossa edificação. 
Contudo, tal condição não nos retira a carga de devedores da lei. 
Assim sendo, reformulemos a conduta. 
Não reclamemos das dores que nos chegam. 
Nem desejemos para nós quaisquer privilégios. 
O mestre, que era puro, recebeu a cruz do martírio, unicamente por lecionar o amor. 
Por nossa vez, seus discípulos, temos uma larga folha de débitos a pagar. 
O sofrimento que nos alcança é justo, correto. 
Em vez de lamentarmos, oremos ao Senhor para que nos dê forças, a fim de alcançarmos a palma da vitória e sigamos, resolutos, como quem sabe que ao final da jornada, 
Ele nos aguarda de braços abertos a nos dizer: 
-Vem, filho. Trabalhaste em minha vinha. Deste do teu suor. Pagaste os teus débitos. Entra no reino de meu Pai que desde muito tempo te está preparado. 
Sirvamos com alegria aos nossos irmãos. 
Afinal, esta é a lei de amor, prescrita pelo Senhor e Mestre de todos nós. 
Redação do Momento Espírita, com transcrição do Evangelho de Lucas, cap. 23, versículos 29 a 31. 
Em 26.05.2017.

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

O "NÃO" QUE NOS BENEFICIA

Quantas vezes, na infância e na adolescência, ficamos literalmente arrasados com as negativas de nossos pais?
Lembramos daquele dia em que os amigos foram para a praia, num carro emprestado.
Todos foram, menos nós porque nosso pai disse que temia que algo ruim pudesse nos acontecer: a estrada era perigosa, o jovem motorista acabara de receber sua habilitação. 
E, olhando aquele bando de adolescentes que brincavam sem parar, temeu alguma imprudência. 
Bom, eles não tiveram um acidente na estrada mas, os exageros na bebida levaram alguns deles para atendimento emergencial. 
Poderíamos ter estado entre eles... 
Lembramos daquele baile que perdemos porque, simplesmente, nossa mãe resolveu, de última hora, que as companhias não eram as mais adequadas. 
Soubemos que o baile foi maravilhoso. 
E nossos amigos se divertiram muito. 
Todos... menos nós. 
Não tivemos notícia de nada ruim ter ocorrido. 
E, durante muito tempo, amargamos decepção e raiva por não termos podido participar. 
Quantos "não" recebemos, pelos mais diversos motivos. 
Num dia, a festa era inadequada porque aconteceria na véspera de uma prova de matéria na qual andávamos mal.
Então, precisávamos ficar estudando. 
Em outra oportunidade... 
Bom, parecia que nossos pais adoravam dizer não.
Chegamos a pensar que eles desconheciam a palavra sim.
Concluímos, também, que eles combinavam, no revezamento das negativas. 
Quando um estava prestes a concordar conosco, a nos permitir o que queríamos, lá vinha o outro, pronto para falar a palavra indesejada. 
Na maturidade do hoje, guardamos a certeza de que as negativas nos preservaram de alguns incômodos. 
Até mesmo da própria vida. 
E escutamos alguns jovens se referindo aos pais como uma mala sem alça porque desejam saber aonde vão, com quem vão, o que farão. 
E controlam o horário de retorno ao lar. 
Mal se dão conta de que isso se chama cuidado, atenção, nesses dias de tantos descuidos e maldades. 
Deveriam se dar conta de que, mais de uma vez, eles, como almas zelosas, estão sendo os intérpretes físicos das diretrizes espirituais. 
Os anjos de guarda precisam de quem os auxiliem, na Terra.
Ninguém melhor do que pais e mães amorosos, preocupados com a integridade física e moral dos seus filhos. 
Por tudo isso, aprendamos a receber os "não" de nossos pais.
Não deixa de ser um excelente exercício porque afinal, a vida nos diz muitos "não". 
Pensamos em ingressar em determinada carreira. 
Vamos bem em todas as provas, menos na prova física.
E lá se vai nossa chance. 
Programamos um estudo no Exterior, por determinado tempo.
Problemas familiares nos exigem a presença no lar e a assunção como provedor. 
Interessante é que, logo mais, descobrimos como tantas negativas nos fizeram bem. 
Se nos frustraram, em determinado momento, nos amadureceram o entendimento. 
Alguns deles nos encaminharam para trilhas diversas das idealizadas. 
E nos trouxeram felicidade, realização. 
Dessa forma, aprendamos a receber os "não" de quem quer que seja, mesmo da vida, a fim de descobrirmos, depois, quão benéficos nos foram. 
Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita 
Em 18.09.2023.

domingo, 17 de setembro de 2023

A LENDA DOS ÍNDIOS CHEROKEES

Na História dos Cherokees, índios da América do Norte, existe uma lenda que fala sobre o rito de passagem da juventude para a maturidade. 
Ao final de uma tarde, o pai leva seu filho para a floresta, no alto de uma montanha, venda-lhe os olhos e deixa-o sozinho.
O jovem fica lá, sentado, sozinho, toda a noite, e não poderá remover a venda dos olhos até os raios do sol brilharem no dia seguinte. 
Ele não poderá gritar por socorro para ninguém. 
Se ele conseguir passar a noite toda lá, será considerado um homem. 
Ele não deverá contar a experiência aos outros meninos, porque cada um deve tornar-se homem do seu próprio modo.
O menino ficará naturalmente amedrontado. 
É possível que ouça barulhos de toda espécie. 
Os animais selvagens poderão estar ao redor dele. 
Talvez possa ser ameaçado por outro humano. 
Insetos e cobras poderão feri-lo. 
É provável que sinta frio, fome e sede. 
O vento soprará a grama, as árvores balançarão e ele se manterá sentado estoicamente, nunca removendo a venda.
Segundo os Cherokees, esse é o único modo de se tornar homem. 
Finalmente, após a noite de provações, o sol aparece e a venda é removida. 
Ele então descobre seu pai sentado na montanha, próximo a ele. 
Estava ali, a noite inteira, protegendo seu filho do perigo. 
* * * 
DIVALDO PEREIRA FRANCO
E
JOANNA DE ÂNGELIS
Essa lenda nos remete aos momentos de dificuldades que atravessamos na vida e nos quais nos julgamos estar sozinhos. 
Lembremos que Deus, Pai amoroso, está presente em nossas vidas em todos os momentos, nas alegrias e nas tristezas, pois jamais abandona um filho Seu. 
Assim como o pai do jovem índio, Deus, através dos benfeitores espirituais, está sempre olhando por nós. 
Por descuido da fé, muitas vezes, não confiamos na Sua presença. 
Evitemos tirar a venda dos olhos antes do amanhecer.
Carreguemos a certeza em nossos corações de que estamos constantemente amparados pela Espiritualidade Maior. Nossos caminhos não estarão livres de percalços nem das dores. 
Entendamos que as dificuldades que a vida nos impõe são instrumentos de crescimento e fortalecimento para o futuro. 
* * * 
Nunca estás sozinho. 
No lugar onde estejas, Deus está contigo: no lar, no trabalho, no espairecimento, no repouso, na doença, na saúde, nEle haurindo consolo e forças para prosseguires nos misteres a que te vinculas. 
Somente te sentirás a sós, se deixares de preservar o vínculo consciente com o Seu amor. 
Mesmo assim, Ele permanecerá contigo.
Lembra-te: Deus é sempre o teu constante companheiro. 
Redação do Momento Espírita, com base em lenda cherokee e pensamentos finais do cap. 13, do livro Filho de Deus, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. 
Em 26.5.2021.

sábado, 16 de setembro de 2023

LENDA DAS LÁGRIMAS

Contam as lendas que, quando o Criador concluiu a Sua obra, dividiu-a em departamentos e os confiou aos cuidados dos anjos. 
Após algum tempo, o Todo Poderoso resolveu fazer uma avaliação da Sua Criação e convocou os servidores para uma reunião. 
O primeiro a falar foi o Anjo das Luzes. 
Postou-se respeitosamente diante do Criador e lhe falou com entusiasmo: 
-Senhor, todas as claridades que criastes para a Terra continuam refletindo as bênçãos da Vossa misericórdia. O sol ilumina os dias terrenos com os resplendores divinos, vitalizando todas as coisas da natureza e repartindo com elas o seu calor e a sua energia. 
Deus abençoou o Anjo das Luzes, concedendo-lhe a faculdade de multiplicá-las na face do mundo. 
Depois foi a vez do Anjo da Terra e das Águas, que exclamou com alegria: 
-Senhor, sobre o mundo que criastes, a Terra continua alimentando fartamente todas as criaturas. Todos os reinos da natureza retiram dela os tesouros sagrados da vida. E as águas, que parecem constituir o sangue bendito da Vossa obra terrena, circulam no seio imenso, cantando as suas glórias. 
O Criador agradeceu as palavras do servidor fiel, abençoando-lhe os trabalhos. 
Em seguida, falou radiante, o Anjo das Árvores e das Flores.
-Senhor, a missão que concedestes aos vegetais da Terra vem sendo cumprida com sublime dedicação. As árvores oferecem sua sombra, seus frutos e utilidades a todas as criaturas, como braços misericordiosos do Vosso amor paternal, estendidos sobre o solo do planeta. 
Logo após falou o Anjo dos Animais, apresentando a Deus seu relato sincero. 
-Os animais terrestres, Senhor, sabem respeitar as Vossas leis, acatar a Vossa vontade. Todos têm a sua missão a cumprir, e alguns se colocam ao lado do homem, para ajudá-lo. As aves enfeitam os ares e alegram a todos com suas melodias admiráveis, louvando a sabedoria do seu Criador.
Deus, jubiloso, abençoou Seu mensageiro, derramando-lhe vibrações de agradecimento. 
Foi quando chegou a vez do Anjo dos Homens. 
Angustiado e cabisbaixo, provocando a admiração dos demais, exclamou com tristeza: 
- Senhor, ai de mim! Enquanto meus companheiros falam da grandeza com que são executados Seus decretos na face da Terra, não posso afirmar o mesmo dos homens... Os seres humanos se perdem num labirinto formado por eles mesmos. Dentro do seu livre-arbítrio criam todos os motivos de infelicidade. Inventaram a chamada propriedade sobre os bens que lhes pertencem inteiramente, e dão curso ao egoísmo e à ambição pelo domínio e pela posse. Esqueceram-se totalmente do seu Criador e vivem se digladiando. 
Deus, percebendo que o Anjo não conseguia mais falar porque sua voz estava embargada pelas lágrimas, falou docemente: 
-Essa situação será remediada. 
E, alçando as mãos generosas, fez nascer, ali mesmo no céu, um curso de águas cristalinas e, enchendo um cântaro com essas pérolas líquidas, entregou-o ao servidor, dizendo: 
-Volta à Terra e derrama no coração de Meus filhos este líquido celeste, a que chamarás água das lágrimas... Seu gosto é amargo, mas tem a propriedade de fazer que os homens Me recordem, lembrando-se da Minha misericórdia paternal. Se eles sofrem e se desesperam pela posse efêmera das coisas da Terra, é porque Me esqueceram, olvidando sua origem divina. 
E, desde esse dia, o Anjo dos Homens derrama na alma atormentada e aflita da Humanidade, a água bendita das lágrimas remissoras. 
* * * 
A lenda encerra uma grande verdade: cada criatura humana, no momento dos seus prantos e amarguras, recorda, instintivamente, a paternidade de Deus e as alvoradas divinas da vida espiritual. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 22 do livro Crônicas de além túmulo, pelo Espírito Humberto de Campos, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Feb. Disponível no livro Momento Espírita v. 2, ed. Fep. 
Em 18.10.2010.

sexta-feira, 15 de setembro de 2023

AS AGRESSÕES DO MUNDO

DIVALDO PEREIRA FRANCO
Sempre importante lembrar como Jesus se posicionou perante as agressões do mundo.
Apresentou a proposta de oferecer uma outra face. 
Não a face da aceitação ou da indiferença, diante das ofensas, mas a face oposta à da violência, a face do bem. 
E o bem é inteligente. 
Ele busca entender o que está por trás de uma alma que está fora de si. 
Ele entende que ali há um claro desequilíbrio, algo fora do lugar. 
Devolver o mal com mal resolveria o desequilíbrio? 
A razão nos diz que não. 
Então, como colocar algo que está numa situação extrema, no devido lugar de balanço, de equilíbrio?
Atuando no lado oposto, na outra face, no lado do amor. 
Não se cura um doente ou uma doença atirando mais veneno no paciente. 
O que cura um doente? 
O que pode curar os doentes da alma? 
A tranquilidade do agredido é um choque para o agressor, uma primeira fase do tratamento. 
Quando o ódio não encontra vibração similar, não encontra sintonia, se desestabiliza. 
A humildade da vítima também é poderoso antídoto. 
A calma, a compaixão, um gesto de bondade inesperado pode, muitas vezes, desarmar um ataque vigoroso. 
Não permitamos que o mal se alastre. 
Ele é temporário mesmo naquele que parece um inimigo mais determinado. 
Sem o mal o consumindo por dentro, ele é como nós mesmos.
Por vezes, uma joia escondida em meio à revolta e ao sofrimento. 
Combatamos o mal. 
Jamais uns aos outros. 
* * * 
Qualquer pessoa somente nos conseguirá magoar, se aceitarmos a ofensa. 
Quando calúnias são levantadas para nos desmoralizar, não nos perturbemos. 
Prossigamos em nossa jornada, alheios às mentiras de quem está mal consigo mesmo. 
Se um amigo de longa data desiste da nossa companhia, criando acusações injustas, de consciência tranquila, continuemos com aqueles que nos reconhecem a integridade moral. 
Se a perversidade ou a maldade nos criam embaraços, conscientes de nossa honra, prossigamos nossa vida. 
Se estivermos a braços com inimigos ferrenhos, mas não revidarmos o mal que eles nos desejam, conseguiremos expressiva vitória em nossa marcha de crescimento. 
Quando a zombaria e o desrespeito tentarem nos atingir, se considerarmos que são gerados pelo despeito e outros sentimentos inferiores, a nossa postura será de vencedor. 
Em síntese, nunca tomemos para nós as agressões dos outros, quaisquer que sejam. 
A grande maioria dos indivíduos vê o seu próximo mediante a projeção dos próprios conflitos, e nem sequer dá-se conta da insensatez que a domina. 
É fácil identificar nos outros ou transferir os desequilíbrios e loucuras, raramente os tesouros das virtudes que escasseiam.
Mantenhamo-nos em paz, não nos considerando tão importantes, para sermos motivo da agressão e da maldade dos outros. 
Na sociedade de homens ainda tão imperfeitos, encontraremos opositores e vítimas. 
Sejamos os portadores da tranquilidade de consciência a serviço do bem. 
Procedendo dessa forma, o mal dos outros nunca nos fará mal. 
No entanto, tenhamos certeza de que o nosso bem fará muito bem a todos. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 4, do livro Diretrizes para uma vida feliz, pelo Espírito Marco Prisco, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL. 
Em 15.9.2023

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

ADVERSIDADES

Ela era uma garota que vivia a se queixar da vida. 
Tudo lhe parecia difícil e se dizia cansada de lutar e combater.
Seu pai, que era um excelente cozinheiro, a convidou, certo dia, para uma experiência na cozinha. 
Tomou de três panelas, encheu-as com água e colocou cenouras em uma, ovos em outra e pó de café na terceira.
Deixou que tudo fervesse, sem nada dizer. 
A moça suspirou, longamente, imaginando o que é que seu pai estava fazendo com toda aquela encenação. 
Tudo fervido, o pai colocou as cenouras e os ovos em uma tigela e o café em outra. 
-O que você está vendo? 
Perguntou. 
-Cenouras, ovos e café, respondeu ela. 
Ele a trouxe mais perto e pediu que experimentasse as cenouras. 
Ela notou como as cenouras estavam macias. 
Tomando um dos ovos, quebrou a casca e percebeu que ele estava duro. 
Provando um gole de café, a garota sentiu o sabor delicioso.
Voltou-se para o pai, sorriu e indagou: 
-O que significa tudo isto, papai? 
-É simples, minha filha. As cenouras, os ovos e o café, ao enfrentarem a mesma adversidade, a água fervendo, reagiram de formas diferentes. A cenoura entrou na água, firme e inflexível. Ao ser submetida à fervura, amoleceu e se tornou frágil. O ovo era frágil. A casca fina protegia o líquido interior. Com a água fervendo, se tornou duro. O pó de café, por sua vez, é incomparável. Colocado na água a ferver, ele mudou a água. 
Voltando-se para a filha, perguntou o homem experiente:
-Como é você, minha filha? Quando a adversidade bate à sua porta, você reage como a cenoura, o ovo ou o café? Você é uma pessoa forte, decidida que, com a dor e a adversidade, se torna frágil, vulnerável, sem forças? Ou você é como o ovo? Delicada, maleável, casca fina que, com facilidade, se rompe. Ao receber as agruras de um desemprego, de uma falência, a morte de um ser querido, um divórcio, se torna dura, inflexível? Quanto mais sofre, mais obstinada fica, mais amarga se torna, encerrada em si mesma? Ou você é como o café? Ele muda a água fervente, a coisa que está trazendo a dor, para conseguir o máximo de seu sabor, a cem graus centígrados. Quanto mais quente a água, mais gostoso se torna o café, deliciando as pessoas com o seu aroma e sabor. Se você é como o pó de café, quando as coisas vão ficando piores, você se torna melhor e faz com que as coisas em torno de você também se tornem melhores. A dor, em você, tem o condão de a tornar mais doce, gentil, com capacidade de melhor entender a dor alheia. Afinal de contas, minha filha, como você enfrenta a adversidade? 
* * * 
A dor pode ser comparada ao instrumental de um hábil escultor. 
Com destreza e precisão técnica, ele toma de uma pedra dura como o mármore, por exemplo, e pacientemente a transforma em uma obra de arte, para encanto das criaturas. 
A beleza da pedra só aparecerá aos golpes duros do cinzel, na monotonia das horas intermináveis de esforço e trabalho.
Assim como a pedra se submete à lapidação das formas para se tornar digna de admiração, somente os corações que permitem à dor esculpir sua intimidade, adquirem o fulgor das estrelas e o brilho sereno da lua. 
Redação do Momento Espírita, com base em texto de autoria ignorada. 
Em 14.9.2023.