Trinta anos se haviam passado. A turma de ensino médio programou um reencontro. Foi numa tarde quente, na enorme mansão de um deles.
Não faltavam elogios ao anfitrião, que recebia os amigos: a arquitetura, a disposição dos móveis, tudo como numa moldura de sonhos.
Após o almoço, reunidos na sala ampla, a conversa passou para o relato das conquistas pessoais, o sucesso na carreira.
Eram emocionantes. Alguns mais, outros nem tanto, mas todos haviam alcançado sucesso na profissão escolhida.
Eram médicos, engenheiros, advogados, professores de ensino superior. Falavam de seu casamento, dos filhos.
Quase todos tinham filhos no Exterior: Inglaterra, Suíça, Austrália. Filhos que ali aprimoravam seus estudos ou que exerciam profissão.
Era um longo desfile de alegrias. Falavam da empresa multinacional para a qual haviam sido contratados os filhos, dos altos cargos que ocupavam em hospitais, indústrias e por aí afora.
Dava gosto constatar a felicidade que sentiam pelo êxito próprio, que incluía o dos filhos.
Deram-se conta, depois de muito falar, que uma, dentre eles, se mantinha calada, somente vibrando com a felicidade de cada colega.
Voltaram-se para ela e lhe perguntaram:
-E você, quais os grandes lances da sua vida?
Ela sorriu e disse:
-Amigos, nada tão eletrizante como os seus relatos. Vi meus irmãos se formarem, constituírem suas famílias e partirem, buscando seus próprios destinos.
A mim, finalizando o ensino médio, sucederam acontecimentos: a morte repentina de meu pai, um irmão menor sob meus cuidados, necessidade de trabalhar para o sustento do lar, dedicação à avó e à mãe, que enfermaram, em anos sucessivos, me exigindo dedicação.
Não consegui adentrar a Universidade tal o acúmulo de deveres para manter a família e atender aos problemas, que surgiam, como uma avalanche, a cada ano.
Tive ofertas para crescer profissionalmente, transferindo-me para a capital federal, depois para o Rio de Janeiro e São Paulo.
A debilidade orgânica de minha avó e de minha mãe não me permitiram atender a nenhum dos convites. Elas tinham somente a mim.
Passaram os anos. Não me casei, não tenho filhos senão os da alma, que assumi, por questões muito próprias.
Nunca empreendi grandes viagens, porque minhas economias eram e ainda o são direcionadas aos que dependem de mim.
Então, acho melhor vocês continuarem a falar de seus progressos, de suas glórias. A mim, tudo isso encanta porque me parecem fenomenais os seus relatos.
O silêncio se fez na sala. Havia lágrimas em algumas faces. Todos ficaram olhando para a colega que, nos bancos do ensino médio, tinha ousados sonhos.
Viajar para o Exterior, aprimorar-se em outro idioma, cursar a faculdade, casar-se, ter filhos.
Tudo lhe fora frustrado. No entanto, ali estava ela a se alegrar com o sucesso dos amigos, a se regozijar com as suas conquistas.
Olhares se cruzaram. Finalmente, um deles disse:
-Já sabemos quem alcançou o prêmio de maior vencedor entre todos nós.
Sim, há os que vencem no mundo e há os que vencem a si próprios, no silêncio da renúncia, servindo ao semelhante.
Redação do Momento Espírita
Em 22.8.2022.
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