domingo, 14 de novembro de 2021

O GRITO

Uma boa palavra auxilia sempre. 
É lamentável se observar como estamos nos esquecendo de cultivar a boa palavra. 
Nosso atual vocabulário empobreceu-se muito e, face aos dissabores que nos envolvem a vida, primamos por expressar, pela fala, o mau humor e o desânimo que nos assola. 
Basta permaneçamos alguns minutos em uma fila de mercado, de ônibus, de banco, para logo se perceber o início das lamentações, das queixas e o desfilar do rosário da infelicidade. 
 Quanta vez, em plena rua, alguém nos aborda, rosto transtornado a solicitar uma informação. 
-Onde fica o Hospital, a Delegacia, o Posto de Saúde? 
De forma mecânica, indicamos a direção correta ou por vezes, alegando pressa, nos escusamos de perder tempo e desviamos da criatura. 
E, no entanto, é um ser que sofre e talvez bastasse uma palavra amiga, a gentileza de explicar em pormenores, de seguir com ele um trecho do caminho, para lhe amenizar a dor. 
Recordamos que, certa vez, um homem ouvia em um templo religioso as advertências do orador: 
-Falar é dom de Deus. Se abrimos a boca para dizer algo, saibamos dizer o melhor. É preciso aproveitar todas as oportunidades porque, às vezes, desajudamos quando podíamos ajudar. 
O homem saiu dali e agasalhou a mensagem. Alguns dias depois, nas funções de pedreiro-chefe inspecionava um grande recinto, em fase final de construção, junto com o engenheiro. O enorme salão estava muito bonito. Acabamento esmerado e pintura, primorosa. 
-Vamos experimentar a acústica. - Sugeriu o engenheiro. 
E, virando-se para o pedreiro, lhe pediu: 
-Grite alguma coisa. 
Saulo, esse era o nome do pedreiro, recordou as lições de dias antes a respeito da palavra e enchendo os pulmões, bradou alto: 
-Confia em Jesus! 
O som estava muito bem distribuído e agradou a ambos. Passados alguns minutos, adentra a sala um homem de cabelos em desalinho, perturbado, revólver à mão. 
-Quem gritou? Pergunta.-Quem mandou confiar em Jesus? 
Saulo é apontado e o homem a ele se dirige. Percebe-se-lhe no olhar a angústia e o desespero. Joga-se nos braços do pedreiro e chora: 
-Obrigado, obrigado, amigo.
E porque ninguém conseguisse entender o que estava acontecendo, explica:
-Eu estava no terreno da construção. Queria morrer. Estava encostando o cano do revólver ao ouvido, quando escutei seu apelo. Sustei o gesto. Estou desempregado há muito tempo e sou pai de oito filhos. Confiar em Jesus. Sim. Eu confiarei. 
É sempre importante falarmos o bem. 
Mesmo quando pensemos que estamos sós, pois em verdade não estamos.
Feliz foi o poeta que disse que o homem tem na garganta uma flauta mágica que pode emitir as mais doces melodias.
É a voz, talento divino que nos foi dado para o nosso progresso e crescimento dos nossos irmãos.
 * * * 
A guerra nasce da linguagem dos interesses criminosos, insatisfeitos. 
A língua guarda a centelha divina do verbo através do qual o homem pode erguer o monumento da paz. 
Assim, podemos utilizar a palavra para consolar e edificar os nossos irmãos.
Redação do Momento Espírita. 
Em 9.12.2013.

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