Então, certa manhã, acordou repassando mentalmente os anos vividos.
Pela memória, foi relembrando as tantas pessoas que haviam passado por sua vida, quantas amara e de que formas tão diversas.
Criança e adolescente, sua mãe fora seu grande amor, assinalado por um clima de carinho sem fim.
Lembrou do pai.
Com ele, tinha uma relação de um certo temor, porque era muito exigente e um tanto autoritário.
Nem por isso deixara de gostar dele, algo como um amor feito de respeito. Era um homem trabalhador, correto, atento às questões que envolviam a esposa e os filhos.
Quanto às irmãs, recordava que ora tinha vontade de estar perto, ora de se afastar, quando não a entendiam.
Amigas não tinham sido muitas, mas algumas lhe haviam até despertado a vontade de ser como elas, despreocupada, leve.
Ao recordar de quando conheceu aquele que viria a ser seu marido, a lembrança era dos dias em que seu coração parecia querer pular fora do peito.
Uma louca paixão.
A recordação do nascimento do primeiro filho lhe trouxe à mente um sentimento que superou tudo que havia sentido, até então: um amor especial.
E quando esse filho se casou, seu coração doeu muito.
Parecia que o iria perder.
Logo compreendera que o filho nascera para o mundo, não para si.
E, afinal, sem muito tardar, surgiram outros amores, os netos.
Eles lhe haviam transformado o coração em doçura, numa relação feita de ternura.
Os anos transcorridos, o casal a sós e ela se deu conta de que o amor que sentia por seu marido havia se modificado.
Ele envelhecera, ela também.
A paixão se transformara num doce sentimento de amizade.
Entendia, nessa rememoração, que o amor verdadeiro não ferve o tempo todo.
Transforma-se, mas continua vivo.
Revivendo tantas experiências, percebeu que aprendera a amar a todos que a cercavam, de uma maneira mais tranquila, sem cobranças.
É como se tivesse conquistado mais equilíbrio na arte de amar.
* * *
Os amores familiares são os compromissos maiores da alma.
Os laços consanguíneos são conquistas que podemos concretizar para a eternidade.
Os laços de amizade surgem de simpatias naturais, que nos envolvem em desejos e sonhos que vêm e que vão.
Já o sentimento nobre da fraternidade, que nos deve acompanhar em todos os relacionamentos, é mais duradouro.
Preservar esse sentimento entre os seres que nos são queridos é o que demonstra maturidade, equilíbrio e bom senso.
Afinal, a fraternidade pura é o mais sublime dos sistemas de relações entre as almas.
Fraternidade quer dizer afeto de irmão para irmão, definindo o que na realidade somos: todos irmãos perante o Pai Celestial.
Ora reencarnamos em uma posição familiar, ora noutra, mas o que importa realmente é a nossa posição espiritual.
Deus é nosso Pai Criador, logo, como irmãos é que devemos nos amar.
Compondo a grande família universal, todas as formas de amor haverão de se fundir, um dia, em um grande e uníssono amor fraternal.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 141,
do livro Pão Nosso, pelo Espírito Emmanuel, psicografia
de Francisco Cândido Xavier, ed. FEB.
Em 8.10.2016.
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