sexta-feira, 28 de maio de 2021

FRONTEIRAS SEM FIM DA AMIZADE

Nick Morgan
Até onde vai a amizade? 
Diz-se que, por vezes, temos amigos que são mais do que irmãos. São eles que nos sustentam nas crises, nos auxiliam na enfermidade, nos oferecem o ombro para chorar, a qualquer dia, a qualquer horário. Pessoas há que, decepcionadas com pretensos amigos, afirmam que é muito difícil existir, hoje, amizade desinteressada. 
No entanto, todos os dias, se ouvem histórias de pessoas que devem sua vida a algum amigo. 
As gêmeas Rita e Ruth nasceram, em 1988, numa cabana de barro na África Central. Seus pais eram agricultores da tribo Tutsi e temiam pela vida das filhas, porque os rebeldes Hútus, da oposição ao governo, atacavam constantemente os Tutsis. Por isso, o casal decidiu ir para Uganda, 240 quilômetros ao norte. Cada um com uma filha às costas, alguns poucos pertences e a tia das meninas, de apenas 11 anos, começaram a grande viagem. O pai foi o primeiro a ser assassinado, na tentativa de conseguir alimentos em uma aldeia. A mãe, quando ia à frente, tentando verificar se era seguro prosseguir a jornada, desapareceu para sempre. Durante dois meses, Katie, na floresta com as duas crianças, esperou a volta da mãe das meninas. Então, amarrou as gêmeas ao seu corpo e saiu andando. Depois de dez meses, chegaram a Uganda. Estavam sozinhas, dormindo ao relento e vivendo de restos de alimentos. Um dia, Jane, uma agricultora, as encontrou e as levou para sua casa, condoída de sua triste situação. Jane tinha somente uma filha de 4 anos e, por três vezes, enfrentou os rebeldes Hútus, escondendo as crianças. Quando as gêmeas estavam com 11 anos, Katie ganhou uma passagem para longe da África, para o asilo no estrangeiro. Naquela noite, Rita e Ruth ficaram abraçadas a Katie, chorando. Ela fora o centro de suas vidas desde sempre. Mas, ao partir, Katie prometeu que mandaria alguém para buscá-las. Para uma moça de 21 anos, como Katie, se adaptar à vida aonde quer que fosse, levaria tempo. E mais tempo ainda levaria para conseguir alguém que buscasse as gêmeas. Os meses se sucederam, sem qualquer notícia. Os Hútus matavam e sequestravam dezenas de Tutsis. As meninas pensavam: 
-Será que ela nos esqueceu? 
Três anos se passaram. Com 15 anos, Rita e Ruth já tinham se resignado à vida de medo e incerteza em Uganda. Então, elas foram apanhadas em casa por um agente estrangeiro e levadas ao aeroporto. Quatorze horas depois, estavam em Londres, abraçando Katie. Ela explicou como tinha sido difícil conseguir que elas fossem levadas para a Grã-Bretanha antes de milhares de outros refugiados. 
Mas disse: 
-Espero que saibam que eu nunca as abandonaria. 
As gêmeas passaram o restante da sua adolescência morando com Katie. Para elas, Katie é a grande amiga a quem agradecem por terem o privilégio de viverem num país de oportunidades. 
Diz Rita: 
Apesar de tudo o que passei, sinto como se tivesse ganhado na loteria. Amigos... 
Preciosidades que Deus coloca em nossas vidas para nos atapetar a estrada de ternura, a fim de nos tornar menos áspera a jornada. 
Redação do Momento Espírita, com base no artigo Cuidem de mim, de Rita Komunda, conforme contado a Nick Morgan, publicado na Revista Seleções Reader’s Digest, de março de 2009. 
Em 10.07.2009.

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