Carlos Seris Giese |
Fui despertado aos dois minutos da madrugada. Uma amiga noticiava a desencarnação de um amigo, residente em outra cidade.
Ele lutava, há meses, contra um câncer terrível, que parecia lhe devorar a intimidade física. Largo tempo permanecera internado para um agressivo tratamento quimioterápico.
Retornara para casa. Escrevia-nos dizendo do quanto persistia no fortalecimento moral, graças às preces e ao carinho da esposa, que o assistia, de forma desvelada.
Muitas mensagens trocamos nesses meses. Falávamos de tudo e de nada. Buscávamos direcionar o pensamento para o que lhe propiciasse um pouco de alegria, em meio a tanto sofrimento.
Ele jamais reclamou. Dizia que razões profundas, tinha certeza, de um pretérito que não lembrava, eram a origem de tudo que o alcançava agora.
Alguns dias, envolvido pelo trabalho, esqueci do drama do amigo distante. Mas, hoje, pela madrugada, quando soube de sua partida, foi muito interessante.
Durante mais de hora, fiquei a recordar todos os momentos em que desfrutei de sua companhia.
Eu lhe conheci os filhos pequenos, a esposa. Privei do aconchego do seu lar.
Mais de uma vez encontrei seu sorriso e os braços abertos, me aguardando no aeroporto, quando seguia para as atividades doutrinárias, que nos irmanavam.
Mesmo quando falava, ele sorria. Um companheiro de trabalho especial. Esposo, pai.
Recordei de tantos momentos preciosos. Interessante como funciona a nossa mente. Quando soube de sua partida, agradeci, é verdade, de imediato, a sua libertação, considerando que sofria há dias, pela falência do pulmão, respirando a duras penas.
Mas, depois, como numa catadupa de lembranças, tudo foi aflorando. E um filme colorido, maravilhoso foi sendo projetado na mente.
Recordei do passeio maravilhoso pelas Cataratas do Iguaçu, das brincadeiras. Lembrei de que, de helicóptero, sua esposa, um dos filhos e eu, sobrevoamos as Cataratas. Poucos minutos.
Porém, quando retornamos, lá estava ele a nos aguardar, no local do pouso, acenando e abraçando cada um de nós, como se tivéssemos estado separados por muito tempo.
Ele se chamava Carlos. Partiu. Temos a certeza de que foi muito bem recebido na Espiritualidade, por sua postura amorosa, sua fidelidade ao lar, sua dedicação ao trabalho voluntário.
Uma pessoa especial. Ele se foi. Depois de todas as lembranças que nos fizeram sorrir, remetemos a ele nossa saudade, nossa ternura e oramos profundamente.
Ou será que enquanto lembrávamos tantas vivências já não estávamos a ele endereçando nossas melhores vibrações e agradecendo a Deus por termos privado de uma amizade assim generosa?
Não é estranho que, enquanto nos encontramos a caminho, esquecemos de alguns amigos por horas e até dias?
Não é estranho que não consigamos recordar os milhares de momentos de convivência?
No entanto, quando ele parte, tudo vem à tona, nos emocionando, nos levando a sorrir e a chorar.
Talvez seja essa a forma de o homenagearmos e, mentalmente, acompanhar-lhe a caminhada nos passos iniciais para a Espiritualidade que ele agora respira.
Amigo Carlos, onde estejas, Jesus seja contigo.
Redação do Momento Espírita, em homenagem a
Carlos Seris Giese, desencarnado na madrugada
de 12 de fevereiro de 2021.
Em 14.5.2021.
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