sábado, 31 de outubro de 2020

A FÉ E A ESPERANÇA

PEDRO DE CAMARGO VINÍCIUS
A fé e a esperança são amigas inseparáveis. 
Poderíamos dizer que a esperança está para a fé como o sol está para a lua. A lua não tem luz própria: reflete aquela que recebe do sol. Daí porque a lua difunde raios pálidos e isentos de calor, enquanto o sol espalha raios intensos e fúlgidos que, além de iluminar, aquecem e vivificam. O sol é a própria luz; a lua não é, reflete a luz recebida. 
Assim, a fé é como o sol. 
É força comunicativa que se irradia do coração de quem a tem e se reflete no coração de outrem, gerando nesse a esperança. 
Jesus tinha fé. 
Seus discípulos tinham a esperança gerada pela fé exemplificada de Seu Mestre. 
Assim também os corações que se aproximam de Jesus e estabelecem com Ele certa comunhão, iluminam-se com a luz patente do Seu Espírito. 
A lua clareia os caminhos em noites escuras tal qual a esperança nos sustenta nas horas de trevas. 
O sol ilumina e fecunda a estrada da vida, como a fé fortalece as fibras íntimas da alma, robustecendo-a na caminhada para Deus. 
O sol é energia: movimenta, vivifica, ativa e produz. 
A luz amortecida da lua mostra os obstáculos; a luz brilhante e vívida do sol distingue e remove os tropeços dos caminhos da vida. 
A esperança faz nascer no coração do homem as boas e nobres aspirações; só a fé, porém, as realiza. 
A esperança sugere, a fé concretiza. 
A esperança desperta nos corações o anseio de possuir luz própria, conduzindo, portanto, as criaturas à fé. 
Quem alimenta a esperança está, invariavelmente, sob o impulso da fé que lhe vem de alguém. 
A força da fé é eminentemente conquistadora. 
Quem admira os exemplos e os feitos edificantes põe-se desde logo em harmonia com o poder de quem os realizou. Este projeta naqueles suas influências benfazejas: é o sol fazendo a lua refletir a sua luz, ou seja, a fé gerando a esperança. 
Saulo de Tarso, doutor da Lei e membro do Sinédrio, após conhecer e absorver os ensinos do Sublime carpinteiro de Nazaré, passou a refletir com fidelidade as verdades da Boa Nova. Contagiado pela fé dos discípulos singelos do meigo Rabi, chamados homens do caminho, dispõe-se a reformular sua vida, passando de perseguidor a defensor ardoroso das ideias cristãs, convertendo-se no grande pregador Paulo, também chamado Apóstolo do Gentios. 
Foi refletindo a fé do Cristo que os primeiros cristãos se entregaram ao martírio de cabeça erguida e serenidade no olhar. 
Bem-vinda seja a esperança! 
Bendita seja a fé! 
Uma e outra espancam as trevas interiores. 
Que seria da alma encarcerada na carne se não houvesse fé, nem esperança... 
* * * 
Se é doce ter esperança, é valor e virilidade ter fé. 
Enquanto a esperança suaviza o sofrimento, a fé neutraliza seus efeitos depressivos. 
Se a esperança nos sustenta nas lutas deste século, a fé nos assegura desde já a vitória da vida sobre a morte. 
Pensemos nisso! 
Redação do Momento Espírita com base no cap. Fé, esperança e caridade, do livro Em torno do Mestre, de Vinícius, ed. Feb. 
Em 23.06.2010.

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

PARA QUE NOS FOI DADO O BRASIL

RAUL TEIXEIRA
Todos os que temos a certeza de que não é a primeira vez que nos encontramos neste bendito planeta, guardamos igualmente a convicção de que motivos muito fortes nos levam a estarmos em solo brasileiro. 
Cada nação tem seus próprios objetivos a alcançar e abriga os Espíritos em vestes humanas que devem contribuir para isso. 
Ao mesmo tempo, empreender o próprio progresso. 
Os que nascemos no Brasil ou o adotamos como pátria, em algum momento das nossas vidas, devemos ter em mente que o fato de aqui nos encontrarmos tem por objetivo o progresso, a marcha para a ventura, por meio das conquistas dos saberes de ordem intelectual e moral. 
É o local mais adequado para as provas que tenhamos que enfrentar, o tempo mais apropriado para nos encontrarmos aqui, o momento certo.
Não é o acaso que aqui nos localizou. 
Enquanto nós mesmos crescemos, alcançando patamares mais elevados na evolução, convém analisarmos nossas responsabilidades. 
Alguns de nós aqui nos situamos com missões mais específicas para com a nação. 
Os que nos encontramos no âmbito da instrução, temos o dever de instruir as massas nas ciências, nas profissões, no entendimento dos textos lidos.
Importante que aprendam a se expressar com correção e elegância, a falar com segurança porque o progresso espiritual de um povo se pode identificar através do seu falar. 
Os que trazemos o compromisso nos campos da arte, reflitamos a respeito do que escrevemos, do que dizemos, do que encenamos. 
Tudo forja, nas mentes alheias, imagens e anseios, provoca posturas diante da vida. 
Portanto, que todas as nossas produções sejam no sentido de edificar, não nos permitindo expressões de destruição, de rebeldia ou desordem.
Os que tenhamos o compromisso com a área espiritual, falemos de Deus, da alma, da vida futura, sem pieguismos, sem mitologias. 
Afinal, a mais elevada crença é aquela que não teme a razão e que não é desmentida pelos movimentos do progresso. 
Nosso amado país nos merece todo empenho para seu crescimento. 
Pensemos menos em nós e mais na construção coletiva. 
E nos indaguemos: que posso fazer por meu Brasil? 
Se somos pais ou mães, eduquemos nossos filhos no respeito, na honra, exemplificando que o valor de um homem está na sua qualidade moral. 
Se estamos guindados a altos cargos, utilizemos dessas nossas posições de relevância para benefício do povo em geral. 
Não nos preocupemos se nossos pares não o fazem. 
Com nosso exemplo, poderemos arrastar outros a nos seguir, enquanto os que nada fazem ou somente se aproveitam de seus cargos, acabarão por se envergonhar. 
O mal somente será alijado da nossa nação, quando o exemplo dos bons prevalecer, quando constituirmos a soma maior da população. 
Sejamos os primeiros a demonstrar nosso verdadeiro amor a este torrão. 
Tenhamos orgulho de ser brasileiros, desejando que nos projetemos no mundo como a verdadeira Pátria do Evangelho, o Coração do Mundo.
Portemos as cores verde e amarela no coração, na mente e extravasemos o azul do amor e o branco da paz por nossas mãos. 
Produzamos no bem! 
Demonstremos o amor à terra que nos é dada para nosso progresso e crescimento. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 15, item O complexo trabalho de ilustração da família no Brasil, do livro Nos passos da vida terrestre, pelo Espírito Camilo, psicografia de Raul Teixeira, ed. Fráter. 
Em 30.10.2020.

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

A FÉ DA CRIANÇA

Foi na África Central. 
No abrigo improvisado das missionárias, uma mulher entrou em trabalho de parto. 
Apesar de todos os esforços da equipe, ela não resistiu e morreu, logo após dar à luz um bebê prematuro. 
Sua filhinha de dois anos começou a chorar e não havia o que a pudesse consolar. Não havia eletricidade e, portanto, era complicado manter o bebê vivo sem uma incubadora. Ele foi colocado em uma caixa e envolto em panos de algodão. 
Bem depressa alguém foi alimentar o fogo para aquecer uma chaleira de água para a bolsa de água quente. 
Mesmo morando na linha do Equador, as noites eram, por vezes, frias e sopravam aragens traiçoeiras. Logo descobriram que a única bolsa para água quente estava rompida.  
-Que fazer? - pensou a responsável. 
Providenciou para que o bebê ficasse em segurança tão próximo quanto possível do fogo. 
À noite, para protegê-lo das lufadas de vento frio, as moças deveriam dormir entre a porta e o bebê. 
Na tarde seguinte, a missionária foi orar com as crianças do orfanato. 
Para as incentivar à oração, ela fez uma série de sugestões e lhes contou a respeito do bebê. Explicou a dificuldade em mantê-lo aquecido, sem a bolsa de água quente. Também disse que o bebê poderia morrer de frio. Mencionou ainda a irmãzinha de 2 anos que não parava de chorar a ausência da mãe. 
Então, uma menina de 10 anos se ergueu e orou em voz alta: 
-Por favor, Deus, manda-nos uma bolsa de água quente. Amanhã talvez já seja tarde, porque o bebê pode não aguentar. Por isso, manda a bolsa ainda hoje. 
-E... Deus, já que estás cuidando disso mesmo, por favor, manda junto uma boneca para a irmãzinha dele, para que saiba que também a amas de verdade. 
A missionária nem conseguiu dizer Assim seja. 
Poderia Deus fazer aquilo? 
O único jeito de Deus atender o pedido da menina seria por encomenda de sua terra natal, via correio. 
Ela lembrou que estava na África Central há 4 anos. 
Nunca havia recebido uma encomenda postal de sua casa. 
E mesmo que alguém tivesse a ideia de mandar um pacote, quem pensaria em mandar uma bolsa de água quente, para um local na linha do Equador?
Naquela tarde, um carro estacionou no portão da casa e deixou um pacote de 11 kg. na varanda. 
As crianças do orfanato rodearam o pacote. 
Quarenta olhos arregalados acompanharam a abertura. 
Eram roupas coloridas e cintilantes. 
Havia também ataduras, caixinhas de passas de uva e farinha. 
E, bem no fundo, uma bolsa de água quente, novinha em folha. 
Rute, a garota que pedira a bolsa, na prece, gritou: 
-Se Deus mandou a bolsa, mandou também a boneca. Será? 
E lá estava ela. Linda e maravilhosamente vestida. Olhando para a missionária, Rute perguntou: 
-Posso ir junto levar a boneca para aquela menina, para que ela saiba que Deus a ama muito? 
O pacote fora enviado há 5 meses, por iniciativa de uma ex-professora da missionária, que resolveu enviar uma bolsa de água quente, sem mesmo saber porquê. 
Uma das suas auxiliares, ao fechar o pacote, decidiu mandar uma boneca. 
Tudo isso, cinco meses antes, em resposta a uma oração de uma menina de 10 anos que acreditou, fielmente, que Deus atenderia a sua oração, ainda naquela tarde.  
E há quem duvide que Deus é onipresente e onisciente! 
Redação do Momento Espírita com base em texto de autoria ignorada, tradução do Rev. Oscar Lehenbauer e adaptado por Áureo Pinto. 
Em 22.12.2009.

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

INSTRUMENTO SEM IGUAL

Ao contemplarmos o panorama artístico, constatamos muitas lacunas. 
São bailarinos, cantores, músicos, poetas que se foram, demandando o Grande Além. 
Muitos deles, de forma prematura, levados pelo uso excessivo de drogas ou vida desregrada, que lhes custaram dores e o retorno à pátria espiritual, no auge das suas carreiras. 
Sentimos falta deles. 
Falta das piruetas no palco, em que pairavam no ar por segundos. 
Falta dos passos ritmados, acompanhando a música magistral de grandes compositores. 
Vídeos antigos nos fazem relembrar da sua graça, da sua leveza, do corpo dominando maravilhosa técnica. 
Imaginamos quanto treinaram para atingir aquela quase perfeição de passos, de gestos, imitando borboletas que voejam no jardim... 
Lembramo-los com saudade. E pensamos quanto mais poderiam ter nos ofertado da sua arte, se não houvessem deixado a Terra tão precocemente.
As saudades falam alto em nosso coração. 
Também de cantores cuja voz nos encantava. 
O domínio de público, que conseguia que a multidão lhes obedecesse ao comando, formasse coro com eles, vibrasse junto. 
As gravações no-los trazem à memória de forma mais intensa. 
Mas, constatamos que a sua permanência entre nós poderia ter feito a diferença maior no mundo. 
Quem encanta com sua arte, inebria a alma de quem os assiste, os ouve.
Uma canção pode nos levar às alturas, nos aliviar a dor que teima em nos machucar a alma, nos permitir que lágrimas rolem por nossas faces, aliviando a tensão interna. 
Quem acompanha a música com seus passos e gestos, enchendo nossos olhos de beleza e encantamento, tem o condão de nos transportar, por minutos que sejam, a um patamar mais elevado, próprio da arte.
Lamentamos suas ausências. 
Prezaríamos houvessem permanecido conosco um tanto mais. 
Poderia assim ter sido, não tivessem, por problemas próprios, esquecido de cuidar com esmero da máquina física. 
Oramos por eles, manifestando a nossa gratidão. E desejando lhes alcançar os Espíritos, onde quer que se encontrem. 
Merecem nossas melhores e mais intensas vibrações. 
 * * * 
Cuidar do corpo. 
Tão importante quanto cuidar do Espírito. 
Porque o corpo é o nosso instrumento de trabalho, nossa enxada, nosso trator, nosso cinzel. 
É ele que o Espírito comanda. 
É ele que nos permite a atuação na Terra, ensinando, construindo, produzindo. 
É o nosso cérebro, iluminado pela mente, que produz peças de literatura, obras na arquitetura, na engenharia, nas ciências. 
São nossas mãos que compõem telas de beleza ímpar. 
São nossas mãos que erguem o mundo novo, que acalentam os bebês, que acolhem os amores. 
São nossos pés que nos levam a andar ao encontro do outro. 
São nossos olhos que contemplam o abismo enquanto o cérebro elabora a ponte que concretizaremos, logo mais, materialmente. 
São nossos ouvidos que ouvem a chuva no telhado, a gota d’água que bate na calha e nos oportunizam compor melodias que lhes reproduzem os sons.
Nosso corpo. 
Ferramenta. 
Instrumento de trabalho. 
Compete-nos preservá-lo, a fim de que nos permita a mais longa execução do planejamento para o qual retornamos a este planeta.  
Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 27.10.2020.

terça-feira, 27 de outubro de 2020

DESESPERADA ESPERANÇA

Dra. Elizabeth Kübler-Ross
Dra. Elizabeth Kübler-Ross realizou um trabalho belíssimo com pacientes terminais. 
Seu livro Sobre a morte e o morrer, já foi traduzido para dezenas de idiomas e recebeu inúmeros prêmios. 
Em certo trecho da obra nos fala da esperança de seus pacientes e familiares: 
-Ouvindo nossos pacientes em fase terminal, o que sempre nos impressionou foi que até mesmo os mais conformados, os mais realistas, deixavam sempre aberta a possibilidade de alguma cura; de que fosse descoberto um novo produto, ou de que tivesse “êxito um projeto recente de pesquisa”.
O que os sustenta através dos dias, das semanas ou dos meses de sofrimento é este tipo de esperança. É a sensação de que tudo deve ter algum sentido, que pode compensar, caso suportem por mais algum tempo. Não importa que nome tenha, descobrimos que todos os nossos pacientes conservaram essa sensação que serviu de conforto em ocasiões especialmente difíceis. Vimos que os conflitos relacionados à esperança provinham de duas fontes principais. 
A primeira, e mais dolorosa, era a substituição da esperança pela desesperança, tanto por parte da equipe hospitalar, quanto por parte da família, quando a esperança ainda era fundamental para o paciente. 
A segunda fonte de angústia provinha da incapacidade da família para aceitar o estágio final de um paciente. 
Agarravam-se à esperança com unhas e dentes, quando o próprio paciente já se preparava para morrer, mas sentia que a família não era capaz de aceitar este fato. 
* * * 
Os pontos levantados pela estudiosa são fundamentais para o bom entendimento da esperança, e da compreensão do fenômeno da morte. 
Esta sensação de que tudo deve ter algum sentido não é vã. 
É, com certeza, o Espírito tendo acesso, mesmo que inconscientemente, aos planos maiores para sua existência, e à necessidade que carrega de passar por tal provação. 
Todo sofrimento tem uma causa – eis a proposição budista. 
Toda causa que não se encontra nesta vida, certamente estará numa existência anterior – eis a proposta espírita. 
Todo sofrer tem caráter educativo, sendo de causa atual ou pretérita. 
Por isso, o entendimento de que a dor sempre terá algum sentido, e de que o bem passar por ela nos trará recompensa futura, faz-se indispensável para que não deixemos que a desesperança encontre guarida em nosso íntimo. 
O reino dos céus prometido aos aflitos, na certeza feliz do Cristo, está na harmonia interior, nos aprendizados alcançados. Na fé, na paciência, na resignação aprendidos através da tutela temporária da dor. 
Tal consciência deve ser alcançada também pelos que ficam, pois esses são convidados a desenvolver o desapego, o altruísmo, e igualmente a fé.
Pensar no bem do outro, antes de pensar na dor da falta, da saudade, é lição clara proclamada pela desencarnação. 
A morte é professora brilhante. 
Ensina quem vai, ensina quem fica. 
A esperança é bálsamo doce, que aromatiza e prepara a alma dos que estão nos portões de partida. Dos que partem já, e dos que partirão mais tarde.  
* * * 
 O sol formou um veio de ouro. 
Tão gracioso que meu corpo dói. 
Acima, o céu brilha num azul intenso. 
Convicto, sorri por algum engano. 
O mundo cobre-se de flores, e parece sorrir. 
Quero voar, mas para onde, a que altura? 
Se as coisas podem florescer por entre arames farpados, por que não eu?
Não morrerei! 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. VIII, do livro Sobre a morte e o morrer, de Elizabeth Kübler-Ross, ed. Martins Fontes e poema de autor desconhecido. 
Em 26.10.2020.

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

REFORMA ÍNTIMA

1. Executar alegremente as próprias obrigações. 
2. Silenciar diante da ofensa. 
3. Esquecer o favor prestado. 
4. Exonerar os amigos de qualquer gentileza para conosco. 
5. Emudecer a nossa agressividade. 
6. Não condenar as opiniões que divergem da nossa. 
7. Abolir qualquer pergunta maliciosa ou desnecessária. 
8. Repetir informações e ensinamentos sem qualquer azedume. 
9. Treinar a paciência constante. 
10. Ouvir fraternalmente as mágoas dos companheiros sem biografar nossas dores. 
11. Buscar sem afetação o meio de ser mais útil. 
12. Desculpar sem desculpar-se. 
13. Não dizer mal de ninguém. 
14. Buscar a melhor parte das pessoas que nos comungam a experiência. 
15. Alegrar-se com a alegria dos outros.
16. Não aborrecer quem trabalha. 
17. Ajudar espontaneamente. 
18. Respeitar o serviço alheio. 
19. Reduzir os problemas particulares. 
20. Servir de boa mente quando a enfermidade nos fira. 
(Francisco Cândido Xavier)


domingo, 25 de outubro de 2020

FEBRE DA MODA

Toda época tem sua moda. 
E não somente no que diz respeito a roupas e calçados. lo, as festas. A própria gíria tem sua época e faz moda.
Os brinquedos também. 
Mas igualmente na música, o corte de cabeAs bonecas imitam, para deleite das meninas, as modelos famosas, artistas da TV, misses, reproduzindo-lhes inclusive os guarda-roupas. Do vestido de gala ao traje esporte e de lazer. Há algum tempo, uma verdadeira febre tomou conta das crianças. Tudo começou com o lançamento de um bichinho virtual, o Tamagotchi. Tratava-se de um pequeno ovo de cristal líquido, que continha um pseudo-animalzinho que, para viver, dependia de constantes cuidados. Cuidados que a criança lhe devia dispensar, sistematicamente: alimentação, banho, carinho. Se a criança não o atendesse, no tempo que ele exigia, corria o risco de morrer. Alguns psicólogos acreditam que, se o pequeno não soubesse lidar com todas essas necessidades, o animal, dinossauro ou morcego, morreria muitas vezes. E, assim a criança sofreria frustrações e angústias. As angústias, à época, foram relatadas por alguns dos pequenos proprietários de tais animaizinhos. Um deles afirmou que ficava muito preocupado, quando estava na escola, pois não sabia se o seu bichinho morreria naquele período, desde que não o podia atender. Outro declarou que se o seu Tamagotchi apitava, mesmo que ele estivesse no banho, saía correndo para satisfazer as suas vontades. 
A preocupação de educadores e psicólogos é justa. Além de propiciar o isolamento da criança, o brinquedo a tirava do mundo real. E a morte passava a ser uma brincadeira, pois o bichinho podia retornar à vida com a dispensa de cuidados devidos, ou a simples troca de baterias. 
Se pretendemos que a criança adquira responsabilidade, desenvolva sua afetividade, por que não com um animalzinho de verdade? 
Não advogamos o uso de gaiolas para os prender, mas bem podemos incentivar nosso filho a depositar, todos os dias, migalhas de pão para os pássaros que vêm cantar em nossas janelas. Dispor uma tigela com água fresca e limpa, no jardim da casa, para os pardais e sabiás que enchem de sons os ares do dia. 
O que estamos semeando para nossos filhos? 
Um mundo de robôs que podem ser ligados e desligados, à vontade? 
Ou desejamos que eles aprendam que os animais são seres vivos e para assim se manterem necessitam dos cuidados dos homens? 
No momento em que tantos movimentos ecológicos batalham pela vida das baleias, do mico-leão dourado e outras espécies em extinção, busquemos insuflar em nossos filhos o valor real de uma vida. 
Seja de um gato, um cão, um pássaro. 
Recordar-lhes que a bondade de Deus a todos criou. E se colocou os animais como serviçais do homem, também confiou a esse o dever de os proteger e amar. 
* * * 
Nada pode substituir o afeto de um ser humano pelo outro. 
Isso porque somos todos Espíritos, criados por amor e destinados ao amor.
Redação do Momento Espírita, com base no artigo Barrados na escola, publicado na Revista Isto é, nº 1459. 
Em 6.1.2014.

sábado, 24 de outubro de 2020

A FÉ!

FREI DAMIÃO DE VESTEUR
(MOLOKAI)
Quando se fazem referências à fé há os que afirmam que a fé é uma coisa doentia, covarde. Própria dos fracos e oprimidos, que necessitam dela para poderem sobreviver. Ou então, que fé é a recompensa imerecida pelo que você ainda não fez. 
Examinando a história de todos os tempos, verificamos que é exatamente o oposto. Somente homens de extremada fé foram capazes de realizações que assombraram os seus iguais. Graças à fé, os primitivos cristãos enfrentaram as dores dos mais horrendos suplícios e a morte, entre cânticos e preces, motivo mesmo que arrastava outros tantos a buscarem aqueles ensinos do Carpinteiro, que assim movimentava homens e mulheres na direção dos Céus. 
Movido pela fé e seu acendrado amor ao semelhante, Frei Damião de Vesteur buscou a ilha abandonada de Molokai, tornando-se um igual entre hansenianos, à época caçados como animais e simplesmente jogados naquele local. Mais do que lhes ser o enfermeiro dos corpos, ele lhes foi o médico das almas. Encontrou um rico havaiano que todos diziam haver desaparecido, ali, infectado. A amargura o tomara por inteiro e ele acariciava, de forma constante, um revólver, afirmando que um dia, quando não mais suportasse o rol das dores, ele haveria de buscar a morte por suas próprias mãos. Damião lhe falou com tamanha fé dos objetivos da vida e da dor, da vida que não perece para além da tumba que, um dia, recebeu de presente, envolvido em embrulho improvisado, a arma daquele homem. O bilhete que acompanhava o instrumento, laconicamente afirmava: 
"Estou morrendo e morro com dignidade. 
Não necessito mais dele. Você me convenceu."
Nos relatos evangélicos, é o próprio Jesus que, mais de uma vez, em Se referindo às curas operadas por Ele, afirmava aos curados: 
-Tua fé te salvou. 
A fé é chama Divina que aquece o Espírito e lhe dá forças para tudo superar: mágoas, decepções, revoltas, traições e até mesmo a morte. 
Para a aquisição do equilíbrio, é imprescindível a fé, para que o homem sobreviva ao clima de desespero que irrompe de todo lado, ante as problemáticas sempre mais afligentes que invadem a Humanidade. 
O homem não pode prescindir da valiosa contribuição da fé. Alberto Santos Dumont, ao verificar a aplicação do seu invento na guerra, amargurou-se e buscou a morte pelo suicídio. 
Alfredo Nobel em descobrindo que a dinamite fora usada para extermínio de povos, entrou em profunda tristeza e assim ficou até a sua desencarnação. 
Se eles tivessem fé, poderiam ter aguardado e verificado no tempo, com a marcha do progresso, os benefícios dos seus inventos colocados a bem da Humanidade. 
Alimentar a fé é um dever do homem, dever que não deve ser deixado para mais tarde, pois a fé é necessária para sustentar a própria paz. 
* * * 
A fé é virtude espontânea e conquista intelectual. 
Sua função é fornecer forças para solucionar problemas, não afastar o seu portador dos testemunhos necessários para a sua evolução. 
A fé é, em suma, um tesouro de inapreciável valor que caracteriza os homens nobres, no serviço da Humanidade. 
Redação do Momento Espírita, com base em entrevista (com Lobão), publicada na revista Isto é, de 22.04.1998; no cap. 22 do livro Convites da vida e no verbete Fé, do livro Repositório de sabedoria, v. 1, ambos pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal. Em 20.07.2009.

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

AS PRECES DOS NOSSOS IRMÃOS

Nos dias de tristeza, quando a alma se veste de luto e tudo parece desencanto, buscamos o Senhor da Vida. 
Nossa rogativa se transforma em lamúrias porque há muita dor em nossa intimidade. E, ainda assim, guardamos reservas para com o irmão que ora ao nosso lado. 
Mesmo em meio ao cenário triste da pandemia que arrebata vidas, ao lado de outras tantas enfermidades que, há anos, vem retirando do mundo os seres humanos, alguns de nós olhamos de forma diferenciada os irmãos de outras crenças. 
Esquecemos que Jesus nos afirmou que o Pai vê o que se passa em secreto, ou seja, no profundo da criatura, e recebe toda súplica, providenciando o socorro. 
Os ensinos do Mestre de Nazaré prosseguem a nos esclarecer como o fez para a samaritana, no poço de Jacó. Naquela época, a discussão era em torno do local em que deveriam ser proferidas as preces a Yaweh. 
Seriam melhores as que fossem ditas no suntuoso templo de Jerusalém? 
Seriam essas as ouvidas pelo Pai Celeste? 
Ou, aquelas pronunciadas no Monte Garizim, mesmo após a destruição do templo ali erguido, seriam ouvidas igualmente? 
Qual delas revelaria, enfim, a verdadeira adoração? 
Jesus, o Mestre Incondicional, com Seu pensamento universal e atraindo todas as Suas ovelhas para o mesmo redil, pronunciou-se, elucidando: 
-Está chegando a hora em que nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Os verdadeiros adoradores, adorarão o Pai em espírito e verdade. 
De fato, esses são os adoradores que o Pai procura. 
Deus é Espírito e aqueles que O adoram devem adorá-lO em espírito e verdade. 
O ensino era para aqueles dias. 
Também para os do futuro. 
Para todos os homens. 
Deus é um só. 
Criador. 
Pai Celeste. 
Infinitamente amoroso, acolhe as súplicas que lhe dirigem os Seus filhos, residam nas grandes metrópoles ou nas terras áridas. 
Realizem as suas rogativas em suntuosos templos ou em plena natureza.
Ou em um casebre, à beira da estrada. 
O verdadeiro altar é o do coração. 
Por isso, o ensino crístico recomenda, quando orarmos, nos retirarmos para nosso quarto, fecharmos a porta e nos dirigirmos ao Pai em secreto. Isso quer dizer, mergulharmos em nossa intimidade, cerrar os olhos e ouvidos a tudo que nos possa distrair do propósito de dialogarmos com Aquele que alimenta as aves, levanta as ondas do mar e veste a erva do campo. 
Seja a prece esse encontro mais íntimo com Deus. 
Como fazia o Mestre, que buscava o silêncio para se ligar mais intimamente ao Pai. 
Servia a todos, horas e horas. Depois, refazia-se, unindo-se em prece Àquele cujo pensamento Ele interpretava na Terra. 
Para isso, o silêncio. 
De fora. 
A tranquilidade de dentro. 
Ante o sacrifício que logo mais lhe seria exigido, entregue às mãos dos homens que O temiam, ou não O desejavam entender, Ele ora. 
E, outra lição de valor, pede aos amigos que estão com Ele, que O acompanhem na prece. 
Isso nos diz da importância de, ante as provações que nos alcançam, pedirmos aos nossos amigos que se irmanem conosco na oração em nosso favor.
Oração. 
Hoje, amanhã, sempre. 
Verdadeira escada de Jacó que une a criatura aos céus. 
Redação do Momento Espírita, com transcrição do Evangelho de João, cap.4, versículos 21, 23 e 24. 
Em 23.10.2020.

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

FAZER O BEM SEM OLHAR A QUEM!

A guerra do Vietnã havia acabado fazia pouco tempo... 
Deixou uma soma de soldados mutilados e grande quantidade de guerreiros mortos. Dentre os sobreviventes, um soldado estava finalmente voltando para casa. Antes de embarcar para a cidade onde morava, resolveu telefonar para os pais e contar a notícia. 
-Mãe, pai, eu estou voltando para casa e gostaria de lhes pedir um grande favor. É que tenho um amigo, também sobrevivente da guerra, que pretendo levar comigo. 
-Claro, responderam os pais solícitos. Nós adoraríamos conhecê-lo!
-Todavia, diz o filho, há algo que vocês precisam saber: ele foi terrivelmente ferido durante a batalha, pisou em uma mina e perdeu um braço e uma perna. E como não tem nenhum lugar para onde ir quero que ele vá morar conosco. 
Depois de um breve momento de silêncio do outro lado da linha, a resposta veio: 
-Sentimos muito, filho. Nós talvez possamos ajudá-lo a encontrar um lugar para morar, mas infelizmente não podemos trazê-lo para nosso lar. 
-Não, mamãe e papai, eu quero que ele more conosco, suplicou o rapaz.
-Filho, disse o pai, você não sabe o que está pedindo. Alguém com tanta dificuldade seria um grande fardo para nós. Nós temos nossas próprias vidas e não podemos deixar que uma coisa como essa interfira em nosso modo de viver. Acho que você deveria voltar para casa e esquecer o rapaz. Ele encontrará uma maneira de viver por si mesmo. 
Naquele momento, o filho desligou o telefone. Os pais não ouviram mais nenhuma palavra dele... Alguns dias depois, receberam um telefonema da polícia com a triste notícia... 
O filho deles havia caído de um prédio. 
A polícia acreditava em suicídio. 
Os pais, angustiados, tomaram o avião e foram ver o que acontecera com seu filho querido. Levados para identificar o corpo descobriram, para seu horror, que o soldado mutilado era seu próprio filho. Ambos sentiram, naquele momento, como se uma navalha lhes dilacerasse o coração. Perceberam que, ao negar ajuda a um rapaz desconhecido, desprezaram o próprio filho, que desejava saber como seria tratado ao voltar para casa com as mutilações da guerra. 
 * * * 
Fazer o bem sem olhar a quem: eis a chave segura para quem deseja colaborar com Deus em todas as circunstâncias. 
Considerando que todos somos filhos do mesmo Pai, irmãos, portanto, devemos ajudar sem condições. 
Considerando, ainda, que voltamos ao corpo físico diversas vezes em corpos diferentes, pela Lei de reencarnação, ao negar amparo a alguém que nos é estranho na presente existência, podemos estar desprezando um familiar querido de outras épocas. 
Assim, vale a pena ajudar sempre na medida das nossas possibilidades, sem impor condições, conforme ensinou Jesus. 
 * * * 
O amor desinteressado, nas suas manifestações fraternas, converte os braços em asas da caridade para o voo aos cimos da vida. 
Redação do Momento Espírita 
Em 13.09.2010.

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

SE NÃO HOUVER AMANHÃ...

Sabe, eu que costumava deixar muitas coisas para amanhã, resolvi lhe dizer, hoje, o quanto você é importante para mim, porque quando acordei pela manhã, uma pergunta ressoava na acústica de minha alma: 
-E se não houver amanhã? 
Então, hoje eu quero me deter um pouco mais ao seu lado, ouvir suas ideias com mais atenção, observar seus gestos mais singelos, decorar o tom da sua voz, seu jeito de andar, de correr, de abraçar. 
Porque... se não houver amanhã... eu quero saber qual é sua comida preferida, a música que você mais gosta, a sua cor predileta...
Hoje eu vou observar seu olhar, descobrir seus desejos, seus anseios, seus sonhos mais secretos e tentar realizá-los. 
Porque, se não houver amanhã... eu quero ter gravados em minha retina o seu sorriso, seu jeito de ser, suas manias... 
Hoje eu quero fazer uma prece ao seu lado, descobrir com você essa magia que traz tanta serenidade, quero subir aos céus com você, pelos fios invisíveis da oração. 
Hoje eu vou me sentar com você na relva macia, ouvir a melodia dos pássaros e sentir a brisa acariciando meu rosto, colado ao seu, em silêncio... 
E sem pressa. 
Hoje eu vou lhe pedir por favor, agradecer, me desculpar, pedir perdão, se for necessário. 
Sabe, eu sempre deixei todas essas coisas para amanhã, mas o amanhã é apenas uma promessa... 
O hoje é presente. 
Assim, se não houver amanhã, eu quero descobrir hoje qual é a flor que você mais gosta e lhe ofertar um belo ramalhete. 
Quero conhecer seus receios, aconchegá-lo em meus braços e lhe transmitir confiança... 
Hoje, quando você for se afastar de mim, vou segurar suas mãos e pedir para que fique um pouco mais ao meu lado. 
Sabe, eu sempre costumo deixar as palavras gentis para dizer amanhã, carinhos para fazer amanhã, muita atenção para prestar amanhã, mas o amanhã talvez não nos encontre juntos. 
Eu sei que muitas pessoas sofrem quando um ser amado embarca no trem da vida e parte sem que tenham chance de dizer o que sentem, e sei também que isso é motivo de muito remorso e sofrimento. 
Por isso eu não quero deixar nada para amanhã, pois se o amanhã chegar e não nos encontrar juntos, você saberá tudo o que sinto por você e saberei também o que você sente por mim. 
Nada ficará pendente... 
Quero registrar na minha alma cada gesto seu. Quero gravar em meu ser, para sempre, o seu sorriso, pois se a vida nos levar por caminhos diferentes eu terei você comigo, mesmo estando temporariamente separados. 
Sabe, eu não sei se o amanhã chegará para nós, mas sei que hoje, hoje eu posso dizer a você o quanto você é importante para mim. 
Seja você meu filho, minha filha, meu esposo ou esposa, um amigo talvez, você vai saber hoje, o quanto é importante para mim... 
Porque, se não houver amanhã... 
* * * 
Amanhã o sol será o mesmo mensageiro da luz mas as circunstâncias, pessoas e coisas, poderão estar diferentes. 
Hoje significa o seu momento de agir, semear, investir suas possibilidades afetivas em favor daqueles que convivem com você. 
Hoje é o melhor período de tempo na direção do tempo sem fim...
Redação do Momento Espírita. Disponível no livro Momento Espírita, v. 3 e no CD Momento Espírita, v. 7, ed. FEP. 
Em 19.10.2020.

terça-feira, 20 de outubro de 2020

SOBRE PÁSSAROS DO CÉU E LÍRIOS DO CAMPO

Uma das mais poéticas falas de Jesus é certamente a que menciona os pássaros do céu e os lírios do campo. Ainda no Sermão do Monte, após as bem-aventuranças e a oração do Pai Nosso, o Mestre proclama: Olhai para os pássaros do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai Celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas? E, quanto ao vestuário, por que andais solícitos? Olhai para os lírios do campo, como eles crescem. não trabalham nem fiam. E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe, e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pouca fé? 
 * * * 
Todas as vezes que as inquietações tomam conta de nossos pensamentos, é importante lembrarmos dessa lição do Cristo. Muitos estamos inquietos, inseguros, assustados com os novos tempos. Não se tem mais certeza de nada. – dizemos. Ou então: Não se sabe sobre o dia de amanhã. O emprego, o negócio, a saúde, as relações: tudo está sendo convidado a mudar. E, toda mudança nos causa certo temor. Por isso é tempo de lembrar dos pássaros do céu e dos lírios do campo, duas figuras icônicas utilizadas pelo Mestre para nos trazer tranquilidade e paz. Ainda neste mesmo momento, o Rabi da Galileia acrescenta: Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos? Porque todas estas coisas os gentios procuram. Decerto vosso Pai Celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas. Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a Sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal. Interpretadas à letra, essas palavras de Jesus seriam a negação de toda previdência, de todo trabalho e, por consequência, de todo progresso. Com esse princípio, o homem iria se limitar a esperar passivamente. Suas forças físicas e intelectuais permaneceriam inativas. Ora, se fosse assim, jamais teríamos deixado o estado primitivo. Não, não pode ter sido este o pensamento do Mestre, pois estaria em contradição com o que afirmou outras vezes com as próprias leis da natureza. Deus criou o homem sem vestes e sem abrigo, mas deu-lhe a inteligência para fabricá-los. Não se deve, portanto, ver, nessas palavras, mais do que uma poética alegoria da Providência, que nunca deixa ao abandono os que nEla confiam, querendo, todavia, que esses, por seu lado, trabalhem. Se ela nem sempre acode com um auxílio material, inspira ideias com que se encontram os meios de sair da dificuldade. Assim, lembremos sempre da bela figura dos pássaros do céu e dos lírios do campo, nunca permitindo que o desânimo, a insegurança e a incerteza, se instalem em nossos corações. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. XXV, item 6, de O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, ed. FEB e transcrição do Evangelho de Mateus, cap. VI, versículos 26, 28 a 34. 
Em 20.10.2020.

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

FAZER AS PAZES COM DEUS

Não houve povo, até hoje, que ignorasse a existência da Divindade. 
A ideia dessa Força Superior expressou-se, ao longo do tempo, conforme a cultura e os valores de cada comunidade, de cada época. 
Assim, na Antiguidade, alguns, como ainda ocorre, concebemos a existência de um grupo de deuses. 
Conforme a cultura greco-romana, eles eram quase humanos e, embora seus grandes poderes, eram considerados portadores dos mesmos sentimentos e imperfeições de qualquer mortal. 
Algumas culturas lhes atribuíam atitudes tão brutais, que chegavam a lhes oferecer sacrifícios humanos, a fim de aplacar os achaques e destemperos das temidas divindades. 
Mais tarde, concebemos a ideia do Deus único, Criador de tudo e de todos. Embora a evolução do conceito monoteísta, permanecia a ideia do Criador a vigiar as criaturas, pronto a castigá-las e enviar Sua ira Divina pelos menores erros humanos. 
Assim, apenas temíamos a Deus, pois acreditávamos que quaisquer desvios de conduta eram severamente punidos. 
Foi somente com Jesus que a concepção da Divindade ganhou outro caráter. 
Pela primeira vez, a relação com Deus se tornou filial. 
O Mestre, ao orar, no-lO apresentou como o Pai Nosso que está nos céus.  
Foi Jesus também quem nos explicou sobre a amorosa Justiça Divina, Sua Providência, seja com as aves dos céus, os lírios do campo, ou para conosco, Seus filhos. 
Porém, poucos fomos aqueles que compreendemos essa proposta cristã.
Confundimos o próprio emissário com o Criador, imaginando-os como uma figura única. 
E, em nome de um ou de outro, perseguimos, matamos, torturamos, ao longo dos séculos. 
Por isso, muitos passaram a negá-lO, questionando a razão da existência de um Deus, que cometia injustiças. 
Vários foram os filósofos, principalmente a partir do Século XIX, que se empenharam em destruir, em matar a ideia de Deus, em enterrá-lO, negando-O. Entronizar a razão em Seu lugar era a atitude mais lúcida, defendiam. De certa forma, tais filósofos tinham razão. Se esse era o Deus existente, melhor seria negá-lO a aceitar Seus disparates. Porém, se esqueceram de analisar as alterações que os próprios homens introduziram no cristianismo nascente, tornando-o, muitas vezes, bem distante da proposta do Cristo. 
Necessário, portanto, que resgatemos o Deus que Jesus nos apresentou.
Não o Deus a ser adorado em templos suntuosos, mas o Pai que mora em nossa intimidade. 
Não o Deus tribal, que protege aos Seus, castigando os supostos inimigos, mas o Deus que ama a todos. 
Não o Deus que se incomoda com o que vestimos, com a música que escutamos, com o que nos alimentamos ou com a religião que praticamos, mas o Deus do Universo, Criador das galáxias infindas e belezas incomuns. 
É necessário fazermos as pazes com Deus. 
Desatar os nós emocionais que carregamos com relação ao nosso Pai Celestial. 
Compreendê-lO, efetivamente, como o Pai, que não castiga, mas ensina; que não nos pune, mas oferece caminhos nem sempre agradáveis para nosso melhor aprendizado. 
E entender que acima de tudo Deus nos ama, provendo a todas as nossas necessidades, dia após dia, conforme nos ensinou Jesus. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 6.4.2017.

domingo, 18 de outubro de 2020

FAZER A NOSSA PARTE

É interessante como, muitas vezes, nos comportamos de maneira incoerente, antagônica mesmo. 
Reclamamos da desonestidade de nossos políticos, nos exaltando nos comentários e na indignação. 
Com razão, citamos essa ou aquela outra ação mal executada, os descalabros na condução do dinheiro público, a má conduta desse ou daquele gestor. 
Porém, alguns de nós burlamos a declaração do imposto de renda com a justificativa de que nosso dinheiro é mal empregado. E, em ocasiões específicas, fazemos tentativas de subornar a autoridade policial, no argumento de que não merecemos a penalidade que nos será infligida.
Existem outros de nós que adulteramos o produto que estamos vendendo, alegando para nossa consciência que qualquer um, em nosso lugar, faria o mesmo. 
Ficamos indignados quando um motorista alcoolizado ceifa vidas, de maneira leviana e inconsequente, quando ao volante. Porém, é de nos questionarmos se, por vezes, aos nos depararmos com um posto de controle policial na rua, alertamos aos demais motoristas para que evitem tal controle. 
Clamamos por justiça, de maneira veemente, quando vemos alguém, inconsequente, provocar um acidente por estar dirigindo em alta velocidade ou em estado de embriaguez. Contudo, com igual ímpeto, reclamamos dos radares que controlam velocidades e das câmeras que nos flagram nos delitos de trânsito. 
É necessário que repensemos quais os pesos e medidas que desejamos para nossa sociedade porque será a partir dessa medida que deveremos pautar nossas ações. 
Se queremos um trânsito menos violento e mais respeitador, primeiro há que respeitarmos as normas e a legislação. 
Se anelamos por pessoas honestas, e por uma justiça igualitária, necessário que nossas atitudes sejam coerentes com nosso discurso. 
No dizer de Jesus, é necessário que sejamos efetivamente o sal da Terra.
Que possamos fazer a diferença com nosso proceder, na sociedade em que vivemos. 
Pensemos que se pautarmos nosso viver apenas no fazer aquilo que nos convém, aquilo que nos beneficia, sem atinar com as consequências, sem pensar sobre o próximo, seremos insípidos. 
-E se o sal for insípido, com que se irá salgar? 
Pergunta-nos Jesus.  
-Somos a luz do mundo, afirma-nos o Meigo Rabi. 
Imprescindível que nossa luz resplandeça diante dos homens, ou seja, que nossas boas ações façam a diferença no mundo em que vivemos.
Habitualmente, esperamos que alguém modifique o mundo, altere as regras da sociedade, aniquile a injustiça. 
Raras vezes, entretanto, nos perguntamos como temos contribuído para tudo isso. 
Todos temos condição de sermos o sal da Terra. 
Todos trazemos valores nobres na alma, para fazê-los brilhar no mundo, modificando suas paisagens. 
Cabe-nos aceitar o convite de Jesus. 
Sejamos o sal da Terra, a luz do mundo. 
Façamos a nossa parte, nos decidindo por agir de maneira correta, nobre e honesta. 
Dessa forma, a Terra terá suas paisagens morais modificadas, mais condizentes com a proposta de Jesus. 
Façamos a nossa parte. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 1.5.2015.

sábado, 17 de outubro de 2020

FAZENDO O QUE TODOS FAZEM

Há algum tempo, um programa televisivo dramatizou uma das questões que, com certeza, muito preocupa a todos nós: a violência. 
A história girava em torno da vida de uma assistente social devotada à recuperação de jovens delinqüentes. Defensora dos direitos de tais criaturas, trazia sempre nos lábios frases de ponderação, mesmo face à descrição de crimes terríveis cometidos pelos jovens. Até o dia em que foi surpreendida, em seu próprio lar, pela invasão de um garoto que, armado com um revólver, a subjugou e, durante horas, a manteve prisioneira.
Nesse período, despejou a sua raiva em gestos e palavras, levando a profissional à exasperação. Depois de exaustivas horas de ameaças e agressivas atitudes, ela conseguiu tomar de uma arma e a apontou na direção do seu agressor. 
Nesse instante, o povo opinou e decidiu, ante três alternativas, qual deveria ser o desfecho do drama: perdoar, entregar o delinqüente à lei ou vingar-se. 
De forma maciça, as pessoas optaram pela última alternativa. 
E então, como é o povo que decide nesse programa, o jovem foi abatido com um tiro no peito. 
Ante o seu conflito, ao perceber o que fizera, a senhora teve amenizado o seu arrependimento por um amigo que afirmou: 
-"Você não fez nada além do que qualquer outro faria, em seu lugar. Afinal, ele não passava de um criminoso." 
O que nos surpreendeu foi justamente a votação das pessoas, optando pela vingança, ou seja, pela sumária execução do delinqüente. 
Será de nos surpreendermos que a violência abunde no Mundo, quando nós mesmos trazemos a informação e a predisposição à agressão, à destruição? 
E se fosse o nosso filho o agressor, teríamos a mesma disposição?
Compete-nos pensar um tanto mais a respeito das delicadas questões da vida e do que nos prescreve o Evangelho, como salutar medida. Recordar que Jesus perdoou os Seus algozes. Ele, cujo poder poderia ter destruído os agressores, rogou ao Pai pelos inconseqüentes. 
Pensar o quanto erramos, dilapidando a Lei Divina e, contudo, nosso Pai não nos extermina. 
Concede-nos a reencarnação, a outra chance, para a emenda. 
Permite-nos retificar os atos e nos recuperarmos. 
Como podemos agir de forma diversa? 
Caridade para com os criminosos é o que dita o Evangelho. 
Segregação do convívio social, pelo grau de periculosidade, reeducação de hábitos, trabalho para o reajustamento, a par das coisas básicas de que necessita o homem, nesta vida: alimento, escola, lar, saúde. 
Eis a fórmula para erradicar a violência da Terra e do coração do homem.
* * * 
O criminoso é um doente, digno de piedade. 
Ele também é nosso próximo, como o melhor dos homens. 
Sua alma, transviada e revoltada, foi criada, como a nossa, para se aperfeiçoar. 
Podemos ajudar a tais criaturas com a oração, rogando a Deus que assista a esses Espíritos pelo tempo que ainda hajam de passar na Terra.
Redação do Momento Espírita com base no item 14, do cap. XI de O evangelho segundo o espiritismo, de Allan Kardec, ed. Feb. 
Em 02.01.2008.

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

FAZENDO AS MALAS

Quando uma longa viagem surge na vida de alguém, várias são as providências a tomar. 
O indivíduo começa um planejamento de longo prazo, com calma e tranquilidade, para tudo poder executar a tempo. Aos poucos vai se inteirando das informações do país em que irá morar. Busca conhecer seus aspectos culturais, o clima, a alimentação, os hábitos locais. E, antes de partir, aos poucos vai se desfazendo das coisas de menor importância, doando alguns pertences, passando a frente outros objetos, descartando as coisas inúteis que no tempo foi guardando. Pondera o que efetivamente lhe é de grande valia para poder carregar consigo. Repensa em como irá conduzir a vida, a partir de uma nova morada. E aquilata as novas experiências que lhe serão possibilitadas com a viagem. Como sabe que os anos no exílio lhe serão longos, despede-se dos amigos, não desesperadamente, mas com lágrimas de até breve. Dá à família as instruções necessárias para sua ausência, para que tudo corra de maneira adequada e para que sua falta não lhes seja um grande fardo. E assim se vai preparando, para que o dia da viagem não lhe chegue de forma súbita e inesperada, encontrando-o com a mala por fazer e com os preparativos ainda por se concluírem. 
* * * 
Assim se dá com nosso regresso ao mundo espiritual. 
É a viagem inevitável que todos faremos de retorno à nossa pátria, deixando a Terra que nos é escola bendita e redentora. Como a viagem está marcada para todos e apenas desconhecemos a data da partida, que possamos aos poucos avaliar como estamos, caso logo mais sejamos convidados a voltar para casa. 
Será que nos despediremos de nossos entes queridos com a tranquilidade de quem sabe que irá reencontrá-los um dia? 
Será que já nos desfizemos do peso desnecessário e improdutivo que carregamos em nosso coração? 
Afinal, ele será a única mala que carregaremos. 
Será que já nos desapegamos das coisas daqui, que hoje, por mais importantes que sejam, logo mais não terão serventia, quando partirmos?
Não poucos a morte do corpo físico arrebata de maneira despreparada e surpreendente. 
Vivem como se a vida física fosse a de eternidade, sem refletir em momento algum sobre a fragilidade da existência humana, esquecendo-se que imortal é a alma, porém jamais o corpo. 
Dessa forma, útil será que todos possamos, vez ou outra, refletir sobre a vida e seus valores. 
Saber que ela vai muito além dos limites do corpo físico faz com que cada um de nós, aos poucos, vá arrumando as malas para a inexorável viagem de volta a casa. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 13.04.2012.

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

RECURSO INIGUALÁVEL

DIVALDO PEREIRA FRANCO
E
O ESPÍRITO VÍCTOR HUGO
A prece é um matrimônio de amor. 
A alma fala ao Criador, cantando sua alegria, chorando a sua dor ou, simplesmente desejando sintonizar com a linfa cristalina das energias superiores. Ainda nos servimos muito pouco dela, por não termos consciência do quanto é poderosa. Ao orarmos, movimentamos energias que nos envolvem, e a todos os que nos estão próximos. Quando cultivamos o hábito da oração, criamos uma aura ao nosso redor, e a emitimos, de forma que beneficiamos a quem nos esteja próximo. Nossa simples presença, em algum local, tem o condão de impregná-lo dessas benesses, graças a esse halo que criamos, com a oração constante. A oração harmoniza o ambiente onde se manifesta e é exercida, criando uma psicosfera balsâmica, agradável, calmante. Costumamos acionar os canais da prece quando a dor nos chega, o desespero toma conta de nós, ante problemas graves que tenhamos a enfrentar. Nesses momentos, nossa mente em desequilíbrio não ora verdadeiramente. Mais reclamamos, exigimos, desconcertados pela ansiedade que deseja ver resolvida a problemática que nos ocorre. Quase sempre, nessas horas, nos faltam a confiança, o amor e a submissão à Vontade Superior. Deveríamos nos habituar a orar, utilizando-nos desse mecanismo que é ponte entre nós e nosso Pai Celeste. E valorizarmos muito a oração espontânea, aquela que brota generosa do coração, que se inflama de devoção. São esses versos da espontaneidade que se dirigem à Entidade Máxima do Universo e nos retornam carregados de entusiasmo, revigoramento. Por isso, podemos dizer que a prece nos sustenta. Orar é nos banharmos de luz. É nos inundarmos das forças poderosas do mundo invisível. E a questão não é orarmos muito mas orarmos bem. Não será a multiplicidade das palavras que conferirão maior valor à nossa oração. O que importa é o sentimento de que ela se reveste. A prece também propicia resultados imunológicos e terapêuticos. Isso porque harmoniza o nosso tom vibratório. Ela atua, revitalizando o nosso metabolismo, rearmonizando o campo das células, numa ação benfazeja. Podemos nos eximir de alguns males, gerando essa aura de vibrações especiais. Naturalmente, não nos desvincularemos de todos os cuidados com o corpo, buscando a orientação médica, a medicação apropriada, o diagnóstico preciso. Contudo, poderemos evitar muitos mal-estares, enfermidades corriqueiras, sustentados pela prece, quando a tornamos constante em nosso cotidiano. 
* * * 
Está no pensamento o poder da prece. Por isso, não depende de palavras, nem do lugar, nem do momento em que seja feita. Podemos orar em toda parte, a qualquer hora. A sós ou em conjunto. A influência do lugar somente tem importância nas circunstâncias em que favoreçam o nosso recolhimento. Habituemo-nos a orar. Recordemos que o Senhor Jesus nos disse: Seja o que for que peçais na prece, crede que obtereis e concedido vos será o que pedirdes. Aprendamos a dinamizar a prece em nossas vidas. Veremos que nos chegarão a coragem, a paciência, a resignação, o bom ânimo para tudo sofrer, tudo vencer, tudo superar. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 2, pt. 2, do livro Calvário de Libertação, pelo Espírito Victor Hugo, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL, com transcrição do Evangelho de Marcos, cap. XI, versículo 24. 
Em 15.10.2020.

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

FAZENDO A NOSSA PARTE

Sofia era uma mulher dinâmica, dividida entre os afazeres da casa, os cuidados com a família e a profissão. 
Saía bem cedo, deixava o filho na escola e seguia para a empresa. 
Numa manhã fria, quando levava o menino para a escola, viu um grupo de moradores de rua dormindo sob uma marquise. Aquilo lhe causou um certo mal estar. Ela não queria que seu filho visse aquela cena. Mas ele vira e fez uma pergunta que ela não estava preparada para responder:
-Mamãe, por que há pessoas que moram nas ruas? Por que elas não têm casa? 
A mãe, com o coração apertado, lembrou de quando, ainda menina, havia feito pergunta semelhante. E a resposta que ouvira não era a que desejava dar ao filho. 
Ela havia crescido ouvindo coisas ruins sobre aquelas pessoas. No entanto, sabia que eram pessoas como ela, que haviam feito escolhas equivocadas, ou sofrido traumas dos quais não conseguiram se recuperar. 
E acabaram nas ruas. 
Foi isso que ela tentou explicar ao filho, que olhava para ela muito sério.
-Mãe, como podemos ajudar essas pessoas a se recuperarem? 
Sofia engoliu seco. 
-Filho, existem programas e projetos que cuidam disso. Eles recolhem as pessoas em abrigos e cuidam delas. 
-Mãe, se eles recolhem essas pessoas, por que elas ainda estão nas ruas? Não entendo. Não está funcionando! 
E a conversa foi se intensificando e aprofundando, pois o amor que aquele menino sentia não aceitava explicações que não faziam sentido para ele, nem o convenciam de que aquilo fosse normal. 
A mãe se viu encurralada e apelou para outra explicação que havia escutado na infância. 
-Deus protege essas pessoas. Ele cuida delas e ampara. Dá forças, e até inspira pessoas a ajudá-las. 
-Então, mamãe, Deus quer que a gente ajude também, não é? Por isso Ele nos colocou no caminho delas hoje. 
Sofia sentiu-se sem ar. 
Emudeceu. 
Parou o carro e começou a chorar. 
Havia se dado conta de que nada fizera em sua vida para ajudar os que precisavam. Usava sempre o discurso de que havia pessoas dedicadas a isso. A pergunta do filho rasgara a carapaça que ela usara durante anos para não se envolver. 
-Mamãe, por que você está chorando? 
-Porque percebi que pouco fiz para ajudar, meu filho. E Deus quer que eu ajude. Ele conta conosco para fazer a nossa parte. 
-Eu posso ajudar também? 
-Você já começou a ajudar, meu anjo. Já começou... 
* * * 
Depois dessa manhã, algo se transformou em Sofia. 
Ela buscou grupos de voluntários e instituições que se dedicavam a recolher alimentos, roupas, cobertores para os moradores de rua. E que igualmente ofertavam oportunidades de emprego e moradia para que deixassem as ruas. 
O filho a incentivava e vibrava a cada vez que iam ajudar a fazer entregas e visitar os que estavam reabilitados. 
O questionamento de um coração cheio de amor, em sintonia com o amor do Pai, a havia feito se lembrar de que Deus conta conosco para ajudar o nosso próximo. 
Ele aguarda que façamos a nossa parte. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 16.2.2018.

terça-feira, 13 de outubro de 2020

FAZENDO ALGUÉM FELIZ

Naquela manhã, Alice acordou cansada. 
Os problemas de saúde se agravavam e os medicamentos não estavam conseguindo diminuir os sintomas. Juntou forças, levantou-se e se olhou no espelho. As olheiras e a palidez denunciavam o quanto estava debilitada. Mesmo se sentindo mal, agradeceu ao Pai por estar viva, por ainda conseguir ter autonomia, andar, falar, se alimentar. Agradeceu por ter uma casa, uma família. E pensou: 
-Por mais que eu esteja debilitada, ainda posso fazer algo para ajudar alguém, fazer alguém sorrir, ficar feliz. 
Mais tarde, foi a um posto de saúde para tomar um medicamento na veia, procedimento que só é feito em hospitais ou unidades de saúde. O lugar estava bastante cheio. Alice fez a ficha e aguardou que a chamassem. Quando chegou sua vez, foi levada a uma sala, sentou-se e observou a enfermeira que providenciava a aplicação. Notou que ela também tinha olheiras e parecia cansada e abatida. Pacientemente, Alice ficou recebendo o medicamento, enquanto observava o ir e vir de pacientes.
Alguns chegavam nervosos e mal falavam. 
Outros vinham mais tranquilos. 
Havia também os que demonstravam grande irritação com a demora e eram ríspidos. 
A todos a enfermeira recebia com serenidade. Explicava os protocolos e executava sua tarefa. De quando em quando, ela se aproximava e perguntava sorrindo: 
-Como está se sentindo? Precisa de algo? 
Alice ouviu trechos da conversa entre ela e uma colega e foi compreendendo seu abatimento. 
Estava com sérios problemas em casa. 
Mesmo assim, recebia e atendia com gentileza a todos. 
Terminado o soro medicamentoso, Alice olhou nos olhos da profissional e agradeceu pela atenção. No caminho para casa, teve uma ideia. Resolveu telefonar para o Órgão responsável pela administração dos postos de saúde e disse que gostaria de registrar um agradecimento. 
-Como? - Perguntou, confusa, a moça que a atendeu. 
-Quero registrar um elogio e um agradecimento. 
Diante do silêncio da atendente, Alice explicou a forma gentil com que fora tratada no posto de saúde e reiterou o desejo de deixar registrado seu agradecimento à pessoa que a havia atendido. 
-Se fosse uma reclamação eu poderia preencher um formulário, não é mesmo? Quero fazer a mesma coisa, mas com um agradecimento. 
Seu relato sobre a forma educada, eficiente e gentil com que aquela enfermeira a havia atendido foi finalmente registrado. 
O elogio foi repassado à profissional naquele mesmo dia. 
Ela se emocionou e chorou, pois realmente estava num período muito difícil de sua vida. 
Aquele gesto foi como um abraço carinhoso depois de muitas pancadas. 
E assim Alice fez alguém feliz naquele dia. 
 * * * 
Por mais tristes, cansados, nervosos ou preocupados estejamos, sempre poderemos fazer algo para ajudar alguém que está se sentindo como nós, ou talvez pior. 
Façamos um esforço para ver no nosso próximo um ser que precisa de amor, e façamos por ele algo que gostaríamos que fizessem por nós, mesmo que seja apenas um sorriso. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 31.7.2018.

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

MENSAGEIRO

Registros históricos apontam que 2.400 anos antes de Cristo, no Antigo Egito, já existia um serviço organizado de difusão de documentos escritos. Os egípcios, sobretudo a partir da XXI Dinastia, dispunham de um eficiente sistema postal. Os mensageiros realizavam o percurso a pé, repousavam em estações de pernoite, distribuídas ao longo dos caminhos postais. 
XENOFONTE
O historiador grego Xenofonte descreveu a organização do correio da Pérsia, dizendo ser uma invenção utilíssima. Ela permitia que Ciro II fosse prontamente informado de tudo que acontecia nas regiões mais longínquas. 
MARCO POLO

O viajante Marco Polo registrou o pioneiro serviço postal na China. 
Na América pré-colombiana, astecas e incas dispunham de um organizado serviço postal. 
Em toda a História e em todas as nações, o papel de destaque cabia ao mensageiro. 
Na China, depois de vencer quarenta quilômetros, um palácio o esperava, para o descanso, antes de prosseguir. 
Entre os astecas, os mensageiros usavam uma rica vestimenta, tipo de manta, atada ao corpo. Eram detentores de imunidade. A ninguém era permitido bloquear a sua passagem. Postos de revezamento, substituição de animais para continuar o percurso a ser vencido, hospedagem, tudo era reservado ao mensageiro. Ele era o condutor das notícias, que poderiam ser as que decidiriam o futuro destino da nação, o prosseguimento de uma luta, ou as notícias auspiciosas de um fim de batalha. 
* * * 
Lembramos que a Divindade também se serve de mensageiros para as celestes novas aos homens. 
Maria de Nazaré recebe a visita de Rafael, o mensageiro celeste que vem lhe recordar do excelso papel que ela deverá desempenhar como a Mãe de Jesus. 
O sacerdote Zacarias, de igual forma, é contemplado com a visita de um mensageiro dos céus que vem lhe falar da paternidade que logo lhe chegaria. Era o anúncio da vinda do precursor, João Batista. 
E quando nasceu Jesus, foram muitos os mensageiros celestes que cantaram, unidos, as glórias aos céus. Vozes que foram ouvidas pelos pastores no campo. Que também receberam a notícia, em primeira mão, de que nascera, em Belém de Judá, o mais Excelso Ser do planeta. Outros mensageiros se aglomeram e formam um astro brilhante que aponta aos magos do Oriente onde se encontra o Menino tão esperado. 
* * * 
Mensageiro. 
O que distribui mensagens. 
Todos nós, na Terra, somos mensageiros. 
Todos os dias, transmitimos aos que nos estão próximos a nossa mensagem de paz, de alegria. Ou de desalento. 
Todos os dias, falamos com amigos, colegas, profissionais e lhes dizemos da nossa mensagem de vida, pela maneira como nos comportamos. 
Se somos seguidores de Jesus, a nossa será sempre a mensagem do otimismo, do bom ânimo. Em meio ao caos, à insegurança, ao desânimo, a nossa atuação lhes ofertará a nossa mensagem de tranquilidade, de confiança. A certeza de que podemos prosseguir lutando porque venceremos. Como nosso Mestre, que venceu o mundo, nós poderemos vencer a enfermidade, a morte, a desgraça. 
Somos Espíritos imortais. 
Esta é a nossa mais extraordinária mensagem. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 12.10.2020.