quarta-feira, 30 de setembro de 2020

VERDADEIRA HOMENAGEM

Sérgio Vieira de Mello
Foi em agosto de 2003 que um caminhão estacionado nas proximidades do escritório da ONU, em Bagdá, no Iraque, explodiu. Foi mais um ataque terrorista e causou a morte de vinte e dois funcionários. Entre eles, estava o brasileiro Sérgio Vieira de Mello, alto comissário da ONU para os Direitos Humanos. 
Quatro anos depois, no dia 28 de junho de 2007, a Organização das Nações Unidas inaugurou, em Genebra, um busto de bronze, em homenagem ao diplomata brasileiro. Colocado em um pedestal, constam igualmente ali os nomes dos outros vinte e um funcionários mortos, no trágico atentado. 
Justa, com certeza, a homenagem, a quem se doava em prol dos direitos humanos. 
Enquanto isso, a notícia de que, nos próximos dias, seria enforcado, pela justiça iraquiana, o suposto responsável pelo ataque, chegou aos ouvidos da família de Sérgio. 
A mãe emitiu um comunicado, apelando para que a sentença de morte fosse revista. Também o relator especial da ONU sobre a independência do poder judiciário, emitiu o mesmo apelo ao governo iraquiano. 
Tudo poderia passar como apenas uma notícia a mais, não fosse a justificativa, entre outras, da mãe de Sérgio: 
-Ele sempre foi contra a pena de morte. 
Esta, com certeza, foi a melhor e mais verdadeira homenagem que o brasileiro poderia receber. 
Enquanto, em nosso próprio país, vozes se erguiam para invocar a instauração da pena de morte, uma mãe, em memória de seu filho, a própria vítima, pedia pelo seu algoz. 
Isso nos leva a cogitar o quanto essa mãe ama seu filho, pois que, mesmo após a morte dele, suplantando a dor da separação e da saudade, o respeita e procura fazer valer a sua vontade. Ela poderia deixar tudo transcorrer. Afinal, o Iraque é tão longe e o suposto assassino lhe é desconhecido. Poderia pensar que ela nada tem a ver com isso. Mas, como alguém que ama em profundidade, ela faz o apelo. E recorda os anseios que nortearam a vida do seu filho. Ele lutava por direitos humanos. E a vida é o primeiro direito a ser assegurado. 
Oportuna manifestação de um coração materno. Ela sabe que nada trará seu filho de volta. Ela o guarda em sua memória, colorindo as lembranças com as flores da sua terna e longa saudade. Não pensa em vingança. Tem em mente respeitar o filho amado e, possivelmente, o coração de outra mãe, esposa, filha, irmã, que muito sofrerá com a morte do seu afeto, não importando o que ele tenha feito. 
Seu gesto impactou a sociedade. 
Possivelmente, algumas mentes repensarão as suas posições destrutivas. Outras tantas verão com olhos diversos a delicada questão da pena de morte. Todos, no entanto, não esquecerão, a especial, justa e verdadeira homenagem de uma mãe ao seu filho. 
Um respeito que suplanta a dor da separação, a ausência da presença física do filho amado para se expressar em nome de ideais defendidos por quem teve sua vida ceifada, tão violentamente. 
Um exemplo a ser seguido. 
Redação do Momento Espírita, com base em notícia publicada na pág. 4 (Mundo), do Jornal Gazeta do Povo, de 29.6.2007. Disponível no livro Momento Espírita, v. 6, ed. FEP. 
Em 30.9.2020.

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