quinta-feira, 19 de março de 2020

OS TRAÇOS DO MESTRE

Sérgio Antônio Meneghetti
Aquela era uma das séries iniciais da instrução infantil. No quadro, a professora delineava letra por letra. Primeiramente as vogais. Mais tarde, as consoantes. Pouco a pouco, os pequenos assimilavam cada traço, cada floreio, cada detalhe que compõe o be-a-bá. Seguros no traçado dos caracteres, pacientemente a professora ensinou a turma a uni-los, formando as palavras. Depois, vencendo as dificuldades, as crianças avançaram em direção às primeiras frases. Primeiramente, a educadora as escrevia no quadro. Os alunos as copiavam. Depois, vieram os ditados. No final de cada sentença, a professora reiterava a prescrição: Crianças, não se esqueçam do ponto final! Esquecendo-o vez ou outra, é verdade, paulatinamente os alunos memorizaram a regra. O tempo passou. Os estudantes adiantaram-se nos níveis escolares. Descobriram que, para além do ponto final, há outros sinais de pontuação. Para separar orações, a vírgula; para perguntas, o ponto de interrogação; para surpresas, o ponto de exclamação; para frases que não se finalizam, as reticências. Dessa maneira, perceberam que, ao escrever, inúmeras são as possibilidades de expressão. Palavras, frases, sinais de pontuação. A escrita une pessoas que nunca se conheceram, vence distâncias, o tempo, a cor, a nacionalidade, as crenças e, quiçá, os preconceitos. A escrita registra a nossa História, as nossas conquistas, assinala o hoje para o futuro. 
 * * * 
A respeito do ato de escrever, compôs o poeta: 

  Da poesia sai o verso 
 Do verso a construção 
 Da pena sai a tinta 
 Que expressa o coração. 

 Os dedos correm rápidos
 O papel recebe o verso
 O coração é o lápis 
 Escrevendo neste universo.

 O poema exprime o sentimento
 A mente vaga na imensidão
 Os olhos escrevem no vento 
 Agradecendo a criação. 
 * * * 
Ao recebermos nova oportunidade reencarnatória, recebemos igualmente a chance de traçarmos novas linhas no infindável livro de nossas existências. Além disso, podemos também reescrevermos aquelas frases que, no passado, foram mal escritas. Dotados pelo Criador de livre-arbítrio, o lápis de que dispomos para bem escrevermos são as nossas ações. Cada escolha que fazemos, cada atitude que tomamos redige a nossa História, cujos capítulos podem ser mais ou menos ditosos. E, como a lei é de progresso, esperamos sempre uma História melhor. Jesus, Modelo e Guia da Humanidade, nos ensinou a bem escrever por meio da lei de amor que exemplificou. 
 * * *
Nas frases que escrevemos no livro que somos, nos é lícito questionarmos, exclamarmos, pontuarmos cada sentença, de maneira a criarmos a mais encantadora História diante da vida, precioso tesouro que o Senhor nos concedeu. Todavia, não nos esqueçamos jamais: na História que o Criador nos permite e nos convida a escrever, não há ponto final. Antes, se sucedem as reticências que assinalam que a vida nunca se encerra e que a morte, portanto, não passa de um até breve.
Redação do Momento Espírita, com citação do poema A Escrita, autoria de Sérgio Antônio Meneghetti. 
Em 19.3.2020.

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