Era um jantar familiar, reunindo pais, avós, tios, sobrinhos, primos. Uma mistura de idades que ia do quase nonagenário à adolescente.
Colocar as novidades em dia era a ordem do momento. Afinal, alguns não se viam há algum tempo e era preciso saber da saúde, do trabalho, dos planos para o casamento, da viagem ao Exterior.
Tantas novidades para serem absorvidas. As perguntas eram rápidas. As respostas, às vezes, curtas, de outras, longas e explicativas.
Divididos em mesas, por serem muitos, uma das tias sentou-se entre duas sobrinhas.
A conversa fluía interessante. A tia, beirando os setenta anos, demonstrava jovialidade, participando da conversa, em que se misturavam redes sociais, término da faculdade, vestibular à vista, namorados.
Então, uma das jovens serviu-se de sofisticado prato e, ao iniciar a saboreá-lo, disse:
-Toda vez que como esse tipo de massa, lembro da minha avó. Ela gostava de cozinhar exatamente deste jeito.
A tia sorriu, olhou para ela e perguntou:
-Se eu morrer, um dia (e todos riram) como você lembrará de mim?
O sorriso da sobrinha se abriu e disse:
-Como aquela que estava sempre comigo, que me incentivava, que ria das minhas tolices e me mandava mensagens igualmente hilariantes.
Vou lembrar como aquela que se perdia no shopping, que telefonava para mim perguntando onde ficava a livraria.
Lembrarei de que um dia encontrei uma camiseta, pedi que você a experimentasse, fotografei e postei na minha página do facebook.
A estampa dizia: Não me siga. Estou perdida.
Vou lembrar muitas e muitas coisas: as sessões de cinema com pipoca e refri; as estreias de filme adentrando a madrugada.
As comemorações de aniversários, da vitória no vestibular, as formaturas do ensino fundamental, médio e universitário, em que você sempre se fez presente.
Vou lembrar...
E a conversa se voltou a lembranças e mais lembranças.
Foram momentos de descontração, de risos. E motivou aos demais a indagarem como eles seriam lembrados, depois que não mais estivessem no cenário da Terra.
* * *
Sempre importante considerarmos que nossa passagem pelo mundo, o convívio com os nossos amores, pode ser interrompido a qualquer momento.
Nada mais certo do que a morte que chega, sempre, para todos. Embora, como disse o bom Jesus, somente o Pai saiba a hora.
Por isso, aproveitemos os momentos em família. São preciosidades que alimentarão as mentes dos que ficarem e dos que partirem.
Produzamos menos problemas e cultivemos mais amor. Reclamemos menos, relevemos pequenos senões e coloquemos mais descontração e alegria nos nossos encontros.
Estejamos juntos. Não percamos a festa de aniversário, o café da tarde, o passeio no parque, a formatura.
Comemoremos com nossos amores todas as vitórias. Semeemos alegria.
Dessa forma, quando partirmos, deixaremos boas lembranças para serem acionadas quando a dor da saudade alcançar os corações dos que ficarem.
Igualmente, partiremos felizes, certos de que, enquanto a caminho, demos o melhor de nós.
Redação do Momento espírita.
Em 11.3.2020.
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