Pedro e Ana se conheceram no colégio. De início, não simpatizaram muito um com o outro, mas reconheceram a inteligência e a integridade mútuas e se tornaram amigos.
A amizade foi se consolidando e, em pouco tempo, evoluiu para algo mais forte, mais intenso.
Eram companheiros de ideias e ideais. Um até sabia o que o outro estava pensando.
Casaram-se, tiveram filhos, alguns cachorros, gatos, peixes.
Fizeram amigos, viajaram, trabalharam em parceria.
A vida nem sempre foi fácil, mas encararam unidos as dificuldades. O amor crescia, amadurecia e se fortalecia.
Entraram na meia idade planejando a aposentadoria e as viagens que fariam.
Os filhos, criados, não precisavam mais de dedicação integral. Estavam batendo asas, independentes e autônomos.
Em meio a planos resgatados do fundo do baú e o nascimento de novos sonhos, Ana começou a sentir que algo não estava bem. Evitou alarmar o marido e foi ao médico.
Para sua surpresa, foi diagnosticada com um tipo de câncer raro e agressivo.
Passado o choque inicial, ela não se rendeu. Buscou informações, médicos e tratamentos alternativos.
As perspectivas, no entanto, eram bastante sombrias.
A família se uniu e Ana decidiu seguir a vida até o momento em que não seria possível fazer mais nada.
Foram anos de batalha com quimioterapia, cirurgias para a retirada de tumores, testes com novos medicamentos.
Uma noite, internada na Unidade de Terapia Intensiva e desenganada pelos médicos, pediu ao marido para conversar com familiares e amigos distantes.
Como seria possível, contudo, se a entrada na UTI era restrita e nem todos conseguiriam chegar a tempo?
Além disso, conversar com todos lhe seria exaustivo e desgastante.
Pedro teve uma ideia. Conversou com o médico de plantão e obteve autorização para permanecer ao lado dela e usar o celular.
Fez contato com quase toda a sua lista de amigos e familiares, solicitando que gravassem, num dos aplicativos do celular, mensagens de afeto para Ana.
Muitos não conseguiram gravar, por conta da emoção.
Mas vieram mensagens de todos os cantos, com palavras entoadas, cantadas, sussurradas.
Todas carregavam carinho, respeito e a esperança de um reencontro.
Ana passou a noite ouvindo as mensagens, que Pedro tocava de tempos em tempos, em seu celular.
Lágrimas escorriam dos olhos de ambos. Lágrimas escorriam também dos olhos de enfermeiros e médicos.
Aquela UTI estava cheia de pessoas, não fisicamente, mas em espírito, em boas energias, em luz.
Ana atravessou aquela noite, acordou na manhã seguinte e permaneceu por mais uma semana, tranquila e serena, até a sua morte.
Nesse período, pedia para ouvir as vozes amigas que tanto bem lhe haviam feito, que tanto carinho lhe haviam transmitido.
Partiu em paz, sabendo que não estava só. As vozes amigas a ladeavam, amparavam e a preparavam para retornar à pátria espiritual, onde iria se encontrar com outras vozes amigas, igualmente cheias de amor e saudade, ansiosas por aquele tão esperado reencontro.
Redação do Momento Espírita.
Em 15.9.2017.
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